Slave Zero, um título marcante lançado pela Infogrames em 1999 para Dreamcast e PC, trazia consigo uma aura de inovação e aventura. Com o passar dos anos, a Infogrames se transformou na Atari, uma mudança que não apenas preservou a herança da empresa, mas também a conectou a uma nova geração de jogadores e desenvolvedores. Nesse contexto, a Ziggurat Games emergiu como uma força criativa, trazendo à tona experiências únicas e emocionantes para os jogadores modernos.
É interessante notar que a Ziggurat Games, por meio de suas conexões com a Atari, encontrou um ponto de convergência com a editora Tommo. Essa colaboração trouxe à luz Slave Zero X, um prólogo emocionante que mergulha ainda mais fundo no universo estabelecido por Slave Zero.
O recém-lançado Beat ‘em up Slave Zero X da Poppy Works resgata a estética da sexta geração do final dos anos 90, trazendo consigo um jogo de plataforma de ação 2.5D repleto do extravagante estilo de anime bio-mecha, emprestando um brilho que até mesmo Hiryū, o icônico Strider, poderia apenas sonhar em alcançar.
É um frenesi vibrante e caótico, uma experiência de apertar de botões que desperta a nostalgia dos veteranos e intriga os novatos, com uma duração relativamente breve, talvez destinada a incitar os competitivos a buscar o topo das tabelas de classificação em repetidas jogatinas. No entanto, há um anseio latente por mais, especialmente em termos de diversidade de combate. Em momentos onde o jogo exige uma sensação mais direta de plataforma, a experiência pode se tornar um tanto tediosa, como se faltasse aquele elemento que dá o toque final à jornada do jogador.
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História
Em um mundo mergulhado na distopia cibernética, os eventos de Slave Zero X desdobram-se quatro anos antes da saga épica narrada no clássico de 1999. Aqui, testemunhamos os primeiros lampejos de uma revolta iminente, onde a busca pelo poder alcança proporções catastróficas. O protagonista, um rebelde destemido chamado Shou, se encontra no epicentro desse turbilhão de conflitos, roubando uma arma biomecânica de última geração para redefinir os rumos de uma guerra civil brutal.
A essência do embate entre classes e ideologias ressoa de forma inegável, tanto no jogo original quanto em Slave Zero X. Shou, impulsionado por um desejo ardente de justiça, funde-se com o protótipo roubado de uma unidade Slave, desencadeando uma série de eventos que desafiarão o status quo imposto pela classe dominante. Sua missão é clara: derrubar um regime opressor, liderado por um falso deus e seus acólitos mais leais.
Imerso em uma narrativa sombria e decadente, Slave Zero X prenuncia os horrores que aguardam no futuro distópico do jogo original. Aqui, as ruas da cidade são o palco principal, onde as facções rebeldes, conhecidas como Guardiões, enfrentam a tirania do todo-poderoso Sovereign Khan e seu exército impiedoso de mechas e abominações biomecânicas. Ao contrário da perspectiva colossal do jogo anterior, esta jornada se desenrola no nível da rua, onde Shou, equipado com a unidade X, uma armadura cibernética viva, enfrenta as hordas corporativas com sua própria personalidade distinta, desafiando as convenções e redefinindo o destino de uma sociedade à beira do colapso.
Gameplay
Slave Zero X adota o nostálgico game design de um Final Fight, mas com especificidades dos jogos do PS1 como Strider. Sendo um jogo hack and slash 2D com cenários de fundo em 3D onde o ciclo do seu gameplay se resume a seguir em frente por níveis, derrotar hordas de inimigos, lidar com os seus controles de pulo imprecisos para passar por obstáculos até chegar no chefe e repetir os mesmos passos fase após fase.
A maior aliada do nosso personagem é uma grande espada que corta os inimigos com base em limitados combos de ataques leves e pesados onde o seu segredo está na repetição de combinações de combos extensos e complexos que vão sendo aprendidos na marra por conta da sua curva de dificuldade inconstante e esquisita.
Além dos ataques básicos e seus combos, Show tem à disposição mecânicas e recursos de apoio. O Medidor é uma barra responsável por desferir ataques especiais e fortalecer o seu personagem. O Orbe de Explosão é uma esfera que quando usada, permite afastar inimigos explodindo e uma boa maneira de recarregar o medidor mais rápido. O Movimento EX, é um recurso que quando usado, recarrega medidor e fortalece ataques e aumenta velocidade. O Sincronizador Fatal é usado quando o medidor estiver em 100%, onde você pode usar Movimentos EX sem custo da barra e roubar a vida dos inimigos quando atacá-los. A Munição de Armamento são itens que podemos ganhar ou comprar que podem ser usados contra inimigos. Shou também pode desviar de ataques dando dashes para frente ou pra trás e Aparar, refletindo ataques inimigos.
Slave Zero X é um jogo onde lidar com a pressão de espaço e controle de multidões será uma constante durante a gameplay e o seu maior desafio. Saber a melhor abordagem e estratégia para lidar com esse característica é crucial, mais que achar que força bruta possa ser a solução de todos os encontros.
