A trajetória de Immortals Fenyx Rising foi tão caótica quanto o ano da Ubisoft. Não é segredo que o ano de 2020 da Ubisoft foi um período caótico, com diversas denúncias de abusos no trabalho e demissões em altos cargos de direção, diversos jogos da empresa sofreram os reflexos desses problemas. O primeiro jogo a sofrer quedas em vendas foi o Ghost Recon: Breakpoint, onde foi apontado diversos bugs e acusações por falta de originalidade e grandes mudanças, com isso a Ubisoft acabou sendo acusada de falta de criatividade e que expôs uma fragilidade notada há alguns anos em cima dos jogos de mundo aberto da empresa. Com esses problemas, Breakpoint acabou sendo o estopim que provocou uma reformulação completa na equipe editorial da empresa no desenvolvimento de suas IPs.
Entre os jogos que seriam reformulados, estava o incomum Gods & Monsters, um novo jogo de aventura muito comparado ao Zelda: Breath of the Wild, que havia só ganhado um breve teaser trailer na E3 de 2019 e estava sendo desenvolvido pela Ubisoft Québec – que havia desenvolvido o competente Assassin’s Creed Odyssey – e que seria lançado em fevereiro de 2020, mas com esse ambiente conturbado, acabou sendo adiado e sumido.
Com a promessa de uma reformulação completa, Gods & Monster ressurgiu com um novo nome, Immortals Fenyx Rising, com uma mudança notável na aparência da personagem principal e com uma proposta de gameplay claro, mas ainda restou uma dúvida, seria uma cópia vazia de Breath of the Wild?
História
Com uma narrativa toda voltada a mitologia grega, você é Fenyx, uma guerreira(o) humana que após um naufrágio com a tripulação acorda na Ilha Dourada, ao acordar, percebe que todos os seus amigos e seu irmão foram petrificados e parte em busca da cura dessa maldição. Sua busca coincide com uma outra crise em andamento, Tifão, um titã que foi preso pelos deuses do Olimpo, liberta da sua prisão e toma de refém todo o Panteão de deuses.
A narrativa é contada sob a perspectiva de Prometeu, deus do fogo, que acabou acorrentado a uma rocha pelo crime de dar à humanidade o dom do fogo. Prometeu tem objetivo de convencer Zeus, deus do trovão, entender que a(o) inexperiente Fenyx é capaz de ajudá-lo a recuperar o seu panteão, que acabou sendo dizimado por Tifão que tomou a Ilha Dourada a fim de destruir o mundo e moldá-lo à sua maneira. Prometeus e Zeus então fazem uma aposta, com cada um respectivamente apostando se Fenyx conseguirá ou não resgatar os deuses Ares, Afrodite, Atena e Hefesto de suas maldições.
Campanha
A campanha é simples e direta, a Ilha Dourada é separada em áreas, cada área é pertencente a um deus, quatro dessas áreas você precisa completar algumas missões a fim de encontrar essências destes deuses para remover a maldição de cada um.
Como relatado, a narrativa é contada por Prometeu enquanto Zeus joga comentários jocosos sobre Fenyx. Os dois protagonizam diversas discussões engraçadas sobre pontos discordantes e piadas sobre figuras mitológicas onde sempre vão quebrando a quarta parede no jogo. Não é segredo que a Ubisoft possui algumas narrativas com um teor mais cômico em diversas ocasiões, mas em Immortals Fenyx Rising o tom é bem mais hilário onde todos os personagens possuem alguma piada a ser explorada, mas é aí que mora o perigo.
Como todo excesso, para alguns, o tom onde sempre puxa para o lado mais cômico possa ser agradável, divertido e imersivo e para outros, pode se tornar exagerado, constrangedor e irritante. O jogo vai depender muito mais da personalidade do jogador e no que ele procura e espera de um jogo e talvez seja o ponto mais divisivo para alguns em questão de história.
Missões Principais Principais e Secundárias
Como falado acima, você irá percorrer áreas do mapa guiado por pontos já marcados que definem as missões principais da campanha. Cada missão possui algumas etapas que geralmente se limitam a ativar mecanismos, pegar itens, solucionar puzzles, mas a maioria se limita a entrar em câmaras do Tártaro, resolver enigmas e pegar a essência e no término de cada missão de determinado deus, enfrentar um chefe. A estrutura dessa missões são iguais, só se diferenciam pela ordem em que elas acontecem. Não há grandes quests elaboradas com uma narrativa única, são simples, repetitivas e aos poucos entediantes.
