Para quem não conhece, Star Ocean é uma franquia influente entre o gênero JRPG, sendo estandarte para mecânicas de combate em tempo real. Apesar de durante sua história não ter sido um dos carros chefe do gênero, ela era bem avaliada em seu início. Com o advento dos jogos em HD, a série foi perdendo brilho e destaque, tendo jogos apagados e com narrativas aquém do que merecia. O ponto mais baixo de sua história veio há seis anos, com o Star Ocean: Integrity and Faithlessness, onde acabou decepcionando fãs por conta de gráficos, gameplay e história muito ruins.
Para surpresa de muitos que acharam que a série não teria um novo jogo tão cedo, Star Ocean: The Divine Force foi anunciado e despertou entusiasmo nos fãs da série e do gênero, apresentando novas mecânicas. Desenvolvido pela Tri-Ace e publicado pela Square-Enix, o jogo assume a difícil tarefa de reerguer o nome da franquia e fazer jus, mesmo que abaixo do que merece, sua existência no mercado de games.
História
O jogo acontece no ano de SD 583 (AD 2670), situado entre os Star Oceans, Anamnese e Till the End of Time. Na história, a Federação Pangaláctica, responsável pela manutenção da paz e representante da justiça, agora se tornou maléfica, sendo forçada a dominar planetas.
Nosso protagonista é Raymond Lawrence, o capitão do nave mercante Das. Ao sair em uma missão de transporte junto de sua colega de tripulação Chloe Kanaris, ele são atacados por Bennedt Maudsley a bordo do nave Astoria. Bennet é membro da família Kenny da Federação. Por conta do ataque inesperado, eles precisam abandonar a nave e escapar para o quarto planeta do Sistema Aster, Aster IV.
Na fuga, Raymond e Chloe se separam. No planeta, Raymond é atacado por animais e é salvo por Laeticia, a princesa do Reino Aucerius e seu cavaleiro, Albaird Bergholm. O reino de Aucerius convive com a ameaça do Imperío Vey’l e Laeticia pede ajuda a Raymond. Para isso, eles precisam primeiro encontrar Midas Felgreed, um engenheiro talentoso e genioso muito importante que acabou desaparecendo.
Em troca de ajudar Laeticia e seu reino, Raymond propõe que o ajudem a encontrar a sua tripulação desaparecida. É nesse acordo de ambas as partes, que os dois protagonistas da história começam a jornada por Aster IV.
Campanha
Voltando às origens, Star Ocean: The Divine Force propõe que o jogador escolha a história sob a visão de Raymond ou Laeticia. O funcionamento da campanha caminha de forma paralela sem grandes mudanças enquanto estão juntos, mas a diferença é notada quando se separam, onde cada um testemunhará acontecimentos diferentes com pegadas distintas.
É nessa separação de personagens que o jogo propõe o seu fator replay, já que haverá diversas cenas e detalhes da história que só serão vistos por cada um. Enquanto Raymond possui grande conhecimento sobre a galáxia, Laeticia não conhece muita coisa além do seu planeta, sendo a personagem que o jogo propõe para aqueles que não querem se perder pelo carnaval de nomes e detalhes sobre a lore do jogo, já que o jogador irá aprender pouco a pouco sobre os pormenores da narrativa.
Como a maioria dos JRPGs, a narrativa começa simples e caminha de forma muito devagar. Esse artifício é usado nesse gênero para se dedicar primeiramente ao desenvolvimento e relação entre os personagens, para estimular empatia do jogador ao grupo enquanto apresenta informações sobre o planeta e o universo em que a história se passa.
Ao contrário dos jogos anteriores, The Divine Force não é tão expansivo sobre o alcance de sua narrativa, se centrando ao planeta Aster IV e na luta contra a Federação Pangaláctica ao contrário de visitas abrangentes a outros planetas de outras galáxias, comum em obras Óperas Espaciais.
Para desenvolver os seus personagens, The Divine Force faz uso dos Private Actions, cenas especiais de cada membro da party que ocorrem nas cidades. Este é um artifício já usado na série Tales of, que são diálogos engraçados ou profundos para estabelecer relação entre os personagens e enriquecê-los em torno de motivações e particularidades sobre suas personalidades, que invariavelmente vão cair de clichês tradicionais do gênero.
Gameplay
Começando pela maior novidade dentro da sua jogabilidade, The Divine Force introduz o eficiente sistema DUMA. Além de ser o robozinho simpático do grupo, o dispositivo é responsável por trazer diversão e ser o núcleo de uma gama de sistemas do jogo.
O benefício primordial do DUMA é facilitar a exploração. Com o robô, você conseguirá voar pelo mapa usando-o como jetpack, claro por uma distância já definida, facilitando percorrer os extensos mapas, escalar construções e subir montanhas. Com o recurso, ele é essencial ao ajudar a encontrar itens em baús e colecionáveis como gemas roxas, que são importantes para aumentar o nível de habilidades de DUMA.
