Envolto em diversos episódios e impressões bizarras, Stranger of Paradise: Final Fantasy Origin foi anunciado de forma tão estranha quanto o jogo possa parecer, por que ele é.
Quando a Square-Enix anunciou que estava fazendo uma releitura do Final Fantasy 1, jogo de NES, sendo desenvolvido pela Team Ninja e seria um jogo mais sombrio e mais desafiante, o estranhamento do público foi quase o mesmo: pra quê?
A medida que vídeos e teor do jogo foram sendo liberados pela empresa, esse estranhamento foi crescendo e junto dele uma sensação que ele era diferente de tudo o que a série já teve como spinoff: a Square-Enix abraçou o quão cafona e tosco o jogo poderia ser.
História
No jogo, três Guerreiros da Luz (Jack, Ash e Jed) chegam ao reino de Cornelia carregando consigo um cristal escurecido de cada elemento. Participando de uma reunião com o Rei de Cornelia, eles oferecem seus serviços para matar Chaos, a fonte do mal que castiga o mundo. O Rei de Cornelia aceita a oferta e na saída, os três guerreiros são abordados pela Princesa Sarah. Sarah pede aos três personagens que encontrem um cavaleiro desaparecido de Cornelia, Garland.
Os três partem para a missão no Santuário do Caos, lá eles encontram Garland que ao ser derrotado acaba se revelando uma visão, a verdadeira forma se apresenta como Neon, uma garota que perdeu seus companheiros e se junta ao grupo de Jack, se tornando a quarta integrante dos Guerreiros da Luz.
Os quatro Guerreiros da Luz partem em busca para a sua missão de encontrar Garland e matar Chaos em um mundo onde Quatro Demônios assumiram controle dos cristais que regem o mundo ao longo de quatro séculos e diminuindo sua luz provocando um declínio do mundo e cabe aos Quatro Guerreiros cumprirem a profecia do sábio Lukahn, onde eles salvarão o mundo da escuridão.
Campanha
Stranger of Paradise: Final Fantasy Origin conta a história e missão de vida de Jack Garland, que está desesperadamente atrás de Chaos, já dito que é um mal que assombra o reino de Cornelia. A história se desenvolve sobre esse mote simplista onde o personagem principal irá protagonizar momentos verdadeiramente bizarros.
Jack Garland é um personagem de poucos amigos, (que por um motivo gostam dele, mesmo repelindo a qualquer momento a companhia de todos) poucas palavras, de pavio curto e de atitudes grosseiras. Você verá Jack cortando as famosas falas em JRPGs onde personagens dão longas explicações, responder rispidamente personagens e sair andando ouvindo algo parecido com “Limp Blizkit” no seu “iPod”, socar inimigos antes de terminarem de formular frases e uma quantidade grande de momentos toscos.
Tudo no seu início é raso, personagens vão se juntando à sua party sem grande motivos orientados pela conveniência de roteiro. Não há grandes vilões, mas só a grande insistência de Jack em matar Chaos.
O jogo passa o tempo inteiro dando dicas de que algo misterioso se esconde e não se encaixa direito dentro daquele mundo. Parte dessa estranheza de que algo não está bem encaixado é entregue pelas Fool’s Missive, notas de registro que residem em orbes encontradas nas fases que contêm registros dos Lufenians (um povo antigo) sobre a sua civilização e a de Cornelia e seus residentes. Aos poucos uma trama maior e mais fundamentada vai se desenrolando e mudando a perspectiva até do primeiro jogo, o Final Fantasy 1.
Jogabilidade
Stranger of Paradise se trata de um RPG de ação com elementos de Soulslike, mas não bebe de toda a fonte do gênero no que compete à sua dificuldade. Sim, é o jogo da série Final Fantasy mais desafiante e que irá demandar maior cautela dos jogadores onde ataques descerebrados serão punidos com altos danos e obrigando esquivas, ainda mais contra os grandes chefes ao final de cada missão, mas não é um jogo altamente punitivo como um Dark Souls ou Elden Ring.
Dos elementos trazidos por Dark Souls, Stranger of Paradise traz as fogueiras onde os jogadores podem salvar, reabastecer poções, recuperar HP e MP e melhorar as árvores de habilidades dos Jobs, aqui chamadas de Cubos. Caso o jogador morra, voltará ao último cubo acessado.
Mais próximo da série Nioh do que Dark Souls, Stranger of Paradise conta com um combate mais acessível e mais rápido. Sem uma barra de stamina, o jogador poderá realizar ações comuns como atacar e esquivar de forma mais ágil e com menos janelas de espera, mas para realizar ações especiais como magias ou finalizadores de combos mais fortes, ele terá que atacar inimigos para encher a barra para tais movimentos.
A maior adição de sua estrutura de combate vem da mecânica Soul Shield (uma barra de atordoamento dos inimigos), que se trata de uma forma de bloqueio que reduz o Break Gauge. Ao reduzir o medidor, o inimigo ficará atordoado dando a chance do jogador acertar um Soul Burst, um finalizador estiloso e divertido onde Jack irá violentamente finalizar um inimigo transformando em cristal vermelho para quebrá-lo em mil pedaços. Com o Soul Shield, você poderá contra atacar inimigos com os seus próprios ataques ou apará-los.
