O Marvel’s Spider-Man 2 marca o tão aguardado retorno da Insomniac ao universo de um dos super-heróis mais emblemáticos do mundo. Ao prosseguir com a narrativa de Peter Parker e Miles Morales, a espera prolongada por essa sequência gera uma pergunta: será que ela corresponde às altas expectativas ou se enrola em sua própria teia de hype?
A Insomniac parecia destinada a criar uma experiência centrada no Homem-Aranha. Desde seu evidente interesse em exploração em Sunset Overdrive até sua habilidade notável demonstrada em Ratchet & Clank, era uma parceria perfeita. Isso se consolidou com o lançamento de Marvel’s Spider-Man em 2018, um jogo que celebrou o legado do Aranha enquanto revitalizava sua mitologia e oferecia uma perspectiva valiosa do personagem e seu universo. Além disso, o jogo independente focado em Miles Morales estabeleceu uma base sólida para o futuro.
Agora, após uma espera de cinco anos, o público finalmente recebe a tão aguardada continuação. Dado o imenso carinho pelo primeiro jogo, as expectativas só aumentaram. Portanto, a questão que se coloca é: será que Marvel’s Spider-Man 2 está à altura do que as pessoas esperam?
[lwptoc]
História
Peter Parker precisa trabalhar para conseguir pagar a hipoteca da casa da Tia May e para isso começa no seu primeiro dia como professor na escola de Miles Morales. Antes da aula começar, a cidade é atacada por Flint Marko, o Sandman. Conseguindo fugir em meio ao caos, Peter e Miles partem em direção ao gigante de areia que está destruindo a cidade e conseguem prendê-lo. Ao retornar, Peter é demitido no primeiro dia por ter abandonado os alunos.
Peter e Mary Jane estão na casa da Tia May e são surpreendidos por Harry Osborn, que acabou se recuperando de forma milagrosa de uma doença em fase terminal. Se oferecendo para contratar Peter para uma startup chamada, Fundação Emily-May, Harry quer “curar o mundo” com uso de tecnologia e ciência e precisa da ajuda do melhor amigo para isso.
Miles vive questões sobre seu passado, presente e futuro. Passado porque ele não consegue superar a morte de seu pai por Martin Li. Presente porque ele vive o drama de conciliar sua vida escolar com ser herói. E futuro porque ele não sabe ainda que rumo tomar para a sua vida e se vê em conflito ao escrever sua redação de inscrição para a faculdade.
Vivendo cada um a sua vida e tendo como união a defesa de New York, Peter e Miles trabalham juntos como uma equipe. Em um dia comum de transporte de prisioneiros, os dois testemunham o ataque de Kraven, The Hunter e seu exército pessoal que acabam capturando o Scorpion, Martin Li, Vulture e a maioria dos supervilões conhecidos. Ao investigar, Peter descobre que Kraven captura indivíduos poderosos afim de caçá-los até a morte. O propósito é encontrar um adversário tão formidável que dê a Kraven uma morte honrada.
É nesse interim que vamos percebendo que a cura de Harry se trata do uso de uma espécie alienígena, o simbionte Venom. Por uma soma de acontecimentos, Venom escolhe Peter para ser seu hospedeiro. Enquanto Peter ganha poderes nunca antes alcançados, ele se vê cada vez mais fundo em uma teia de controle do simbionte, o levando a deturpar a sua opinião sobre si, seus amigos e a sua noiva, Mary Jane.
Enquanto Peter se perde cada vez mais, Miles tenta trazê-lo a si, Mary Jane se sente abandonada e Harry Osborn acredita estar sendo traído pelo seu maior amigo e vê o retorno do avanço de sua doença degenerativa.
Campanha
Se existisse um tema foco da campanha de Marvel’s Spider-Man 2, é que o jogo se esforça em desenvolver e esmiuçar as motivações de seus personagens. O jogo apresenta um Peter Parker cansado de ser o Spider-Man, onde ser um herói não o ajuda a resolver problemas pessoais, se apresentando um fardo que trava a sua vida.
Miles ganha um destaque grande na narrativa, onde se apresenta o personagem mais maduro do roteiro, sendo ponto de apoio moral para Peter e um suporte valioso tendo protagonismo em diversas cenas de combate.
A história se desenrola de forma ágil, com logo de início chutando a porta com uma sequência de cenas impressionantes, algo que se repete por quatro a cinco vezes durante as 15 horas da campanha principal.
O jogo possui quebras de ritmo narrativo, onde algumas servem para estabelecer pano de fundo para relacionamento de Peter, Harry e Mary Jane, mas outras se revelam pouco essenciais para o funcionamento geral da campanha, como a missão de Hailey Cooper ao perseguir uma pichadora.
