Review | Sea of Stars


Sea of Stars, o mais recente RPG inspirado em clássicos do Sabotage Studio, é um exemplo notável de como jogos como Chrono Trigger envelheceram bem. O jogo apresenta encontros de mundo aberto, uma trilha sonora ambiciosa, ambientes vívidos e ideias de enredo que lembram as aventuras de RPG do passado.

O jogo presta uma homenagem sincera aos grandes nomes do legado de RPG do Japão, como Chrono Trigger, Breath of Fire, Super Mario RPG, Illusion of Gaia e outros, sem recorrer ao uso excessivo de nostalgia. É evidente que há um profundo respeito pelas influências, mas a Sabotage Studio conseguiu criar uma experiência própria.

Situado no mesmo universo de The Messenger, o Sea of Stars é uma versão moderna do gênero de RPG 2D clássico, proporcionando uma experiência de jogo e uma história separada, um prólogo na linha do tempo.

História

Valere e Zale são Guerreiros do Solstício, guerreiros que combinam os poderes do Sol e da Lua para conjurar a poderosa Magia do Eclipse, a única capaz de derrotar as criaturas monstruosas chamadas Residentes, criadas pelo perigoso alquimista divino, o Fleshmancer e que geram sentimentos negativos e influenciam pessoas ao seu redor.

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Valere e Zale são amigos do jovem cozinheiro e de bom coração chamado Garl. Um dia, sentindo a necessidade de serem preparados para o seu futuro, o diretor Moraine decide treiná-los na Academia Zênite, uma espécie de escola de magia. Sendo treinados por dois Guerreiros do Solstício que os antecedem, Erlina e Bugraves, as duas crianças são isoladas de Garl por alguns anos.

Após o término do treinamento, Moraine manda os dois rumo ao encontro do último Residente que habita o mundo de fantasia de Sea of Stars. No caminho encontramos Garl mais velho e nos é revelado que ele terá um papel fundamental no futuro dos acontecimentos, onde acaba sendo permitido acompanhar Zale e Valere.

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Depois de uma jornada até o último Residente, testemunhamos uma virada radical nos acontecimentos, colocando o mundo inteiro em perigo e deixando os Guerreiros do Solstício sob única responsabilidade. Em uma nova realidade que parecia o fim de tudo, Zale, Valere e Garl irão partir em busca de meios de impedir a investida do Fleshmancer enquanto conhecem novos personagens fundamentais que irão ajudá-los na jornada.

Campanha

O maior problema narrativo de Sea of Stars é se levar sério demais com um roteiro básico e genérico. É claro que os personagens possuem um certo tom cômico em alguns momentos e alguns acabam roubando todo o protagonismo quando aparecem, como Garl e Serai, mas os diálogos não conseguem sair da fórmula mais simples possível de um JRPG qualquer. Os dois protagonistas são o ponto mais fraco do elenco de personagens, com identidades e personalidades tão básicas que fica difícil conseguir diferenciá-los um do outro.

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O ritmo que a narrativa se desenvolve é bem legal e divertido, mas os rumos e as coisas que acontecem, mesmo as viradas de roteiro, são fáceis de prever e não saem muito do óbvio. Falta em vários momentos coragem de romper o esperado e o jogador fica sempre esperando algo diferente, que acaba nunca chegando.

O jogo possui outro fator que considero bem ruim que é esconder o final verdadeiro atrás de conteúdo pós-game. Esse problema não seria tão sentido se o final padrão não fosse tão inconclusivo e vazio, o que me irritou no fim da jornada quando descobri que precisava fazer uma soma de atividades chatas para ver o desfecho verdadeiro.

Gameplay

Sea of Stars não faz questão de esconder as suas influências e deixa muito claro o seu intuito de ser uma homenagem aos jogos clássicos de JRPGs da era 16 e 32 bits.

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A mecânica de batalha é a baseada em turnos, onde cada personagem e inimigos esperam a sua vez para realizar as ações de combate. Sobre as referências, a primeira mais óbvia é a forma em que os ataques e defesas funcionam, inspirado em Super Mario RPG, onde o jogador terá que apertar botões no momento certo para desferir ataques adicionais como tirar mais dano em magias e habilidades especiais ou reduzir a quantidade de dano recebido ao defender no momento certo. O efeito de adoção dessa mecânica é o mesmo da sua fonte, tornando combates que poderiam entediar jogadores em duelos dinâmicos e mais participativos, onde comandos do jogador definirão o sucesso contra inimigos.

