Review | Hollow Knight: Silksong – Uma Canção de Beleza e Castigo


Hollow Knight Silksong
8.88/10

No cenário dos videogames, é recorrente o fenômeno em que um projeto indie apaixonado se transforma em um triunfo aclamado globalmente. O apelo central desse universo está justamente na liberdade criativa, onde visões florescem sem restrições. Um dos exemplos mais notáveis ​​desse sucesso é Hollow Knight (2017), da Team Cherry.

Anunciado após o lançamento do metroidvania original e suas DLCs, o próximo título da série, Hollow Knight: Silksong, mergulhou em um ciclo de desenvolvimento prolongado. Com o passar dos anos — de meses para anos —, uma questão pairou no ar: a sequência ainda existiria? E, se existisse, seria capaz de atender às expectativas incrivelmente elevadas que lhe foram impostas?

Agora, Hollow Knight: Silksong se tornou realidade. Seu lançamento foi anunciado com apenas uma semana de antecedência, um fato que, compreensivelmente, muitos fãs dedicados tiveram dificuldade em assimilar. A jornada do jogo até chegar às mãos dos jogadores foi singular, moldada por uma tempestade perfeita de fatores: seu status como sequência de um queridinho indie, um ciclo de desenvolvimento de sete anos e uma base de fãs que, a cada ano de espera, tornava-se cada vez mais ávida e vocal.

Hollow Knight: Silksong  foi lançado no PlayStation 5 em 04 de Setembro de 2025.

Vídeo de Gameplay do Hollow Knight: Silksong

História

Review Hollow Knight Silksong hornet presa

A jornada de Hollow Knight: Silksong tem início com Hornet, uma personagem icônica do primeiro jogo, sendo capturada e transportada à força para o reino de Pharloom. Este é um domínio antigo e amaldiçoado, onde a seda e a música se entrelaçam em uma aura de decadência e perigo. Durante sua transladação por captores misteriosos e encapuzados, um pequeno inseto interfere em sua gaiola, quebrando seu lacre e precipitando-a ravina abaixo. Ela acorda na Gruta Musgosa, o ponto de partida de sua nova e perigosa odisseia.

Em Pharloom, Hornet descobre que inúmeros peregrinos são obcecados por escalar a Cidadela que domina a paisagem, talvez na esperança de encontrar uma salvação para a ruína que consome sua terra. Movida por um propósito pessoal e pela necessidade de desvendar o mistério de seu próprio sequestro, Hornet também embarca na ascensão ao ápice da imponente estrutura. Quem a capturou e por que a trouxeram para Pharloom? São perguntas que ecoam em cada salão sombrio. Com tantas interrogações e pouquíssimas respostas, sua escalada se torna uma missão para interrogar os próprios líderes desse reino corrompido e descobrir a verdade por trás de sua prisão.

Campanha

Review Hollow Knight Silksong Bellhart

excelência narrativa de Silksong é inegável. Um dos momentos mais impactantes ocorre ao adentrar a Cidadela, onde até o simples ato de sentar-se em uma cadeira exige um pagamento. Esse pagamento, feito em um confessionário, é recompensado apenas com a voz gravada de um fanático, insistindo para que você “volte ao trabalho”. Ao redor, escravos murmurando a mesma frase sonham em alcançar o topo. Esses poucos elementos capturam, de forma vívida e cruel, a opressão que define a vida das classes mais baixas naquele lugar.

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O jogo é povoado por uma série de NPCs memoráveis que dão alma a Pharloom. Shakra, a cartógrafa, cuja voz ecoa familiarmente por cada canto inexplorado; o cavaleiro Garmond e sua leal montaria, sempre os primeiros a responder ao chamado da batalha; os acolhedores moradores da Cidade de Campanula, que oferecem um refúgio; e a resiliente Brigada de Pulgas, que insiste em realizar celebrações mesmo no fim do mundo, proclamando que “o jogo nunca acaba”.

Contudo, o momento mais inesquecível pertence à pequena peregrina Sherma. Sua jornada da Cidade do Vale dos Ossos até Cantoclave culmina em um momento de pura beleza emocional: ela canta novamente para abençoar Hornet antes da batalha final. É um instante que parece dobrar o tempo, trazendo de volta a emoção do primeiro encontro. São essas histórias e os incontáveis detalhes que permeiam o jogo que tornam a experiência profundamente impressionante, deixando uma marca duradoura mesmo após o crédito final. Ao alcançar o desfecho verdadeiro e refletir sobre a jornada, por mais árdua que tenha sido, torna-se impossível odiar SilkSong.