Sobre as secundárias, há algumas mais elaboradas, mas a maioria é simplesmente resolver puzzles, matar figuras míticas, resolver puzzles, pegar itens como armaduras e armas, e resolver puzzles. O jogo está mais preocupado mais preocupado com a exploração e resolução de quebra-cabeças do que propor uma história rica. Não deixa de ser divertido, mas quem procura algo com maior substância narrativa, estará procurando no jogo errado.
Gameplay
A jogabilidade de Immortals Fenix Rising pode ser reduzida em três fatores: exploração, combate e quebra-cabeças. A ordem dos fatores revela o tamanho da sua importância para o gameplay do jogo.
Fenix pode usar espadas, machados, pular, correr, escalar, pulo duplo, planar, mergulhar, agachar, se esconder em arbustos, carregar pedras e caixas pesadas e uma infinidade de movimentos. Fenyx possui uma barra de saúde, que pode ser melhorada na medida que você coleta ambrosias pelo mapa, já a barra de resistência é usada para realizar as grandes ações durante o gameplay, como escalar construções e rochas, realizar pulos duplo, movimentos especiais como correr, esquivar, carregar e empurrar objetos, a barra é aumentada ao adquirir relâmpagos nas Câmaras do Tártaro.
Immortals possui uma mescla de mecânicas estabelecidas na série Assassin’s Creed, mas com seu funcionamento claramente influenciado pelo grande e competente Zelda: Breath fo the Wild. O gameplay vai apresentando variações de fatores, tornando as horas gastas sempre divertidas.
Mapa e Exploração
O mundo do jogo, a Ilha Dourada, é dividida em seis regiões (Rochas dos Naufrágios, Vale da Primavera Eterna, Covil da Guerra, Forjalis, Bosque de Kleos, Portões do Tártaro, Monte Real) com diferentes biomas, como campos e florestas verdejantes, ilhas rochosas, campos de guerra destruídos, areia e neve.
O mapa é extenso e cheio de segredos, apresentando uma verticalidade e horizontalidade com total liberdade de exploração. É possível escalar qualquer coisa e voar para qualquer direção. O mapa possui algumas tarefas espalhadas por suas regiões, como baús contendo cristais, armas e armaduras, desafios de corrida para chegar de um ponto a outro em determinado tempo, quebra-cabeças com peças, santuários, desafios de arco-e-flecha, criaturas míticas e várias outras tarefas.
Há pouca vida na ilha, sendo reduzido a inimigos e animais indefesos, tornando o mapa um terreno irrelevante onde serve somente para que o jogador desloque de um ponto X ao ponto Y, reduzindo-o a um propósito, encontrar itens e equipamentos, fazendo a Ilha Dourada apenas um mapa protocolar.
Combate
Assim como o gameplay, o combate do jogo é sustentado por três armas: a espada de Aquiles, o machado de Atalanta e o arco de Odisseu. Essas três armas são as responsáveis por darem a variação de combos nas lutas contra inimigos. Além disso, também é possível aplicar dano jogando troncos de árvore e pedras pequenas e grandes.
Sobre as armas, há um sistema de progressão próprio com árvores de habilidades para cada arma e ação executada no jogo. Em cada árvore de habilidade é possível adquirir mais combos e golpes novos com a espada e machado, além de conquistar e melhorar golpes míticos, grandes ataques poderosos que facilitam e muito batalhas já que alguns desses golpes possuem a função de tirar grandes danos, quebrar defesas e atordoar inimigos, claro usando uma grande quantidade de da barra de resistência.
Já o arco possui pouca utilidade em batalha, por ter um dano inicial fraco, o uso dele se torna mais uma ferramenta para os puzzles do jogo do que uma arma de batalha. Usá-lo em batalha é uma completa perda de tempo.
Outra ótima mecânica presente nas lutas é a evasão e bloqueio. É possível desviar de ataques no chão e na terra, facilitando ser pego desavisado e ao desviar de ataques no tempo certo, há a velha conhecida câmera lenta, onde o inimigo fica em slow motion e você pode aproveitar pra acertá-lo. Outra mecânica ainda mais importante é o bloqueio. No momento certo, você pode executar uma ação de bloqueio onde Fenyx gira a espada contra um golpe inimigo, bloqueando um eventual dano recebido, com isso é possível refletir projéteis, aplicar danos e afetar a barra de resistência dos inimigos.
