A Ubisoft anunciou ano passado que iria reformular e restabelecer novas bases para a sua franquia de maior sucesso, Assassin’s Creed. Anunciando diversos projetos da série como o Codename Jade, Codename Red e Codename Hexe, a empresa francesa revelou o último jogo que representaria uma espécie elo entre os três últimos jogos e o novo futuro da franquia, o Assassin’s Creed Mirage.
Assassin’s Creed Mirage é um jogo de ação e aventura desenvolvido pela Ubisoft Bordeaux e publicado pela Ubisoft. É um spin-off da série Assassin’s Creed e se passa no Cairo, Egito, no século IX.
Prometendo voltar às raízes da série, Mirage foca mais nas características furtivas e simples de combate, sem tantos elementos de RPG, sendo um jogo menor em escala e investimento.
Assassin’s Creed Mirage será lançado em 5 de outubro de 2023 para PlayStation 5, PlayStation 4, Xbox Series X/S, Xbox One, PC e iOS.
[lwptoc]
História
Bagdá no século IX era a capital do Império Abássida e um dos centros culturais, políticos e econômicos mais importantes do mundo islâmico e da civilização em geral. Durante esse período, a cidade era conhecida por seu esplendor e prosperidade, e desempenhava um papel crucial na preservação e promoção do conhecimento e da cultura. A cidade era famosa pela Casa da Sabedoria, onde obras gregas, persas e indianas eram traduzidas para o árabe. Al-Ma’mun, um dos califas, promoveu a ciência e a filosofia. Bagdá era um importante centro comercial e prosperou devido ao comércio e à localização estratégica nas rotas comerciais. No entanto, também enfrentou conflitos internos e declínio político ao longo do século.
Este é o cenário e período de Assassin’s Creed Mirage, com o período começando no ano de 861 (Idade de Ouro), doze anos antes dos eventos de Assassin’s Creed Valhalla.
Conhecemos Basim Ibn Is’haq, um personagem que cumpre uma função importante no jogo anterior, mas agora somos introduzidos à sua origem e o início de sua história. Basim é um jovem ladrão de rua que realiza pequenos serviços para contratantes locais, inclusive para os Ocultos, a organização de assassinos da série.
Em um dia, Basim aceita um serviço arriscado para impressionar os Ocultos e ao lado de sua amiga, Nehal, os dois decidem invadir o palácio do califa de sua cidade para roubar um artefato misterioso. Descobrindo que o artefato se trata da lendária civilização antiga, os Isu, os dois descobrem que a Ordem dos Anciões está atrás do objeto.
Em posse do artefato e uma soma de ações erradas, os dois fogem do palácio. Basim decide fugir da cidade, mas acaba sendo cercado pelos soldados. Sendo salvo pela mestre assassina Roshan, Basim decide se tornar um assassino e acaba treinando para isso.
Ao término do treinamento, Basim e os Ocultos decidem desmontar a Ordem que se infiltrou nos locais de poder de Bagdá, descobrir a razão de estarem em busca do artefatos Isu e revelar a origem do Djiin (entidade sobrenatural) que pergue Basim em seus sonhos.
Campanha
Em suma o funcionamento da campanha de Assassin’s Creed Mirage não se difere muito do que já tem sido feito com a série. Basim precisa localizar membros da Ordem. A Ordem dos Anciões é uma sociedade secreta que se infiltra nos círculos sociais e de poder para disseminar sua ideologia supremacista.
Membros da Ordem servem à Ordem dos Anciões onde ocupam posições de influência e poder na sociedade de Bagdá. Com quatro membros do Alto Escalão, cada distrito da cidade é controlado pelos mascarados e caberá Basim encontrar pistas e resolver casos que revelem a verdadeiro identidade para que nosso protagonista o localize e inicie uma Chance de Assassinato. Ao eliminá-los, iremos descobrir pouco a pouco a identidade do líder da Ordem.
Na missão onde temos que eliminar o membro da Ordem, Mirage traz de volta um sistema que já estava presente em Unity e Syndicate, o jogador precisa cumprir certos passos investigativos para conseguir localizar o paradeiro do alvo. Para isso precisamos mapear, localizar NPCs que contenham informações, ouvir conversas, coletar chaves para acessar portas, ler registros em salas guardadas e responder palavras chave.
Indo para uma opinião geral da qualidade narrativa da campanha, diria que para mim foi uma decepção. Abordando o passado de Basim, o jogo segue o modelo engessado de eliminar a ordem e falha em conseguir entregar um trabalho de desenvolvimento do protagonista, que parece ter o mesmo problema de personalidade genérica da franquia. Quando o jogo decide ir em frente e abordar aspectos mais interessantes de roteiro, ele decepciona mais uma vez, entregando soluções ruins e preguiçosas sem deixar nenhuma pista para o futuro.
