A Ryu Ga Gotoku Studio nunca para de nos surpreender. Após os elogiados The Man Who Erased His Name (2023) e o Infinite Wealth (2024), o estúdio ainda tem criatividade o bastante para criar narrativas com qualquer personagem, inserido nos cenários mais improváveis e é isso que acontece no Like a Dragon: Pirate Yakuza in Hawaii.
Unindo o submundo criminoso da Yakuza e o caos libertário dos piratas, agora controlamos o antigo vilão da série, Goro Majima, um ex-yakuza sanguinário que foi sendo humanizado nos recentes jogos até se tornar protagonista do seu próprio game.
Prometendo uma narrativa densa, divertida e repleta de personagens únicos, o jogo também irá implementar mecânicas como batalhas navais, minigames, ação e uma quantidade relevante de conteúdo.
Like a Dragon: Pirate Yakuza in Hawaii será lançado no PlayStation 5 em 21 de Fevereiro de 2025.
História
Seis meses após os eventos de Infinite Wealth, Goro Majima — ex-lendário do Clã Tojo — desperta desacordado em uma praia paradisíaca da Ilha Rich, um lugar de palmeiras douradas e segredos enterrados. Salvo por Noah Rich, um garoto de espírito livre, e seu filhote de tigre chamado Goro (ironicamente batizado em homenagem ao herói amnésico), Majima encara um vazio: sua memória foi apagada, deixando apenas fragmentos de um passado violento e a incômoda sensação de que alguém o quer morto.
A trama se inicia quando Majima, ainda confuso, salva Noah de um ataque de piratas havaianos — selvagens tatuados que aterrorizam a ilha. Esse ato de bravura o leva a Jason Rich, pai de Noah, um ex-caçador de tesouros que trocou aventuras por garrafas de rum e a melancolia de um bar decadente à beira-mar. Jason, porém, guarda um segredo: seu antigo mapa pirata, rabiscado com coordenadas que podem levar ao mesmo tesouro que atrai os criminosos.
Movido pela pureza dos sonhos de Noah — que enxerga em Majima um “pirata herói” — e pela necessidade de reconstruir sua identidade, o ex-yakuza abraça uma nova vida no mar. A bordo do Goromaru, um navio pirata velho, Majima forma uma tripulação improvável:
- Noah, cuja coragem infantil esconde uma curiosidade perigosa;
- Jason, um homem quebrado pela culpa, mas ainda hábil com um mosquete;
- Masaru Fujita, cozinheiro sarcástico e ex-contrabandista, cujas facas cortam tanto peixes quanto gargantas;
- Goro, o tigre, símbolo da ferocidade latente de Majima.
Juntos, eles navegam as águas turvas do Havaí, desvendando ilhas esquecidas e enigmas ancestrais. Porém, à medida que se aproximam do tesouro, descobrem que uma organização criminosa também está em sua cola. A busca pela memória e pelo ouro transforma-se em uma corrida contra o tempo, onde cada batalha naval e escaramuça em portos duvidosos revela pedaços de um quebra-cabeça mortal.
Campanha
Assim como nos títulos clássicos da série, Pirate Yakuza in Hawaii mantém a fórmula que consagrou a franquia: diálogos carregados de personalidade, personagens excêntricos que roubam a cena e uma narrativa que oscila entre drama visceral e absurdos hilários — como um tigre bebendo rum ou um pirata que desafia Majima para uma dança de hula em pleno combate. Com 17-18 horas de duração, a jornada é uma montanha-russa emocional, onde cada capítulo entrega revelações e momentos que redefinem lealdades.
A trama, que à primeira vista parece um simples “corrida pela fortuna perdida”, ganha profundidade graças à química entre Majima e sua tripulação. O grupo se vê forçado a colaborar com Rainha Michelle, uma senhora enigmática que comanda a região com punho de ferro.
O que poderia ser uma jornada repetitiva torna-se cativante pelo desenvolvimento dos personagens secundários.
No fim, é a humanidade dos personagens que ressoa. A verdadeira recompensa é ver Majima, um homem que já foi definido por violência, redescobrir sua identidade através de laços frágeis — e perceber que, talvez, pirataria seja sua última chance de redenção. E aí está a genialidade: mesclar sangue, suor e lágrimas com um sorriso de deboche tipicamente Yakuza.