Review Hollow Knight Silksong Sherma

Assim como seu predecessor, a narrativa de Silksong encontra o equilíbrio perfeito entre a sugestão poética e a complexidade lore. É perfeitamente possível desfrutar do jogo sem compreender todos os seus mistérios, criando um laço instantâneo com Hornet e, é claro, com a cativante Sherma. Para quem se dispõe a se aprofundar, no entanto, interagindo com o mundo e decifrando os registros inimigos, descobre-se um mundo inteiro meticulosamente construído. Cada espécie tem um propósito, cada sociedade carrega uma história colossal e cada área foi deliberadamente moldada para sentir-se orgânica e real.

Um avanço significativo vem do fato de Hornet ser uma protagonista não silenciosa. Ela retruca, responde e reage aos personagens com diálogos próprios, o que cria um nível de envolvimento imensamente superior ao do jogo anterior. Sua voz atuante eleva cada interação, subtrama e faceta do mundo, tornando-as substancialmente mais impactantes. Sua chegada como uma presença estrangeira funciona como um ponto de identificação para o jogador, enquanto sua personalidade sábia e perspicaz garante que ela seja sua própria personagem, e não um mero veículo para imersão vazia. Seu comentário no bestiário do jogo adiciona uma camada extra de personalidade cativante.

Essa camada de intriga funcionou como uma ponte narrativa, permitindo um interesse ativo e profundo pela história do mundo. Ainda assim, esta não é uma aventura de enredo totalmente linear ou direto. A narrativa de Silksong atinge um equilíbrio sagaz entre o impreciso e o franco, cativando até mesmo aqueles que dedicam apenas uma atenção mínima aos seus detalhes.

Gameplay

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A base de Silksong é, em essência, a mesma jogabilidade premiada de Hollow Knight. No entanto, a sequência não se contenta em simplesmente replicar a fórmula; ela pega cada mecânica e componente dessa fundação e os retrabalha, melhora e reimplementa com uma ambição raramente vista em sequências.

Logo de início, fica claro que Silksong é um jogo que não tem medo de desafiar o jogador. A partir da metade, a dificuldade escala significativamente, evocando aquela mesma sensação de estresse característica dos jogos do gênero Souls. A busca por uma última melhoria ou a persistência para derrotar um chefe particularmente desafiador são provas de fogo

Review Hollow Knight Silksong Mapa Forja Vulcanica

Por isso, minha recomendação para aproveitar o intenção dos desenvolvedores é jogar sem a ajuda de guias, se você tiver tempo para se perder em Pharloom. A sensação de descoberta é insubstituível. Felizmente, a navegação é geralmente mais intuitiva do que no jogo original, graças à incrível mobilidade de Hornet. Ela não apenas corta seus inimigos, mas dança pelo ambiente com um conjunto superior de mecanismos de locomoção: pode flutuar lentamente para evitar perigos, utilizar habilidades de pogo precisas, realizar um pulo duplo ágil, um dash rápido e se lançar com um gancho para superar os desafios de plataforma mais intricados.

A verdadeira revolução, porém, se revela com os Brasões. Essas relíquias funcionam como tipos de armas que permitem carregamentos únicos de aprimoramentos para suas ferramentas e habilidades passivas. Foi ao experimentar diferentes combinações de Brasões que eu verdadeiramente compreendi a visão da Team Cherry: Silksong é uma experiência altamente personalizável. Cada jogador pode moldar o estilo de jogo para se adequar perfeitamente à sua abordagem, seja para os combates intensos, para explorar as paisagens belas e assustadoras ou para decifrar os quebra-cabeças mecânicos complexos. O fato de que cada pessoa com quem conversei tinha um carregamento favorito completamente diferente é o testemunho definitivo do sucesso desse sistema profundamente rejogável.

Level Design e Obstáculos

Review Hollow Knight Silksong Cidadela

exploração em Silksong é notavelmente mais fluida e prazerosa, uma vitória conquistada em grande parte pela simples mas genial inclusão de um botão de corrida dedicado. Essa adição, combinada com um leque completo de opções de movimento, faz com que cada comando se encaixe perfeitamente na palma da sua mão. A experiência de se locomover por Pharloom é divertida por si só, e quando um jogo de plataforma alcança esse nível de polimento puro, você sabe que é algo especial.

