Quando Ender Lilies: Quietus of the Knights emergiu das sombras do acesso antecipado em junho de 2021, não demorou para que o jogo conquistasse o coração de uma legião de fãs ávidos por uma experiência Metroidvania que unisse desafio, beleza e profundidade emocional. Desde então, a ansiedade por Ender Magnolia: Bloom in the Mist, a tão aguardada sequência, só aumentou. Diferente de seu antecessor, que surgiu como uma surpresa arrebatadora, a sequência carrega o fardo das altas expectativas. Será que Adglobe e Live Wire, os talentosos desenvolvedores por trás do primeiro jogo, conseguiriam capturar novamente aquela atmosfera melancólica e envolvente? E, talvez ainda mais importante, Mili, o estúdio musical responsável pela trilha sonora que elevou Ender Lilies a um patamar quase espiritual, retornaria para nos presentear com mais uma obra-prima sonora?
Ender Magnolia: Bloom in the Mist foi lançado nos consoles PlayStation 5 e PlayStation 4 em 22 de Janeiro de 2025.
História
Ender Magnolia: Bloom in the Mist se passa décadas após os eventos de Ender Lilies, em um mundo que serve como um conto de advertência sombrio sobre os perigos da dependência excessiva da inteligência artificial e da manipulação de recursos mágicos. A história se desenrola na Terra dos Vapores, um reino outrora próspero que construiu sua riqueza e progresso sobre uma abundância de recursos mágicos escondidos nas profundezas do subsolo. No entanto, essa busca desenfreada pelo avanço tecnológico e mágico acabou por levar o reino à ruína.
No auge de sua glória, o reino desenvolveu a produção em massa de Homúnculos, formas de vida artificiais semelhantes a máquinas, projetadas para servir à sociedade. No papel, parecia uma solução perfeita: criaturas obedientes e eficientes que poderiam realizar tarefas complexas e melhorar a qualidade de vida de todos. Porém, essa utopia logo se transformou em um pesadelo. Vapores tóxicos, emanados das profundezas da terra, começaram a corromper os Homúnculos, destruindo suas mentes e transformando-os em criaturas violentas e incontroláveis. O que antes era uma ferramenta de progresso tornou-se uma força de destruição, levando o reino ao colapso total.
É nesse cenário de caos e desespero que você assume o papel de Lilac, uma jovem Sintonizadora com uma habilidade única: a capacidade de purificar os Homúnculos, restaurando-os ao seu estado original. A história começa com Lilac despertando em um laboratório subterrâneo, o epicentro da queda do reino, sem memórias de seu passado. Ao seu lado está Nola, um Homúnculo misterioso que se torna seu primeiro aliado. Juntos, eles embarcam em uma jornada emocionante para desvendar os segredos do reino, recuperar memórias perdidas e confrontar os horrores causados pela Chuva da Morte, um evento catastrófico que mergulhou o mundo na escuridão.
Ao longo da jornada, Lilac e Nola encontram outros Homúnculos que, apesar de corrompidos, ainda guardam vestígios de sua humanidade. Entre eles estão Lito, um sujeito de teste com um braço elemental poderoso; Yolvan, uma fusão entre humano e animal, habilidoso no uso de armas de fogo; Levy, um espírito livre e despreocupado; e a Besta Acorrentada, uma criatura que depende da força bruta para sobreviver. Esses personagens, cada um com suas próprias histórias trágicas e motivações complexas, formam um grupo heterogêneo que troca não apenas golpes, mas também gentilezas e provocações nos raros momentos de descanso.
A jogabilidade de Ender Magnolia mantém a essência de seu antecessor, com Lilac utilizando os poderes dos Homúnculos purificados para lutar em seu lugar, em vez de atacar diretamente. Essa mecânica única não apenas adiciona profundidade estratégica ao combate, mas também reforça o tema central do jogo: a conexão entre humanos e máquinas, e as consequências de explorar essa relação de forma irresponsável.
