Existem alguns games que a gente logo bate o olho e percebemos na hora o cheiro de problema, e um deles é o novo jogo ambientado no universo de O Senhor dos Anéis criado por J.R.R. Tolkien, o The Lord of the Rings: Gollum, um jogo de plataforma e stealth onde controlamos a criatura que se arrasta pelas sombras de Mordor.
Desenvolvido pela Daedalic Entertainment, o jogo do Gollum foi mostrado algumas vezes e cada apresentação ele ia se apresentando cada vez pior e assustando fãs e entusiastas da franquia. Percebendo a péssima recepção dos jogadores, a desenvolvedora foi adiando por inúmeras vezes o jogo na busca de fazer jus à obra no qual faz parte, mas parece que a empresa só estava fugindo do inevitável, a iminente terrível opinião popular.
Sendo finalmente lançado, parece que a Daedalic fechou os olhos e lançou o jogo com o máximo que poderiam entregar para o momento, e o que foi entregue não parece nem perto de fazer o básico.
[lwptoc]
História
Antes de entender em que ponto da história The Lord of the Rings: Gollum se passa dentro do universo de J.R.R. Tolkien, primeiro é preciso entender quem é Gollum e as razões que o trouxeram a ter essa forma amaldiçoada.
Gollum, também conhecido como Sméagol, é um personagem fictício de J.R.R. Os renomados romances de fantasia de Tolkien, “O Hobbit” e “O Senhor dos Anéis“. Ele desempenha um papel significativo na história como uma figura complexa e trágica. Gollum é conhecido por sua aparência física distinta, sua psique torturada e sua obsessão implacável com o Um Anel.
Gollum era um Hobbit chamada Sméagol. Sua vida deu uma guinada sombria quando ele roubou o Um Anel, um poderoso artefato criado pelo Lorde das Trevas, Sauron. Ao usar o anel, a influência corruptora do artefato gradualmente transformou Sméagol na criatura retorcida conhecida como Gollum, que aos longo dos anos fica à espreita nas profundezas escuras das Montanhas Sombrias.
Com uma psique profundamente fragmentada pelo Anel que consumiu sua mente e alma, ele fala consigo mesmo com uma personalidade dividida, conversando como Gollum e Sméagol, cada um representando um aspecto diferente de seu personagem. Gollum é movido por seu desejo avassalador de possuir o Anel novamente, acreditando ser seu “Precioso” que foi roubado por outro Hobbit, Bilbo Bolseiro.
Voltando para a história do jogo, localizado 60 anos depois do livro O Hobbit e pouco antes dos eventos do primeiro livro, A Sociedade do Anel, vemos Gollum em Cirith Ungol, um local tomado pelos orcs de Mordor. Somos jogados para o presente e vemos Gollum no reino élfico sob o reinado do pai de Legolas, Thranduil, sendo interrogado pelo primeiro personagem mais conhecido da série, o Gandalf.
Narrando os eventos passados, Gollum conta à Gandalf a sua busca pelo Um Anel e a narrativa volta para passado. Gollum é descoberto e perseguido pelos cavaleiros corrompidos de Sauron, os Nazgûl, que estão procurando o Um Anel, no qual acaba sendo capturado. Ao ser interrogado pelo exército de Orcs de Sauron e informar que “O Precioso” não estava mais em sua posse, Gollum é jogado na prisão e se transforma em um escravo do Lorde das Trevas.
Em suma, o objetivo inicial de Gollum é recuperar o Um Anel roubado de Bilbo enquanto tenta arrumar maneiras de escapar da prisão.
A campanha do jogo dura ao todo em média sofríveis 20 horas, e é inicialmente narrada por Gandalf e Gollum. As primeiras 8 horas perdemos um tempo considerável e irritante fazendo tarefas ruins e monótonas enquanto tentamos escapar da prisão de Orcs, mas o que mais irrita é a falta de foco narrativo e direção de enredo.