A Team Cherry adotou uma abordagem meticulosa para cada aspecto deste Metroidvania. Eles não apenas melhoraram os principais problemas de Hollow Knight, mas foram além, refinando até mesmo questões que eu nem sabia que existiam. A mobilidade, que já era boa, está agora excepcionalmente boa.

Review Hollow Knight Silksong Bilibrejo

No entanto, um elemento de design que pode se tornar um obstáculo significativo para alguns jogadores é a quantidade extrema de dano de “duas máscaras”. Isso significa que, a partir de certo ponto, a maioria dos inimigos principais e chefes causa o equivalente a duas barras de vida por único acerto. No jogo original, esse nível de punição era mais moderado e reservado apenas para os encontros mais desafiadores. Em Silksong, a frequência com que se leva essa quantidade de dano pode criar uma barreira de dificuldade acentuada, exigindo uma precisão quase perfeita do jogador em combates prolongados.

Combate e Inimigos

Review Hollow Knight Silksong Trobio

Infelizmente, a progressão de dificuldade dos inimigos comuns se tornou minha maior frustração com o jogo. Com o avanço da campanha, eles começam a parecer menos desafiadores de forma orgânica e mais deliberadamente irritantes, cruzando uma linha tênue que pode comprometer a experiência.

Os monstros voadores são um exemplo primário desse desequilíbrio. Eles se movem de forma errática e irregular pelos ares, tornando quase inevitável colidir com eles ao tentar um ataque. No entanto, no momento exato do seu golpe, eles recuam magistralmente, como se lessem seus comandos com precisão cirúrgica para escapar. Se você optar por evitá-los, eles possuem uma habilidade de perseguição aterrorizante, seguindo-o implacavelmente por praticamente todo o mapa.

Jogadores não se opõem a enfrentar inimigos com IA inteligente, mas quando todos os inimigos possuem uma IA agressiva e perfeita, a sensação é de que a mão do designer está pesada demais. Se você não começar a utilizar ferramentas cruciais desde o início, provavelmente enfrentará uma jornada extremamente dolorosa. O problema é que Silksong quase não oferece orientação sobre essa necessidade, e é provável que o jogador só perceba quando a parte mais torturante já tiver passado.

Os monstros terrestres apresentam um desafio diferente, porém igualmente intenso. Desde os estágios iniciais, o jogo é assombrado por criaturas capazes de infligir danos devastadores de 2 pontos de vida com um único golpe. Para contextualizar, no jogo anterior, mesmo o chefe final, a Radiância, causava esse mesmo valor de dano. Do meio para o final, é comum encontrar monstros que podem drenar 3 ou 4 pontos de vida em uma fração de segundo, muitas vezes com ataques que não são óbvios ou fáceis de esquivar.

Fugir parece uma opção, mas Silksong frequentemente coloca o jogador em arenas fechadas que forçam o confronto direto. Em vários momentos, o jogo apresenta combinações infernais de monstros, que parecem menos um teste de habilidade e mais um artifício artificial para elevar a dificuldade através do exagero puro.

O design dos chefes, por outro lado, é um contraste notável. Embora alguns caiam na armadilha de movesets simples dificultados pela inserção de mobs desnecessários e por runbacks exasperadamente longos (sendo o chefe do Bilibrejo o exemplo mais notório), muitos outros são incrivelmente memoráveis. A Dupla de Dançarinos, com sua coreografia perfeitamente sincronizada; a Primeira Pecadora, com sua presença imponente; e Trobio, com seus padrões ofensivos únicos, são destaques. Tessela, em suas segunda e terceira batalhas, oferece um combate incrivelmente rápido e agressivo. E, é claro, há chefes memoráveis por razões únicas, como a Última Juíza, cuja batalha exige um segmento musical de salto preciso e que surpreende com uma autodestruição no primeiro encontro.

Review Hollow Knight Silksong Primeira Pecadora

Em essência, o combate de Silksong é inquestionavelmente mais desafiador que o de seu antecessor. Essa postura intransigente, porém, levanta questões sobre sua acessibilidade. Não se trata mais de uma DLC independente para fãs hardcore; é um jogo que vendeu milhões em três dias, com uma popularidade comparável a títulos AAA. Sua base de jogadores agora inclui um contingente massivo de jogadores casuais e moderados, e sua influência é vasta. Manter a mesma abordagem de dificuldade de anos atrás, neste novo contexto, é uma estratégia arriscada.