Enquanto exploram a Terra dos Vapores, Lilac e seus companheiros descobrem que o destino do reino está intrinsecamente ligado aos Homúnculos e aos segredos ocultos nas profundezas da terra. A narrativa, repleta de reviravoltas emocionantes e momentos de melancolia poética, convida os jogadores a refletir sobre temas como perda, redenção e o custo do progresso.
Campanha
O que verdadeiramente diferencia Ender Magnolia: Bloom in the Mist de seu antecessor, Ender Lilies: Quietus of the Knights, é sua abordagem narrativa e tom atmosférico. Enquanto Ender Lilies contava com uma protagonista silenciosa e uma história sutil, entregue por meio de fragmentos ambientais e textos esparsos, Ender Magnolia opta por uma narrativa mais direta e pessoal. Aqui, Lilac não é apenas uma figura misteriosa: ela é uma protagonista articulada, com objetivos claros e uma personalidade marcante, que interage ativamente com o mundo e seus habitantes. Essa mudança radical no storytelling cria uma conexão emocional mais imediata, embora possa surpreender fãs do original, acostumados à melancolia introspectiva que definia o primeiro jogo.
Outro destaque é a riqueza de NPCs interativos, que pulsam vida nos pontos de descanso — espaços seguros onde Lilac e seus aliados compartilham diálogos, revelam histórias pessoais e até trocam provocações carregadas de personalidade. Essas interações opcionais não apenas aprofundam a construção de relacionamentos, mas também tecem uma rede de conexões humanas (ou quase humanas) que contrasta com a solidão opressora de Ender Lilies. O jogo constrói um senso de comunidade palpável, especialmente através do vínculo entre Lilac e seus companheiros Homúnculos, como Nola, Lito, Yolvan e a enigmática Besta Acorrentada. Cada um traz camadas de drama, humor e vulnerabilidade, enriquecendo a jornada com micro-narrativas que refletem temas como pertencimento e redenção.
Tematicamente, Ender Magnolia mantém a tradição de explorar ganância, discriminação e arrogância humana, mas amplia o escopo ao mergulhar em conflitos de classe e abusos de poder institucionalizados. A trama entrelaça as histórias das Casas Frost e Milius, facções que representam lados opostos da corrupção do reino, enquanto Lilac desvenda seu próprio passado e seu papel como Attuner. O ritmo é ágil e envolvente — as revelações surgem naturalmente por meio de notas dispersas, memórias dos Homúnculos e diálogos curtos, evitando excessos explicativos. Momentos como a recuperação das memórias de um Homúnculo agonizante ou a descoberta de experimentos cruéis nos laboratórios reais atingem clímax emocionais que ressoam mesmo após o crédito rolar.
Entretanto, nem tudo é perfeito. Alguns personagens secundários, como Levy, o despreocupado atirador, ou certos aliados encontrados no caminho, poderiam ter mais desenvolvimento, já que suas motivações às vezes parecem superficiais. Ainda assim, mesmo essas figuras acrescentam camadas de humanidade ao mundo, seja ajudando Lilac em combates ou oferecendo insights sobre a Terra dos Vapores.
Em suma, Ender Magnolia evolui a fórmula ao humanizar sua narrativa, substituindo a solidão poética de Ender Lilies por uma jornada coletiva repleta de vozes, conflitos e laços que desafiam a desolação ao redor. É uma aposta ousada — e, para muitos, uma evolução natural que prova que até mesmo mundos em ruínas podem abrigar fragmentos de esperança.
Gameplay
Em termos de jogabilidade, Ender Magnolia mantém a essência de Ender Lilies, mas introduz refinamentos significativos que elevam a experiência a um novo patamar de estratégia e personalização. A grande revolução continua sendo o uso dos Homúnculos — criaturas artificiais que Lilac comanda em combate —, porém, com uma abordagem mais focada em profundidade do que em quantidade. Enquanto Ender Lilies oferecia uma variedade maior de espíritos para invocar, aqui cada Homúnculo possui habilidades múltiplas e árvores de upgrades, transformando-os em ferramentas versáteis que se adaptam a diferentes situações.
