Análise | Yakuza: Like a Dragon


O que fazer quando uma série de longa data como Yakuza chega ao final do seu arco narrativo com Kazuma Kyriu depois de 7 jogos? A resposta da SEGA e do Ruy Ga Gotoku Studio foi rápida, o Yakuza: Like a Dragon, com novos personagens, novo distrito e novas mecânicas no PS4 e PS5.

Anunciado em 30 de agosto 2019, muitos fãs estavam esperando qual seria o rumo da franquia após o desfecho em Yakuza 6. A primeira revelação impressionou quando o protagonista foi apresentado. Sai de cena o sério e carrancudo Kyriu e entra em cena o cômico e inocente, Ichiban Kasuga. Mas não só teríamos essa mudança, a série ficou famosa por seu gameplay de ação, com combinação de golpes e combos e agora o jogo se tornaria um RPG de turnos com classes/jobs para cada personagem.

Será que tantas mudanças no sistema e no tom menos sério para a narrativa poderia fazer bem para a franquia? Não seria melhor se Yakuza: Like a Dragon tivesse outro nome, como Judgment recentemente lançado?

História

Sem relação com a história e personagens da série de longa data, Yakuza: Like a Dragon abandona a metrópole de Tóquio, mais especificamente em Kamurocho e acontece no distrito de Yokohama, Isezaki Ijincho.

Você começa com Ichiban Kasuga, um membro da Yakuza da Família Arakawa do Clã Tojo na área de Tóquio em Kamurocho. O Clã Tojo possui grande rivalidade com a Omi Alliance. Ichiban Kasuga possui verdadeira adoração ao chefe da família, Masumi Arakawa, por ter te tirado das ruas e salvo a sua vida e hoje cuida do seu filho, Masato Arakawa.

Na noite do milênio, um assassinato acontece, o tenente da Família Arakawa, Jo Sawashiro, acabou matando uma pessoa e foi descoberto pela polícia que um dos membros da família Arakawa estava envolvido. Para salvar o nome da família, Masumi Arakawa propõe a Kasuga que confesse o assassinato no lugar do tenente, com isso ele seria expulso da Yakuza e assumiria a culpa sobre o incidente, Kasuga se sente agradecido pela oferta e decide aceitá-la a fim de retribuir a boa ação que Arakawa fez ao recolhê-lo das ruas.

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Ichiban Kasuga passa 18 anos na cadeia por um crime que nunca cometeu e ao sair se vê abandonado pela família que confiou, ninguém estava presente na sua saída da prisão. Desolado, ele conhece o detetive Koichi Adachi que conta tudo o que ocorreu com a Família Arakawa e a yakuza desde então. Foi revelado que Arakawa traiu o Clã Tojo e revelou todas as suas operações para a polícia, com isso permitiu que a rival Omi Alliance tomasse conta de Kamurocho. Com isso, Masumi Arakawa conseguiu se tornar líder da Omi Alliance e seu filho, Masato, morreu por complicação de uma doença.

Ichiban Kasuga não acredita nas palavras de Adachi e decide ver por si mesmo o que está acontecendo, e ajudado pelo detetive, acaba entrando no prédio onde Arakawa está fazendo uma reunião e descobre que caiu em uma armadilha, Ichiban Kasuga é baleado no peito por Masumi Arakawa.

Ichiban acorda jogado na lata de lixo e com o seu ferimento de bala costurado. Ele conhece o morador de rua e ex-enfermeiro, Yu Nanba. Nanba revela que Ichiban estaria em uma área bem longe de Kamurocho, agora ele estaria em Ijincho. Nanba suspeita que Ichiban Kasuga foi trago ali por uma pessoa que o queria bem longe do domínio da Omi Alliance, já que Isezaki Ijincho seria dominado pelo “Paredão de Músculos”, os “Três de Ijin”. São três clãs de yakuza que dominam a região: O Clã Liumang (chinês), o Clã Geomijul (coreano) e o Clã Seiryu (japonês).

Protegido nessa área, Kasuga decide recomeçar a sua vida e procura um trabalho na agência de empregos. Nestes trabalhos ele reencontra o agora ex-detetive Adachi e conhece também a garçonete Saeko Mukoda. Os 4 acabam se envolvendo em uma iminente guerra civil entres esses três Clãs e aí onde se inicia a jornada de Ichiban Kasuga.

