Review | Souldiers


Uma tendência que anda ocorrendo na cena de jogos independentes é que todo mês há um metroidvania, soulslike ou roguelike sendo lançado nas mais variadas plataformas com diversas propostas e isso não foi diferente para o estúdio de desenvolvimento chamado Retro Forge Games que decidiu ter como primeiro jogo, um metroidvania com elementos de soulslike chamado Souldiers.

Com tantas propostas parecidas, é uma tarefa árdua se destacar no cenário do gênero onde a cada vez que se passa, fica mais difícil conseguir se tornar único num mar de obviedades e Souldiers até tenta ir para o topo dessa pilha de jogos ela sua diversão e variação de gameplay, mas por uma soma de decisões ruins e problemas técnicos, não consegue se destacar de forma relevante na multidão.

História

Começamos no meio de uma guerra, no reino de Zarga, uma das três nações que governam o continente de Ascil. No Conselho Real, comandantes discutem as preparações de um plano militar contra o exército de Dadelm.

O Conselho de Guerra é liderado pelo Rei de Zarga, que anuncia o posicionamento determinado das tropas do General Brigard. Akzel, o feiticeiro e conselheiro do rei, sugere uma mudança de estratégia e muda o posicionamento das tropa do General Brigard, levando as tropas do reino de Zarga para à beira de uma caverna.

Enquanto os soldados esperam o confronto contra o inimigo, eles percebem que algo não está certo e um terremoto devasta a região, prendendo toda a tropa junto com o General Brigard em uma caverna escura.

Review Souldiers

Uma silhueta brilhante surge dentro da caverna no meio dos soldados, iluminando todo o local vemos que o ser brilhante se trata de uma Valquíria, uma entidade que guia pessoas mortas para uma terra chamada Terragaya, uma espécie de dimensão entre os mundos dos vivos e dos mortos. A Valquíria diz que a linha que os conecta à vida se rompeu no momento do fechamento da passagem e que forças malignas impedirão que qualquer um os ajude a sair.

O General Brigard, sentindo-se sem saída, assume a dianteira da tropa e parte na frente para abrir caminho, entrando no portal dimensional para a terra desconhecida. A tropa logo segue seu líder e com isso conhecemos o nosso personagem que guiaremos durante a jornada; no jogo somos um soldado aleatório da tropa.

Campanha

Dentro de Terragaya, nos primeiros passos dentro deste lugar mágico, nos deparamos com Liandris, a Matriarca das Valquírias. Misteriosa, Liandris nos conta que Teragaya é governada por um deus terreno, um Guardião que nos aguarda. Ela nos confere uma missão, onde devemos encontrar o Guardião, caso conseguirmos, seremos nomeados como campeão da grande batalha dos deuses, o Ragnarok, recebendo poderes além da compreensão. Só que a tarefa não será tão fácil, já que além da sua tropa, uma presença maligna que está corrompendo seres vivos adentrou dentro de Terragaya por motivos desconhecidos.

review souldiers

Sua campanha foca em encontrar um caminho para sair de Terragaya e isso engloba a realizar missões específicas que o jogo vai te oferecendo que começam desde a libertar generais da sua tropa até ajudar alienígenas que tiveram a sua nave tomada por piratas espaciais. Apesar da aleatoriedade e ter uma salada de elementos fantásticos dentro da sua narrativa (como misturar conceitos da mitologia nórdica e seres cósmicos saídos de um filme de ficção científica), Souldiers é até muito bom na sua lore e até no carisma de alguns personagens, mas isso tudo se perde pela falta de ritmo e por decisões estranhas de roteiro.

