O final de Elden Ring: Shadow of the Erdtree deixa muitos jogadores perplexos, principalmente por causa de sua conclusão abrupta e cheia de reviravoltas. Após uma revelação surpreendente e um flashback comovente, onde testemunhamos uma conversa entre dois irmãos, nos vemos forçados a enfrentar a realidade de que acabamos de matar ambos — sendo que um deles pela segunda vez. Isso faz com que o jogador fique com a responsabilidade de juntar as peças do quebra-cabeça narrativo.
Em conformidade com a tradição dos jogos Souls, a história é sutil e aberta a múltiplas interpretações, deixando muitos detalhes importantes nas entrelinhas. Entretanto, podemos discernir alguns pontos-chave. Sabemos que Messmer, Miquella e Radahn desempenham papéis cruciais na trama, mas muitas das suas motivações e histórias são deixadas à mercê da especulação dos jogadores. Depois de investir inúmeras horas no mundo de Elden Ring, podemos formular algumas teorias bem fundamentadas sobre os eventos que testemunhamos e suas implicações no universo do jogo.
Seguindo o caminho de Miquella
Elden Ring: Shadow of the Erdtree ocorre em um momento indeterminado em relação à sua ascensão como Elden Lord, sendo uma narrativa independente que complementa a história central do jogo. A trama do DLC se concentra em Miquella e seu conflito com Mohg, além da rivalidade significativa entre Radahn e Malenia.
Miquella, após escapar do cativeiro de Mohg, se dirige às Reino das Sombras, um território sombrio governado pelo cruel Messmer, o Empalador. Durante esse arco, é revelado que Miquella morreu dentro do casulo de Mohg, mas essa morte permitiu que ele quebrasse o ciclo de reencarnação associado ao Erdtree, aproveitando uma falha no sistema criado por Marika para viajar para as Reino das Sombras.
O objetivo de Miquella nas Reino das Sombras é alcançar o Portão da Divindade, um local que sua mãe, Marika, utilizou para ascender à divindade. Em sua jornada, Miquella descarta várias partes de si mesmo, incluindo remanescentes de seu corpo físico e aspectos de sua personalidade, como compaixão, gentileza e humanidade.
A missão secundária Saint Trina revela uma faceta interessante: Trina e Miquella são a mesma entidade, com Trina representando a versão mais gentil e pura de Miquella. Essa dualidade espelha a criação de Radagon por Marika, um avatar masculino criado para servir suas ambições políticas e militares, e com quem ela se casou, gerando novos semideuses.
Com Trina separada de Miquella, ela implora ao Maculado para matar Miquella, temendo que a divindade fosse uma maldição. Saint Trina acredita que o poder absoluto não apenas corrompe, mas aprisiona, e que Miquella merece algo melhor, com a morte sendo sua única libertação.
Para se tornar um deus
Desde o início, sabemos que Miquella possui uma habilidade única de encantar e controlar mentalmente outras pessoas, “roubando corações” e dobrando-as à sua vontade. Isso nos leva a uma reviravolta inesperada: o sequestro de Miquella por Mohg não foi um sequestro tradicional, mas uma manipulação calculada. Miquella encantou Mohg, transformando-o em sua ferramenta para obter acesso às Reino das Sombras.
Contrariando a crença comum de que Miquella era uma vítima de Mohg, a verdade revela-se bem diferente. Miquella não só usou Mohg, como também orquestrou para que seus agentes recuperassem o corpo de Mohg e o entregassem a Messmer, o Empalador, para fins ainda obscuros.
A perda da Grande Runa por Miquella e a consequente ruptura de sua conexão com a Erdtree causaram um caos entre seus seguidores. Aqueles sob seu feitiço, como os Seguidores de Miquella, começaram a enlouquecer e a se confrontar, explicando o comportamento cada vez mais paranoico dos NPCs no jogo, com apenas alguns resistindo à loucura.
Ansbach, um antigo seguidor de Mohg, é um dos poucos que consegue manter a sanidade após ser libertado do controle de Miquella. Ele acredita firmemente que Miquella pretende se tornar uma deusa e usar seu encanto para transformar o mundo inteiro em um “lugar mais gentil”.
No entanto, essa visão utópica tem um lado sombrio. Embora a ideia de um mundo mais gentil pareça atraente, ele nega o livre-arbítrio dos habitantes, efetivamente transformando todos em marionetes de Miquella. O semideus, sob o pretexto de benevolência, planeja governar como um tirano, criando um mundo sem dissidências ou opiniões divergentes.