Campanha

Qualquer um habituado a jogar JRPGs se sentirá em casa com o modelo adotado da sua estrutura narrativa. A campanha de Yakuza: Like a Dragon começa de forma MUITO lenta e pode irritar o jogador desavisado. Seu início se desenvolve pouco a pouco, com conflitos básicos e totalmente fora do foco narrativo, com Kasuga fazendo pequenos serviços na rua e serve apenas para nos apresentar a natureza do protagonista e o mundo onde ele se situa.

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Com uma elevada quantidade de diálogos, Yakuza: Like a Dragon como todo bom JRPG possui linhas e linhas de diálogos que variam desde situações centrais da narrativa até diálogos extremamente triviais sobre restaurantes de Ijincho. Dessa forma, o jogo vai desenvolvendo o roteiro de forma lenta, mas muito orgânica, com acontecimentos pequenos evoluindo para cenas de escala média e culminando em desfechos grandiosos com uma narrativa recheada de reviravoltas e surpresas.

Se existe uma habilidade neste modelo oriental de desenvolver histórias, é o mérito de criar ótimos backgrounds narrativos para os seus personagens. Por ser uma narrativa que não apressa o passo, o jogo vai entregando muito bem situações e falas dos seus personagens e como relacionam entre si, fazendo o jogador simpatizar com cada integrante do grupo, os humanizando. Não só os protagonistas são beneficiados por isso, mas os vilões vão adquirindo razões e argumentos para as suas ações, fazendo o jogador entender o lado deles, mas também os odiando.

Yakuza: Like a Dragon passa longe de entregar uma campanha impressionante ou extremamente criativa, mas não erra na sua fórmula e sabe contar uma boa história. Apesar de conter o tom cômico e esquisito, natural de narrativas japonesas, o jogo fornece uma boa experiência para quem está interessado em roteiro com personagens bem construídos, viradas de roteiro e mistérios.

Gameplay

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Em sintonia com a mudança de novos personagens, mundos, arco narrativo, o gameplay de Yakuza sofreu também com essas alterações. Yakuza: Like a Dragon não possui mais combos e uma batalha mais livre como os anteriores e decidiram mudar para o sistema de turnos, tão famoso em JRPGs. Mas como fazer para explicar um sistema tão estranho dentro da narrativa? Para isso, o pessoal da Ruy Ga Gotoku Studio usou da inocência do Kasuga, que é um fã declarado de uma série famosa de JRPGs que usa este mesmo sistema de batalha, onde ele vê as batalhas e membros que entram no grupo como um jogo do Dragon Quest.

Para quem conhece pouco o sistema de turnos, trata-se de uma mecânica onde o jogador possui um grupo de personagens onde controla e cada membro possui uma vez a cada turno para realizar ações como ataque, usar itens, magias, defender ou fugir. Não só os membros possuem uma chance a cada turno para realizarem ações, mas os inimigos também possuem a sua vez, geralmente a quantidade de vezes que eles podem atacar em cada turno se diferencia pela agilidade de cada personagem.

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Os inimigos geralmente são membros da Yakuza e marginais que ficam espalhados pela cidade, nas dungeons e escritórios da campanha. Geralmente eles aparecem de forma bem aleatória pelo mapa, a sorte que é possível desviá-los mudando de rota. O jogo possui uma boa curva de dificuldade, variando de desafios médios e difíceis em batalhas bem divertidas contra chefes. Claro que todo jogo de JRPG, é possível grindar para facilitar sua vida durante o gameplay, e o jogo faz questão mas não recomendo, é possível zerar sem grandes problemas.

Yakuza: Like a Dragon permite até quatro membros da sua party por batalha e a inteface de usuário do combate é muito inspirado em Persona 5. Com menus rápidos e dinâmicos, o jogador escolhe cada ação baseada nos botões do controle (X, Quadrado, Círculo e Triângulo). Alguns ataques especiais precisam que botões sejam pressionados no tempo certo para garantir maior efeito e tirar maiores danos. Além disso, cada personagem pode conter profissões, que são as classes.

Profissões ou Classes

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Outro elemento de JRPGs é o uso de classes para variar as habilidades e montar a sua estratégia. Cada membro da party já vem com uma classe específica e na agência de empregos do jogo, o jogador pode mudar estas classes e assim mudando os status gerais do personagem, novas habilidades e o uso de outros tipos de armas.

Cada membro do grupo possui o nível geral e o nível da classe. Ao derrotar inimigos em combates, o jogador além de ganhar pontos de experiência gerais, ganha também pontos de experiência específicos da classe, ao atingir um nível determinado, é possível ganhar novas habilidades exclusivas daquela classe, que em geral, são bastante incomuns e engraçadas, como garçonete, dançarino ou uma estrela de Rock.