Por ser um jogo difícil, as vezes ficamos horas sem prosseguimento da trama central, permanecendo presos em histórias e desenvolvimento de personagens que não representam grande coisa na campanha. As motivações de personagens mais importantes dentro da campanha são pouco explicadas e origens importantes de outros são reveladas por intermédio de cristais que precisam ser encontrados pelo jogador, prejudicando backgrounds narrativos e tornando a história uma confusão com buracos de roteiro desnecessários. Somos surpreendidos no final, ao saber que grande parte das respostas sobre o que aconteceu no início da história não serão respondidas, resultando em uma história que não se resolve nem nas motivações principais que acontecem no continente de Ascil e tampouco no que aconteceu em Terragaya, tornando-se uma história frustrante.

Gameplay

Review Souldiers

Para resumir o estilo de Souldiers, ele é um jogo metroidvania com elementos de soulslike. O jogo apresenta uma jogabilidade 2D onde sua missão é derrotar monstros e criaturas fantasiosas, resolver quebra-cabeças, encontrar itens especiais, melhorar nosso personagem e fazer missões principais e secundárias passando por mapas e vilarejos diversos em busca de informações que dão a saída de Terragaya.

Falando sobre o que o difere de outros jogos do gênero, Souldiers apresenta três classes diferentes à disposição da escolha do jogador: patrulheiro, conjurador e arqueiro. Cada uma possui status, movimentos, moveset e ataques que mudam a experiência do jogador. O patrulheiro é o mais balanceado entre eles onde absorve ataques com escudo e ataca inimigos com a espada. O arqueiro é ideal para jogadores que desejam combates à distância e mais velocidade. O conjurador fornece uma experiência um pouco mais lenta, mas mais mortal com magias poderosas.

Uma coisa que une as três classes é a facilidade de aprender os conceitos básicos de Souldiers. À medida que vamos avançando na campanha, como todo metroidvania, ganhamos novos movimentos tanto para exploração como pulo duplo e corrida quanto para combate, com movimentos giratórias, investidas e etc. Com isso, entregando uma experiência divertida que o gênero proporciona.

Review Souldiers

Souldiers também empresta outro elemento claramente inspirado em outra série, Megaman. Nosso personagem irá ganhar orbes com poderes elementais. São cinco orbes: fogo, água, vento, eletricidade e areia. Cada orbe muda a cor do personagem, ajuda resolver quebra-cabeças nas dungeons e aplicam mais danos a inimigos com fraqueza a um elemento em específico assim como você pode ser resistente ou tomar mais dano caso um inimigo um ataque elemental contrário ao seu.

Mas com tudo isso, onde sobra a característica soulslike de Souldiers? No combate e nas dungeons.

Acredito que esse lado tenha sido o mais criticado no seu lançamento, já que antes da atualização, Souldiers era um jogo bem difícil até no seu modo mais fácil. O jogo acabou passando do ponto e foi taxado até como injusto com inimigos comuns resistentes a dano e fortes demais, pouco drop de saúde, itens de cura muito caros e dinheiro escasso. Com a mais recente atualização lançada no fim de junho, esse problema foi sanado já que ele se tornou um jogo mais acessível sem perder seu lado desafiante.

Review Souldiers

Souldiers apresenta uma variedade muito boa de inimigos com movesets diferentes que irão desafiar o jogador, além disso, suas dungeons e mapas apresentam também desafios e armadilhas escondidas só a espera de um jogador desavisado. Em dungeons o jogador irá encontrar inimigos sozinhos ou hordas para lidar, mas é nas batalhas contra subchefes e chefes que sua mecânica coloca os jogadores à prova. Com batalhas que versam ora pela habilidade e reflexo do jogador e ora por esperar janelas de ataque e quebra-cabeças, os chefes do jogo são difíceis, mas divertidos.

Review Souldiers

Acontece que apesar de adquirirmos muitos movimentos legais, sua usabilidade é pouco prática já que por diversas vezes eu tentava acioná-los e acabava não saindo por uma demora na resposta dos movimentos. Os parries que o jogo te incentiva a usar foram pouco usados, já que inimigos são muito rápidos e te obrigam a estar sempre desviando e se movimentando, o parry é mais usual para combates mais lentos, que não ocorre em nenhum momento no jogo. Existe outro problema que limita a movimentação do personagem que é uma espécie de cooldown de dashes, desvios e pulo duplo. Se um jogo já é difícil por natureza, é desnecessário limitar tanto o jogador assim sob o risco de exagero.

