Banishers: Ghosts of New Eden é o mais recente título desenvolvido pela equipe da Don’t Nod, mais conhecida pelo seu trabalho na franquia Life is Strange, a empresa ficou famosa por games focados em narrativa e gameplays mais simples. A primeira vez que a empresa decidiu investir em melhores mecânicas de jogabilidade foi em Vampyr, um jogo ainda focado em escolhas narrativas, mas com uma mecânica de gameplay de ação. Sendo um sucessor espiritual, Banishers é um novo RPG de ação baseado em narrativa que enfatiza fortemente a tomada de decisões dos jogadores. Ao considerar a experiência anterior da Don’t Nod, é perceptível que Banishers: Ghosts of New Eden representa um avanço muito grande e a maior conquista do estúdio recentemente.
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História
Em 1695, os amantes Antea Duarte e Red Mac Raith viajam de barco rumo a uma pequena cidade chamada New Eden a pedido de um amigo, ambos sendo Banidores. Os Banidores são espécies de caçadores de fantasmas que banem ou ascendem espíritos que se recusam a partir, ameaçando os vivos.
Ao chegar em uma noite, os dois se deparam com um lugar castigado por um inverno rigoroso sem fim e a diminuição da população que morreu ou fugiu para locais mais seguros. Ao chegar na hospedaria marcada, descobrem que o amigo que os chamou acabou sendo morto por um espectro poderoso. Ao falar com os remanescentes da cidade, descobrem que New Eden se tornou vítima de um grande Pesadelo maligno que aterroriza sonhos, trouxe praga, doença, morte e o inverno interminável. Charles, o amigo que os chamou, estava investigando os motivos que originaram a ira da fantasma pelo local, mas acabou sendo morto no processo.
Ao falar com os cidadãos e ascender o amigo Charles para um descanso eterno, descobrem que o ser maligno se trata de uma mulher que se manifestou primeiramente na capela da cidade. Antea e Red decidem dormir para investigar o local de dia. Quando Red cai no sono, ele tem um pesadelo e ao acordar percebe que Antea não está mais ao seu lado e parte em direção à capela. Chegando lá, vemos o Pesadelo em forma de Antea que o desafia. Após revelar a sua verdadeira forma, uma batalha contra o fantasma se inicia. Red está quase sendo morto quando a verdadeira Antea aparece para salvá-lo, mas em um piscar de olhos, ela acaba sendo assassinada pelo ser e Red é jogado no mar.
Sendo resgatado por uma aprendiz de bruxa e logo depois abandonado, Red se depara com o fantasma de Antea. Em busca de vingança, os dois irão fazer de tudo para expurgar a mulher misteriosa enquanto tentam libertar Antea de sua condição, mas questões morais e profissionais permeiam o peso das suas decisões.
Campanha
Longe de New Eden, o propósito primário da história é atravessar todo o mapa para retornar à cidade onde está a Pesadelo. Para isso, Red e Antea precisam da ajuda dos colonos, os poucos cidadãos que restaram do domínio maligno da praga e o maior foco do enredo é testemunhar a influência deste ser maligno na vida das pessoas.
O segundo fator da história é que o jogo estabelece para que o jogador decida desde o início um julgamento moral: você irá recuperar o corpo de Antea, que reside na capela, para ascendê-la e dar o seu merecido descanso, ou irá se aproveitar dos conhecimentos de um Banidor e ressuscitá-la, sacrificando almas de pessoas vivas?
Apesar dessa decisão ter que ser tomada logo no primeiro arco narrativo, onde temos que decidir entre sacrificar a vida de um jovem que se perdeu na floresta, enlouqueceu e acabou matando o seu mestre, e consequentemente comendo a sua carne, ou banir a fantasma do mestre que se mantém preso pela loucura do jovem, ela também pode ser desrespeitada na medida que vamos participando de outras decisões, portanto o jogador é livre para escolher o caminho que deseja trilhar sem ficar preso à decisão do início.
O jogo também traz consequências diferentes em torno das suas decisões, que vão gerando outras missões menores que surgem do reflexo delas. Manter duas pessoas vivas pode nem sempre ser a melhor decisão, assim como matá-las também pode levar a resultados a outros personagens, se revelando uma teia divertida de acontecimentos que vão sendo gerados em torno das suas decisões.
