Review | Psychonauts 2


Nos recentes anos, é notório atestar que o mercado de games se tornou estagnado de boas ideias, soluções criativas, level designs únicos e direções de arte arrojadas. Pelo fato dos custos de produção de games terem aumentado de forma exponencial, cada vez mais desenvolvedores arriscam menos e adotam abordagens já consolidadas e mais seguras na hora de produzir seus jogos.

Como resultado dessa redução de riscos, os games acabam se tornando apenas cópias uns dos outros se diferindo apenas no orçamento dos projetos, histórias e direções artísticas. Por isso jogos como Death Stranding, que decidem romper a barreira do comum, são rechaçados pela comunidade gamer, trazendo medo a diretores e desenvolvedores de ousarem mais nos seus projetos e a despejar cada vez menos dinheiro em projetos incomuns.

Na contramão dessa tendência, outro jogo vítima também de seu tempo, retorna para mostrar que é possível ser arrojado e extremamente bom, e para isso Psychonauts 2 não só surge como uma luz nesse túnel como mostra que jogos feitos com paixão, são melhores de jogar.

Psychonauts acabou se tornando uma espécie de jogo cult subestimado em sua época. Seu primeiro jogo foi lançado em 2005 no PS2 pela criativa e competente Double Fine Productions. Escrito e dirigido pelo lendário Tim Schaffer, responsável por clássicos como Full Throttle, Grim Fandango, Brütal Legend, Day of Tentacle, The Secret of Monkey Island e Broken Age, Psychonauts veio de uma tentativa de misturar um roteiro repleto de diálogos cativantes carregados de um humor único e uma narrativa mais cinematográfica usando o gênero de aventura e plataforma 3D que em meados dos anos 2000 era uma alta na época. Infelizmente, apesar de conter um design único, um level design invejável até hoje e várias qualidades e a até mesmo a frente de seu tempo, o jogo amargou vendas baixas e pouca atenção do público geral, mas acabou ganhando fãs ao decorrer dos anos.

Em 2015, a sequência foi anunciado na The Game Awards por meio de Crowfunding no Fig.com no qual atingiu 116% da sua meta. Com isso foi possível não só desenvolver Psychonauts 2, mas também um jogo para PlayStation VR, o Psychonauts in the Rhombus of Ruin.

 

Finalmente, depois de longos 16 anos, Psychonauts 2 foi lançado. Mostrando melhorias em suas mecânicas, usufruindo por tabela de melhorias técnicas e mostrando que ainda pode ser divertido e se surpreender ao jogar games.

História

Para quem não jogou o primeiro Psychonauts lançado em 2005, o jogo se sustenta pelo protagonista Razputin Aquato, também conhecido como Raz, um ex-integrante de uma trupe de circo, que é sua família, que foge para o acampamento de verão para pessoas com poderes psíquicos com o sonho de se tornar um Psiconauta. Um Psiconauta é um membro de uma organização que é capaz de invadir mentes das pessoas com propósitos diversos.

Durante o acampamento, é percebido que os integrantes estão perdendo seus cérebros para o temível Dr. Caligosto Loboto. Durante o primeiro jogo, Raz consegue recuperar os cérebros de seus amigos e impedir Loboto e Oleander de roubarem cérebros afim de objetivos militares. Com isso, Raz se torna um cadete PSI e é nomeado um Psiconauta por Oleander. No fim do jogo, é descoberto que o chefe dos Psiconautas, Truman Zanotto, pai de Lili, uma “namorada” de Raz, foi sequestrado pelo Dr. Loboto e assim iniciamos o segundo jogo que serve como prólogo para Psychonauts 2.

psychonauts 2 análise crítica review

Em Psychonauts in the Rhombus of Ruin, Raz, Sasha, Milla (Psiconautas e mentores do acampamento) e Lilli partem a bordo de um jato atrás de Truman Zanotto nas Ruínas de Rhombus. O jato cai e Raz acorda amarrado juntos com seus mentores e sua namorada e na mesma câmara de Zanotto, Raz consegue fugir, invadir a mente do Dr. Loboto, vencê-lo, libertar seus companheiros e fugir das Ruínas resgatando Truman Zanotto.