Gameplay
Prometendo ser uma volta às origens mais simples e com maior foco nas habilidades de stealth, Assassin’s Creed Mirage é o jogo que mais se aproxima ao que era, mas não abandona por completo sistemas criados em Origins, Odyssey e Valhalla, que continha muitos elementos de RPG.
Começando pelos combates, Basim agora possui apenas um botão de ataque, onde realiza um combo de golpes usando a espada e a adaga com as duas mãos, não tendo mais golpes distintos de duas armas com peso, força e movimentos diferentes. Quando o inimigo atacar e brilhar dourado, podemos aparar o ataque e matá-lo rapidamente, caso brilhe vermelho, temos que desviar para não levar dano.
Com essa simples mudança, os combates se tornaram muito mais rápidos e acessíveis, já que a maioria dos inimigos são os mesmos e possuem golpes fáceis de aparar e desviar, tornando confrontos diretos enfadonhos e repetitivos, especialmente contra guardas maiores, onde temos que ficar desviando para atacar as costas desprotegidas. É óbvio que adversários em grupo torna o ato de controle de multidão muito mais difícil, mas a estratégia de puxá-los para longe e eliminar um a um continua funcionando. Até entendo que o excesso de elementos de RPG possa ter enjoado e criado descontentamento entre os fãs mais antigos da franquia que criticavam que inimigos se tornavam esponjas de dano, mas para mim que preferia esse sistema, combates em Mirage se tornam uma dança monótona de aparar e matar sem nenhuma emoção.
Outra mudança substancial, onde sai de cena o sistema de níveis, em Mirage existe um sistema de Hierarquia que irá balizar o quão pronto estará Basim ao enfrentar inimigos de hierarquias maiores. Obtendo um sistema de seis classificações: Iniciado, Aprendiz, Novato, Discípulo, Assassino e Mestre. O jogador irá subir na hierarquia de forma automática enquanto progride na história, ganhando novas recompensas e podendo lutar contra inimigos de igual para igual.
Não só isso irá nivelar a força de Basim, mas os equipamentos também cumprem a função de aumento de status do personagem. Sem o exagero vindo de looters com diversas armas parecidas com ligeiros aumentos que bagunçavam os menus com diversas armas empacadas que se tornavam obsoletas em um curto espaço de tempo, em Mirage elas são substancialmente reduzidas, mas mais fundamentais e importantes na jogabilidade, podendo ser melhoradas, compradas e montadas ao coletar diagramas.
A Árvore de Habilidades de Mirage em comparação ao Valhalla, é muito menor, mais simples e direta. Obtendo três ramos, cada um representa um aspecto distinto. São eles:
- Fantasma: Habilidades que envolvem agilidade e eficiência. melhorias do Foco de Assassino, letalidade e alcance de adagas e etc.
- Trapaceiro: Uso de recursos e ferramentas. Aumenta slots de ferramentas, curas e etc.
- Predador: Percepção e instintos. Onde se concentram melhorias de visão da águia Enkidu.
Nessas mudança mais descomplicadas e diretas, removendo níveis, grandes árvores de habilidades e excesso de armas, é onde Mirage mais acerta na progressão e experiência de jogabilidade. Eu entendo que nem todos os jogos precisam ter elementos tão fiéis aos RPGS, que demandam mais tempo e estudo para criação de uma montagem de build, já que Assassin’s Creed nunca foi um jogo desafiante com foco em batalhas trabalhosas e inimigos com movesets distintos. Portanto, Mirage se concentra na sua proposta sem perder tempo com complexidades desnecessárias.
Se existe um foco no seu gameplay, o jogo faz questão de deixar claro logo nos primeiros minutos, a furtividade é a chave de Mirage. Basim é mais letal, seus recursos e habilidades são focadas em não ser visto.
Ferramentas são os recursos utilizados por Basim para auxiliar no gameplay. Com cerca de seis tipos (criadores de ruído, minas, bombas de fumaça, adagas de lançamento, tranquilizantes e tochas), a maioria é voltada para o foco de jogabilidade deseja proporcionar, a volta do aspecto furtivo.
Quando fazemos alguma ação proibida, como acertar cidadãos comuns ou matar soldados em público, o jogo possui um sistema de procurado com três níveis que vão escalando o nível de procurado até chegar em um nível que seja impossível ser visto nas ruas de Bagdá sem alertar a guarda. Para reverter esse nível, existe uma sistema de Redução de Notoriedade. Para reduzir, o jogador terá que procurar cartazes que surgem aleatórios pelas ruas e rasgá-los. Existe outra opção que seria subornar alguns NPCs com Fichas de Poder.
