Life is Strange se tornou uma referência no que compete adventures narrativos onde suas bases são grandes narrativas, ótimos personagens, viradas de roteiro, escolha de diálogos e um sistema competente na arte de conseguir controlar os rumos da história.
A série já nos entregou jogos como Life is Strange, Before the Storm, The Awesome Adventures of Captain Spirite Life is Strange 2 produzidos pela DONTNOD. Em 18 de março de 2021 a Square-Enix anunciou que a franquia voltaria, agora não mais sendo produzida pela DONTNOD, mas sim pela estreante Deck Nine, e na Square-Enix Presents foi anunciado Life is Strange True Colors.
Com uma proposta diferente dos anteriores, a Deck Nine apresenta Life is Strange True Colors com um tom mais maduro, comedido, intimista, menos voltado para a ação, mas ainda contando com elementos mágicos, como os poderes especiais característicos da série.
Você já sentiu culpa por terríveis acontecimentos do passado que culminaram em mudanças drásticas e traumáticas nos rumos da sua vida te trazendo feridas abertas que não cicatrizam e que vão moldando toda a sua personalidade e modo de encarar a vida, tanto como lidar consigo mesmo quanto como lida com os outros?
Se você já sentiu isso alguma vez, você irá gostar de Alex Chen.
História
Você assume o controle da jovem Alex Chen, uma jovem-asiática amante de música, que depois de oito anos estando no sistema de adoção temporárias de Oregon nos EUA, acaba indo para uma cidadezinha do meio-oeste chamada Haven Springs para viver junto com o seu irmão, Gabe. Acontece que Alex possui um segredo, ela é portadora de uma habilidade psíquica, um tipo de “Super Poder da Empatia” onde é capaz de ler e manipular sentimentos nas outras pessoas como raiva, tristeza e medo.
Na cidade, Alex é apresentado por Gabe por moradores muito simpáticos e solícitos dessa pequena cidade situada no meio de montanhas que tem a sua economia sustentada por uma mineradora, a Typhon. Alex conhece o irmão da namorada de Gabe, o criativo Ethan. Alex é apresentada a Jed, um herói local que salvou diversos mineradores em um acidente. Jed oferece uma vaga para que Alex trabalhe no seu bar para recomeçar a sua vida ao lado do irmão.
Em uma noite onde a mineradora iria realizar detonações nas minas próximas, Ethan desaparece e cabe Gabe, Alex e Ryan, um guarda florestal local amigo do irmão da Alex, partem em busca do garoto. É descoberto que ele estaria próximo às minas e Gabe avisa à mineradora para adiarem a detonação. O trio consegue encontrar o irmão de Ethan acuado e com muito medo em uma localização de difícil acesso. Alex, usando os seus poderes, consegue ajudar Ethan. Quando estavam saindo do local, os três escutam uma explosão, a mineradora tinha acabado de iniciar o processo de detonação, uma pedra acerta Gabe que cai do penhasco e seu corpo se perde na correnteza do rio.
Noutro dia é organizado o velório do irmão da Alex, nele Mac, um ex-namorado ciumento de Riley e desafeto de Gabe que trabalha para a mineradora, revela que não recebeu ligação nenhuma do aviso do Gabe sobre o adiamento da detonação naquela noite. Alex e Ryan o confrontam dizendo que Gabe relatou que a ligação havia sido feita. Mais tarde, Mac revela que foi ameaçado a contar essa versão mentirosa dos fatos. Munida de um sentimento de justiça, Alex Chen decide descobrir a verdade atrás do acidente e encontrar os culpado pela morte do seu irmão e nisso irá descobrir que nem todos os bondosos moradores da cidade pacata de Haven Springs são o que realmente aparentam.
Campanha
A campanha gira em torno de conhecer a nova cidade de Haven Springs e seu moradores locais enquanto Alex lida com os próprios traumas e poderes. O jogo acontece em 5 capítulos, cada um possuindo pequenas missões que se baseiam em escolhas da melhor forma de ajudar os moradores a lidarem com os seus problemas pessoais. Alex Chen é tímida, culta, extremamente empática, sagaz, talentosa e justa. Sem dúvida, apresenta uma personalidade bem mais madura e cerebral que outros protagonistas da série e pode ganhar fãs por suas características tão únicas se revelando uma ótima escolha para o plot da narrativa. Seus amigos, Ryan e Steph (no qual você pode escolher ter ou não relacionamentos amorosos com um dos dois) apresentam uma sinergia muito convincente e despertando no jogador a necessidade de vê-los mais tempos juntos de tela.