Coisas que achamos importantes em um capítulo, são descartadas ou esquecidas no seguinte. Personagens cruciais e importantes da série são apresentados e somem ou perdem importância para o enredo rapidamente, subaproveitados e servindo mais de puro fanservice do que essenciais para a narrativa.
O jogo conta com um sistema de escolhas, onde precisamos escolher qual lado da sua mente distorcida (Gollum ou Sméagol) irá ditar as decisões. Á medida que avançamos e vamos privilegiando um lado ao invés do outro, esse lado vai tomando conta dessas escolhas, mas até mesmo esse sistema se apresenta pouco fundamental no fim.
Embora a campanha melhore na sua segunda metade, todo o seu início vai tornando o seu desenvolvimento completamente sem ponto e sem fundamento, se arrastando em torno de um objetivo (recuperar o Um Anel) que vai perdendo propósito e importância para o jogador, que nesse momento só está à espera do final.
Gameplay
Desde o seu anúncio, fica claro qual seria a abordagem de jogabilidade adotada por The Lord of the Rings: Gollum. Inspirada por sua frágil aparência, movimentos rápidos e capacidade de se esgueirar pelas sombras, Gollum deveria ser um jogo com foco grande em furtividade, mas ele foca mais nos desafios de plataforma. Tal abordagem fica clara quando testemunhamos a inteligência artificial ruim do jogo.
Gollum pode correr, saltar, se pendurar em bordas, agarrar em galhos para escalar por paredes, se esconder em arbustos, subir correndo em paredes, jogar pedras para apagar luminárias ou desorientar inimigos, nadar, passar por baixo de objetos e fazer abates furtivos.
Com essa quantidade de movimentos, é impressionante dizer que nenhum deles ele faz bem, e vão piorando quando você precisa passar por desafios de plataforma rudimentares. Você irá morrer diversas vezes no jogo, mas longe disso significar que seja um jogo propositalmente desafiante, é que ele é tão mal otimizado que você vai morrer pela falha de suas mecânicas.
De início, o pulo possui uma física esquisita, onde o controle é tão ruim que você vai errar saltos simples. Se pendurar em elevações e pular para se agarrar em outras na direção contrária ganha burocracias sem explicação, com botões diferentes para você saltar agarrado em beiradas. As vezes você precisa correr para subir em paredes para se agarrar nos locais e o comando por algum motivo não funciona. Sua movimentação é imprecisa e pouco segura, tornando complicado o ato de controlá-lo para evitar uma queda de elevação algo que deveria já ter sido superado há três gerações.
Gollum é tão frágil que apesar de conseguir fazer saltos inexplicáveis sem se machucar, uma queda simples de uma plataforma para o chão pode provocar um game over. Apesar de ter recursos de reabastecimento de HP como comer cogumelos ou vermes, eles são tão poucos e distantes que me pergunto a razão de terem criado. Gollum possui uma barra de resistência que o torna capaz de correr e escalar certos objetos, que é tão ruim quanto todo o resto das suas funcionalidades, além de esgotar rapidamente ela se enche muito devagar, tornando a experiência na liberdade de movimentos algo maçante e desestimulante. É como se o jogo te castigasse por jogá-lo.
Com controles tão ruins, o level design termina o trabalho de estragar ainda mais o jogo. O design de níveis é tão linear que há somente uma rota de destino em cada área com desafios tão comuns (pendurar, subir escadas, cordas, trepadeiras, escalar paredes e se balançar em barrar) que se fosse bem otimizado seria um jogo ridiculamente fácil.
Se Gollum já falha nos controles e no level design datado, você pode imaginar a má qualidade da parte furtiva da sua proposta, já que em stealth é necessário de uma IA avançada para não se tornar monótona conseguiria se destacar.
A furtividade é ainda mais limitada e ruim que os desafios de plataforma. As vezes precisamos seguir ou evitar que guardas Orcs consigam nos enxergar, os inimigos possuem três níveis de detecção e uma vez que consigam nos detectar, caso alcance, não temos nenhuma chance de reação, é game over direto. A forma que temos para evitar que sejamos vistos é esconder em grandes partes de grama alta, atrás ou embaixo de objetos.