Customização e Progressão:
Cada Homúnculo, como Nola ou Yolvan, pode ser equipado com habilidades distintas, que variam de ataques rápidos com sabres (Nola) a tiros precisos ou ataques perfurantes (Yolvan). Conforme você coleta materiais, essas habilidades são atualizadas, ganhando não apenas mais poder, mas também efeitos secundários — como quebrar defesas ou causar status effects. Por exemplo:
- Nola pode alternar entre uma foice de área ampla, um machado de duas mãos para dano concentrado, ou um sabre veloz para combate ágil.
- Yolvan oferece desde tiros à distância até uma serra circular lenta, porém devastadora, ou um vórtice perfurante que ignora armaduras.
Além disso, Relíquias, Totens e Braceletes permitem ajustes finos nas estatísticas de Lilac, como aumentar resistência a doenças de status ou acelerar recarga de habilidades. Essa liberdade de construção cria um ciclo viciante: cada nova habilidade ou item descoberto incentiva experimentar combinações, seja para dominar chefes ou explorar áreas secretas.
Combate Dinâmico e Estratégico:
O sistema de combate prioriza reflexos e adaptação. Diferente de muitos metroidvanias, aqui é possível cancelar a animação de cura para reagir instantaneamente a ataques — um detalhe que transforma batalhas caóticas em coreografias precisas. Essa mecânica é crucial em encontros grupais, onde inimigos atacam em sincronia, e contra chefes com padrões de ataque variados.
Os Attuner Arts — habilidades ultimates dos Homúnculos — adicionam camadas táticas. Para ativá-las, é necessário preencher o medidor de SP (gerado ao causar ou receber dano), o que incentiva equilíbrio entre agressividade e defesa.
Design de Chefes e Balanceamento:
Os chefes de Ender Magnolia mantêm o polimento visual e mecânico de Ender Lilies, mas com padrões de ataque mais criativos e exigentes. Embora nenhum chefe seja absurdamente difícil, a possibilidade de ajustar dificuldade de forma granular (reduzir vida inimiga, aumentar dano recebido, etc.) garante que tanto novatos quanto veteranos encontrem desafio adequado. Essa flexibilidade é rara em jogos do gênero e merece destaque.
Um exemplo notável é a Chuva da Morte, evento que transforma áreas inteiras em zonas de perigo constante, exigindo trocas rápidas de Homúnculos para explorar imunidades ou contra-atacar status effects.
Comparação com Ender Lilies:
Enquanto Ender Lilies focava em quantidade de espíritos com habilidades únicas, Ender Magnolia prioriza profundidade tática com menos Homúnculos, porém mais versáteis. A redução no número é compensada pela complexidade de cada um, com upgrades que transformam habilidades básicas em técnicas avançadas. Além disso, a adição de modos de dificuldade personalizáveis atende a um público mais amplo, algo que o antecessor não explorava.
Equipamentos
Um dos pilares que elevam a experiência de Ender Magnolia é seu sistema de equipamentos, que combina profundidade estratégica e flexibilidade, permitindo que jogadores adaptem Lilac e seus Homúnculos a qualquer desafio. O jogo expande o sistema de Relíquias de Ender Lilies com três novas categorias — Braceletes, Carapaças e Totens —, cada uma oferecendo benefícios únicos que transformam a jogabilidade de forma significativa.
Os Braceletes são equipamentos focados em aumentos de status, como incrementar resistência a elementos, acelerar recarga de habilidades ou ampliar o dano crítico. Eles funcionam como a base da construção de Lilac, permitindo ajustes finos para complementar seu estilo de jogo. Por exemplo:
- Um bracelete que aumenta a velocidade de movimento é ideal para exploradores que priorizam agilidade.
- Outro que reduz dano recebido de veneno torna áreas tóxicas mais toleráveis.
As Carapaças introduzem habilidades ativas que podem virar o jogo em situações críticas. Diferente dos equipamentos passivos, elas exigem timing estratégico para serem eficazes. Alguns exemplos incluem:
- Contra-ataques que devolvem dano ao inimigo após uma esquiva perfeita.
- Barreiras mágicas que absorvem um certo número de golpes antes de se dissiparem.
Essas habilidades adicionam uma camada de profundidade tática, especialmente em combates contra chefes ou hordas de inimigos.
