Publicado em 1964, The Invincible é um romance de ficção científica escrito pelo escritor polaco Stanislaw Lem. A história conta sobre uma expedição espacial para um planeta distante a bordo da nave com o mesmo nome do título do livro. Explorando tema de tecnologia, comunicação e sobrevivência em um ambiente alienígena, o livro trata sobre a complexidade e reflexões filosóficas entre humanos e seres alienígenas.
Conhecendo a obra, a desenvolvedora independente polonesa Starward Industries decidiu desenvolver um jogo baseado no romance dos anos 60. Apesar de conter diversos elementos do livro, a história do jogo apenas se baseia nas ideias centrais do livro, mas não o reproduz da mesma forma, sendo mais uma adaptação.
Sendo autointitulado como um jogo de aventura, The Invincible foi lançado para PS5, Xbox Series X/S e PC em 6 de novembro de 2023.
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História
Uma mulher acorda desmemoriada em um planeta rochoso e de céu azul turquesa. De traje espacial vermelho, ela procura o seu comunicador. Não demora muito tempo e descobrimos que ela se chama Yasna, uma astrobióloga que pertence a uma equipe de trabalho de pesquisa da Comunidade Interplanetária.
Aos poucos se recuperando de uma leve amnésia, ela se lembra que estava a bordo da Dragonfly, sua base espacial que está em órbita, quando foi solicitada por Novik, o Astronavegador e líder, que encontrasse a tripulação que sumiu depois de uma missão de pesquisa de campo que consistia em reunir informações de vida local no planeta Regis III dias antes da Aliança se instalar a bordo da sua grande nave de guerra, a Invencível.
Ao caminhar sem muitas pistas do que está acontecendo, Yasna é orientada por Novik por meio do comunicador. Ao encontrar o seu radar portátil, ela segue os sinais para encontrar os membros e amigos da sua tripulação, mas acaba sendo surpreendida: eles estão em estados catatônicos e uma acabou morrendo.
Perdida, tendo flashbacks do que aconteceu antes dela acordar e isolada em um planeta inóspito, Yasna atravessa em um mundo incomum imbuída no desejo não só de resgatar seus amigos, mas mais ainda de compreender os segredos que se escondem em Regis III, um planeta paradisíaco onde a vida não floresceu como deveria.
Campanha
Na maior parte do tempo a história da campanha possui como base as interações entre Yasna e Novik. O jogo consegue trabalhar bem a sinergia entre os dois personagens apresentando um contraste interessante entre eles.
Enquanto Yasna mostra toda a fragilidade de um ser humano perdido em um local desconhecido, externando o quanto precisa de interações humanas, agindo de forma impulsiva algumas vezes por ser a personagem mais exposta a estresse de estar em uma posição de perigo, mas sem deixar toda a sua curiosidade jovial ao tentar desvendar os mistérios do planeta Regis III, Novik se apresenta o mais equilibrado e racional por estar em uma posição mais privilegiada onde acaba por vezes colocando Yasna em perigo, mas ao mesmo tempo empenhado ao tentar trazê-la de volta para a Dragonfly em segurança.
Indo por um vai e vem de informações, a campanha vai sendo contada pelo cenário, por maquinários deixados que contam o que houve com o lugar, registros escritos e fotos das atividades tiradas por drones. The Invincible é um jogo que apesar de tratar assuntos ora filosóficos, ora científicos, é muito fácil de entender por ter uma dinâmica de storytelling muito bem firme e direta.
Apesar de conter opções de diálogos, não senti que eles interferem nos rumos da campanha na maior parte do tempo, mas em dois momentos cruciais sim, que podem conter múltiplos finais.
Gameplay
É preciso avisar desde o início para desavisados, The Invincible é um jogo narrativo e seu gameplay é muito do que chamamos de um “walking simulator“. Possuindo uma câmera em primeira pessoa, vamos transitando de um ponto a outro, onde quase a totalidade da sua mecânica consiste em andar enquanto checa pontos de interesse para reunir informações para a trama e interagimos com objetos para seguir em frente.
Para mostrar ao jogador o quanto somos inofensivos, o gameplay adota decisões para se manter coerente, mas acabam se mostrando um pouco questionáveis e prejudiciais na experiência. Yasna é muito lenta, o botão de correr não ajuda muito e é piorado por conter um fôlego de alguém que nunca correu na vida, durando no máximo 5 segundos tornando a experiência de transitar em Regis III um negócio monótono.
Outro problema reside na experiência de encontrar o caminho correto. Apesar de serem todos lineares, algumas vezes não fica claro qual o próximo ponto de destino e quando encontrado, eles revelam caminhadas que poderiam ter sido resumidas ou encurtadas. O jogo também não ajuda, em elevações rochosas que precisam ser escaladas na menor velocidade possível que uma pessoa seria capaz de executar. O jogo até possui em algumas partes a chance de usar veículos para transitar por longas distâncias, mas em uma parte específica quando fui buscar o veículo que escondi orientado pelo jogo, ele sumiu do local, vindo aparecer um bom tempo depois.
Outras decisões de gameplay também não se saem muito bem executadas, como os “quebra-cabeças” simplistas onde sua mecânica é girar botões para encontrar estações de transmissão de rádio, trocar câmeras, controlar e remover gravações de drones, apertar botões para abrir portas, desabilitar campos de força, usar um varredor de terreno pouco utilizado para investigar elementos do cenário ou outros poucos elementos de gameplay. Existe uma parte onde podemos usar uma “arma”, mas seu funcionamento é tão desajeitado que não sentimos realmente que estamos fazendo alguma coisa com ela.