Os moradores locais também possuem seus traumas, seja em decorrência da morte de Gabe, seja por problemas emocionais reais como depressão, insegurança, medo, culpa, doença degenerativa e egocentrismo.
Tudo isso, além de ótimas cenas e um roteiro afiado com ótimos diálogos, o jogo apresenta outra ferramenta narrativa que são as mensagens em texto e interações nas redes sociais presentes no jogo. O jogo conta com a rede social local chamada MyBlock, onde os moradores interagem entre si em publicações feitas contendo ótimas linhas de diálogo que ajudam a entrar ainda mais no universo narrativo e conhecer ainda mais os personagens.
Por ter o roteiro mais maduro e pé no chão da franquia até aqui, o jogo demanda mais acontecimentos para que o ritmo narrativo não apresentem tantos desnivelamentos e consiga escalar de forma orgânica e infelizmente não foi isso que ocorreu em True Colors. O jogo possui poucos acontecimentos interessantes, uma investigação sobre os motivos da Typhon resumida em um curto capítulo e um marasmo narrativo.
O jogo conta com uma duração muito curta para conseguir desenvolver a narrativa até o seu ápice, portanto alguns personagens vão sendo esquecidos muito cedo na narrativa, outros possuem muito pouco tempo de tela onde pediam mais tempo de interação com a personagem e maior estabelecimento de vínculos reais, tudo isso poderia melhorar o seu desfecho. Em suma, o jogo possui um início e fim, passando por cima do meio da narrativa e revelando um final apressado e menos catártico que o desejado, derrubando o esforço que o roteiro faz pra emocionar já que termina rápido demais para permitir que o jogador comece a se importar com cada personagem.
Gameplay
Life is Strange é uma franquia que tem por gênero ser um jogo narrativo, portanto você até tem controle da personagem, mas suas mecânicas são inteiramente voltadas ás opções de diálogo e suas consequências. Em True Colors sua novidade se vem da habilidade especial de Alex, que é a percepção dos sentimentos das pessoas. Cada sentimento possui uma cor e cabe a Alex ler os sentimentos e ajudá-los a passar por eles, seja enfrentando seu medos ou aceitando sua condição. A mecânica desses sentimentos funciona da seguinte forma:
Determinado personagem está com medo com forte manifestação, Alex entra em contato com essa emoção e consegue enxergar essa emoção da mesma forma que o seu portador, o jogo muda de forma e a personagem consegue enxergar os monstros que uma criança enxerga, ou objetos que manifestam esse sentimento em forma de lembranças e o jogo propõe mecânicas de diálogo para que Alex consiga ajudar determinado personagem e superar essa emoção. Sem dúvida é uma ótima mecânica que ao decorrer da narrativa apresenta belas surpresas.
Existem missões da campanha que tiram o jogo do lugar comum de diálogos e implementam sistemas interessantes edivertido, como o evento LARP (Live Action Role-Playing) que é onde o sistema do jogo inteiro se torna um jogo de RPG de turnos com ataques, itens, magias, “monstros” e combates. Pena que estes momentos são muito pequenos dentro do gameplay e se mostram como boas iniciativas isoladas.
Life is Strange True Colors possui cerca de 10 horas de jogo e esse é o seu principal problema. O jogo é muito curto e boas ideias são subaproveitadas com quase nenhum tempo de desenvolvimento ou espaço para crescerem, o que compromete toda a proposta. Uma prova de sua brevidade é o tamanho da cidade, que se resume a uma rua principal com 4 lojas que você pode entrar e um parque pequeno, tendo uma exploração inexistente. Por ser um jogo narrativo, as opções de mudança de rumo da história por parte do jogador são esparsas e quase estéreis, surgindo poucos espaços para que decisões importantes surtam efeito deixando uma sensação final insatisfatória no que compete na principal mecânica de um jogo narrativo, sendo mais um filminho do que um jogo onde o jogador tem papel fundamental para a história.
Gráficos
É o jogo da franquia com os melhores gráficos, mas dentro do contexto de games, possui um trabalho bem ruim para a geração anterior e pior para a atual geração. True Colors possui uma boa direção de arte, bem colorido e com cenas muito bem construídas com jogos de luzes, sombras, câmeras e ângulos que contribuem muito para momentos dramáticos da narrativa.
Já seus personagens possuem um trabalho ruim quando comparamos a outros jogos narrativos, com expressões faciais simplistas e animações de corpo robóticas em diversas situações. Os NPCs que ficam andando pela cidade sem rumo possuem um trabalho ainda pior quando interagimos com eles, sequer olhando para o seu personagem quando falam ou fazendo gestos para representar que estão falando.