Apesar de ser o ponto mais alto do jogo além do sistema de jobs, o combate de Stranger of Paradise não é perfeito e isento de problemas. Conforme dito, lançar magias não é um meio prático de se jogar já que além de consumir a barra, o jogador precisa de um tempo longo para conjurar as magias. Por ser um jogo acelerado com inimigos ágeis, por muitas vezes você será acertado antes de ter tempo para lançar algum feitiço. Além disso, o jogador só permite alternar entre dois jobs durante a batalha com cada um com builds diferentes. Apesar de ser uma mecânica divertida, acaba sendo limitante, já que o jogador não tem a liberdade de alternar entres mais jobs e usar habilidades diferentes enriquecendo as estratégias usadas em combate perdendo muito da experiência de suas dezenas de jobs com habilidades únicas.
Contando com mapas que funcionam como corredores e oferecendo mecânicas de puzzles como ativar orbes para mudar o clima de florestas entre ensolarado e chuvoso e criar passagens (puzzle tirado de Final Fantasy XIII), adquirir chaves de acesso a portas trancadas, ativar armas laser para liberar caminhos, destruir geradores de energia para desmontar barreiras e etc, o jogo tenta incrementar um nível mais complexo de level design para não jogar toda a responsabilidade do seu gameplay a um jogo repleto de corredores cheios de inimigos. Pena estes puzzles não serem tão desafiantes e criativos e acabam retardando a sua jornada pela campanha.
Falando sobre os mapas, o jogo contém uma variedade de loots que são responsáveis junto dos jobs em aumentar os status dos seus personagens como força, magia, defesa, agilidade e etc. O jogador poderá equipar arma, escudo, cabeça, tronco, braço, cintura e perna e todos esses equipamentos são dropados de inimigos derrotados e em baús espalhados pelo mapa. Apesar de possuírem visuais diferentes, me incomodou receber tantos equipamentos iguais que só se diferenciam pelo nível e efeitos. Também me incomodou durante a minha experiência terminar com uma quantidade interminável de equipamentos pouco melhores onde eu precisava sempre parar minha experiência para equipar os personagens dezenas de vezes e ficar atento à limitação de equipamentos carregados, sempre tendo que enviar os não utilizados para armazenamento e jogar os fracos fora.
Falando sobre os Jobs de Stranger of Paradise, não é segredo que a franquia Final Fantasy possui uma quantidade grande de classes e isso se reflete numa das mecânicas mais divertidas do jogo. Contando com 28 jobs divididos em 3 níveis (Básico, Avançado e Expert), cada um possui a sua árvore de habilidades onde o jogador poderá gastar Job Points para desbloquear habilidades, afinidades e combos especiais para cada um dos 28 Jobs. Nas árvores de habilidades de jobs básicos, os jogadores poderão desbloquear jobs avançados e nas árvores de jobs avançados o jogador poderá desbloquear jobs avançados. Cada Job na dificuldade normal pode aumentar até o nível 30, já na dificuldade Chaos (desbloqueada após completar a campanha) cada Job terá o limite máximo de nível em 99.
Gráficos
O aspecto mais fraco de Stranger of Paradise é justamente sua qualidade técnica. Com texturas da era do PS3, NPCs mal modelados, iluminação inexistente, mapas e cenários genéricos e quedas de FPS, o jogo é uma grande decepção para fãs de uma empresa que era tão preocupada na qualidade gráficas de suas IPs. A direção de arte até tenta implementar uma personalidade com tons escarlate e cenários mais sombrios. Alguns mapas são claras referências a outros jogos da franquia principal como o Castelo Palamecia (FF3), Crystal Tower (FF2), Tower of Babil (FF4), Ronka Ruins (FF5), The Floating Continent (FF6), Fire Cavern (FF8), MT Gagazeta (FF10), Sunleth Waterscape (FF13), The Citadel (FFXV) e vários outros. O problema que a má qualidade para um jogo que se julga de atual geração e cobra seu preço alto por isso, derruba a impressão de todo o resto.
O jogo é ridiculamente mal otimizado, com uma iluminação bem esquisita, a maioria dos seus mapas são grandes corredores escuros onde você não consegue sequer enxergar o que está acontecendo. Além da impressão geral que a falta de texturas certamente será notada pelos jogadores, a questão mais irritante serão os cantos escuros que farão os jogadores se perderem em mapas cheio de passagens escondidas pela má iluminação do jogo.
De resto, os personagens principais não sofreram tanto desse problema gráfico, apresentando modelagem com maior cuidado que o restante do jogo, mas com designs esquisitos e mal colocados dentro de um universo mal resolvido artisticamente.