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Outro fator de seu combate reside na forma como as magias e combos funcionam. Na medida que atacamos, vamos ganhando pontos de magia (PM) para preencher a barra. Já os combos são ações realizadas em conjunto com parceiros de equipe, algo claramente saído de Chrono Trigger, onde uma barra com pontos brilhantes se enche a qualquer ação realizada, seja atacando ou defendendo.

Existem outros detalhes substanciais do seu combate que adicionam aspectos estratégicos. O primeiro é que ao atingir um inimigo, orbes caem no campo de batalha e aos serem absorvidos, aumentando não só o ataque, mas adicionando efeitos elementais que infligem um dano extra em inimigos fortes contra danos físicos. O segundo é que inimigos possuem habilidades especiais que possuem um contador de turnos para ser desferido e para serem interrompidos o jogador precisará acertar combinações de tipos de ataques físicos e elementais. Tal decisão nos força a usar a livre troca de membros da equipe durante os combates, evitando um costume comum de fazer alguma predileção entre um ou outro membro, tornando todos importantes durante a campanha.

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Sobre o funcionamento dos níveis, todos os personagens ganham pontos de experiência ao mesmo tempo, evitando o desbalanceamento da party, e o upgrade dos seus status necessita da ação do jogador. Cada vez que aumentamos de níveis, o personagem ganha melhorias nos status, mas há pontos bônus que podemos escolher onde distribuir. Atuando de forma aleatória, o jogador poderá escolher aumentar ataque, magia, HP, PM, defesa física e defesa mágica. Esse sistema também estava presente em Super Mario RPG.

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Não possuindo modos de dificuldade, Sea of Stars se mostra moderno nesse aspecto e adiciona um sistema de Relíquias que serve como um controle de pontos diferentes que irão definir vários aspectos. Adquiridas comprando ou ganhando já no início do jogo, as Relíquias podem te ajudar a curar a sua party após cada batalha, tirar a necessidade de apertar botões nos momentos certos para tirar mais dano, dar mais EXP após combates, baratear preços de equipamentos em lojas, receber menos danos e muitos outros. Sea of Stars oferece uma dificuldade padrão e que não dará trabalho para experientes no gênero, mas pode se tornar desafiante para novatos.

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Inimigos não são tão difíceis, mas chefes podem complicar a vida dos jogadores. Atuar planejando os próximos turnos será vital para impedir que ataques poderosos possam complicar batalhas, portanto guardar o ataque de um personagem pode evitar maiores problemas. Alguns chefes podem ter mais partes ou inimigos menores para serem destruídos, fornecendo etapas de batalha divertidas, mas nada criativas para quem já estiver familiarizado com o gênero. O jogo não impressiona nesses encontros.

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Meu maior problema com o jogo talvez tenha sido a forma ruim de ganhar dinheiro no jogo. Apesar de não existir muitos equipamentos, ganhar dinheiro em Sea of Stars é uma tarefa difícil, e isso acaba prejudicando na compra de itens de cura para a aventura. O jogo obviamente conta com um sistema onde podemos cozinhar pratos que curam e recuperam HP e PM, mas não é o suficiente para suprir a demanda do jogo.

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Pra mim, Sea of Stars se destaca no design dos seus mapas e é onde ele mais se desprende das suas referências. Com áreas diversas, explorar e passar por cenários no jogo é bem divertido e um dos principais fatores que não o torna enjoativo. Com plataformas para subir, locais para escalar, escadas, mergulhos, ganchos para lançar e acessar áreas mais distantes, o jogo possui uma qualidade de plataforma que é potencializada com puzzles simples e divertidos. Em vários locais o jogador terá que empurrar objetos e elevações para acessar novos locais, acionar alavancas, brincar com o dia e a noite para ativar dispositivos, mudar volumes da água para seguir em frente e uma quantidade satisfatória de elementos que torna o jogo algo não só divertido em batalha, mas também fora dela.

Gráficos e Direção de Arte

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Na mesma toada de ser uma homenagem, Sea of Stars reflete isso nos seus gráficos. Com visuais que resgatam uma estética retrô, o jogo utiliza um pixel art moderno para embelezar os seus cenários, mas sem parecer desatualizado. A criatividade e beleza do seu design torna o mundo fantástico do game muito bonito e as animações e movimentos de objetos estão por toda parte. Com tudo em constante movimento, o jogo não cai na armadilha dos clássicos e faz questão de deixar tudo em movimento, desde gramas até dragões gigantescos.