É impressionante perceber que todos os personagens principais do enredo possuem motivações reais e tangíveis que encaixam no todo do roteiro. Com Kraven estabelecendo a motivação da história progredir e se mostrando uma ameaça real e sendo o autor da ameaça final. Alguns acontecimentos acabam não sendo muito bem resolvidos, como a mudança repentina de Harry Osborn ou a resolução do drama de Miles.
Gameplay
Uma das joias da coroa da série reside na travessia e na mecânica fluida e dinâmica de atravessar a cidade de Nova Iorque usando as teias. Ficaria difícil imaginar algum espaço para melhoria, mas a Insomniac Games conseguiu enriquecê-la ainda com a inclusão das asas de teia.
Com as asas de teia, os Spiders conseguem planar entre e acima dos prédios em alta velocidade. Para potencializar a nova mecânica o jogo adiciona túneis de ar que aceleram e estabilizam o vôo enquanto saídas de vento dos prédios e jogam pra cima. Com todas essas novidades, balançar e fazer acrobacias com a teia enquanto você encadeia o uso das asas cria uma nova experiência em relação aos jogos anteriores, onde também podemos usar habilidades focadas na travessia para conseguir impulsos no ar, se transformando em um jogo extremamente divertido de jogar.
Habilidades
Se mostrando como uma verdadeira junção de dois jogos, temos três árvores de habilidades, onde duas são separadas que representam a exclusividade de poderes do Peter Parker e do Miles Morales que possuem distinções, mesmo que pequenas, em seu gameplay e uma compartilhada que apresentam movimentos em comum.
Enquanto Miles possui os poderes Venom, focados em descargas elétricas, Peter ganha as garras mecânicas que antes eram exclusivas do traje e agora fazem parte padrão e posteriormente conquista as habilidades da roupa simbionte, focadas em força bruta usando tentáculos do traje.
Combates
Usar os dois evita uma parte do cansaço e repetição natural que possa vir com um jogo desse estilo, já que estamos no terceiro jogo e é normal surgir um sentimento “mais do mesmo” da franquia, já que no fim, a jogabilidade funciona da mesma forma que nos jogos anteriores. Apesar de ser divertido todo o combate intuitivo e plástico da série, depois de algumas horas, lutar contra hordas começa a se tornar desgastante. Para remediar e atenuar essa sensação, o jogo diversifica e renovar o desafio adicionando mais tipos de inimigos com novos movesets, ataques em conjuntos com os dois Spiders, além de criar uma nova mecânica de parry, onde ataques que não são possíveis de serem esquivados podem ser rebatidos para atordoar inimigos e serem contra atacados.
O ponto mais alto de sua mecânica de combate vem das maravilhosas lutas contra chefes. Abandonando a limitação e um design meio datado dos dois jogos anteriores, em Marvel’s Spider-Man 2 elas são uma das melhores do mercado, rivalizando com outro jogo lançado neste ano, o Final Fantasy XVI.
Com várias etapas, esses combates são o ponto mais alto de toda a experiência narrativa do jogo. Com funcionamentos diferentes, cada uma utiliza todas mecânicas novas e existentes do jogo, forçando o jogador a dominá-las. Apesar de serem fáceis de entender os padrões de golpe e as janelas de ataque, o jogo permite tanto uma abordagem mais agressiva quanto uma mais defensiva, seja encadeando habilidades especiais, gadgets (diminuídos de sete para quatro) e combos ou esperando ataques para serem rebatidos com o propósito de atordoar o inimigo.
Furtividade
O jogo retorna com o seu lado mais furtivo, apesar de não ter ganho grandes novidades e ter sido um pouco negligenciado aqui. O funcionamentos deles é praticamente é o mesmo, seja nas suas qualidades quanto nos seus defeitos. A novidade mais substancial reside na possibilidade de estender fios de teia criando passagens pelo teto para conseguir andar e abater inimigos em áreas mais abertas. Por outro lado, a inteligência artificial continua rudimentar, sendo fáceis de enganar.
Falando em modo furtivo, o jogo traz de volta as partes que podemos jogar com a Mary Jane. Muito criticado no primeiro jogo, aqui ela ganhou melhorias notáveis, que embora não seja o ponto alto da experiência, pelo menos não chega a prejudicar como aconteceu no jogo de 2018. Mary Jane agora ganhou uma arma de choque e agora pode abater inimigos de forma furtiva. Outro elemento novo é que ser notada não nos leva para uma tela de game over, mas ela possui uma pequena barra de saúde importante fundamental para não quebrar o ritmo.