Jogadores que não possuem as habilidades reflexivas para superar esse nível de desafio não merecem ser excluídos. O que define um jogador não é seu nível de habilidade inata, mas seu comportamento e sua vontade de se imergir em um mundo. A experiência de jogo não se resume apenas a completar níveis; a imersão em um mundo de estética única e a própria jornada são fontes primárias de prazer.

Felizmente, a Team Cherry demonstrou estar ciente e já começou a implementar ajustes no jogo. No entanto, a grande incógnita que permanece é até que ponto a dificuldade e a hostilidade intrínsecas do design central podem ser realmente mitigadas no final das contas. O equilíbrio entre desafio cativante e frustração repelente permanece tênue.

Brasões e Ferramentas

Review Hollow Knight Silksong brasoes

O sistema de combate de Silksong sofreu uma transformação radical em relação ao seu predecessor, e o catalisador principal para essa mudança são os Brasões. Este novo sistema não é uma mera adição, mas uma reimaginação completa que oferece uma profundidade estratégica impressionante.

Em termos simples, o jogador tem à sua disposição sete módulos de ataque distintos, cada um funcionando como uma classe única. Cada Brasão possui uma habilidade passiva exclusiva e configurações diferentes para equipar ferramentas e aprimoramentos, gerando uma ampla variedade de combinações viáveis que permitem personalizar profundamente o estilo de jogo.

Tomemos como exemplo o Arquiteto, amplamente considerado um dos Brasões mais poderosos. Ele permite que você carregue até três armas de arremesso ou armadilhas, especializando-se em um gênero baseado em acessórios. Seu módulo de ataque próprio é formidável, com um ataque carregado que desfere um dano multiestágio assustador. A verdadeira maestria desse estilo, porém, reside em um estado único: ao usar vínculos para reabastecer itens, o Arquiteto ativa um estado de saúde azul exclusivo, que regenera vida automaticamente ao longo do tempo. Combinado com itens de alto dano que podem ser reabastecidos, é possível derrotar chefes complexos principalmente através de esquivas precisas e poucos ataques devastadores. No entanto, essa potência tem um custo proibitivo: itens poderosos consomem grandes quantidades de Estilhaços, podendo esgotar rapidamente reservas acumuladas por horas.

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É crucial notar que os outros Brasões estão longe de ser inferiores. O Viajante se destaca por sua velocidade de ataque incrivelmente rápida, permitindo envolver os oponentes em uma tempestade de golpes contínuos. A Bruza oferece um equilíbrio ideal entre velocidade e alcance generoso. A Xamã causa dano sólido enquanto proporciona cura sustentada, e o Ceifador se torna uma ferramenta versátil para explorar mapas, graças ao seu grande alcance, um ataque aéreo antidragão e um corte vertical eficaz.

Como mencionado, os novos itens de arremesso e armadilhas surgem como soluções elegantes para muitos dos inimigos mais frustrantes. Os drones de ataque totalmente automáticos rastreiam e eliminam com precisão criaturas voadoras, independentemente de seus padrões de voo erráticos. A Serra e as Tachinhas, com seu dano em vários estágios, mostram-se quase universalmente eficazes contra hordas de monstros terrestres. Um de seus maiores trunfos é a acessibilidade: a maioria dessas ferramentas de aprimoramento pode ser comprada diretamente na loja, um processo muito mais straightforward do que a missão de coleta exigida para melhorar armas no jogo anterior.

Portanto, o sistema de equipamentos de Silksong pode ser considerado uma atualização completa e bem-sucedida. Ele não apenas tem um impacto profundamente positivo na jogabilidade, mas também eleva o prazer tátil do combate a um novo patamar. A única ressalva fica por conta dos controles ao cortar e usar ferramentas, que ainda podem não sentir-se perfeitamente intuitivos para todos. No geral, porém, os Brasões solidificam o combate como uma das maiores e mais inovadoras evoluções da sequência.

Mapa e Exploração

Review Hollow Knight Silksong mapa

O design de mapa em Silksong é, indiscutivelmente, um dos mais refinados do gênero metroidvania. Cada cenário é interligado por uma rede intricada de passarelas e rotas, criando um mundo que se sente orgânico e perfeitamente integrado. A transição da movimentada Cidade Têxtil para seus arredores mais sombrios e selvagens é executada com uma fluência notável, fazendo com que a exploração de Pharloom seja uma jornada contínua e imersiva.