Todas as histórias possuem um tratamento bem cuidado e divertido, com histórias se revelando mais do que aparentam, onde tanto Red quanto Antea fazem as vezes de detetives e investigam detalhes reais e sobrenaturais para entender a origem dos acontecimentos que resultaram no surgimento dos fantasmas.
A própria campanha principal, apesar de se arrastar um pouco demais na sua metade, também se mantém interessante e deixa o jogador engajado para saber como ela irá terminar e os motivos que tornaram a Pesadelo tão poderosa.
A própria relação bem construída entre Red e Antea enriquecem a experiência, apresentando uma boa sinergia onde a decisão final acaba sendo pesada emocionalmente, dependendo das decisões do jogador.
Gameplay
Sendo um RPG de ação, Banishers deixa bem claro a inspiração de suas mecânicas em God of War de 2018, tanto na adoção da câmera, no combate e na forma que o mapa e exploração funcionam.
Red tem à sua disposição uma espada, uma tocha e mais tarde um rifle, mas o maior ponto de novidade presente no jogo reside na capacidade do jogador trocar para Antea temporariamente e usar os seus poderes de fantasma. Possuindo combos tanto de ataques leves quanto de ataques fortes, capacidade de defender, esquivar e aparar ataques. Sendo um Banidor, Red possui uma barra de banimento onde consegue tirar grandes danos de inimigos mais fortes e derrotar instantaneamente os mais fracos. Red dispõe também de movimentos que podem ser expandidos por meio da sua árvore de habilidades, mas também pode combinar com os movimentos de Antea ao fazer trocas durante os combos. Antea possui ataques com as mãos, além de poderes especiais capazes de paralisar inimigos, quebrar suas defesas, realizar ataques de explosão e outros.
O maior problema da experiência do seu gameplay de combate aparece nas primeiras horas. Todos os golpes não parecem ter um impacto satisfatório quando acertados nos inimigos, você acaba não sentindo o peso dos seus movimentos, deixando a sensação de estarmos acertando esponjas.
Os inimigos e sua maioria são Espectros, espécies de almas penadas malignas sem propósito que vagueiam a Terra. Possuindo alguns tipos com movimentos e fraquezas diferentes, sendo mais fracos contra golpes de Antea e outros do Red, eles podem incorporar cadáveres espalhados no campo de batalha e combinar seus poderes para criar novos inimigos mais fortes, resistentes e com novos golpes.
Apesar de divertido, o combate acaba se repetindo demais e na medida que vamos avançando pela campanha, os inimigos vão se tornando mais resistentes, estendendo demais as batalhas que não podem ser evitadas. Banishers tem uma curva de dificuldade satisfatória, não sendo tão fácil quanto um AAA padrão, mas não sendo tão punitivo quanto um soulslike.
O grande problema entre os seus inimigos está também nos chefes. Apesar de serem instigantes e bem construídos narrativamente, o design desses combates é ridiculamente bobo. Com movimentos fáceis de prever, sua IA parece ter vindo de jogos do PS2 de tão genérica. Pra exemplificar, em um desses chefes, o principal ataque dele era realizar investidas correndo na sua direção, onde era muito fácil de ser desviado e ele sempre repetia o mesmo golpe se fosse mantivesse distância dele, a maior dificuldade da batalha era tirar grandes danos, tornando um chefe mais desafiador pela sua resistência do que pelos seus movimentos.
As árvores de habilidades pelas quais você adquire suas capacidades são verdadeiramente intrigantes. Você não tem acesso a todas as habilidades desde o início. Em vez disso, uma nova árvore é desbloqueada em momentos-chave do jogo. Nem todas as habilidades são criadas iguais. A primeira apresenta apenas dois caminhos, enquanto a próxima tem três, e a seguinte, quatro, e assim por diante. Cada árvore possui um foco e habilidades únicas tanto para Red quanto para Antea. Só é possível desbloquear uma quantidade de habilidades por nível, o que significa que nunca se conseguirá obter todas as habilidades de cada árvore. Embora as habilidades disponíveis sejam abundantes, escolher quais desbloquear e onde se tornou um desafio. Os pontos de habilidade são podem ser resetados individualmente a qualquer momento. Isso pode ser feito ao clicar em outra habilidade do mesmo nível ou simplesmente selecionando ‘reset’ na habilidade ativada se decidir que não quer nenhuma habilidade para aquele nível. Após serem resetados, podem ser imediatamente realocados para outra habilidade em uma árvore diferente.