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Há um claro esforço nas animações, com não só nossos personagens recebendo toda a atenção, mas com todos os inimigos possuindo animações próprias e que não se repetem, chefes com maior qualidade de movimentos enchendo a tela e até ataques especiais recebendo cenas bonitas para desferir ataques devastadores.

O jogo também conta com animações desenhadas à mão para momentos importantes da narrativa e que ajudam a impactar e pontuar cenas substanciais, apesar de alguma limitação técnica e de animação que ocorre.

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Trilha Sonora e Som

Composta por Eric W. Brown, o jogo possui a ilustre presença em algumas das suas faixas do lendário compositor de Chrono Trigger, Yasunori Mitsuda, e isso faz um grande diferença na experiência musical do jogo.

Com músicas que resgatam sons e instrumentos dos jogos dos anos 90 e 2000, Sea of Stars resgata todo o sentimento de aventura e alegria destes games. Cada ambiente possui uma música agradável e que reflete bem o clima do lugar, mas a coisa mais legal delas é que cada faixa possui duas versões, a durante o dia, sendo mais alegre e rápida e a noturna, mas baixa e lenta.

O jogo não possui dublagem, apenas ruídos de murmúrios para sinalizar as falas, mas possui legendas e localização para português do Brasil.

Vale a Pena?

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Sea of Stars é uma emocionante homenagem aos RPGs clássicos das gerações passadas de consoles, recriando uma nova aventura que presta um tributo digno aos seus predecessores. O jogo orgulhosamente exibe suas influências, honrando-as de maneira brilhante. Apresentando uma história competente e personagens apagados, ele proporciona cerca de trinta horas de diversão ininterrupta. Embora em alguns momentos a trama recorra a clichês de gênero e uma falta de coragem. Embora não inove radicalmente, Sea of Stars reúne habilmente elementos de jogos mais antigos em uma versão moderna da fórmula clássica, tornando-o um título altamente recomendado para entusiastas de RPGs clássicos.

Notas do Jogo
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Título: Sea of Stars

Descrição do jogo: Com um toque especial do estúdio Sabotage em cada sistema, Sea of Stars busca modernizar o RPG clássico em termos de combate em turno, narrativa, exploração e interações com o cenário, sem deixar de proporcionar uma dose colossal de nostalgia e a boa e velha diversão.

Gênero: RPG

Lançamento: 29/08/2023

Produtora: SABOTAGE STUDIO INC

Distribuidora: SABOTAGE STUDIO INC

COMPRAR

Nota
8.5/10
8.5/10
  • História - 7/10
    7/10
  • Jogabilidade - 8/10
    8/10
  • Gráficos - 10/10
    10/10
  • Trilha Sonora e Som - 9/10
    9/10

Veredito

Sea of Stars é uma emocionante homenagem aos RPGs clássicos das gerações passadas de consoles, recriando uma nova aventura que presta um tributo digno aos seus predecessores. O jogo orgulhosamente exibe suas influências, honrando-as de maneira brilhante. Apresentando uma história competente e personagens apagados, ele proporciona cerca de trinta horas de diversão ininterrupta. Embora em alguns momentos a trama recorra a clichês de gênero e uma falta de coragem. Embora não inove radicalmente, Sea of Stars reúne habilmente elementos de jogos mais antigos em uma versão moderna da fórmula clássica, tornando-o um título altamente recomendado para entusiastas de RPGs clássicos.

Vantagens

  • Combate divertido;
  • Level design e puzzles legais não deixam o jogador entediado;
  • Bela direção de arte e pixel art;
  • Ótima trilha sonora;
  • Bom conteúdo pós-jogo;

Desvantagens

  • História e personagens básicos e genéricos;
  • Combate se torna cansativo no final;
  • Falta de dinheiro;

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San Moreira
San Moreira tem 33 anos e é natural de São Paulo. Eu sou formado em Banco de Dados e Gestão Empresarial. Amante da cultura gamer, sempre apaixonado pelo universo. Atuando como jornalista e Content Manager de games com foco na plataforma PlayStation e Battle Royales como Free Fire. Teve a ideia de criar este site exclusivamente pela vontade informar e ajudar a comunidade gamer.