O sistema também atribui importância nos combates, já que o jogador poderá usar DUMA uma gama de funcionalidades durante a batalha como realizar ataques especiais usando o VA Attack, um recurso de alta velocidade onde o jogador pode voar ao encontro do inimigo, usar a mecânica Blindside (originado de Star Ocean The Last Hope), onde o jogador consegue pegar inimigos desprevenidos atacando e assim os deixando atordoados por curtos períodos de tempo, usar escudos que diminuem o dano do grupo recebido e um recurso de rastreamento de ataques, onde o jogador é avisado com antecedência dos próximos movimentos dos inimigos.
É claro que para um sistema tão útil e que cumpre uma função tão primordial, ele não é largamente utilizado sem limitações. Para evitar “spamar” seus recursos, DUMA oferece um medidor de VA, que limita o uso de suas habilidades e que só poderá ser preenchido por ataques desferidos em inimigos.
Nos combates, há uma mudança substancial e que junto com DUMA deixou sua experiência muito mais divertida e rápida, melhorando e muito o combate da franquia. Nesta etapa, não precisa dizer que a franquia Star Ocean é conhecida por ser um action RPG antes de se tornar tendência, desde o SNES, e The Divine Force abraça ainda mais essa característica.
Utilizando um sistema brilhantemente usado nos recentes jogos da série Tales of, Star Ocean the DIvine Force permite que você mapeie as habilidades ativas e passivas de cada personagem em três botões (quadrado, triângulo e círculo), dando a liberdade para o jogador configurar os seus combos e Chains Combos de forma que achar mais cômodo. Com a personalização de combos, o problema de batalhas repetitivas que perdem a força durante a experiência é atenuado e de certa forma, resolvido. Para evitar também que o jogador saia usando habilidades sem controle, como as Special Arts e a Semiomancy, o jogo inclui um sistema que limita movimentos, fazendo cada movimento tendo um custo de AP (Action Points), fazendo o jogador tendo que esperar que a barra de AP se encha novamente para continuar atacando.
Para melhorar ainda mais o ponto mais forte de The Divine Force, os personagens da party podem ser trocados manualmente com simples toques de botão. Cada um possui movimentos e objetivos diferentes durante o combate, enquanto um pode ser muito forte com ataques físicos, outro pode ser de extrema ajuda em ataques mágicos e outra serve apenas como suporte, curando e buffando seus personagens, enriquecendo a experiência de batalha
Falando sobre seus problemas de gameplay, Star Ocean The Divine Force não está livre deles e eles passam por problemas de design e decisões ruins.
Começando pelo design dos seus mapas e o uso do DUMA, que apesar do sistema ter contribuído para uma boa experiência, ele não é bem utilizado por culpa de outros recursos. The Divine Force possui mapas semiabertos, que apesar de bonitos, são irritantemente planos, com campos abertos muito vastos sem relevos e personalidade. Com layouts simples, boa parte dos cenários são vazios e pouco memoráveis, desestimulando a exploração. As dungeons seguem o padrão de JRPGs, com longos corredores sem propósito, despertando no jogador o forte sentimento de sair de uma o mais rápido possível, fazendo despencar uma boa parte da diversão de sua proposta.
Além disso, a IA da sua party é deficitária. Por vezes você verá que seus personagens ficarão presos em armadilhas, correndo estupidamente por locais venenosos tomando dano, não evitando ataques de inimigos e até mesmo personagens com ataques a longa distância perto demais de inimigos e personagens de curta distância longe demais.
O sistema para acionamento de Scan de DUMA é ultrapassado, já que você primeiro vai precisar parar o personagem e segurar o botão para escanear a área, algo já superado por outros jogos como Assassin’s Creed, The Last of Us, Plague Tale Requiem e tantos outros, onde você não precisa parar para escanear a área ao redor na procura de itens ou inimigos.
Gráficos
Acredito que a área mais questionada quando foi anunciado. A série Star Ocean nunca foi tão bem conhecida pelo seu lado técnico como gráficos e visual, e The Divine Force apresenta ligeira melhora, mas muito abaixo de uma franquia que merecia um pouco mais de cuidado.
O visual de The Divine Force é uma montanha russa de bons e maus pontos, com mais descidas (contras) do subidas (prós). Apesar de possuir belas paisagens com áreas abertas bonitas, roupas e armaduras bem feitas, as animações dos personagens parecem ter saído de um jogo de PS3 de vez em quando.
As expressões faciais dos personagens são tradicionalmente as mesmas, ruins e com aspecto que são todas feitas de porcelana ou de um plástico de má qualidade. Com aparências de alguns personagens esquisitos, como Raymond, os modelos 3D dos personagens não faz jus ao trabalho excelente do character designer Akira Yasuda. Para quem espera personagens detalhados como nas artworks, com linhas de expressões e detalhes nítidos, irá se decepcionar por personagens simples e até feios, afastando novos jogadores, sendo mais aceito por quem já for fã e conhece a tradição técnica da franquia e que já desistiu de um salto gráfico nesse aspecto.
A junção de personagens com caras de NPC e belos cenários causa estranhamento com instalações tecnológicas e metalizadas bem trabalhadas servindo de palco para personagens tão pobres de texturas, gerando um conflito de direção artísticas que chega a incomodar por diversas vezes.