Gameplay
Enquanto muitos spin-offs da série Yakuza optam pelo combate por turnos em suas mecânicas, títulos como The Man Who Erased His Name e Pirate Yakuza in Hawaii resgatam a essência nostálgica dos beat ‘em ups, priorizando ação frenética e estilos de luta dinâmicos. Na mais recente aventura em Pirate Yakuza in Hawaii, Goro Majima — personagem icônico da franquia — surpreende ao dominar dois estilos de combate radicalmente distintos: o clássico “Cachorro Louco” (Mad Dog) e o novo “Lobo do mar” (Sea Dog), cada um adaptado a contextos narrativos e estratégias únicas.
No “Cachorro Louco”, Majima mantém sua assinatura violenta e imprevisível: movimentos ágeis, socos rápidos que desequilibram inimigos e cortes precisos com sua adaga característica, uma coreografia que remete à sua história como ex-clã Tojo. A velocidade é sua maior arma, permitindo esquivas relâmpago e combos que transformam batalhas em espetáculos de puro caos controlado.
Já o “Lobo do Mar” introduz um universo tático expandido, refletindo o cenário selvagem do Havaí. Aqui, Majima empunha duas espadas curtas para golpes devastadores, mas o verdadeiro diferencial está no arsenal pirata: uma pistola de pederneira para ataques à distância e ganchos que puxam adversários para perto. Esse estilo mescla brutalidade com a criatividade de um corsário, incentivando o jogador a improvisar entre cortes, disparos e armadilhas.
A dualidade entre os estilos não só enriquece a jogabilidade, mas também reforça a identidade de Majima como um personagem complexo: o cachorro fiel que protege seus valores e o pirata renegado que desafia regras. Essa evolução, aliada à liberdade do beat ‘em up, consolida Pirate Yakuza in Hawaii como uma experiência que reinterpreta o passado sem abandonar a ousadia.
Combate
A essência do combate reside na maestria de combos e no controle estratégico de hordas, elementos que Pirate Yakuza in Hawaii eleva a um patamar visceral. Seguindo a tradição da franquia, o jogo mantém sua identidade brutal, com uma quantidade generosa de combos que fluem de forma orgânica, permitindo trocar entre os estilos “Cachorro Louco” e “Lobo do Mar” instantaneamente, mesmo durante sequências de ataques. Essa liberdade tática não só amplia a versatilidade, mas cria uma coreografia de destruição que esmaga inimigos sem dar espaço para reação — um balé de socos, lâminas e ferramentas piratas que exige precisão e timing impecável.
Para expandir seu arsenal, o jogador investe pontos de habilidade e dinheiro em uma árvore de upgrades multifacetada. Além de desbloquear novos golpes — como cortes giratórios com espadas ou combos aéreos com a adaga —, é possível reforçar atributos básicos, como força bruta (aumentando dano crítico) e vigor (ampliando a barra de saúde), garantindo que Majima evolua de mercenário impiedoso a lenda indomável das ruas.
Mas o verdadeiro wildcard está na Barra de Cólera de Majima, recurso que adiciona camadas de imprevisibilidade ao caos. Quando preenchida, ela permite:
- Ataques Mortais: ataques únicos que variam conforme o contexto — um revólver pirata disparando à queima-roupa no estilo “Lobo do Mar” ou uma saraivada de socos com efeito stun no “Cachorro Louco”.
- Cães Loucos: habilidade que invoca clones ilusórios de Majima para distrair e atacar inimigos, criando brechas para ataques surpresa.
- Instrumentos Sombrios: quatro invocações devastadoras, como um canhão de navio fantasma que arrasa grupos ou uma adama envenenada que causa sangramento prolongado. Esses recursos transformam batalhas em espetáculos de pura anarquia, onde o jogador alterna entre controle técnico e excessos calculados.
Assim, cada confronto se torna uma expressão da dualidade de Majima: a disciplina de um veterano e a loucura de um fora da lei, equilibradas em um sistema que recompensa tanto a estratégia quanto a audácia.
Navio e Combates Navais
Se há um elemento que define Pirate Yakuza in Hawaii como uma experiência única na franquia, é o sistema de gerenciamento do navio Goromaru, um mecanismo que mistura exploração estratégica, customização profunda e combates épicos — tanto no mar quanto no convés. Este não é apenas um meio de transporte: é uma extensão da identidade de Majima, um lar flutuante e uma arma letal.