Armas, Armaduras e Melhorias

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Como todo jogo desse tipo, o jogo possui uma grande quantidade de armas, armaduras e acessórios. O jogo possui algumas lojas onde você pode comprar, mas também disponibiliza diversos cofres que ficam espalhados pelas dungeons disponíveis no mapa e em missões da campanha.

Além disso, é possível melhorar ou criar novas armas e armaduras em uma ferreira localizada na cidade. Ao recolher materiais necessários, você pode melhorar cada arma até um limite do nível da ferreira. Ao fazer doações para o estabelecimento da ferreira, você vai desbloqueando os níveis da ferreira e com isso, destravando o limite de melhorias de cada arma.

Minigames, vários minigames

Uma coisa que também é marca registrada da franquia é a extensa quantidade de minigames espalhados pela cidade do jogo. São muitas opções para os amantes de joguinhos como correr atrás de ladrões, recolher lixo de carrinho em uma disputa, ser uma estrela do rock, jogar golfe, não dormir assistindo a filmes, administrar um cabaré e vários outros.

De longe os dois mais bem estruturados são os minigames de corrida de kart e o da administração de empresas.

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O minigame de kart oferece diversos torneios com diversas pistas cada e ao acumular uma quantidade de pontos em cada pista você ganha o torneio. O jogador tem disponível 3 karts diferentes com características únicas que podem ser melhorados gastando dinheiro. O funcionamento das corridas é uma clara homenagem à Mario Kart, com itens e armas que podem ser usados para parar os corredores adversários. Claro, por não ser um jogo desenvolvido em cima de uma engine própria para isso, os controles do kart são duros e travados, mas empregam ainda uma boa dose de diversão.

O minigame da administração de empresas engloba um sistema simples de operar e divertido, contendo até uma narrativa própria que termina te presenteando com uma nova integrante para o seu grupo. Você começa com uma loja de família com sérios problemas financeiros, onde você precisa contratar, pagar, promover e alocar funcionários com bons status para alavancar a lucratividade do restaurante. Aos poucos você vai ganhando mais investimentos para comprar novos estabelecimentos e aumentar seu nome no mercado e seu ranque. É uma maneira bem divertida de ganhar dinheiro (já que você recebe dividendos após cada reunião com investidores).

Gráficos

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O principal defeito do jogo, mas já esperado. A série Yakuza nunca foi muito famosa por primazia gráfica e técnica. O jogo possui um trabalho ruim em texturas e os objetos que compõe o cenário sempre aparecem lavados com baixíssima definição, felizmente por possuir um ótimo character designer, seus personagens conseguem se destacar no meio de pouco trabalho gráfico que faça jus à geração.

O jogo alterna entre bons e maus momentos no que compete ao rosto dos personagens. Em cenas importantes, o jogo entrega um bom trabalho de expressão com caras e bocas necessárias na caracterização de personagens orientais.

Sobre bugs, eles ocorrem, como personagens no combate presos em paredes ou objetos, a sorte que o jogo tem uma solução programada para esses problemas. Carros ficam presos no meio da batalha, pedestres possuem comportamentos esquisitos, mas nada muito grosseiro.

Mapa

Por não ser mais uma grande megalópole, recheada de luzes de neon, lojas, pessoas e grandes prédios como Kamurocho dos jogos anteriores, Ijincho possui mais um aspecto de cidade do interior em desenvolvimento. Com ruas estreitas do Japão, alguns prédios e bairros com menor glamour, o palco do novo mapa contêm problemas por não agregar tanto para a narrativa fazendo você se perder MUITO por ser quase tudo muito parecido.

O jogo não faz tanta questão de usar pontos da nova cidade a favor do roteiro, parecendo mais um hub genérico onde o jogador pode visitar pontos de minigame, lojas de conveniência, armas e restaurantes.

Trilha Sonora e Som

Com uma trilha sonora composta por Yuri Fukuda, Chihiro Aoki e Saori Yoshida e especialmente por Hidenori Shoji, responsável pela trilha da franquia inteira, Yakuza: Like a Dragon possui a mesma marca sonora oriental fazendo o uso de instrumentos musicais característicos. Fazendo o uso em momentos chave de músicas de outros jogos da série, não senti que a música geral se destaque no jogo, apesar de no máximo boa. Não há grandes músicas inesquecíveis, apesar de algumas ajudarem em alguns pontos da narrativa.