O jogo possui um sistema de equipamentos com espadas, armaduras, fuzis, acessórios e muitos outros que podem ser comprados, encontrados em baús e melhorados ao coletar recursos pelo mapa. Sendo possível montar builds que privilegiam ataque, defesa, velocidade, magia e até mesmo focado a longa distância que fortalecem o fuzil. Para quem quiser se aprofundar, escolher a melhor build atrelada a uma árvore de habilidades que privilegia a característica do jogador, pode ser a chave para facilitar a experiência.
Além de usar árvores de habilidades e equipamentos para melhorar o nosso status, o jogo espalha os Ninhos, desafios de combate contra uma horda de Espectros mais fortes que conferem logo depois em melhorias gerais em todos os status de Red.
O mapa de Banishers funciona parecido com God of War (2018), mas obviamente sem a capacidade de viajar entre Reinos. Na sua jornada de volta para New Eden, passamos por diversas áreas que se conectam entre si que vão liberando caminhos na medida que vamos conseguindo novas habilidades, funcionando como um metroidvania. Alguns caminhos escondem itens para melhorias e rituais de manifestação, outros liberam equipamentos valiosos e alguns atalhos para locais novos ou conhecidos. O maior problema de sua exploração é que a maioria dos cantos escondidos apenas te recompensam com ingredientes sem graça como minérios, plantas, couro e etc, minando pouco a pouco o interesse em explorar locais que foram deixados pra trás.
Gráficos e Direção de Arte
Para o lado visual, Banishers consegue entregar gráficos muito bonitos para o tamanho do estúdio, com animações corporais e faciais bem competentes em diversos personagens. As áreas também são diversas e bonitas, com florestas densas, pântanos sombrios, minas abandonadas, montanhas, vilarejos bem construídos, campos nevados e vários outros locais que impressionam.
Seu maior problema reside no desempenho, e nisso Banishers peca demais. Com diversas quedas de fps muito perceptíveis, não importando o modo, o jogo sofre para manter performance em batalhas contra muitos inimigos, em cidades e vilas e locais com neve caindo. Uma simples ação de abrir o mapa demora muito tempo, nos deixando até ver por segundos nosso personagem congelado, e abrir o menu tem o mesmo efeito.
Trilha Sonora e Som
A trilha sonora é composta por Trevor Morris, um experiente compositor que já trabalhou em diversas séries, filmes e jogos como Dragon Age: Inquisition, Need for Speed e Command Conquer. Na sua totalidade, as faixas de Banishers refletem o ar sombrio e depressivo em que a história se passa, com músicas mais discretas e soturnas. Muito por conta disso, o jogo não conta com nenhum tema memorável. Elas cumprem bem a função de “ambientalizar” o conceito, mas não protagonizam grandes momentos.
O jogo não possui dublagem em português, mas possui localização e legendas em PT-BR para facilitar o entendimento da narrativa. Sobre a dublagem em inglês, ela é bem executada. Por se passar no século 17 nos Estados Unidos, consegue entregar sotaques e nuances da época, onde Red, um escocês, consegue trazer verdade na sua interpretação.
Vale a Pena?
Banishers: Ghost of New Eden representa um avanço notável da Don’t Nod ao mesclar mecânica de escolha com um gameplay mais participativo baseado em ação. Sem dúvida alguma, sua maior qualidade reside no campo narrativo, já que sua história e personagens conseguem manter o jogador interessado no desenrolar da campanha. A mecânica de escolhas e o conteúdo de enredo muito interessante de suas missões secundárias superam vários outros jogos que tentaram fazer isso sem sucesso.