Da mesma forma que inimigos nos identificam rápido, eles desistem de nos procurar. As rotas de patrulha dos guardas é tão óbvia que há jogos de PS2 que o superam nesse quesito. Ao ser avistado, basta se esconder nas sombras que eles logo desistem. A mesma coisa ocorre ao apagar fontes de luz, eles investigam o local, mas voltam rapidamente para a rota automática. Caso também surja a necessidade de seguir inimigos, precisamos manter uma distância segura, que carece de alertas visuais e nos presenteando com telas de game over abruptas onde você precisa adivinhar por intuição qual a distância que precisamos ter dos inimigos antes de falhar no objetivo.
Gollum é frágil e esguio e nossos inimigos são em maioria guardas armados, protegidos e corpulentos, o que explica a ausência completa de combate. Orcs sem capacetes podem ser estrangulados quando pegos desprevenidos, mas estes inimigos são tão escassos no jogo que a sensação geral é que a mecânica foi abandonada por falta de esforço em criar momentos propícios para o uso.
Gráficos e Trilha Sonora
Acredito que essa área é a mais óbvia pra quem viu um mísero trailer de Gollum em atestar a sua qualidade. Gollum é um jogo não só feio, ele é tristemente mal otimizado e praticamente injogável.
Começando pela sua ausência de qualidade visual, apesar de possui modo performance, ray tracing e outros, o jogo parece sempre a mesma coisa visualmente. Onde o serrilhado é lei, ausência de texturas onipresente, cabelos e pelos faciais gritam com tanta má qualidade. Parece loucura esperar alguma qualidade na animação dos personagens, onde nem o protagonista consegue se destacar positivamente. Gollum já não é bonito, mas aqui sem cuidado gráfico, ele tá tenebroso.
Mas a parte mais assustadora do jogo reside nos intermináveis bugs, glitches e tudo o que você imagina que um jogo mal feito possa ter, ele tem. Tem inimigos presos em assets do cenário, tem crash, tem corrupção de save, tem bug que atrapalha andamento da campanha, tem atraso de renderização, tem queda de fps e uma infinidade de problemas imperdoáveis para um jogo.
Se existe um ponto a ser elogiado é sua direção de arte. Mordor é ainda mais sombria e aterradora que a retratação em outros jogos. Variando de cavernas, túneis escuros, campos mortos, uma prisão recheada de objetos pontiagudos, chão ora salpicado ora com poças de sangue, o jogo cumpre a função estética de entregar o peso amaldiçoado do local. Logo depois, na sua segunda parte, vamos para o território élfico de Mirkwood, onde temos mais campos verdejantes e cores vivas.
Sobre sua trilha sonora, não espere um grande trabalho épico, composta pelo novato Jun Broome, ela não brilha e nem chega a se destacar em pontos chave, mas também não chega a atrapalhar, cumprindo o papel protocolar de passar o sentimento de um jogo ambientado no universo de Tolkien.
O jogo não possui dublagem para a nossa língua, apenas a localização com legendas para português do Brasil. A dublagem de Sméagol e Gollum possui as mesmas nuances conhecidas da franquia de filmes e apesar de não ser tão brilhante como a interpretação de Andy Serkis, ela cumpre muito bem a função de retratar a mente perturbada pelo anel da criatura, diferenciando a sua dupla personalidade variando de tons infantis inocentes e agressivos.
Vale a Pena?
Jamais valerá a pena. Ao jogar The Lord of the Rings: Gollum você percebe que foi um projeto maior que a Daedalic poderia abraçar, mas é impressionante que mesmo para o tamanho dela, daria para fazer algo bem melhor do que o que foi entregue.
Com uma história onde a condução e objetivo parecem perdidos, é estranho comprovar o quão perdida de propósito e engajamento ela se apresenta. Usando capítulos, o que poderia ajudar a organizar e conduzir melhor, sua campanha se arrasta por tarefas com pouco propósito narrativo, personagens mal aproveitados e desenrolar sem ponto nenhum. A única coisa que se sustenta em sua campanha é Gollum, recheado de diálogos que exploram a sua mente perturbada.