Uma das estruturas mais inteligentes adotadas por Silksong é a divisão da experiência em três atos distintos, cada um oferecendo uma sensação e um ritmo radicalmente diferentes para o jogador.

Ato 1: A Prova de Fogo Inicial

A experiência inicial é relativamente linear. Com objetivos claros e habilidades bloqueadas restringindo severamente as opções de progressão, a maioria dos jogadores segue um caminho semelhante, traçando uma rota em zigue-zague do Vale dos Ossos até a Medula e, finalmente, Campânula. Este design orientado é provavelmente a razão pela qual a Team Cherry inicialmente acreditou que Silksong seria mais acessível para novos jogadores.

Esta seção também oferece acesso antecipado a áreas secundárias desafiadoras, como o Caminho do Caçador, embora permita contorná-las diante de obstáculos intransponíveis. Por exemplo, em vez de enfrentar a Última Juíza – cujo runback exige uma caminhada proibitivamente longa –, jogadores perspicazes podem encontrar uma rota alternativa através da Caminho dos Pecadores e do Pântano Cinzento para adentrar a Cidadela.

No entanto, o maior problema do jogo reside precisamente neste início. O Ato 1 inteiro funciona como uma provação brutal. Com upgrades escassos, ferramentas limitadas e uma economia severamente restrita que coloca preços altíssimos frente a uma ganha de dinheiro pífia, o jogador praticamente não sente nenhuma evolução tangível. Até mesmo a superação de chefes raramente é recompensada de forma significativa. É um período tão árido que um jogador menos persistente muito provavelmente desistirá antes de sequer vislumbrar o Ato 2.

Ato 2: A Explosão de Liberdade

O segundo ato traz um aumento significativo na liberdade de exploração. O jogador pode escolher qual das três melodias principais coletar primeiro, ou ignorá-las completamente para se perder voluntariamente nos segredos da Cidadela. Estratégias para aumentar o poder de forma eficiente se abrem, como priorizar a aquisição do Pulo Duplo e da Garra de Seda. Com mais fontes de Contas do Rosário para obter dinheiro, o jogador finalmente começa a adquirir ferramentas, acessórios e a sentir uma progressão constante e gratificante. Esta parte do jogo concentra a maior quantidade de upgrades de Seda, vida, melhorias para a Agulha e uma infinidade de Brasões e Acessórios para experimentar.

Embora ainda centrado na missão principal, este ato é curto em sua narrativa central, com a maioria do conteúdo sendo opcional. São as missões secundárias que verdadeiramente enriquecem a experiência, permitindo ao jogador mergulhar mais fundo no mundo e, finalmente, testemunhar a evolução palpável de Hornet.

Ato 3: A Consagração do Explorador

O terceiro ato é dedicado àqueles que desejam ir além e concluir tudo o que o jogo tem a oferecer. Com a habilidade de teletransporte, o retraversal pelo mapa é drasticamente acelerado, e o superpulo desbloqueia as últimas áreas secretas, permitindo ao jogador superar os desafios mais aterrorizantes e explorar mapas complexos e divertidos.

Por todo o mapa da Cidade Têxtil, os quebra-cabeças evitam uma dificuldade excessiva. Poucos são os mecanismos que funcionam como “chaves” únicas; a solução geralmente reside na maestria da movimentação. Este design enfatiza brilliantemente a alta mobilidade de Hornet, incentivando os jogadores a confiarem no próprio instinto para discernir quais áreas são inacessíveis no momento e quais caminhos podem ser conquistados com skill pura.

Exploração

O caráter exploratório de Silksong se revela logo nos mapas. Quando você consegue o de uma nova área, ele surge apenas esboçado, com linhas pontilhadas indicando os arredores e sugerindo por onde começar a jornada. Só depois de percorrer o terreno e retornar ao ponto de descanso é que o mapa se completa com linhas sólidas, transmitindo a sensação de algo desenhado à mão, fruto da própria aventura.

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Ainda assim, conquistar cada mapa não é tarefa simples. No início, existe um certo guia: Shakra canta, marca sua localização e ajuda a encontrar onde comprar os mapas. Mas, conforme o jogo avança, essa facilidade desaparece. No estágio intermediário, a sorte tem peso maior que a orientação. Um exemplo cruel é o mapa da Biblioteca, escondido em uma passagem no teto, praticamente invisível mesmo para quem já vasculhou cada canto do cenário.