Os Totens operam como suportes passivos, oferecendo efeitos contínuos que podem alterar radicalmente a dinâmica do combate. Por exemplo:
- Um totem que regenera vida lentamente fora de combate, ideal para exploração prolongada.
- Outro que aumenta o dano de habilidades elementais dos Homúnculos, sinergizando com builds focadas em fogo ou gelo.
As Relíquias, herdadas de Ender Lilies, retornam com mecânicas aprimoradas. Agora, além de concederem benefícios como “aumento de dano em ataques aéreos” ou “resistência a atordoamento”, elas podem ser melhoradas com Scrap — um recurso obtido ao explorar o mundo ou derrotar inimigos. Ao gastar Scrap, você pode:
- Reduzir o custo de slots ocupados pela Relíquia, liberando espaço para outros equipamentos.
- Potencializar seus efeitos, como transformar um aumento de 10% em velocidade em 15%.
A verdadeira magia do sistema está na liberdade de combinação. Mesmo jogadores que se apegam a certas Relíquias (como uma que aumenta a cura recebida) são incentivados a experimentar novas builds graças à diversidade de desafios. Por exemplo:
- Em áreas com inimigos que infligem sangramento, uma Carapaça com purificação de status + um Totem que aumenta defesa pode ser vital.
- Contra chefes rápidos, um Bracelete de velocidade de ataque + uma Relíquia de dano crítico cria uma máquina de DPS.
Esse sistema não só recompensa a criatividade, mas também integra-se à narrativa. As Relíquias e equipamentos muitas vezes são encontrados em locais ligados à história dos Homúnculos ou aos segredos da Terra dos Vapores, reforçando a imersão. Além disso, a capacidade de redefinir builds a qualquer momento (sem custo) encoraja testes ousados, garantindo que nenhum jogador se sinta “preso” a uma escolha inicial.
Exploração
A exploração em Ender Magnolia é um dos pilares que mantêm o jogo cativante, embora com concessões que revelam tanto suas forças quanto suas limitações. Como é típico do gênero Metroidvania, a protagonista Lilac adquire habilidades de movimento progressivas, como pulo duplo, onda de choque para destruir obstáculos e aderência a paredes, que abrem caminhos previamente bloqueados. Apesar de essas mecânicas serem herdadas diretamente de Ender Lilies, a execução aqui é mais consistente e polida, transformando a progressão em uma dança fluida entre descoberta e desafio.
Embora as habilidades sejam recicladas do antecessor, sua aplicação em Ender Magnolia ganha nova vida graças a um design de níveis mais coeso. Áreas como a Floresta Carmesim e os Laboratórios Subterrâneos são interconectadas com maestria, incentivando o retorno a regiões anteriores sem sentir a repetição como um fardo. A adição de ganchos de escalada e corridas aéreas (embora não revolucionárias) adicionam camadas de verticalidade, enquanto mergulhos em poços profundos ou escaladas em paredes corroídas reforçam a sensação de exploração orgânica.
No entanto, a falta de mecânicas verdadeiramente inovadoras faz com que a evolução do jogo pareça mais um passo lateral do que um salto ousado. Enquanto Ender Lilies oscilava entre momentos brilhantes e frustrantes, aqui a experiência é uniformemente satisfatória, mas segura demais para surpreender.
Os quebra-cabeças são um ponto alto, equilibrando complexidade e acessibilidade. Um exemplo notável é um sistema de válvulas de vapor que exigem redirecionar fluxos de energia para desbloquear salas secretas, ou plataformas móveis que só são ativadas ao purificar Homúnculos específicos. Esses desafios exigem pensamento crítico sem cair em frustrações artificialmente difíceis — uma melhoria clara em relação ao título anterior.
Porém, os segredos ainda dependem excessivamente de paredes falsas ou salas escondidas, muitas vezes recompensando o jogador apenas com Scrap ou Relíquias menores. Embora a emoção de descobrir um atalho ou um tesouro escondido permaneça, a ausência de recompensas narrativas ou habilidades exclusivas nessas áreas pode deixar uma sensação de oportunidade perdida.