Em resumo, no que diz respeito ao gameplay, The Invincible tenta utilizar de elementos para dizer que é um jogo de aventura, quando é na verdade um jogo de romance visual travestido de jogo interativo. Todas as suas mecânicas são desinteressantes e não estabelecem nenhum desafio real para o jogador onde servem apenas para atrasar o jogador em razão do storytelling.
Gráficos e Direção de Arte
O maior trunfo visual de The Invincible não reside no seu trabalho técnico, mas na sua direção de arte. Se passando em quase na sua totalidade no planeta Regis III, o jogo adota uma marca visual bastante bonita e original. Seja na paleta de cor arenosa e vermelha que constitui a superfície do planeta, o azul turquesa que banha o mar e o céu e partes mais escuras como o preto e cinza responsáveis pelo mistério do jogo. O jogo adota também uma estética visual de época nos trajes espaciais, bases de operações, acampamentos e máquinas espalhadas pelo planeta, enriquecendo ainda mais a imersão necessária estabelecida pela desenvolvedora.
Tecnicamente, as formações rochosas esculpidas pela erosão, túneis naturas e o tempo e demais elevações de The Invincible são muito bonitas e revelam o cuidado em retratar o planeta como algo crível, mas o jogo possui diversos problemas de texturas e animações com pop-ins, texturas ruins e personagens que se mexem de forma esquisita enquanto apresentam animações faciais robóticas.
Trilha Sonora e Som
A trilha sonora é composta por Brunon Lubas, compositor que já trabalhou em outros jogos como Layer of Fear 2, Blair Witch e The Medium. O perfil de jogos de terror em que ele trabalhou talvez revele o papel dele nas faixas do jogo, e consegue cumprir muito bem na proposta.
Adotando um tom de ficção científica de época, a maioria das músicas de The Invincible são lentas e soturnas. Ao seu utilizar sons eletrônicos em uma frequência compassada, o tempo inteiro o jogo alterna entre momentos de profundo silêncio e de músicas de um crescente mistério que vai deixando o jogador tenso sobre o que vai acontecer.
O jogo não contêm dublagem para português do Brasil, mas conta com legendas. A dublagem em inglês transmite toda a inquietação de Yasna e o equilíbrio de Novik, e quando precisa exigir um pouco mais de interpretação, consegue atingir a qualidade esperada, mesmo em um roteiro mais contido e menos explosivo.
Vale a Pena?
The Invincible não é indicado para pessoas que detestam ler texto, juntar peças e queiram maior dinamismo e agilidade, tanto em termos de narrativa quanto de gameplay.
The Invincible é um jogo que brilha em termos de história e direção de arte, mas fica devendo muito em relação à jogabilidade. A narrativa é envolvente, mas com lacunas, e conta com excelente dublagem e roteiro, sendo uma excelente escolha para os fãs de ficção científica. No entanto, a jogabilidade carece de profundidade e variedade, principalmente com longas caminhadas e interações monótonas. As mecânicas secundárias, como o scanner e a ferramenta de radar, poderiam ser mais melhor exploradas. Embora o jogo ofereça um mundo intrigante e uma atmosfera agradável, suas limitações o impedem de atingir a grandeza. No entanto, como uma recriação do livro de Stanislaw Lem, é um lugar agradável para os amantes da obra. No geral, The Invincible é uma recomendação para aqueles que valorizam uma narrativa rica, mas não atende às expectativas daqueles em busca de uma jogabilidade envolvente.
Notas do Jogo
Título: The Invincible
Descrição do jogo: És Yasna, uma astrobióloga perspicaz e altamente qualificada. Envolvida numa corrida espacial, tu e a tua tripulação encontram-se no planeta inexplorado Regis III. A viagem científica rapidamente se transforma numa missão para encontrar os teus colegas desaparecidos. Segue o rasto deles, mas lembra-te de que todas as decisões que tomares podem levar-te para mais perto do perigo.
Gênero: Aventura
Lançamento: 06/11/2023
Produtora: Starward Industries SA
Distribuidora: 11 bit studios
Nota
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História - 8/10
8/10
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Jogabilidade - 5/10
5/10
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Gráficos - 6.5/10
6.5/10
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Trilha Sonora e Som - 9/10
9/10
Veredito
The Invincible não é indicado para pessoas que detestam ler texto, juntar peças e queiram maior dinamismo e agilidade, tanto em termos de narrativa quanto de gameplay.
The Invincible é um jogo que brilha em termos de história e direção de arte, mas fica devendo muito em relação à jogabilidade. A narrativa é envolvente, mas com lacunas, e conta com excelente dublagem e roteiro, sendo uma excelente escolha para os fãs de ficção científica. No entanto, a jogabilidade carece de profundidade e variedade, principalmente com longas caminhadas e interações monótonas. As mecânicas secundárias, como o scanner e a ferramenta de radar, poderiam ser mais melhor exploradas. Embora o jogo ofereça um mundo intrigante e uma atmosfera agradável, suas limitações o impedem de atingir a grandeza. No entanto, como uma recriação do livro de Stanislaw Lem, é um lugar agradável para os amantes da obra. No geral, The Invincible é uma recomendação para aqueles que valorizam uma narrativa rica, mas não atende às expectativas daqueles em busca de uma jogabilidade envolvente.
Vantagens
- Ótimo desenvolvimento do mistério do enredo;
- Imersão;
- Personagens críveis e bem desenvolvidos;
- Conceito visual de retrofuturismo e atompunk;
- Direção de arte salva o visual do jogo;
Desvantagens
- Sistema de colisão com problemas;
- Mecânicas de gameplay subutilizadas;
- Andar e correr se torna um fardo;
- Exploração frustrante;
- Puzzles simples;
- Problemas gráficos.