Outro problema são as quedas de FPS no PS4 Pro quando estamos rodeados de outros personagens na cidade, apresentando engasgos e travamentos.
Trilha Sonora e Som
Da parte artística, o único trunfo de Life is Strange True Colors. O jogo possui uma trilha sonora de respeito que caminha por gêneros folk, indie pop australiano, rock como Creep (Radiohead), Don’t Matter (Kings of Leon), Thank You (Dido), Haven (Novo Armor), Home (Gabrielle Aplin) e diversas outras muito boas que são tocadas em momentos distintos da narrativa ou ao sentar em lugares aleatórios apenas para contemplar a paisagem e momentos contemplativos.
Além disso, por Alex Chen ser uma exímia cantora, ela irá apresentar momentos onde irá cantar e com a bela voz interpretação da artista, Mxmtoon, irá cantar belas músicas como Blister in the Sun e Every Wave.
Infelizmente o jogo não conta com dublagens em português, apenas legendas. O trabalho de dublagem em inglês é competente, mas como a narrativa é curta e com poucos momentos de tensão, ela não consegue tempo para brilhar, tanto em cenas quanto a mais números músicas de Alex, que poderia ter sido melhor explorada.
Vale a Pena?
Life is Strange True Colors é um jogo sustentado por emoções, com momentos de aceitação e o jogo mais emocionalmente humano da franquia onde apresenta situações reais e sentimentos passados da maneira mais pura e crua, exatamente como são. O jogo possui uma narrativa mais comum, sem grandes aventuras ou cenas de ação, sendo contido desde a sua protagonista mais comedida, até seu plot mais intimista com problemas reais e de menor escala. Possuindo gráficos melhores que jogos anteriores, mas ainda ruins e uma trilha sonora fascinante, o jogo ainda tem os seus acertos técnicos.
Pena, que por ser um jogo muito curto, nada consegue se desenvolver bem e todas as suas mecânicas de jogabilidade, personagens e narrativa em geral terminem de forma apressada e insatisfatória, um erro que um jogo narrativo que demanda e pede mais desenvolvimento não deveria apresentar.
Life is Strange True Colors é um jogo que deve agradar fãs da série, desagradar um pouco fãs de jogos narrativos e agradar novos jogadores que não conhecem a série ou o gênero. Ser vendido tão caro (R$ 300) no seu lançamento pelo preço cheio é uma afronta a lógica e ao seu bolso, sendo recomendado sua compra em promoções onde seu preço ficaria condizente com o seu tamanho e qualidade.
Confira a Política de Reviews do PS Verso
Notas do Jogo
Título: Life is Strange: True Colors
Descrição do jogo:
É dado inicio a uma nova e ousada era do premiado Life is Strange, com uma nova protagonista e um mistério eletrizante a ser solucionado!
Faz tempo que Alex Chen reprime a "maldição" que a assola: a habilidade sobrenatural de vivenciar, absorver e manipular as fortes emoções de outras pessoas, que aparecem para ela como auras coloridas e vibrantes.
Após a morte de seu irmão em um suposto acidente, Alex precisa abraçar seu poder instável para descobrir a verdade e desvendar os segredos sombrios de uma pequena cidade.
Gênero: Aventura
Lançamento: 09/09/2021
Produtora: Deck Nine
Distribuidora: Square-Enix
Nota
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História - 7.5/10
7.5/10
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Jogabilidade - 6/10
6/10
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Gráficos - 7/10
7/10
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Trilha Sonora e Som - 9/10
9/10
Veredito
Por ser um jogo muito curto, nada consegue se desenvolver bem e todas as suas mecânicas de jogabilidade, personagens e narrativa em geral terminem de forma apressada e insatisfatória, um erro que um jogo narrativo que demanda e pede para mais desenvolvimento não deveria apresentar.
Life is Strange True Colors é um jogo que deve agradar fãs da série, desagradar um pouco fãs de jogos narrativos e agradar novos jogadores que não conhecem a série ou o gênero. Ser vendido tão caro (R$ 300) no seu lançamento pelo preço cheio é uma afronta a lógica e ao seu bolso, sendo recomendado sua compra em promoções onde seu preço ficaria condizente com o seu tamanho e qualidade.
Vantagens
- Diálogos bem escritos
- Roteiro e protagonista mais maduros
- Personagens simpáticos
- Melhora gráfica em comparação à outros da série
- Cenas bem dirigidas
- Trilha sonora fascinante
Desvantagens
- Narrativa curta atrapalha o jogo por inteiro
- Missões secundárias ruins
- Personagens são esquecidos
- Gráficos quadrados e com pouco polimento
- Quedas de FPS e performance no geral ruim
- Caro demais pela experiência
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