Outro recurso oriundo desse foco mais furtivo é a habilidade Foco de Assassino. Quando Basim estiver foram de conflito, podemos realizar uma sequência perfeita de assassinatos para limpar a área sem despertar suspeitas. A Barra de Foco é preenchida quando realizamos eliminações furtivas.
A águia Enkidu volta a ter mais função e utilidade ao mapear itens, objetivos e inimigos em relação a Valhalla, mas ela ganhou um adversário que são arqueiros que precisam ser abatidos para que a gente consiga voar sem preocupação pelas bases e fortificações, fazendo o jogador transitar pelas sombras até o abatedor sem ser visto, mas também sem conseguir ter uma visão melhor dos movimentos inimigos.
Apesar de todo os esforço das mecânicas valorizarem o stealth do jogador, não somos tão desafiados pela IA dos inimigos. Continuando a mesma conhecida após tantos jogos da franquia, onde um jogador casual da franquia já sabe todos os atalhos e falhas da inteligência artificial, podendo driblar e abater toda uma guarnição sem despertar a mínima atenção. Um jogo que se propõe ser furtivo deveria ter melhorias notáveis para conseguir desafiar o jogador, o que não acontece.
Falando brevemente sobre o Parkour, apesar de ter uma extensão de deserto, maior parte do tempo pulamos e penduramos por obstáculos da cidade, mas quem esperava por movimentos fluidos e estilosos que surgiram e morreram em Unity, poderá se decepcionar. Bagdá tem mais locais que ajudam na fluidez na transição do parkour quando comparamos com Valhalla, mas o personagem não se movimenta tão rápido e fluido como deveria. Minha percepção é que ele é ainda mais lento.
Falando sobre secundárias, elas são menores, mais ainda presentes e seguem as mudanças implementadas em Valhalla. Existem as missões secundárias de história onde ajudamos cidadãos de Bagdá com problemas menores e maiores, mas o real propósito de dar coesão cultural para o jogo ainda permanece. Elas são divertidas e descontraídas, não vão impressionar pela criatividade, mas também não parecerão uma mera encheção de linguiça comparado â missões de outros jogos do mercado.
A maior novidade dessas missões são os Contratos. Se tratam de missões secundárias de pedidos de diferentes facções de Bagdá. Ao fazê-los, além de ajudar o povo, o jogador poderá ganhar favores de Rebeldes, Eruditos e Comerciantes. Falando sobre facções, existem Fichas Kidmah, que são espécies de moedas especiais que são usadas para conseguir favores destas facções de Bagdá. Você pode usá-las para abrir baús, contratar mercenários que atraem atenção de guardas, conseguir informações e etc.
O mapa de Mirage é muito menor que os outros jogos recentes da franquia. A cidade é dividida em quatro distritos únicos, incluindo a área industrial de Karhk, os jardins floridos da Cidade Redonda, Alamut, o lar dos assassinos e alguns terrenos como desertos sul e norte com oásis e outros vilarejos pequenos. Lembrando um pouco a densidade de pessoas nas ruas de Paris em Unity, Bagdá é um dos jogos da série com uma das cidades mais movimentadas onde os habitantes reagem um pouco mais a sua presença.
Gráficos e Direção de Arte
O trabalho gráfico de Mirage no geral segue a mesma qualidade com os mesmos defeitos e qualidade do Valhalla.
Começando com o uso da mesma engine sem melhorias, as animações faciais continuam ruins e Basim parece mais feio que Eivor, só melhorando quando você coloca um capuz nele para esconder o trabalho ruim no cabelo. Privilegiando alguns personagens, a animação facial de NPCs continuam genéricas, mas diria que houve um downgrade nas expressões de todos os personagens.
A maior qualidade gráfica de Assassin’s Creed Mirage reside mais uma vez na direção de arte que consegue entregar mais uma vez um trabalho invejável de representação cultural com construções típicas, objetos que compõe cenário, arquitetura, vestimentas, paisagens, locais e monumentos famosos que reproduzem uma Bagdá viva e real.
Trilha Sonora e Som
Dessa vez, a trilha sonora de Assassin’s Creed Mirage foi composta pelo Brendan Angelides, mais conhecido por seus nomes artísticos anteriores Eskmo e Welder, é um produtor e compositor americano de música eletrônica com diversos álbuns, mas nenhum trabalho em games. Trabalhando em conjunto com outros músicos mais próximos e com maior conhecimento da cultura islâmica, Mirage possui uma mistura de elementos eletrônicos e acústicos, trazendo faixas que representam a união de referências do Ocidente e Oriente Médio.