Onde Messmer se encaixa nisso?
Os trailers levaram os jogadores a acreditar que Messmer, o Empalador, seria o vilão central do DLC, com Miquella atuando como um aliado crucial. Contudo, a verdade é que Messmer não é o inimigo; ele está, na realidade, auxiliando Miquella em seus planos. A extensão do conhecimento de Messmer sobre as verdadeiras intenções de Miquella permanece incerta.
Messmer, como Miquella, é um filho de Marika (provavelmente também de Radagon). Ele foi enviado para as Reino das Sombras com a missão de purgá-las, travando uma guerra contínua contra sua população, que foi quase completamente exterminada na época em que o DLC se passa. Desencantado com a Golden Order e a Erdtree, Messmer se tornou um alvo fácil para a manipulação de Miquella.
O abandono de Messmer por Marika nas Reino das Sombras gerou um ressentimento profundo. Como muitos de seus irmãos e irmãs, ele foi amaldiçoado e exilado para apodrecer, permitindo que Marika resolvesse dois problemas simultaneamente. Marika tem um histórico de exilar seus filhos amaldiçoados, como fez com Mohg e Morgott.
A rixa de Marika com as Reino das Sombras tem raízes nos abusos que seu povo xamânico sofreu por séculos. Messmer foi uma ferramenta de vingança contra os Hornsent, o povo das Reino das Sombras. Além disso, Marika tinha um objetivo adicional: impedir que alguém chegasse perto do Portão da Divindade e ameaçasse o panteão divino do qual ela se tornou rainha.
O Portão da Divindade
Aqueles que acompanham a história do Conde Ymir até o fim em Shadow of the Erdtree aprendem uma verdade surpreendente: o Deus Exterior, conhecido como a Vontade Maior, que os Dedos dizem representar e que concedeu divindade a Marika, possivelmente nunca esteve verdadeiramente conectado ao mundo.
Ymir sugere que os Dedos estão quebrados e operam com informações desatualizadas, indicando que o governo de Marika foi falho desde o início. Isso pode explicar por que Marika destruiu o Elden Ring, com a morte de Godwyn sendo o ponto de ruptura.
Essas revelações validam os objetivos de Ranni e da Frenzied Flame. Os finais de Gold Mask, Dung Eater e Fia também se tornam mais claros e compreensíveis diante dessas novas informações. A divindade de Marika é uma mentira, e os Dedos não são mais necessários. É hora de uma nova era.
Embora não seja confirmado na história, está implícito que Miquella também sabe disso. Ele então viaja para o Portão da Divindade para inaugurar uma era onde ele possa ser um deus, livre do controle dos Dedos ou de qualquer outro poder que eles afirmam representar.
Radahn Prime
Para se tornar um deus, Miquella sabe que precisará de um monarca para governar e de alguém para lutar suas batalhas até que ele possa subjugar o mundo com seu controle mental. Para isso, ele tenta recrutar seu irmão Radahn.
Na conversa final após o último chefe, Miquella pede a Radahn que cumpra esse papel, escolhendo-o por sua “gentileza” e habilidade marcial. Contudo, só ouvimos o apelo de Miquella ao seu meio-irmão, nunca sua resposta.
Especulamos que Radahn recusou o pedido de Miquella. Quando a Shattering War começou, Miquella enviou Malenia para enfraquecer Radahn, de modo que pudesse eventualmente usá-lo em seu plano. Antes de infectá-lo com Scarlet Rot, Malenia sussurra para Radahn: “Miquella te espera, ó consorte prometida.” Consorte, neste contexto, significa aquele através de quem Miquella governaria.
Após o Maculado Escolhido matar Radahn e Mohg no jogo base, Miquella usa o corpo de Mohg para criar sua versão ideal de Radahn – uma versão sob seu controle. Se Radahn tivesse aceitado voluntariamente, um plano tão grandioso não seria necessário. Além disso, Miquella precisava que Radahn morresse, assim como precisava da feitiçaria de Mohg para ressuscitá-lo na Reino das Sombras, explorando a mesma brecha na Ordem Dourada que usou para chegar lá.
Embora a recusa de Radahn seja especulação, o restante é um relato detalhado do final de Elden Ring: Shadow of the Erdtree, encerrando quaisquer pontos de enredo pendentes do jogo base. Messmer e Radahn são as principais batalhas épicas no DLC, mas era inevitável que também enfrentássemos Miquella.
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