Os biomas da Terra dos Vapores são visualmente deslumbrantes, mesclando arquitetura steampunk com ruínas mágicas corroídas. Cada área tem uma identidade única:
- Cidadela Abandonada: Corredores labirínticos repletos de armadilhas mecânicas.
- Pântano das Sombras: Zonas alagadas onde movimentos ágeis são cruciais para evitar criaturas submersas.
- Torre do Progresso: Estruturas verticais que testam habilidades de escalada e timing de pulo.
O mapa, embora intuitivo, pode se tornar confuso em regiões densas como a Floresta Carmesim, onde a vegetação espessa e os efeitos de névoa obscurecem rotas. Ainda assim, essa “confusão” intencional reforça a atmosfera de mundo esquecido, onde cada passo é uma incursão no desconhecido.
Os controles responsivos são o coração da experiência. Movimentos como cancelar ataques no ar ou aterrissar em plataformas estreitas são executados com precisão milimétrica, tornando a exploração tão gratificante quanto o combate. A adição de movimentos acrobáticos, como saltos impulsionados por jatos de vapor, mantém o ritmo dinâmico, mesmo em áreas vastas.
Gráficos e Direção de Arte
Se Ender Lilies: Quietus of the Knights era um poema visual sobre ruínas e melancolia, Ender Magnolia se ergue como uma sinfonia steampunk, elevando a identidade da série a novos patamares sem perder o DNA que conquistou os fãs. A direção de arte aqui não é apenas sublime — é uma evolução audaciosa, mesclando nostalgia e inovação em cada pixel.
Enquanto Ender Lilies apostava em tons sombrios e góticos, Ender Magnolia mergulha em uma Londres Vitoriana distópica, onde névoas tóxicas envolvem torres de engrenagens enferrujadas, pontes suspensas por correntes e laboratórios subterrâneos repletos de tubulações a vapor. A paleta de cores é meticulosamente trabalhada:
- Floresta Carmesim: Tons quentes de vermelho e laranja, com folhas douradas pairando no ar, criam um contraste surreal entre a fantasia etérea e a industrialização invasiva.
- Cidadela Abandonada: Azuis metálicos e cinzas foscos dominam, com reflexos de luz filtrada por vitrais quebrados, lembrando o esplendor perdido de uma era dourada.
- Pântano das Sombras: Verde-esmeralda putrefato e névoas esverdeadas transmitem uma atmosfera opressiva e venenosa, reforçada por criaturas deformadas que emergem da lama.
A integração de elementos 3D em cenários 2D é impecável. Em áreas como os Canais Subterrâneos, o uso de água em movimento com reflexos dinâmicos e partículas de vapor elevam a imersão, sem jamais quebrar a estilização hand-drawn que define a série.
Apesar da mudança de tom — de uma beleza arruinada para uma grandiosidade corroída —, a identidade visual permanece reconhecível. Os traços delicados e detalhados dos personagens, a ênfase em silhuetas dramáticas contra fundos movimentados e o uso de iluminação atmosférica (como lamparinas a gás ou raios de sol filtrados por névoa) mantêm um fio condutor emocional com o antecessor.
A Casa Frost, por exemplo, combina a arquitetura gótica de Ender Lilies com engrenagens gigantes e máquinas paradas, simbolizando o conflito entre magia e tecnologia. Já a Torre de Mílius, com seus vitrais quebrados e escadarias em espiral, ecoa a melancolia do primeiro jogo, mas com uma escala monumental que impressiona.
Cada ambiente é uma narrativa visual. Nas Fábricas Desativadas, pilhas de Homúnculos desmontados jazem em cantos escuros, enquanto grafites nas paredes denunciam revoltas populares. Na Praça do Mercado, barracas abandonadas exibem cartazes de propaganda do reino, agora rasgados e cobertos de fuligem. Até os inimigos são projetados para refletir a corrupção dos vapores: Homúnculos que outrora tinham rostos humanoides agora exibem engrenagens expostas e olhos vermelhos brilhantes.