Review Souldiers

Agora outro problema em Souldiers são suas dungeons, apesar de serem criativas e com quebra-cabeças interessantes como acionar geradores e conseguir cartões de nível de acesso para liberar portas, elas são exageradamente longas e confusas. As masmorras possuem muito backtracking e exigem muito o uso do mapa para se localizar. Por diversas vezes me perdia do que precisava fazer e esquecia de passagens onde já tinha aberto. Alguns botões para liberar portas ficam escondidos e inimigos respawnam a cada iteração com o save, atrapalhando a exploração. No resultado, algumas dungeons iremos gastar pouco mais de duas horas num mesmo lugar, e na terceira elas acabam se tornando repetitivas e irritantes, cansando o jogador.

Gráficos

Review Souldiers

Sem dúvida é o aspecto mais bem produzido de Souldiers. Claramente sendo um jogo que usa a técnica pixel art, as imagens dos sprites de Souldiers são bem feitas, contando com animações competentes. O maior destaque vai para seus cenários bonitos, ricos e variados contando com um cuidado nos detalhes. Não é surpresa ver que dentro de somente uma dungeon podemos ver biomas e cenários diferentes entre si sem perder a coesão. Contando com áreas que variam de minas tomadas por teias de areia e casulos, naves tecnológicas, esgotos e estações de bombeamento de água, florestas densas, pântanos, montanhas, planícies, pirâmides e uma quantidade gigante de lugares, Souldiers é muito bonito e colorido. A direção de arte do jogo demonstra um enorme esforço no visuais e uma amostra disso é na cidade de Hafin que  apesar de pequena, conta com vida, como NPCs singulares.

Review Souldiers

Apesar do seu destaque nos visuais, o jogo conta com diversos problemas técnicos como loadings demorados, quedas de fps e stutter. Para a transição de mapas ou mesmo quando morremos, o jogo demora bons segundos de carregamento, isso para um jogo de exploração e desafiante, acaba por esgotar a paciência do jogador, que já se frustra pela alta dificuldade e ainda pela demora pra ter que retornar para o jogo. Sobre as quedas de frame, o jogo apresenta piora quando muitos inimigos estão na tela, tendo que obrigar o jogador a lidar com a alta dificuldade e a falta de qualidade de performance do jogo nesses momentos. Sobre o stutter, ele se apresenta como travamentos rápidos quando acessamos os saves, não chega a incomodar a experiência do gameplay, mas são feios de testemunhar em um jogo como esse.

Trilha Sonora e Som

A trilha sonora de Souldiers é composta por Will Savino, que já trabalhou em outras trilhas de jogos independentes. A OST tenta capturar a essência de Terragaya percorrida por ambientes fantásticos, misteriosos e de aventura.

Tentando reproduzir combates perigosos e cenas arrepiantes, descontraídas e humorísticas, as 43 faixas do jogo são competentes, embora pouco memoráveis. Por inspiração, suas músicas capturam jogos da década de 90 e outros modernos para evocar sons familiares aos jogadores.

O jogo não conta com dublagens, mas conta com uma boa localização para português do Brasil, com legendas, menus, bestiários, guias e diversas partes inteiramente traduzidas.

Vale a Pena?

review souldiers

Souldiers quase chega lá para se tornar um dos melhores do gênero, mas por uma soma de problemas técnicos e de mecânicas, fica pelo meio do caminho.

Com uma história até superior a outros jogos do gênero, ela peca pela falta de ritmo provocada pela sua alta dificuldade e dungeons exageradamente longas. Personagens são esquecidos, tramas ficam um bom tempo sem resolução e partes essenciais da lore do enredo precisam ser encontrados, resultando em um enredo incompleto com diversas pontas soltas.