Só que o ciclo da sua jogabilidade o torna extremamente repetitivo, mesmo com as suas poucas 6 horas de duração. Os modelos de inimigos limitados que apenas trocam de cor, tornando a variedade da sua experiência mínima. Mas é na sua curva de dificuldade irregular que está o seu maior defeito.
Começando sem grandes dicas de como dominar o seu gameplay, Slave Zero X alterna entre momentos extremamente fáceis que se transformam em questão de segundos em momentos punitivos.
Os inimigos solitários ou grupos de quatro passam a sensação de um jogo extremamente fácil, sendo alvos ridículos que sucumbem a combos simples da mesma forma sem qualquer resquício de resistência e morrendo da forma mais boba possível fora da tela. Um combo regular os derruba, quando levantam não possuem movesets que impedem que sejam pegos novamente no mesmo combo, tornando o gameplay apenas uma questão repetitiva de passos decorados.
Mas é nas hordas que a dificuldade do jogo dá saltos gigantescos, onde a multiplicidade deles se torna uma questão problemática, já que eles conseguem interromper nosso combos e nos atordoar, se aproveitamento da janela de oportunidade e nos tornando uma saco de pancadas até sermos derrotados sem conseguir uma mísera chance de sairmos da armadilha. É possível usar o Orbe de Explosão para afastar o linchamento da multidão, mas o seu uso é limitado e não vai demorar muito até que se aproveitem do seu próximo deslize.
A dinâmica do jogo oscila entre momentos de domínio absoluto, onde Shou aniquila seus adversários sem piedade, e períodos de luta desesperada, onde a resposta parece fugir de seu alcance. Ativar habilidades especiais ou executar manobras precisas pode, às vezes, reverter esses momentos críticos, mas tais recursos são limitados, e as batalhas épicas dos estágios avançados de Slave Zero X podem prontamente anular qualquer progresso.
A chave para a sobrevivência reside no controle da multidão e na maestria dos movimentos aéreos. Desviar, aparar e contra-atacar são habilidades secundárias diante da necessidade premente de evitar ser cercado por grupos numerosos de inimigos.
Após uma soma gigante de game over e de dedos doloridos, vamos aprendendo que apenas desferir combos aleatórios não vai ser suficiente para zerar, temos que aprender a arte de encurralar seus oponentes em um canto e, em seguida, jogá-los para o ar e atacá-los sem que caiam o chão, os mantendo suspensos como marionetes. Mas até chegar nisso, o jogador mais casual pode ter desistido, porque para chegar nesse nível é preciso precisão, timing e domínio dos combos.
Até mesmo os chefes, são suscetíveis a essa estratégia. A diferença reside na necessidade de quebrar sua concentração antes de realmente começar a infligir danos significativos. É quase cômico imaginar que essas criaturas imponentes simplesmente ignoram o corte de sua lâmina até que tenham sido suficientemente feridas, mas é esse o jogo que nos é apresentado. E é aí que reside o desafio e a recompensa. Na minha experiência, a maior parte dos chefes são desafios muito mais tranquilos do que lidar com vários inimigos que se aproveitam dos pequenos espaços dos seus combos e do seu número para interrompê-los.
O que realmente preocupa mais do que a maré incessante de adversários bobos é a falta de upgrades significativos, novas habilidades, armas ou itens que sejam realmente úteis. A loja que pode ser usada após ou durantes as fases abriga upgrades de saúde, medidor e alguns explosivos inúteis que podem ser jogados, causando um efeito ínfimo. O conjunto de combos e movimentos é o mesmo desde o início do jogo, tornando a variedade do seu gameplay um padrão repetitivo que se estende por seis horas.
O seu level design também não é dos mais inspirados, contendo elementos e obstáculos de plataforma genéricos onde a sua movimentação é pior que muitos jogos da era onde ele é inspirado. O pulo é estranhamente pesado, impreciso e duro, e sempre que o jogo exige que ele navegue por perigos e alcance plataformas mais altas, parece um desastre de design; ainda bem que o núcleo da sua jogabilidade não se sustenta nestes momentos, se não ele seria ainda pior do já é.
Gráficos e Direção de Arte
No mundo imersivo de Slave Zero X, a atmosfera é tão sombria quanto intrigante e violenta com muito sangue e com um toque de nostalgia retro nos gráficos 3D de fundo, evocando o estilo visual característico do Dreamcast/PS1.
Tanto Shou/X quanto os inimigos são retratados visualmente com sprites pixelados levemente animados, contrastando com os campos de batalha meticulosamente elaborados em 3D, repletos de detalhes e profundidade, reminiscentes dos jogos clássicos. É uma fusão única que pode cativar alguns com uma nostalgia específica, enquanto intriga outros com sua abordagem inovadora.
A artwork de personagem é habilmente entrelaçada em Slave Zero X, aparecendo em retratos de personagens no HUD e em sequências narrativas intersticiais, emprestando uma aura de romance visual à aventura.