Embora a direção de arte seja deslumbrante, alguns elementos repetem fórmulas seguras. A Floresta Carmesim, por exemplo, embora bela, lembra demasiadamente florestas encantadas de outros metroidvanias, faltando uma assinatura única. Além disso, certas transições entre áreas poderiam ser mais suaves — a mudança abrupta de uma zona industrial para um pântano místico, por vezes, quebra a imersão.
Trilha Sonora e Som
A trilha sonora composta por Mili para Ender Magnolia não é apenas um acompanhamento — é uma extensão da alma do jogo. Assim como em Ender Lilies, a música aqui transcende o papel de pano de fundo, tornando-se uma narrativa emocional que encapsula a desesperança, a beleza e a resiliência de um mundo à beira do colapso. Com influências que ecoam a melancolia épica de NieR, a trilha combina coros etéreos, instrumentais intensos e letras poéticas para criar uma experiência auditiva que é tanto aterrorizante quanto cativante.
Cada trilha é meticulosamente desenhada para refletir o tom único de cada ambiente:
- “Subterranean Testing Site”: Uma melodia angustiante, com cordas graves e sussurros distorcidos, que evoca a claustrofobia de laboratórios abandonados e experimentos fracassados.
- “Old City”: Vocais suaves e pianos minimalistas envolvem o jogador em uma nostalgia dolorosa, como se as próprias paredes das ruínas cantassem histórias esquecidas.
- “Shackled Beast”: Uma explosão de piano frenético e guitarras distorcidas, capturando o caos de batalhas contra criaturas corrompidas, enquanto mantém uma beleza grotesca típica da assinatura de Mili.
A voz humana é usada como instrumento central, muitas vezes sem letras discerníveis, criando um coro fantasmagórico que personifica a dor dos Homúnculos e a decadência do reino. Essa escolha lembra a obra de Keiichi Okabe (NieR), mas com uma identidade única — menos operística, mais orgânica e visceral.
A atenção aos detalhes é impressionante. Mili não se contenta em criar temas memoráveis; ela adapta a música ao contexto do jogador:
- Versões “calmas” e “tensas” da mesma faixa são ativadas dependendo da situação (exploração vs. combate), como em “Crimson Forest”, onde flautas suaves dão lugar a percussões urgentes quando inimigos surgem.
- Leitmotifs recorrentes: Temas associados a personagens como Lilac ou Nola reaparecem modificados em diferentes momentos, reforçando sua evolução emocional. Por exemplo, o tema de Nola ganha camadas de cordas otimistas conforme ela recupera memórias.
Enquanto Ender Lilies focava em uma melancolia solitária (pianos solitários, coros distantes), Ender Magnolia abraça uma complexidade orquestral maior, incorporando elementos steampunk como metais industriais e batidas mecânicas. A faixa “Terra dos Vapores”, por exemplo, mistura acordeões folclóricos com ruídos de engrenagens, simbolizando o conflito entre tradição e progresso.
Ainda assim, a essência permanece: cada nota carrega o peso de um mundo que desmorona. A música de descanso em santuários, com suas harpas suaves e vocalizações serenas, não oferece alívio, mas sim um respiro melancólico antes da próxima tempestade.
Vale a Pena?
Ender Magnolia: Bloom in the Mist surge como uma obra-prima do gênero metroidvania, consolidando-se não apenas como um dos melhores lançamentos de 2025, mas como um marco atemporal. Embora mantenha a essência clássica do gênero e apresente pequenos soluços técnicos em sua taxa de quadros, o jogo brilha com uma polidez quase impecável, elevando-se pela combinação magistral de exploração, combate e narrativa.
A aventura se destaca pelas batalhas épicas contra chefes, cada uma meticulosamente desenhada para testar habilidades e estratégias, enquanto a exploração de cenários intricados — repleta de segredos e caminhos interligados — evoca a magia clássica dos metroidvanias, mas com uma identidade única. A equipe de desenvolvimento não se contentou em replicar o sucesso de Ender Lilies; em vez disso, expandiu seu universo sombrio e poético, entregando uma jornada mais ambiciosa, porém equilibrada, sem momentos arrastados ou excessos.