Com suas longas 22 horas e que podem se estender para quase o dobro caso se interesse pelos extras, Souldiers é um desses jogos tão desafiantes que se tornam chatos. Apesar de divertido até a sua metade com classes que diversificam a experiência de gameplay e uma progressão satisfatória, logo acaba por se repetir e tirar a paciência do jogador por não ter nada a mais oferecer que cenários bonitos, revelando que para adotar um elementos tão arriscados como soulslike, precisa ir além de combates e inimigos difíceis, precisa de carisma.

Notas do Jogo
review souldiers

Título: Souldiers

Descrição do jogo: Enquanto combatiam pela glória do reino, tu e os teus companheiros soldados são levados para Terragaya, uma terra mística na fronteira entre a vida e a morte. A tua tarefa é localizar o Guardião e avançar para o próximo mundo. O problema? Na verdade, tu e os teus compatriotas nunca morreram. Luta para chegares ao coração do mistério: supera inimigos astutos, resolve puzzles terríveis, melhora a tua personagem e explora todos os cantos de um mundo em 16 bits deslumbrante e complexo. Souldiers é um épico retro que ficará para a história

Gênero: Ação e Metroidvania

Lançamento: 02/06/2022

Produtora: Retro Forge

Distribuidora: Dear Villagers

COMPRAR

Nota
7.4/10
7.4/10
  • História - 6/10
    6/10
  • Jogabilidade - 7/10
    7/10
  • Gráficos - 8/10
    8/10
  • Trilha Sonora e Som - 8.5/10
    8.5/10

Veredito

Souldiers quase chega lá para se tornar um dos melhores do gênero, mas por uma soma de problemas técnicos e de mecânicas, fica pelo meio do caminho.

Com uma história até superior a outros jogos do gênero, ela peca pela falta de ritmo provocada pela sua alta dificuldade e dungeons exageradamente longas. Personagens são esquecidos, tramas ficam um bom tempo sem resolução e partes essenciais da lore do enredo precisam ser encontrados, resultando em um enredo incompleto com diversas pontas soltas.

Com suas longas 22 horas e que podem se estender para quase o dobro caso se interesse pelos extras, Souldiers é um desses jogos tão desafiantes que se tornam chatos. Apesar de divertido até a sua metade com classes que diversificam a experiência de gameplay e uma progressão satisfatória, logo acaba por se repetir e tirar a paciência do jogador por não ter nada a mais oferecer que cenários bonitos, revelando que para adotar um elementos tão arriscados como soulslike, precisa ir além de combates e inimigos difíceis, precisa de carisma.

Vantagens

  • Lore interessante e instigante;
  • Personagens carismáticos;
  • Boa variação de experiência de gameplay;
  • Bastante conteúdo para ser descoberto;
  • Cenários bonitos e coloridos.

 

Desvantagens

  • Desenvolvimento da campanha com problemas de ritmo e com buracos de roteiro;
  • Alta dificuldade passa do ponto em alguns locais no seu lançamento;
  • Dungeons exageradamente grandes;
  • Telas de loading grandes;
  • Problemas técnicos prejudicam a experiência;

Qual a sua Opinião?

Gostei Gostei
46
Gostei
HAHAHA HAHAHA
6
HAHAHA
Não Gostei Não Gostei
33
Não Gostei
Bravo Bravo
66
Bravo
Legal Legal
13
Legal
Chorando Chorando
20
Chorando
Surpreso Surpreso
26
Surpreso
San Moreira
San Moreira tem 33 anos e é natural de São Paulo. Eu sou formado em Banco de Dados e Gestão Empresarial. Amante da cultura gamer, sempre apaixonado pelo universo. Atuando como jornalista e Content Manager de games com foco na plataforma PlayStation e Battle Royales como Free Fire. Teve a ideia de criar este site exclusivamente pela vontade informar e ajudar a comunidade gamer.