Trilha Sonora e Som
Tão confuso quanto seu conceito artístico e o tom de sua narrativa, a trilha sonora sofre dessa mesma característica. Anunciado como música tema, “My Way” de Frank Sinatra, é tão dissociada com o contexto do jogo e com as outras composições que você começa a se perguntar qual o intuito dos desenvolvedores com esse jogo?
Stranger of Paradise é composto por Naoshi Mizuta, nome carimbado e que já participou de outros jogos da série como Final Fantasy XI, Final Fantasy XIV, Dissidia NT, Final Fantasy XIII-2 e etc. A maioria das músicas seguem o mesmo tom de músicas da série, mas conta com releituras de outras músicas de jogos da série geralmente inseridas nos mapas citados que fazem referência a locais de outros jogos.
O jogo é dublado em inglês e japonês e não contêm legendas em português. Os dubladores fazem um trabalho padrão.
Vale a Pena
Se existe uma palavra para resumir Stranger of Paradise: Final Fantasy Origin seria esquisito. Com a tarefa de reimaginar o primeiro jogo da série lançado em 1987, Stranger of Paradise cria um produto único dentro da série que se diferencia mais pela bizarrice do que por outro motivo e recria a origem dos Guerreiros da Luz, servindo mais como um prólogo do que um “remake”.
Com um gameplay divertido e desafiante, o jogo ainda se mantém acessível para aqueles não tão fãs de jogos difíceis, já que conta com uma opção de dificuldade mais fácil. Por ter uma grande de Jobs com habilidades únicas, Stranger of Paradise peca em limitar o uso em combate para apenas duas classes além de empurrar toneladas de equipamentos pouco diferentes para o jogador se virar e lidar, mas acerta no seu sistema de combate divertido, desafiante, ágil e variado.
Resumidamente Stranger of Paradise: Final Fantasy Origin é um jogo que parecia um Souls-like, mas não herda de todas as suas características e se flexibiliza para se tornar acessível a qualquer tipo de público. Os novos fatos criados para a narrativa do primeiro jogo da série mudam algumas origens de figura, mas não são tão substancialmente importantes para afetar a série. Stranger of Paradise é um jogo que ninguém pediu e que se tivesse outro nome e um maior cuidado técnico, poderia até se tornar uma franquia nova da Square-Enix, mas como Final Fantasy ele só é um jogo estranho.
Notas do Jogo
Título: Stranger of Paradise: Final Fantasy Origin
Descrição do jogo: Com a memória da sua luta enterrada bem fundo nos corações... Neste RPG de ação hardcore, Jack terá de enfrentar vários desafios para devolver a luz dos cristais a Cornelia, um reino sob o domínio das trevas. Participa em inúmeras batalhas ferozes e recorre a vários meios para derrotares os teus inimigos. Com várias opções de dificuldade e uma grande seleção de classes e armas disponíveis para personalizares o teu grupo, podes escolher exatamente a forma como desejas jogar. Será que restaurar a luz dos cristais trará uma nova era de paz ou apenas uma outra versão das trevas? Ou talvez algo completamente diferente...?
Gênero: Ação, RPG
Lançamento: 15/03/2022
Produtora: Koei Tecmo Games
Distribuidora: Square Enix
Nota
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História - 6/10
6/10
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Jogabilidade - 7/10
7/10
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Gráficos - 5/10
5/10
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Trilha Sonora e Som - 8/10
8/10
Veredito
Se existe uma palavra para resumir Stranger of Paradise: Final Fantasy Origin seria esquisito. Com a tarefa de reimaginar o primeiro jogo da série lançado em 1987, Stranger of Paradise cria um produto único dentro da série que se diferencia mais pela bizarrice do que por outro motivo e recria a origem dos Guerreiros da Luz, servindo mais como um prólogo do que um “remake”.
Com um gameplay divertido e desafiante, o jogo ainda se mantém acessível para aqueles não tão fãs de jogos difíceis, já que conta com uma opção de dificuldade mais fácil. Por ter uma grande de Jobs com habilidades únicas, Stranger of Paradise peca em limitar o uso em combate para apenas duas classes além de empurrar toneladas de equipamentos pouco diferentes para o jogador se virar e lidar, mas acerta no seu sistema de combate divertido, desafiante, ágil e variado.
Resumidamente Stranger of Paradise: Final Fantasy Origin é um jogo que parecia um Souls-like, mas não herda de todas as suas características e se flexibiliza para se tornar acessível a qualquer tipo de público. Os novos fatos criados para a narrativa do primeiro jogo da série mudam algumas origens de figura, mas não são tão substancialmente importantes para afetar a série. Stranger of Paradise é um jogo que ninguém pediu e que se tivesse outro nome e um maior cuidado técnico, poderia até se tornar uma franquia nova da Square-Enix, mas como Final Fantasy ele só é um jogo estranho.
Vantagens
- Combate divertido
- Variedade de Jobs
- Releitura de músicas clássicas
- Desafiante, mas acessível
Desvantagens
- Desenvolvimento de história irregular
- Personagens rasos
- Gráficos ruins
- Limitação no uso de Jobs em combate
- Conceitualmente estranho