O jogo tem dublagem apenas para duas línguas, o inglês e o japonês, o que é um problema. A salvação é que o jogo foi finalmente legendado para o português do Brasil, o que ajuda muito. Apesar de conter sempre uma ótima qualidade na dublagem, o jogo pode se tornar monótono por conter muitas linhas de diálogo nas suas 46 horas de campanha. Portanto para aqueles que preferem acompanhar histórias dubladas e detestam ler legendas e caixas de texto, estejam avisados. 

Vale a Pena?

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O Ruy Ga Gotoku Studio foi corajoso ao ir na contramão dos JRPGs e WRPGs do mercado quando sua grande parte começou a abandonar o sistema de turnos para jogos mais actions, o que demonstra uma grande confiança e domínio no seu produto, no trabalho empregado pela franquia e no conhecimento do seu público. Com personagens cativantes, vilões com propósitos e uma narrativa interessante repleta de reviravoltas, Yakuza: Like a Dragon é uma lufada de alívio a tantos jogos com narrativas apressadas e personagens apagados.

Com um gameplay mais old school para amantes de RPG, o sistema pode afastar o público comum neste sentido, mas certamente irá aproximar o público voltado a este tipo de mecânica. O jogo evita o grind até um ponto específico da narrativa e escala a dificuldade de forma muito repentina gerando um dos defeitos de JRPGs de turnos, a necessidade de grind, momento onde você terá que sair por aí aumentando o level e os status do seu grupo para conseguir passar de um chefe.

Tecnicamente não é um jogo que chamará a atenção de muita gente, não faz feio, mas se apresenta como um jogo com gráficos de início da geração.

Yakuza: Like a Dragon ressignifica a franquia com o seu simpático novo protagonista, Ichiban Kasuga, mudando um pouco o tom, se tornando mais leve e cômico sem perder a dureza e o drama característicos da série. Sem dúvida é um ótimo jogo que abre a série para uma promessa de um novo universo cheio de possibilidades, momentos  marcantes e personagens. Sem dúvida é um belo início para mais novos jogos de Ichiban Kasuga.

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Notas do Jogo
yakuza like a dragon capa

Título: Yakuza: Like a Dragon

Descrição do jogo: Ichiban Kasuga, um membro de baixo nível da família Yakuza em Tóquio, é condenado a 18 anos de prisão após assumir a culpa por um crime que não cometeu. Mantendo seu otimismo, ele cumpre a pena com lealdade e ao retornar à sociedade, descobre que ninguém o esperava do lado de fora e que seu clã foi destruído pelo homem que ele mais respeitava. Ichiban decide buscar a verdade por trás da traição de sua família e recuperar sua vida normal, aliando-se a um grupo desorganizado de rejeitados da sociedade: Adachi, um policial corrupto; Nanba, um ex-enfermeiro morador de rua; e Saeko, a recepcionista que tem sua própria missão. Juntos, eles se envolvem em um conflito crescente no submundo de Yokohama e devem vencer os desafios para se tornar os heróis que nunca pensaram ser.

Gênero: RPG

Lançamento: 2 de Março de 2021

Produtora: Ruy Ga Gotoku Studio

Distribuidora: SEGA

COMPRAR

Nota
8.1/10
8.1/10
  • História - 9/10
    9/10
  • Jogabilidade - 9/10
    9/10
  • Gráficos - 7/10
    7/10
  • Trilha Sonora e Som - 7.5/10
    7.5/10

Veredito

Yakuza: Like a Dragon ressignifica a franquia com o seu simpático novo protagonista, Ichiban Kasuga, mudando um pouco o tom, se tornando mais leve e cômico sem perder a dureza e o drama característicos da série. Sem dúvida é um ótimo jogo que abre a série para uma promessa de um novo universo cheio de possibilidades, momentos  marcantes e personagens. Sem dúvida é um belo início para mais novos jogos de Ichiban Kasuga.

Vantagens

  • Ótima campanha
  • Desenvolvimento de personagens
  • Muitos minigames
  • Sistema de batalha por turnos
  • Boa dublagem em japonês
  • Legendas em português (Finalmente)

Desvantagens

  • Sem dublagem para o português
  • Sistema de batalha por turnos pode afastar o público comum
  • Jogo escala dificuldade muito rápido no fim
  • Gráficos e texturas bem ruins

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San Moreira
San Moreira tem 33 anos e é natural de São Paulo. Eu sou formado em Banco de Dados e Gestão Empresarial. Amante da cultura gamer, sempre apaixonado pelo universo. Atuando como jornalista e Content Manager de games com foco na plataforma PlayStation e Battle Royales como Free Fire. Teve a ideia de criar este site exclusivamente pela vontade informar e ajudar a comunidade gamer.

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