Esses obstáculos, porém, parecem pequenos quando comparados ao maior problema da exploração: a escassez de bancos. Não importa quão habilidoso seja o jogador ou o quão árdua seja a travessia, sem pontos de descanso suficientes a experiência se torna desgastante. Silksong não exige a mesma precisão cirúrgica de títulos como Celeste, e seus inimigos não são impossíveis. O que pesa é a baixa margem de erro, combinada com longos trechos de foco ininterrupto, que forçam tentativas repetidas e muitas vezes frustrantes.

Os bancos, quase idênticos aos de Hollow Knight, parecem ter parado no tempo. Enquanto jogos do estilo Souls evoluíram suas fogueiras para se alinhar aos hábitos dos jogadores, Silksong prefere manter a tradição — e até brincar com ela. Há bancos falsos, que se transformam em armadilhas, prendem o jogador em mecanismos ou despencam em poços de larvas. Outros exigem pagamento para serem desbloqueados, mas, ao aceitar o custo, o jogador descobre que precisa enfrentar ainda uma longa sequência de saltos para liberar o acesso. Para alguns, isso pode ser visto como uma criatividade de design; para muitos, soa apenas como provocação deliberada.

Review Hollow Knight Silksong Caravana das Pulgas

A frustração aumenta quando, ao tentar comprar um mapa ou abrir um banco, você percebe que está sem dinheiro. As contas de Rosário são escassas, e poucos inimigos deixam cair uma quantia significativa. No labirinto, a quantidade de fios de seda também é limitada. Mesmo ignorando as perdas de morte e completando todas as missões secundárias, há sempre um desequilíbrio evidente entre o que o jogo exige e o que recompensa. Quem deseja ampliar suas ferramentas ou obter munição acaba obrigado a investir tempo em puro farm.

Até o sistema de recompensas parece brincar com a paciência do jogador. Derrotar um chefe sem receber nada de especial já seria frustrante, mas Silksong vai além: nega o banco da área e, em seguida, presenteia o jogador apenas com uma sequência musical acompanhada de saltos obrigatórios. Em outros momentos, o jogo faz o oposto do esperado, oferecendo uma série de inimigos comuns apenas para, de repente, arremessar um chefe inesperado, no exato momento em que se aguardava alívio.

Esse desequilíbrio pode até ter explicação narrativa. Muitos jogadores notam que apenas monstros humanoides carregam moedas, enquanto trabalhadores comuns mal possuem recursos. Essa escolha pode refletir a atmosfera social e econômica do mundo de Silksong. Mas, mesmo como detalhe de enredo, essa lógica não deixa de prejudicar a experiência, principalmente no ato inicial, quando cada recurso conta.

Dificuldade Artificial

Ser obrigado a refazer o caminho até um chefe depois de quase sempre morrer na primeira tentativa não cria tensão ou engajamento — gera apenas tédio. Não há problema em desenhar um jogo que proponha sofrimento ao jogador, mas isso precisa vir acompanhado de mecânicas que tornem a dor instigante e não um exercício de pura frustração. Fica a dúvida: o que realmente se perderia se a Hornet simplesmente renascesse fora da arena do chefe, evitando a repetição cansativa que prejudica o ritmo?

Esse tipo de design punitivo tem um efeito direto: a exploração deixa de ser excitante e se transforma em algo intimidante. Em vez de se perguntar o que há atrás de uma parede oculta ou de sentir a expectativa de uma descoberta, o jogador acaba preso ao pensamento de quanto tempo passou desde o último banco. Essa sensação vai contra o que define o espírito de um Metroidvania, onde a curiosidade deveria ser a força motriz.

Review Hollow Knight Silksong Bilibrejo Boss

A economia do jogo só reforça essa rigidez. Os rosários, moeda essencial, são escassos e frágeis. Se o jogador não tiver cordas suficientes para amarrar suas reservas, a ameaça de perder tudo ao morrer antes de alcançar um casulo paira constantemente. Como a distribuição dessas moedas é limitada durante grande parte da campanha, o medo de ficar sem recursos toma o lugar do prazer de explorar.

Isso gera um ciclo repetitivo: o jogador é incentivado a realizar viagens de retorno frequentes até os poucos vendedores ou máquinas que guardam o dinheiro, quebrando o fluxo natural da aventura. Essa economia restritiva, herdada de convenções do gênero Soulslike, contrasta diretamente com a ideia de liberdade que deveria sustentar um Metroidvania. O que poderia ser um ciclo vibrante de descoberta acaba contaminado por uma lógica de contenção.