A atmosfera do jogo é verdadeiramente envolvente, transportando os jogadores para ruas abandonadas da cidade, com mudanças dinâmicas no ambiente conforme avançam adicionando elementos bidimensionais para aplica profundidade nas suas ruas biopunk.
Trilha Sonora e Som
Blake Troise assume a batuta da trilha sonora de Slave Zero X, elevando a experiência a um novo patamar auditivo. Com ritmos acelerados de drum ‘n’ bass, as músicas eletrônicas não apenas acompanham, mas também definem o ritmo das situações, algumas delas se destacando como verdadeiros marcadores de momentos-chave. A trilha sonora, com sua pulsante energia eletrônica, consegue capturar perfeitamente o clima opressor da aventura, embalando os jogadores em uma jornada frenética.
A dublagem, tanto em japonês quanto em inglês, adiciona uma camada extra de imersão, com atuações que satisfazem em ambos os idiomas. O jogo possui localização para PT-BR com legendas.
Vale a Pena?
Slave Zero X é um jogo que busca encontrar sua identidade, oferecendo uma experiência desafiadora que pode não agradar a todos os jogadores. Embora demonstre clareza em sua proposta, enfrenta desafios relacionados à qualidade de vida, como problemas de visibilidade durante as batalhas e questões técnicas, como gráficos borrados e travamentos ocasionais. Apesar disso, sua abordagem menos guiada em comparação com jogos modernos é vista como um ponto positivo por alguns, permitindo uma sensação de descoberta e desafio mais genuína.
A curva de aprendizado íngreme pode ser intimidante para alguns jogadores, exigindo dedicação e paciência para dominar seus sistemas de combate. No entanto, para aqueles que buscam desafios complexos e estão dispostos a explorar todas as nuances do jogo, Slave Zero X oferece uma experiência gratificante, repleta de combos elaborados e mecânicas intricadas. No entanto, a repetitividade pode ser um ponto fraco, especialmente considerando seu preço de varejo relativamente alto, e a falta de conteúdo além da busca por melhores classificações em cada fase pode deixar alguns jogadores em busca de mais variedade e progressão.
*Jogo analisado no PS5 com cópia digital fornecida pela Ziggurat Interactive.
Notas do Jogo
Título: Slave Zero X
Descrição do jogo: Do topo da Megacidade S1-9, o Soberano Khan governa a punhos de ferro e carne. Sob as fundações apodrecidas da cidade, um guerreiro vingativo embarca em uma jornada para assassiná-lo. Ambientado cinco anos antes dos eventos de Slave Zero, em Slave Zero X você voltará a um mundo onde horrendas máquinas vivas, conhecidas como Escravas, recebem treinamento para se tornarem as mais avançadas ferramentas bélicas da longa e sangrenta história da humanidade. Um bando secreto de guerreiros, conhecidos como Guardiões, espera impedir que esses biomechas sejam lançados no mundo, mas um de seus espadachins tem outra ideia: usar a própria arma do inimigo contra ele. Ao se fundir com um Protótipo de Unidade Escrava roubado, Shou virará um Diabo furioso em busca da morte de um falso Deus.
Gênero: Ação e Side-Scrolling
Lançamento: 18/02/2024
Produtora: Poppy Works
Distribuidora: Ziggurat Interactive, Inc.
Nota
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História - 7/10
7/10
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Jogabilidade - 6.5/10
6.5/10
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Gráficos - 7/10
7/10
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Trilha Sonora e Som - 7/10
7/10
Veredito
Slave Zero X é um jogo que busca encontrar sua identidade, oferecendo uma experiência desafiadora que pode não agradar a todos os jogadores. Embora demonstre clareza em sua proposta, enfrenta desafios relacionados à qualidade de vida, como problemas de visibilidade durante as batalhas e questões técnicas, como gráficos borrados e travamentos ocasionais. Apesar disso, sua abordagem menos guiada em comparação com jogos modernos é vista como um ponto positivo por alguns, permitindo uma sensação de descoberta e desafio mais genuína.
A curva de aprendizado íngreme pode ser intimidante para alguns jogadores, exigindo dedicação e paciência para dominar seus sistemas de combate. No entanto, para aqueles que buscam desafios complexos e estão dispostos a explorar todas as nuances do jogo, Slave Zero X oferece uma experiência gratificante, repleta de combos elaborados e mecânicas intricadas. No entanto, a repetitividade pode ser um ponto fraco, especialmente considerando seu preço de varejo relativamente alto, e a falta de conteúdo além da busca por melhores classificações em cada fase pode deixar alguns jogadores em busca de mais variedade e progressão.
Vantagens
- Desafiante;
- Arte em pixel em conjunto com cenários 3D evocam um sentimento nostálgico;
- Boa trilha sonora.
Desvantagens
- Poucos combos, movimentos e upgrades;
- Baixíssima variedade de inimigos;
- Curva de dificuldade esquisita e punitiva;
- Os saltos são frustrantes e imprecisos;
- Ciclo repetitivo de gameplay.