No início de Psychonauts 2, eles voltam à sede dos Psiconautas e é verificado que algo terrível aconteceu com Truman Zanotto, já que ele permanece em coma e não responde a nenhum estímulo ou invasão mental. Sasha e Milla suspeitam que Dr. Loboto não fez tudo sozinho e possa ter um mandante para todas as suas ações. Para descobrir o nome do chefe de Loboto, eles invadem a mente do dentista louco, mas são expulsos da mente pela mandante, Malígula, uma vilã telepata extremamente perigosa que está morta há anos.

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No jogo, Raz agora é um Psiconauta, mas percebe que as coisas não vão acontecer como esperado. A organização não é como ele esperava e com a ausência de Truman Zanotto, a sua segunda na posição, a Hollis Forsythe, irá mudar como as coisas vão acontecer. Raz é nomeado estagiário, já que Forsythe alega que Oleander não estava em plenas faculdades mentais para nomear alguém como Psiconauta, e junto com outros estagiários, terá acesso limitado ao Córtex Central.

Agora em Psychonauts 2, Raz se vê tendo que lidar com bullyings provocados pelos outros estagiários, sua relação amorosa com Lili, resolver pendências com a sua família enquanto precisa descobrir quem foi o traidor que facilitou o sequestro de Truman Zanotto e faz parte de uma seita que busca reviver Malígula por meio de Necromancia, uma arte proibida.

Campanha

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O jogo vai evoluindo aos poucos e apresenta os novos desafios de Raz. Desde o seu início no Córtex Central lidando com trotes de outros estagiários, tendo que aprender com Hollis novas habilidades em uma espécie de sala de aula mental, resolver conflitos provocados pela vontade de se enturmar com o novo grupo, descobrindo uma conspiração para reviver Malígula até ser escalado em uma missão secreta para descobrir traumas do passado da primeira formação e dos percursores dos Psiconautas.

Cada personagem é muito bem construído, desde o personagem menor ao maior, todos possuem personalidades marcantes com visões difusas sobre o mesmo assunto e traumas profundos a serem resolvidos. Ao invadir o mundo mental de cada um, os cenários também atuam como ferramentas de narrativa para melhor compreender o universo de traumas que aquele personagem está passando.

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O jogo aborda estes traumas tão sérios como abandono, arrependimento, carência paternal, aceitação, traumas de guerra, abusos psicológicos, insegurança, decepção amorosa, excesso de cuidado e tantos outros de forma leve e inspiradora.

O jogo vai te preparando e escalando os acontecimentos na medida que você se aproxima da verdade sobre o passado, com surpresas e viradas de roteiro inteligentes culminando ao seu belo desfecho e passando a plena sensação de ter acompanhado uma boa história sem ter o sentimento de tempo perdido.

Gameplay

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Sobre a sua jogabilidade, Psychonauts 2 é um competente jogo de plataforma. O primeiro jogo possuía controles bem ruins e limitados, muito por conta de limitações da indústria em 2005, mas felizmente esses problemas foram sanados. Com controles responsivos, leves e intuitivos, Psychonauts 2 é um jogo divertido de se jogar. Raz continua com os seus pulos normais, pulos duplos, esgueirar em beiradas, levitar, planar, realizar ataques mentais, habilidades especiais e ganha agora capacidade de pular em paredes e se esquivar.

Sobre o combate, ele é fácil e como falado, o jogo possui ataques simples e as habilidades que podem ser equipadas (quatro de uma vez) separadas pelos quatro botões superiores do controle (L1, L2, R1 e R2). Algumas habilidades retornaram como a levitação, rajada PSI e telecinese e novas surgem como a projeção mental e pirocinese.

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O jogo ainda conta com os Censores, mas adiciona vários outros inimigos que necessitam do uso de habilidades específicas como o Ataque de Pânico que precisa de habilidade de desacelerar o tempo, a Dúvida que é fraco contra a pirocinese e o Juiz que pode ter seu martelo arrancado de suas mãos e jogado contra ele com a telecinese. As batalhas contra chefes seguem o padrão da série de incluir mistura de ataques e puzzles necessários, como acertar certas partes em determinadas condições, nestas batalhas, elas são poucas e não brilham e não são tão criativas tanto quanto as do primeiro jogo.