Os sistemas de suporte, como missões secundárias e o arsenal personalizável da Hornet, também não chegam a compensar. Os chamados Desejos trazem pedidos de cidadãos e viajantes de Pharloom, oferecendo pitadas de humor e caracterização que lembram o talento da Team Cherry para diálogos sutis. Mas, na prática, muitos desses objetivos se reduzem a tarefas banais como “elimine uma quantidade x de inimigos“, desperdiçando o potencial narrativo e mecânico dessas interações.

Gráficos e Direção de Arte

Review Hollow Knight Silksong Luta contra Tessela

Os visuais de Silksong são simplesmente deslumbrantes. A Team Cherry pegou a já charmosa arte desenhada à mão de Hollow Knight e a elevou a outro nível: animações mais fluidas, iluminação refinada e efeitos visuais que dão nova vida ao universo. O resultado é um jogo que não apenas mantém a identidade artística do original, mas a amplia com uma força estética arrebatadora.

Explorar cada cenário é uma experiência em si. Muitas vezes me vi parando por alguns instantes apenas para absorver a paisagem, admirando os contrastes de cores, a vibração dos ambientes e os pequenos detalhes que parecem cuidadosamente pintados um a um. Se Hollow Knight já era uma obra de arte, Silksong parece multiplicar esse impacto por dez. Ari Gibson, diretor artístico, consegue imprimir uma assinatura única em cada área, e é difícil não sentir certa inveja diante de tanto talento.

O mundo de Pharloom se revela como uma tapeçaria viva. Em Docas Profundas, partículas incandescentes flutuam no primeiro plano, criando um ar opressivo de calor e movimento. Já em Campânula, corredores cheios de sinos ressoam e vibram a cada passo da Hornet, transformando a travessia em um espetáculo audiovisual.

As várias camadas de cenário se sobrepõem com precisão, a rolagem parallax dá uma profundidade cinematográfica e os detalhes posicionados ao fundo reforçam a escala colossal do ambiente. Pharloom não é apenas um lugar bonito: é um mundo tangível e ameaçador, que prende o olhar tanto quanto desafia a coragem do jogador.

Trilha Sonora e Som

A trilha sonora de Silksong representa, para mim, um avanço claro em relação à do jogo original. Embora a música seja sempre uma experiência subjetiva, é difícil não notar como os instrumentos ganham protagonismo, em vez de ficarem em segundo plano. Essa escolha dá mais vida e força à atmosfera de Pharloom, diferenciando-a de Hallownest e reforçando sua identidade própria.

Entre as faixas, a que mais me marcou foi a melancólica Bilibrejo. Ela transforma uma região de pura sujeira e decadência em algo quase contemplativo, dotando o espaço de uma beleza inesperada. Já a do Mecanismo Vital é outra favorita: densa, envolvente e perfeitamente ajustada ao ambiente em que toca. Uma pena que esteja restrita a uma área tão limitada, porque sua força merecia mais espaço no jogo.

O design de som também mantém um padrão altíssimo. Cada impacto carrega um peso sonoro marcante, transmitindo impacto real em combate. Além disso, a variedade de falas e efeitos que acompanham os personagens dá a impressão de uma superprodução, como se tivesse sido realizada por uma equipe gigantesca. No entanto, tanto o design quanto a trilha são frutos do trabalho minucioso de Christopher Larkin, o que torna o resultado ainda mais impressionante.

Vale a Pena?

Hollow Knight Silksong novo trailer

Talvez daqui a alguns anos, ao reler as críticas entusiasmadas de Hollow Knight: Silksong e consultar guias que destrincham cada detalhe de Pharloom, muitos se perguntem por que o jogo recebeu tantas ressalvas em seu lançamento. Mas as emoções dos jogadores naquele momento eram reais, e o impacto de sua frustração não deve ser ignorado se quisermos compreender o verdadeiro espírito dessa obra.

Não tenho dúvidas de que Silksong será considerado o Jogo do Ano por uma grande parcela de jogadores. Ainda assim, falo a partir de uma experiência limitada — finalizei o final verdadeiro em pouco mais de 55 horas — e sei que meus elogios ao design de mapas, à narrativa e ao combate podem soar pequenos diante da dedicação de fãs mais experientes. Só posso registrar minha própria jornada, com suas maravilhas e arestas, mesmo que parte dessas críticas já tenha sido amplamente discutida pela comunidade.