O mundo é fragmentado em ilhas distintas, cada uma com sua própria cultura e perigos:
- Ilha Rich: O ponto de partida paradisíaco.
- Madlantis: Uma cidade caótica, dominado por arenas de combate e mercados negros.
- Havaí: Uma mistura de resorts luxuosos e favelas escondidas.
- Ilha Nele: Território místico, onde lendas locais alertam sobre tesouros ancestrais.
Para cruzar esses locais, você veleja com a tripulação em tempo real, enfrentando:
- Tempestades dinâmicas que exigem ajustes de rota.
- Rodamoinhos que te sugam se você ousar navegar próximo.
Durante a navegação, é possível:
- Coletar recursos flutuantes (madeira, tecidos, metais) para melhorias.
- Saquear ilhas desertas em busca de moedas de ouro e tesouros raros.
Combate Naval: Simplicidade com Estilo
Inspirado em Assassin’s Creed, mas com a cara da franquia Yakuza, o combate naval é acessível porém viciante. Controlando o Goromaru, você usa:
- Canhões básicos para dano constante.
- Metralhadoras para desativar velas inimigas e reduzir mobilidade.
- Bombas de fumaça para criar cortinas táticas.
A progressão traz armas surrealmente divertidas:
- Canhões de lança-chamas para incendiar decks adversários.
- Bazucas de gelo que congelam partes do navio, quebrando-as com um segundo disparo.
- Lasers (sim, lasers) obtidos em loja, ideais para fatiar cascos.
O ápice vem nas Batalhas de Convés: após danificar um navio inimigo, você invade o deck com Majima e até 20 tripulantes recrutados, enfrentando o capitão e sua guarda em combates corpo a corpo. Aqui, a jogabilidade volta às raízes beat ‘em up.
Customização: Seu Navio, Sua Identidade
O Goromaru pode ser customizado, podendo mudar vela, casco, cor, figura de proa e instalar adornos, esses itens estão disponíveis em diversas lojas para serem comprados.
Tripulação: Recrute, Treine, Domine
A gestão da tripulação é vital. Espalhados pelo mapa, candidatos a piratas exigem missões únicas para serem recrutados.
Cada membro tem:
- Classes: Tanques, Atacantes, Curadores, Atiradores.
- Níveis: Evoluem através de combates.
No calor da batalha, o Medidor de Voltagem permite ativar habilidades de suporte como aumento de atributos como ataque, defesa e cura.
Coliseu dos Piratas: Onde Lendas São Forjadas
Em Madlantis, o Coliseu é um desafio opcional para os mais insanos. Uma espécie de torneio onde o jogador participa de partidas contra outros piratas em busca de dinheiro e itens.
Equipamentos
Em uma reviravolta que substitui a tradicional obsessão por armas e armaduras, Pirate Yakuza in Hawaii introduz um sistema de anéis como núcleo da personalização de Majima. Cada dedo de suas mãos (sim, até o polegar!) pode equipar um anel com efeitos únicos, transformando suas mãos em arsenais de buffs e habilidades. A mecânica é simples, mas profundamente estratégica:
- Sinergia entre Dedos: Alguns anéis só funcionam em dedos específicos.
- Combinações Temáticas: Alguns anéis, se equipados juntos, podem gerar efeitos adicionais.
Gráficos e Direção de Arte
A decisão de manter a Dragon Engine — mesma de Yakuza: Like a Dragon — é um acerto e um tropeço. Por um lado, a engine ainda entrega:
- Cenários Vibrantes: A Ilha Rich brilha com águas cristalinas e recifes de corais que parecem pintados, enquanto Madlantis é um caos neon de luzes e sombras, evocando Blade Runner em clima tropical.
- Expressões Faciais: Os closes em diálogos capturam nuances.
Por outro, a idade técnica salta aos olhos:
- Texturas “Tapa-Buraco”: O timão do Goromaru parece uma placa de papelão, e a cadeira do prólogo falta textura.
- Reutilização de Ativos: Todas as construções, objetos, inimigos são copiados e colados do jogo anterior.