Falando de mecânicas importantes, cada inimigo possui uma barra de resistência também, ao aplicar golpes pesados, a barra azul abaixo da de saúde vai se enchendo, na medida que ela enche, o inimigo fica atordoado e você pode aproveitar esses instantes onde o inimigo não ataca para ir tirando saúde do mesmo.
Falando sobre os inimigos, é um dos pontos fracos do jogo. Com uma IA fácil de entender por ser simplista demais e uma mecânica de stealth inútil, os inimigos comuns que andam pelo mapa são fáceis. Apesar de cada inimigo ter sua movimentação única, todos possuem movimentos simples de prever na medida que você joga, com umas 10h de jogo, você já entende quando atacar, com o quê e quando desviar e bloquear. Como a variedade é muito pequena, as lutas se tornam repetitivas e você se vê fugindo e evitando constantemente lutas desnecessárias e partindo em busca somente de baús e itens para melhorar o seu personagem. A maioria desses itens estão protegidos por inimigos, dando a sensação que o combate do jogo foi feito apenas para dificultar a parte mais divertida, que é a exploração.
Já com lutas contra chefes oferecem desafios maiores com movimentações únicas, obrigando um ritmo muito menos frenético por parte do jogador e proporcionando batalhas muito mais estudadas e estratégicas. Algumas dessas lutas chegam a lembrar os movimentos estudados necessários do jogos de estilo Soulslike.
Em suma, o combate de Immortal’s: Fenyx Rising é divertido, mas acaba entrando em um marasmo por falta de dificuldade, IA e variação de inimigos. Quando o jogador vai ficando mais forte, alguns inimigos perdem o seu fator desafio e o jogo não arruma outra forma de oferecer outras experiências mais difíceis.
Quebra-Cabeças (Puzzles)
Com puzzles divertidos, Immortal’s Fenyx Rising é um prato cheio para amantes de quebra-cabeças. Espalhados por todo o mapa e nas Câmaras do Tártaro.
Para conseguir acessar alguns baús, o mapa apresenta mini seções com botões no chão, alavancas, caixas, lasers e alvos para instigar mentalmente o jogador. Há partes onde o jogador precisa resolver vários puzzles para conseguir pequenas orbes e completar uma espécie de tabuleiro para desbloquear moedas de caronte. Há partes de um quebra-cabeça com peças onde o jogador precisa reorganizá-las para formar uma imagem ou mesmo acertar alvos com o arco a fim de abrir portas ou liberar outro objetos.
Além disso, outro elemento claramente inspirado em Breath of the Wild são as Câmaras do Tártaro. A função delas é a mesma que os Shrines em Zelda, você entra nesses buracos e você cai em uma área fechada repleta de puzzles de cenário, batalhas e desafios de travessia. A maioria delas são muito divertidas e instiga o jogador a sempre procurar a próxima a fim de ganhar novas armas, recursos ou itens de missão.
Equipamentos e Personalização
O jogo possui uma gama variada de espadas, machados, capacetes, armaduras e asas. Você pode consegui-las completando missões, tarefas, vasculhando baús ou conquistando dentro das Câmaras do Tártaro. Uma grande parte delas são variações estéticas dos mesmos equipamentos, sem diferença nenhuma de efeito.
Os equipamentos não possuem atributos de status, com isso cada arma não possui força de ataque ou defesa, mas sim efeitos diversos sob determinadas condições como conseguir mais vigor, saúde, ataques mais fortes com vida cheia e etc. Para aumentar a força e defesa do equipamento, o jogo oferece um sistema de progressão mais geral e menos específico, onde você gasta recursos como cristais no Monte Olimpo para melhorar o ataque geral da espada, machado e das flechas e também a defesa do capacete e da armadura. Também é possível aumentar a quantidade de poções (saúde, resistência e força) que você pode carregar.
Sobre a personalização, além de poder escolher variações de equipamentos, o jogo, a qualquer momento, permite que você altere a aparência do personagem como sexo, voz, cabelo, cor de pele, cicatrizes, olhos e tatuagens. O jogo não se importa muito com a fidelidade visual do seu personagem e permite que, uma vez cansado da aparência, possa mudá-lo, sem grande dificuldades, o que é um ponto sempre válido.