Além disso tudo, mesmo não sendo nada exigente em questão de processamento gráfico, o jogo roda com dificuldades no PlayStation 5, tendo quedas de frame rate quando entramos em cidades, em algumas áreas abertas, e até mesmo em combates, revelando problemas graves de otimização.
Trilha Sonora e Som
Um lado positivo é sua trilha sonora, que apresenta faixas memoráveis que iram contribuir para a experiência do jogador, tanto em pontos chave da sua campanha quanto para os combates, que agregam uma boa dose de adrenalina. O jogo conta com sons nostálgicos da franquia, desde os sons de cursores na navegação de menus até ao aumento de nível. Nesse quesito, o jogo não faz um grande trabalho, mas também não faz feio, tendo uma performance satisfatória.
Star Ocean The Divine Force, como todos a maioria dos jogos da Square-Enix, não apresenta dublagem em português e tampouco legendas, o que deve afastar jogadores que não têm domínio da língua e dificultar a compreensão da narrativa por completo.
A dublagem em inglês deve incomodar para quem entende, já que alguns personagens são bem dublados, alguns possuem pontos altos e outros parecem estar lendo um roteiro de tão robotizados. A recomendação é que troque para a dublagem em japonês caso se incomode.
Vale a Pena
Star Ocean: The Divine Force é um jogo que talvez só agrade muito quem já é fã da franquia, mas vai acabar passar batido por jogadores de RPG. Por conter uma história que demora para começar a se desenrolar, ele conta com uma qualidade frágil na construção de momentos memoráveis e acontecimentos épicos, mas possui bons personagens que justificam suas motivações ao decorrer da campanha que dura de 30 a 40 horas. Por serem tão clichês, talvez alguns jogadores os relacione a outros de outras franquias, já que foram construídos com as mesmas personalidades. Sua narrativa é satisfatória, mas nada surpreendente.
Com uma parte técnica questionável, o jogo passa a urgência para Square-Enix e a Tri-Ace de assumirem mais verba de orçamento para seu desenvolvimento, sob risco de se tornar uma franquia que acabe sumindo por falta de investimento e cuidado gráfico e técnico.
O ponto mais alto de sua proposta é sem dúvida o seu gameplay, que possui poucas falhas, mas é essencialmente diverso, ágil e dinâmico, com personalização e combos, árvores de habilidades robustas e um sistema que enriquece a experiência tanto na parte de exploração quando na parte de combate.
No fim, The Divine Force cumpre a tarefa de limpar a imagem da franquia que foi arranhada pelo terrível Integrity and Faithlessness e entrega uma experiência média para boa. Seu problema é ser um jogo que vai agradar convertidos, passar batido por jogadores do gênero e ser decepcionante por quem esperava mais avanços notáveis para a franquia.
Jogo analisado no PS5 com código gentilmente fornecido pela Square Enix.
Notas do Jogo
Título: Star Ocean: The Divine Force
Descrição do jogo:
[Voe livremente sobre as áreas]
Em STAR OCEAN THE DIVINE FORCE, os personagens poderão se mover livremente em 360º e vagar pelos céus.
[Desloque-se e explore como quiser em três dimensões: tudo que você vê pode ser explorado!] Você poderá se mover em três dimensões enquanto voa na maior ambientação já vista na série. Seja voando pelos ares ou explorando o topo das montanhas ou dos prédios pela cidade, ou mesmo saltando de penhascos para entrar em combate de modo fluido, você terá mais liberdade tanto em termos de aventura quanto de batalha.
[A ação mais rápida e potente já vista na série.] Ainda que o jogo dê espaço para que você jogue como bem entender, o escopo de suas batalhas também passou por evoluções. Os personagens poderão subjugar um vasto número de inimigos com ataques com movimentos em alta velocidade, habilidades especiais com as quais você poderá sumir por um breve instante bem à frente dos inimigos e uma habilidade que pode matar com um único golpe!
Este jogo conta com uma experiência de combate desafiadora mas eletrizante para que você possa curtir vagando livremente pelos céus.
Gênero: JRPG
Lançamento: 27/10/2022
Produtora: Tri-Ace
Distribuidora: Square-Enix
Nota
-
História - 7.5/10
7.5/10
-
Jogabilidade - 8.5/10
8.5/10
-
Gráficos - 6.5/10
6.5/10
-
Trilha Sonora e Som - 7/10
7/10
Veredito
No fim, The Divine Force cumpre a tarefa de limpar a imagem da franquia que foi arranhada pelo terrível Integrity and Faithlessness e entrega uma experiência média para boa. Seu problema é ser um jogo que vai agradar convertidos, passar batido por jogadores do gênero e ser decepcionante por quem esperava mais avanços notáveis para a franquia.
Vantagens
- Personagens cativantes;
- Sistema DUMA enriquece a jogabilidade em vários pontos;
- Combate e combos diversificam a experiência;
- Gameplay divertido;
- Belas paisagens.
Desvantagens
- Personagens parecem de plástico;
- Mapas semiabertos muito planos;
- Design de dungeons simplista;
- Menus feios e confusos;
- Dublagem em inglês insatisfatória;
- Quedas de fps constantes em mapas, cidades e combates.