A direção de arte é deslumbrante, transformando cada ambiente em uma pintura melancólica e vibrante, enquanto a trilha sonora hipnotizante amplifica a imersão, tecendo emoções que ecoam muito além da tela. Para os fãs do antecessor, Bloom in the Mist é uma evolução natural, refinando mecânicas de plataforma e combate para criar um desafio exigente, mas justo. Já os novatos no universo Ender podem se questionar: vale começar pelo original? A resposta é sim — não por obrigação, mas para apreciar a profundidade da lore e as nuances que enriquecem esta sequência.
Apesar de não reinventar radicalmente o gênero, o jogo domina a fórmula com maestria, oferecendo uma experiência coesa e cativante. Cada detalhe, desde a progressão de habilidades até a construção de mundo, foi lapidado para gerar satisfação constante. Desafiador sem ser frustrante, poético sem ser pretencioso, Ender Magnolia é um testemunho de como equilibrar tradição e inovação.
Para os amantes de metroidvanias ou de narrativas atmosféricas, este é um marco obrigatório. Entre labirintos nebulosos, chefes memoráveis e uma história que sussurra melancolia e esperança, Bloom in the Mist não apenas arranha a coceira da exploração — ele a transforma em uma jornada inesquecível.
*Jogo analisado no PS5 com cópia digital fornecida pela Binary Haze Interactive.
Confira a Política de Reviews do PS Verso
Notas do Jogo
Título: Ender Magnolia: Bloom in the Mist
Descrição do jogo: ENDER MAGNOLIA é um RPG de ação em que você deve salvar humanos e homúnculos ao longo de sua jornada através do País dos Vapores, que está à beira da destruição completa. O cenário é uma grande nação mágica em que as civilizações mágica e mecânica se desenvolveram e se dividiram em camadas sociais. Um mundo singular, belo e cruel se revela através de paisagens como a cidade baixa abandonada, o laboratório manchado de sangue, o solene Instituto Arcano, a gigantesca fábrica, entre outros.
Gênero: Metroidavania
Lançamento: 22/01/2025
Produtora: Adglobe, Live Wire
Distribuidora: Binary Haze Interactive
Nota
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História - 7.5/10
7.5/10
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Jogabilidade - 9/10
9/10
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Gráficos - 8/10
8/10
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Trilha Sonora e Som - 9/10
9/10
Veredito
Lançado em 2025, Ender Magnolia: Bloom in the Mist destaca-se como um dos melhores jogos do gênero Metroidvania, aprimorando a fórmula estabelecida por Ender Lilies com uma combinação de jogabilidade refinada, narrativa emocional e direção artística impecável. O jogo mantém a essência do antecessor, permitindo que Lilac, uma protagonista com personalidade definida, comande Homúnculos em combates estratégicos, agora com habilidades mais versáteis e sistemas de customização profunda (como Relíquias, Totens e Braceletes). A exploração é fluida, com movimentos precisos e quebra-cabeças inteligentes em um mundo interconectado, embora algumas mecânicas repitam o modelo anterior.
A narrativa aborda temas como redenção e os custos do progresso, ambientados na Terra dos Vapores, um reino steampunk em ruínas. A direção de arte e a trilha sonora de Mili elevam a experiência, criando uma atmosfera melancólica e envolvente, enquanto os chefes oferecem desafios memoráveis com padrões de ataque criativos e opções de dificuldade ajustáveis.
Embora apresente soluços ocasionais de desempenho e não inove radicalmente no gênero, a qualidade técnica e a profundidade emocional fazem de Ender Magnolia uma obra-prima. Recomendado tanto para fãs de Ender Lilies, que encontrarão referências e evoluções significativas, quanto para novos jogadores em busca de uma experiência acessível e cativante. Um marco que prova que a excelência está na execução, não na reinvenção.
Vantagens
- Foco narrativo mais forte
- Movimento e combate dinâmicos
- Estilos de jogo personalizáveis
- Exploração gratificante
- Arte e trilha sonora impressionantes
- Design ambiental aprimorado
- Combate satisfatório e variado
- Level design bem estruturado
Desvantagens
- Falta de mecânicas exclusivas
- Pequenos problemas de desempenho
- Personagens pouco desenvolvidos
- História difícil de seguir