- Limitações em 2025: Para um jogo de PS5, efeitos de água e iluminação dinâmica parecem parados no tempo.
Trilha Sonora e Som
O jogo possui a sua porção de faixas exclusivas baseadas no tema pirata, mas no pacote geral, o jogo parece reaproveitar toda a soundtrack do Infinite Wealth. Sonoramente, Pirate Yakuza In Hawaii é pouco original e novo, o que não chega a prejudicar a experiência, já que as músicas continuam boas, mas também não entrega uma experiência muito diferente do jogo anterior.
Vale a Pena?
A RGG Studio prova, mais uma vez, que sua criatividade narrativa é inesgotável. Mesmo em um spin-off que poderia ser apenas uma piada interna (“Majima pirata? Sério?”), o estúdio tece uma história emocionalmente ressonante, sustentada por personagens que transcendem caricaturas. A jornada de Majima em busca de memórias perdidas não é sobre um tesouro — é sobre identidade, redenção e os laços que nos definem. Noah, Jason e até o tigre Goro não são coadjuvantes; são espelhos das dualidades do protagonista, refletindo sua luta entre o passado violento e um futuro incerto.
O combate corpo a corpo mantém a essência clássica da franquia. A novidade está na camada pirata:
- Sistema de Anéis: Substitui equipamentos tradicionais com criatividade tática, incentivando experimentação (mesmo que alguns efeitos sejam questionavelmente úteis).
- Goromaru: A customização do navio e os combates navais são adições frescas, funcionando porque evitam complexidade excessiva. Não é Sea of Thieves — é Yakuza no mar, com canhões de laser e invasões de convés que beiram o absurdo.
A Dragon Engine mostra rugas. Cenários paradisíacos como a Ilha Rich são belos à distância, mas texturas low-res e repetição de assets quebram a imersão em close-ups. Em 2025, a falta de um salto para a Unreal Engine é sentida, mas não game-breaking — a direção de arte ainda compensa com estilo.
Já a trilha sonora peca pelo reaproveitamento excessivo. Se as faixas novas capturam o espírito pirata, o retorno de músicas de Infinite Wealth soa como economia de esforço, não homenagem.
Like a Dragon Pirate Yakuza In Hawaii não reinventa a roda — e talvez nem precise. É um jogo que entende sua audiência: fãs que buscam uma história envolvente, personagens para torcer (ou odiar) e momentos de puro WTF.
*Jogo analisado no PS5 com cópia digital fornecida pela SEGA.
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Notas do Jogo
Título: Like a Dragon: Pirate Yakuza in Hawaii
Descrição do jogo: Uma nova lenda tem início quando você calça as botas de bico de aço de Goro Majima, um homem que perdeu a memória e se reinventa como pirata em alto-mar. Embarque em uma exagerada aventura com um ex-yakuza, agora um capitão pirata moderno, e sua tripulação e encare combates emocionantes na terra e no mar em busca das memórias perdidas e de um tesouro lendário.
Gênero: RPG, Aventura e Ação
Lançamento: 21/02/2025
Produtora: Ryu Ga Gotoku Studio
Distribuidora: SEGA CORPORATION
Nota
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História - 8/10
8/10
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Jogabilidade - 8.5/10
8.5/10
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Gráficos - 7.5/10
7.5/10
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Trilha Sonora e Som - 7.5/10
7.5/10
Veredito
Like a Dragon Pirate Yakuza In Hawaii mostra a criatividade ilimitada da RGG Studio, com uma narrativa envolvente e personagens cativantes. O combate traz poucas novidades, reaproveitando mecânicas de The Man Who Erased His Name, mas adaptadas ao enredo. A grande inovação está no sistema de navios, com customização e batalhas navais equilibradas. No entanto, a engine demonstra sinais de envelhecimento, e a trilha sonora é muito reaproveitada. No geral, o jogo mantém a essência da franquia, agradando os fãs com seu charme e narrativa marcante.
Vantagens
- Narrativa envolvente;
- Personagens carismáticos;
- Combate Dinâmico e Fluido;
- Combates Navais simples e descomplicados;
- Muitos minigames.
Desvantagens
- Pouca inovação;
- Ambientação pirata pode não agradar quem não gosta da temática;
- Engine demonstra claros sinais de sua limitação;
- Boa parte da trilha sonora é reaproveitada;