Seu maior problema reside ainda em uma pequena experiência do estúdio em jogabilidades que exigem maior complexidade e eficácia de tudo que envolve os sistemas de combate para não cair em um ciclo de repetição, evidenciando e potencializando defeitos. Isso também se reflete em um jogo menos polido em termos de performance, cansando o jogador na metade do jogo e tornando-se um aborrecimento.
Apesar de não ter conseguido atingir um grande patamar, Banishers sinaliza um futuro interessante para a Don’t Nod e revela a capacidade da empresa em transpor a barreira de jogos somente focados em narrativa, mostrando que é possível fazer mais pelo gênero.
*Jogo analisado no PS5 com cópia digital fornecida pela Focus Entertainment.
Notas do Jogo
Título: Banishers: Ghosts of New Eden
Descrição do jogo: New Eden, 1695. Antea Duarte e Red Mac Raith são amantes e Banishers, caçadores de fantasmas que juraram proteger os vivos da ameaça de fantasmas e espectros que se recusam a partir. No seguimento de uma última missão desastrosa, Antea é ferida fatalmente, tornando-se um dos espíritos que abomina. Nas zonas selvagens e assombradas da América do Norte, o casal procura desesperadamente por uma forma de libertar Antea da sua nova condição. Mergulha na bela e poderosa história íntima entre dois amantes predestinados. Enquanto Banisher, entra nas vidas das comunidades de New Eden e resolve casos assombrosos num mundo místico e repleto de tradições, assolado por criaturas sobrenaturais e segredos antigos. Usa a tua inteligência ou combina os poderes espirituais de Antea com o arsenal de Red para derrotar e banir as almas que atormentam os vivos. Vais enfrentar decisões desafiantes que irão definir o teu caminho, impactando drasticamente a tua história e o destino dos habitantes de New Eden — quer das pessoas vivas ou das almas penadas. Até que ponto vais comprometer o teu juramento de caçar fantasmas pelo bem da tua amante, que se tornou um desses espíritos?s de combate dignas de Hollywood e reviravoltas na trama, este mistério certamente irá te manter alerta.
Gênero: Aventura
Lançamento: 13/02/2024
Produtora: DON'T NOD
Distribuidora: Focus Entertainment
Nota
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História - 8/10
8/10
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Jogabilidade - 7.5/10
7.5/10
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Gráficos - 8/10
8/10
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Trilha Sonora e Som - 8/10
8/10
Veredito
Banishers: Ghost of New Eden representa um avanço notável da Don’t Nod ao mesclar mecânica de escolha com um gameplay mais participativo baseado em ação. Sem dúvida alguma, sua maior qualidade reside no campo narrativo, já que sua história e personagens conseguem manter o jogador interessado no desenrolar da campanha. A mecânica de escolhas e o conteúdo de enredo muito interessante de suas missões secundárias superam vários outros jogos que tentaram fazer isso sem sucesso.
Seu maior problema reside ainda em uma pequena experiência do estúdio em jogabilidades que exigem maior complexidade e eficácia de tudo que envolve os sistemas de combate para não cair em um ciclo de repetição, evidenciando e potencializando defeitos. Isso também se reflete em um jogo menos polido em termos de performance, cansando o jogador na metade do jogo e tornando-se um aborrecimento.
Apesar de não ter conseguido atingir um grande patamar, Banishers sinaliza um futuro interessante para a Dontnod e revela a capacidade da empresa em transpor a barreira de jogos somente focados em narrativa, mostrando que é possível fazer mais pelo gênero.
Vantagens
- História e condução narrativa boa;
- Relação entre os personagens bem desenvolvida;
- Missões secundárias interessantes e criativas;
- Mecânica de escolhas dá liberdade e recompensa em ganhos narrativos;
- Áreas e cenários bem construídos enriquecem a imersão visual;
- Liberdade para montar builds tornam o combate um pouco mais divertido.
Desvantagens
- Movimentos duros e golpes com pouco impacto em combates;
- Combate simples carece de variedade;
- Diversos caminhos do mundo aberto sem grandes recompensas desestimulam a exploração;
- Problemas de quedas de fps constantes prejudicam a experiência de gameplay como um todo.