A trilha sonora não faz feio e cumpre muito bem o seu papel de estabelecer uma imersão ainda maior na proposta árabe do jogo, mas por ser um jogo menor, as músicas não variam de regiões e reinos distintos em comparação com Valhalla.
Como todos os recentes jogos da série, Assassin’s Creed Mirage possui localização, legendas e dublagem em português do Brasil, mas achei que o trabalho de dublagem não entrega grandes interpretações e soa desconexo em algumas cenas.
Vale a Pena?
No fim, a Ubisoft foi sincera quando disse que Assassin’s Creed Mirage seria um jogo de menor escala, mas achei que ele poderia ter entregue um pouco mais. Com cerca de 20 horas de duração, a campanha é esquecível e que não consegue em momento nenhum entregar um protagonista coerente e interessante ou momentos marcantes. Quando Basim realmente decide tomar as rédeas da condução narrativa, isso é feito de forma apressada e atrapalhada, gerando um descontentamento para o jogador que jogou Valhalla e esperava mais do personagem.
O gameplay resgata várias características de suas raízes e nos apresenta um foco mais no furtivo do que nos combates. Com decisões mais fáceis que descomplicam mecânicas desnecessárias dos jogos anteriores, a progressão de Mirage é direta e assertiva. Infelizmente o sistema de combate não se aproveitou bem das mudanças e perderam brilho, se reduzindo a passos tediosos e sem desafio nenhum.
Assassin’s Creed Mirage veio sem prometer muito e logo se nota o porquê. Para quem esperou demais, pode acabar tendo um gosto amargo quando os créditos rolarem, mas deve divertir os jogadores que pediam muito a volta de mecânicas menos complexas e uma jogabilidade mais simplificada.
Notas do Jogo
Título: Assassin's Creed Mirage
Descrição do jogo: Vivencie a história de Basim, um ladrão de rua astuto em busca de respostas e justiça, enquanto percorre as agitadas ruas de Bagdá do século IX. Por meio de uma organização antiga e misteriosa, os Ocultos, ele se tornará um Mestre Assassino letal e mudará seu destino de maneiras que jamais teria imaginado.
Gênero: Ação e Aventura
Lançamento: 04/10/2023
Produtora: Ubisoft Entertainment
Distribuidora: Ubisoft Entertainment
Nota
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História - 7/10
7/10
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Jogabilidade - 7.5/10
7.5/10
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Gráficos - 7.5/10
7.5/10
-
Trilha Sonora e Som - 8.5/10
8.5/10
Veredito
No fim, a Ubisoft foi sincera quando disse que Assassin’s Creed Mirage seria um jogo de menor escala, mas achei que ele poderia ter entregado um pouco mais. Com cerca de 20 horas de duração em média, a campanha é qualquer coisa esquecível e que não consegue em momento nenhum entregar um protagonista coerente e interessante. Quando ele realmente decide tomar as rédeas da condução narrativa, isso é feito de forma apressada e atrapalhada, gerando um descontentamento para o jogador que jogou Valhalla e esperava mais do personagem.
O gameplay retrocede às suas raízes e nos apresenta um foco mais furtivo do que nos combates, como no anterior. Com decisões mais fáceis que descomplicam mecânicas desnecessárias dos jogos anteriores, a progressão de Mirage é direta e assertiva. Infelizmente o sistema de combate não se aproveitou bem das mudanças e perderam brilho, se reduzindo a passos tediosos e sem desafio nenhum onde o jogador só precisa encontrar o momento certo para aparar e acabar com o inimigo.
Assassin’s Creed Mirage veio sem prometer muito e logo se nota o porquê. Para quem esperou demais pode acabar tendo um gosto amargo quando os créditos rolarem, mas deve divertir os jogadores que pediam muito a volta de mecânicas menos complexas e uma jogabilidade mais simplificada.
Vantagens
- Simplificação da Árvore de Habilidades descomplica a progressão;
- Diminuição da quantidade de equipamentos inúteis;
- Localização e reprodução cultural de Bagdá enriquece a experiência;
- Exploração divertida do mapa;
- Mecânicas de investigação durante missões.
Desvantagens
- Protagonista e história sofrem retrocesso e falham em entregar uma narrativa interessante;
- Combates foram simplificados demais;
- IA de inimigos prejudicam furtividade.
- Tirar foto usando a função nativa do PS5 remove a iluminação das cenas;
- Expressões faciais feias de todos os personagens.