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Em suma seu combate é divertido, mas não é seu foco, é um jogo onde o desafio é a plataforma e sua proposta se revela como o level design mais criativo do momento. Com puzzles simples para resolver, você se verá tendo que alcançar tal lugar planando, realizando pulos duplos, pulando em redes, escalando raízes, iluminando prismas, se pendurando em postes, se equilibrando em bolas de boliche, subindo em cordas, participando de um reality de comida, escrevendo remetentes de cartas e as mais variadas situações improváveis em que você jamais iria ver em um jogo de plataforma.

Progressão e Colecionáveis

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O primeiro jogo já contava com um sistema simples de progressão, Psychonauts 2 refina esse sistema de forma mais clara e didática. Cada habilidade PSI contêm 5 níveis de melhorias com efeitos diferentes, essas melhorias são adquiridas ao gastar pontos de habilidade que são ganhos quando você aumenta de nível (ranque que chega até o nível 102). Para aumentar de nível você precisa pegar “criações”, os figments do primeiro jogo, que estão distribuídos para você coletar nos mundos mentais, pegar itens de sabedoria ou pegar as cartas espalhadas pelos mapas e combinar 10 com um.

Apesar de terem adicionado níveis de melhorias nas habilidades, elas possuem pouco efeito real durante o combate, passando a sensação de uma mecânica má implementada. Falando de mecânicas com problemas, o jogo adiciona a nova habilidade de conexões mentais, que no início ela se torna muito importante para a narrativa do jogo e na resolução de problemas mentais, mas a importância dada no início acaba sumindo durante a campanha, se revelando um erro de decisão de gameplay, já que o jogo te leva a crer que ela seria parte fundamental da jogabilidade para logo depois desaparecer quase que por completo.

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Além disso, o jogo traz a volta da moeda do jogo, o Psitanium. Com esses cristais, você pode comprar broches para conseguir efeitos diversos no gameplay, comprar itens consumíveis e aumentar inventário e carteira.

Em suma, o jogo contêm uma variada quantidade de colecionáveis, desde chaves para abrir baús contendo vários psitaniums, cofres de memória, tags e bagagens emocionais, Half-A-Minds que melhoram sua saúde, itens de missões paralelas e vários outros.

E é claro que o mapa ajuda, não chega a ser um extenso mundo aberto, mas funciona de forma parecida com o primeiro jogo. Dividido em áreas exploráveis como o Córtex Central, a Pedreira, a Floresta e locais específicos como laboratórios além dos mundos mentais, o jogo espalha todos estes itens nos mais variados locais para deixar o jogador explorar todos os cantos do jogo em busca de colecionáveis.

Gráficos

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Antes de julgar qualidade gráfica, Psychonauts 2 tem uma direção de arte única que salva muito de suas eventuais limitações técnicas. Com as artes características de Scott Campbell, Nathan Stapley e Peter Chan, Psychonauts é um poço de criatividade e de arte única, com designs de personagens únicos e cenários incomuns carregados de simbolismo, o jogo abraça o seu estilo diferente do mercado comum de games, uma atitude louvável e corajosa.

Sobre aspectos gráficos, o jogo não faz feio, com cenários bem construídos, misturas de técnicas artísticas, boas animações e expressões faciais, mas invariavelmente será comparado a outros jogos de platafoma de última geração e nesse caso, ele pode ficar devendo um pouco.

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Essa possível limitação técnica pode haver uma explicação. Quando Psychonauts 2 começou a sua campanha de financiamento em 2015, apenas as versões de PS4, Xbox One e PC foram confirmadas. Pelo fato da Double Fine ter sido comprada pela Microsoft em 2018, o jogo foi somente lançado para o PlayStation 4 como prometido, removendo a versão de PS5 por motivos óbvios. Portanto o jogo não foi desenvolvido pensando na próxima geração de games.

Trilha Sonora e Som

A trilha sonora é composta pelo veterano da indústria dos games e ex-LucasArts, Peter McConnel. Peter já foi responsável por dezenas de trilhas sonoras de jogos como vários Star Wars, Sly, Indiana Jones, inFamous, Hearthstone, The Sims 2 e muitos outros. Sua trilha sonora em Psychonauts 2 segue o tom divertido e despretensioso característico do jogo, ela não chega a impressionar no geral, uma ressalva a um ótimo número musical do ator Jack Black do filme Escola do Rock, mas cumpre o seu papel padrão de “casar” com o design geral do jogo.