Silksong pode muito bem se tornar um monumento, mas seu brilho também carrega cicatrizes. E essas marcas não diminuem sua grandeza; pelo contrário, tornam o jogo mais autêntico e humano, digno de ser lembrado por tudo o que ofereceu e também pelo que exigiu de seus jogadores.

Ao ver os créditos, segurei o controle com a vontade imediata de voltar e limpar o mapa inteiro. A exploração é tão recompensadora que me vi vasculhando cada canto com prazer, algo que, para mim, superou até mesmo o primeiro jogo. Os encontros opcionais escondem alguns dos maiores desafios, e cada nova ferramenta ou brasão abre possibilidades para estilos de jogo completamente diferentes.

O auge da diversão coloca Silksong acima dos meus favoritos de todos os tempos, mas os momentos de punição lembram que ele nem sempre é justo. Por isso, minha recomendação vem com cautela: avance devagar, mantenha o ritmo e tente não deixar a frustração soterrar o encanto, por mais que o jogo se esforço do contrário.

No fim, Silksong é um jogo incrível, mas com escolhas questionáveis. No seu melhor, é quase perfeito: combate refinado, visuais deslumbrantes, narrativa envolvente e uma trilha sonora muito boa. No seu pior, é punitivo, repetitivo e propositalmente irritante. Para quem aceita o desafio, pode muito bem ser o melhor jogo de 2025; mas para os que não suportam dificuldades severas, talvez seja uma experiência impossível de recomendar.

Silksong é, acima de tudo, um Metroidvania ambicioso e cheio de ideias, ainda que sacrifiquem parte do equilíbrio que fez o original tão amado. A repetição de caminhadas até chefes e a economia rígida das moedas limitam a liberdade de experimentar ferramentas, mas a atenção obsessiva da Team Cherry transparece em cada ambiente vibrante, em cada chefe meticulosamente animado e em cada detalhe de Pharloom. É um mundo do qual não conseguimos nos cansar, mas que exige, em troca, paciência e resiliência.

Confira a Política de Reviews do PS Verso

Notas do Jogo
Hollow Knight Silksong cover

Título: Cronos: The New Dawn

Descrição do jogo: Descubra um vasto reino assombrado em Hollow Knight: Silksong! Explore, lute e sobreviva enquanto ascende ao topo de uma terra governada pela seda e pela música.

Gênero: Metroidvania e Aventura

Lançamento: 04/09/2025

Produtora: Team Cherry

Distribuidora: Team Cherry

COMPRAR

Nota
8.9/10
8.9/10
  • História - 8.5/10
    8.5/10
  • Jogabilidade - 9/10
    9/10
  • Gráficos - 9/10
    9/10
  • Trilha Sonora e Som - 9/10
    9/10

Veredito

Silksong é uma obra ambiciosa, deslumbrante e ao mesmo tempo imperfeita. Seus chefes, cenários e trilha sonora elevam a experiência a momentos memoráveis, mas a dificuldade punitiva e a repetição constante podem desgastar até jogadores dedicados. Ainda assim, a sensação de exploração pode ser viciante para fãs, transformando cada nova descoberta em um triunfo pessoal. É um jogo que fascina tanto quanto frustra, sempre exigindo paciência e resiliência de quem se aventura por Pharloom. No fim, Silksong brilha como um dos títulos mais marcantes de 2025, mesmo com suas cicatrizes, e será lembrado por tudo o que ofereceu e também pelo quanto exigiu de seus jogadores.

Vantagens

  • Lutas épicas e divertidas contra alguns chefes que testam seus limites
  • Movimento preciso, divertido e cheio de opções
  • Exploração de mundo impecável e envolvente
  • Arte, ambientes e trilha sonora deslumbrantes

Desvantagens

  • Dificuldade intensa que pode soar injusta
  • Grande curva de aprendizado para iniciantes
  • Exploração pode parecer mais punitiva que recompensadora
  • Travessia repetitiva ao retornar para enfrentar chefes

San Moreira
Sanzio Moreira tem 34 anos e é Jornalista, Fundador e Editor-Chefe do PS Verso. Amante da cultura gamer e sempre apaixonado pelo universo. Atuo como jornalista e Content Manager do mercado de games por 6 anos. Tive a ideia de criar este site exclusivamente pela vontade informar e ajudar a comunidade gamer brasileira.