Com uma jogabilidade quase 15 a 20 anos atrasada, Gollum não é nem básico e genérico, ele é mal pensado e projetado. Seus movimentos são imprecisos, sua física é esquisita, seus comandos adicionam complexidade em coisas triviais, seu level design é terrível e sua furtividade aliada à sua ausência de inteligência artificial entregam um produto nem um pouco divertido.
Com tantos problemas de performance, recheado de bugs, quedas de fps, crashes e tudo o que um jogo mal otimizado tem direito, não é surpresa nenhuma que Gollum seja o pior jogo de 2023 até aqui e talvez seja difícil destroná-lo. A única coisa surpreendente no jogo é seu preço abusivo cobrado, algo impossível de ser explicado.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Daedalic Entertainment.
Notas do Jogo
Título: The Lord of the Rings: Gollum
Descrição do jogo: The Lord of the Rings: Gollum é uma adaptação oficial baseada nas obras literárias de J.R.R. Tolkien. Ele não tem nada mais a perder… Até onde irá para recuperar o seu Precioso? A história de The Lord of the Rings: Gollum acontece em paralelo aos eventos de A Irmandade do Anel e é um jogo de ação e aventura e uma experiência interativa épica. Jogue com o enigmático Gollum em uma perigosa viagem e descubra como ele levou a melhor sobre os personagens mais poderosos da Terra Média.
Gênero: Aventura
Lançamento: 25/05/2023
Produtora: Daedalic Entertainment
Distribuidora: Nacon SA
Nota
-
História - 5/10
5/10
-
Jogabilidade - 3/10
3/10
-
Gráficos - 4/10
4/10
-
Trilha Sonora e Som - 5/10
5/10
Veredito
Jamais valerá a pena. Ao jogar The Lord of the Rings: Gollum você percebe que foi um projeto maior que a Daedalic poderia abraçar, mas é impressionante que mesmo para o tamanho dela, daria para fazer algo bem melhor do que o que foi entregue.
Com uma história onde a condução e objetivo parecem perdidos, é estranho comprovar o quão perdida de propósito e engajamento ela se apresenta. Usando capítulos, o que poderia ajudar a organizar e conduzir melhor, sua campanha se arrasta por tarefas com pouco propósito narrativo, personagens mal aproveitados e desenrolar sem ponto nenhum. A única coisa que se sustenta em sua campanha é Gollum, recheado de diálogos que exploram a sua mente perturbada.
Com uma jogabilidade quase 15 a 20 anos atrasada, Gollum não é nem básico e genérico, ele é mal pensado e projetado. Seus movimentos são imprecisos, sua física é esquisita, seus comandos adicionam complexidade em coisas triviais, seu level design é terrível e sua furtividade aliada à sua ausência de inteligência artificial entregam um produto nem um pouco divertido.
Com tantos problemas de performance, recheado de bugs, quedas de fps, crashes e tudo o que um jogo mal otimizado tem direito, não é surpresa nenhuma que Gollum seja o pior jogo de 2023 até aqui e talvez seja difícil destroná-lo. A única coisa surpreendente no jogo é seu preço abusivo cobrado, algo impossível de ser explicado.
Vantagens
- Divagações de Gollum é o único trunfo narrativo;
- Legendas em português;
- Direção de arte em algumas áreas ajuda no pobre trabalho gráfico.
Desvantagens
- Campanha sem foco e pouco interessante;
- Escolha de diálogos não afeta o resultado final;
- Jogabilidade imprecisa, travada, físicas estranhas e controles ruins;
- Level design das fases ultrapassado com passagens lineares;
- Paredes invisíveis;
- Furtividade rudimentar e ruim;
- Inteligência artificial constrangedora;
- Visualmente feio e mal feito;
- Quedas de performance, má otimização e cheio de bugs.