 

O jogo infelizmente não é dublado para o português do Brasil, contendo apenas uma ótima dublagem em inglês, mas é legendado para o Brasil (bem localizado com placas e objetos sendo traduzidos também). Além disso, o design de som parece não ter tido as melhores escolhas, já que há muitas falas ficam misturadas no meio do gameplay, fazendo você se perder nas informações passadas.

Vale a Pena?

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Muito, Psychonauts 2 é o jogo necessário da geração para aqueles que amam originalidade, boas histórias e jogos de plataforma. Com uma história muito divertida e humorada, personagens únicos e tratando também de problemas mentais necessários sempre de um jeito responsável e criativo.

Seu gameplay apresenta um trabalho de level design invejável sustentado pelos seus mundos divertidos e superior a títulos com orçamentos superiores. Infelizmente, como sempre, todas as mecânicas de combate não brilham tanto ainda como deveriam, com gameplay nesse sentido simplista e mecânicas de upgrade pouco essenciais nas necessidades de jogo.

Em suma, Psychonauts 2 é um fruto de um resultado do amor por games. O jogo nos remete a sensações esquecidas quando éramos todos crianças e jogávamos sem grandes demandas mentais e emocionais onde cada mundo poderia haver uma grande surpresa. Psychonauts 2 é um game inspirador em seu estado puro.

Notas do Jogo
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Título: Psychonauts 2

Descrição do jogo: Razputin "Raz" Aquato, ágil acrobata e magnífico mentalista, cumpriu o seu sonho de fazer parte da organização internacional de espionagem psíquica conhecida como... Psychonauts! Mas agora, estes superespiões têm um pequeno problema. O líder não voltou a ser o mesmo desde que foi raptado e há alguém infiltrado na sede.

Combinando missões divertidas com conspirações misteriosas, o Psychonauts 2 é um jogo de aventura e plataformas com um estilo único e inúmeros poderes personalizáveis. Controla o Raz numa viagem tão perigosa quanto hilariante através das mentes de amigos e inimigos até derrotares um psicovilão implacável.

Gênero: Ação

Lançamento: 24/08/2021

Produtora: Double Fine

Distribuidora: Microsoft Corporation

COMPRAR

Nota
8.5/10
8.5/10
  • História - 9.5/10
    9.5/10
  • Jogabilidade - 9/10
    9/10
  • Gráficos - 8/10
    8/10
  • Trilha Sonora e Som - 7.5/10
    7.5/10

Veredito

Psychonauts 2 é o jogo necessário da geração para aqueles que amam originalidade, boas histórias e jogos de plataforma. Com uma história muito divertida e humorada, personagens únicos e tratando também de problemas mentais necessários sempre de um jeito responsável e criativo.

Seu gameplay apresenta um trabalho de level design invejável sustentado pelos seus mundos divertidos e superior a títulos com orçamentos superiores. Infelizmente, como sempre, todas as mecânicas de combate não brilham tanto ainda como deveriam, com gameplay nesse sentido simplista e mecânicas de upgrade pouco essenciais nas necessidades de jogo.

Em suma, Psychonauts 2 é o fruto de um resultado do amor por games. O jogo nos remete a sensações esquecidas quando éramos todos crianças e jogávamos sem grandes demandas mentais e emocionais onde cada mundo poderia haver uma grande surpresa. Psychonauts 2 é um game inspirador em seu estado puro.

Vantagens

  • Ótimos personagens
  • Ótima condução narrativa
  • Level design invejável

Desvantagens

  • Combate poderia melhorar
  • Melhorias são pouco percebidas

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San Moreira
San Moreira tem 33 anos e é natural de São Paulo. Eu sou formado em Banco de Dados e Gestão Empresarial. Amante da cultura gamer, sempre apaixonado pelo universo. Atuando como jornalista e Content Manager de games com foco na plataforma PlayStation e Battle Royales como Free Fire. Teve a ideia de criar este site exclusivamente pela vontade informar e ajudar a comunidade gamer.

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