Gráficos
Claramente adotando um design artístico mais infantil e cartunesco que acaba conversando muito bem com o teor bem humorado e descompromissado do jogo, Immortals é um jogo bem colorido e vibrante, mas nada exuberante. Fugindo muito do tom realista de outras franquias de sucesso da Ubisoft, o jogo adota um estilo com menor fidelidade anatômica.
Apesar de adotar um estilo mais despretensioso ao realismo, o jogo peca no excesso de texturas que parecem de plástico e uma das superfícies mais exageradamente artificiais são as texturas do personagens.
Com peles, cabelos, armaduras, panos e olhos, o jogo possui texturas inexistentes e animações faciais ruins. Em diversos momentos é possível ver o pouco trabalho nas expressões dos personagens, ficando um trabalho bem abaixo de outros da geração.
Trilha Sonora e Som
Composto pelo competente Gareth Coker, responsável por trilha sonoras no cinema e na TV e que já compôs trilha sonora de jogos como de Halo, Ark II, Minecraft e com seu principal destaque na franquia de jogos de Ori, não há o que reclamar da trilha sonora contemplativa em diversos momentos e épica em outros com orquestras.
A dublagem em Português do Brasil vai como sempre, muito bem, interpretando o tom cômico da narrativa com as belas narrações de todos, seja de Prometheus, Zeus, Fenyx, Afrodite e até Tifão, a dublagem consegue captar e passar muito bem as piadas espalhadas pela narrativa.
Vale a Pena?
Sim, vale. Um jogo necessário para amantes de exploração e jogadores que procuram um jogo com puzzles. Ideal para quem quer um jogo bem humorado e leve, o jogo apresenta uma curva de dificuldade até acima em comparação a outros jogos de mundo aberto. Com uma história e campanha fácil de entender e acompanhar e uma narrativa carismática, Immortals Fenyx Rising se revela um ótimo descanso mental logo após essa leva de jogos com narrativas sérias, pesadas e maduras.
Possui um gameplay igualmente simples e divertido, sem grandes mecânicas complexas e um sistema de progressão enxuto e de fácil compreensão, o jogo proporciona horas de jogabilidade leve onde o jogador se verá perdido no tempo enquanto explora o que há por trás ou acima da próxima montanha à procura de equipamentos, melhorias e armas. Possui gráficos médios, sem grandes feitos técnicos e nem referência em direção de arte, mas essa não é a sua proposta e faz questão de deixar isso claro por não se levar a sério.
Immortals Fenyx Rising passou por uma crise de identidade, sendo comparado ao estilo gráfico e gameplay de um monstro como Zelda; Breath of the Wild. É verdade que ele carece de essência, parece um junção de características de diversos jogos do mercado e que será alvo de diversos pré-julgamentos, mas uma coisa é notável pra quem joga, ele é o jogo ideal pra quem só quer se perder descompromissadamente em um jogo que é essencialmente divertido.
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Notas do Jogo
Título: Immortals: Fenyx Rising
Descrição do jogo: Jogue como Fenyx, uma nova semideusa alada, numa missão para salvar os deuses gregos e seu lar de uma maldição sombria. Enfrente feras mitológicas, domine os poderes lendários dos deuses e derrote Tifão, o Titã mais letal da mitologia Grega, numa luta épica e histórica.
Nota
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História - 7/10
7/10
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Jogabilidade - 9/10
9/10
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Gráficos - 8/10
8/10
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Trilha Sonora e Som - 8.5/10
8.5/10
Veredito
Immortals Fenyx Rising passou por uma crise de identidade, sendo comparado ao estilo gráfico e gameplay de um monstro como Zelda; Breath of the Wild. É verdade que ele carece de essência, parece um junção de características de diversos jogos do mercado e que será alvo de diversos pré-julgamentos, mas uma coisa é notável pra quem joga, ele é o jogo ideal pra quem só quer se perder descompromissadamente em um jogo que é essencialmente divertido.
Vantagens
- Ótima exploração.
- Mapa colorido e bem dividido.
- Quebra-cabeças (Puzzles) desafiantes.
- Sistema de progressão e melhorias simples.
- Gameplay divertido e descomplicado.
- Trilha Sonora e dublagem competentes.
Desvantagens
- Tom narrativo exagerado pode dividir alguns.
- Baixa variação de inimigos.
- IA de inimigos limitada.
- Expressão facial e texturas abaixo da média e quase inexistentes.
- Ausência de identidade própria.
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