Missões secundárias
As missões secundárias ganharam ligeiras melhoras, mas como acontece regularmente em tantos jogos de mundo aberto, elas não escapam de se tornarem repetitivas ao decorrer do tempo. Mesclando tarefas bestas e criativas, diminuindo atividades inúteis e chatas e adicionando micro histórias divertidas, o resultado no fim é satisfatório nessa área, mas não o bastante para ganhar algum destaque.
Gráficos e Direção de Arte
A cidade de Nova York retorna, mas não simplesmente com pequenas mudanças, mas com adições e melhorias notáveis. As primeiras anunciadas foram as adições dos bairros do Brooklyn e Queens, com essas novidades o mapa se torna duas vezes maior que jogos anteriores. A segunda adição foi uma maior densidade de vida para a cidade, com mais veículos e pedestres trazendo mais vida para os bairros da Ilha de Manhattan.
Outra melhoria gráfica perceptível está presente nas texturas dos trajes. Com representações visuais de qualidade, é possível diferenciar os diferentes materiais que compõe os uniformes tanto de Peter quanto de Miles assim como o visual gosmento do traje do simbionte Venom.
Utilizando mais uma vez a tecnologia que impressionou no anúncio do PS5, a Insomniac Games mostrou a ligeira transição de mapas em Ratchet and Clank: Em Uma Outra Dimensão ao usar o SSD do console da PlayStation e em Marvel’s Spider-Man 2 o recurso se mostra mais uma vez. Presente em diversas cenas espetaculares onde há o uso de um notável processamento rápido de renderização da cidade, o jogo se torna exemplo da capacidade da atual geração de consoles nesse sentido onde não só se resume a cenas da campanha, mas também presente na imperceptível transição de Spider-Mans ou no uso da Viagem Rápida, onde o jogador sequer percebe o carregamento da transição.
Possuindo dois modos gráficos, o modo Fidelidade permite rodar o jogo a 30 FPS com uma grande taxa de resolução ou 40 fps a 120 Hz. Já o modo Desempenho roda a 60 FPS com uma ligeira queda na resolução. Ambos os modos possuem suporte ao ray tracing, se tornando sutil e atraente ao enxergar o reflexo nas janelas dos prédios de Manhattan.
No geral, tanto a direção de arte, os modos de desempenho, qualidade gráfica, iluminação, as belas expressões faciais e animações são de alta qualidade, mas seus problemas residem em uma soma grande de bugs que testemunhei na minha experiência. Durante o meu gameplay, tive quatro bugs importantes que me obrigaram a ter que reiniciar o jogo ou o save, algo que não esperava ,vindo de uma produção da Insomniac Games e que espero que seja consertado nos próximos patches.
Trilha Sonora e Som
E pela terceira vez, a trilha sonora é composta pelo John Paesano, compositor de trilhas de jogos como Mass Effect: Andromeda, Gran Turismo Sport e Detroit: Become Human. Como todos os jogos da série, o compositor segue todas aquelas músicas famosas de heróis, com muito uso de trompetes, só que como temos os dois personagens juntos, a trilha se diferencia um pouco de Peter para Miles, onde Miles Morales possui mais batidas originárias de Hip-Hop e Jazz.
Dessa vez, é fácil notar que houve um maior trabalho na composição de músicas em cenas chave, escalando e mudando de tom conforme as ações vão se intensificando na tela, seja adotando um tom mais sério, mais épico ou mais dramático. Sem dúvida, Marvel’s Spider-Man 2 vai figurar na premição de Melhor Trilha Sonora de 2023.
O jogo conta mais uma vez com a dublagem em português do Brasil. A dublagem continua competente, mas dessa vez ela ganhou uma qualidade ainda maior por conta do roteiro mais dramático, reservando momentos de pura qualidade de interpretação.
Vale a Pena?
Quando a Insomniac mergulha no cerne do assunto, seja com Peter ou Miles, o resultado é espetacular. Tornar-se um amigo da vizinhança é cativante.
Com sucessos anteriores como Spider-Man: Miles Morales e Ratchet and Clank: Em Uma Outra Dimensão, a Insomniac Games continua impressionando com mais um lançamento de destaque nesta geração. Marvel’s Spider-Man 2 brilha como um dos melhores jogos de super-herói lançados. Sendo uma sequência confiante que aprimora todos os aspectos dos jogos anteriores. Inteligentes adições e refinamentos na travessia e combate fazem deste o melhor jogo do Homem-Aranha da Insomniac até agora.
Apesar de grande e bonito, o mundo aberto de Nova York carece de uma reformulação radical, com missões secundárias mais criativas e menos repetitivas. Outro problema reside nos diversos bugs que acabei testemunhando que atrapalharam a experiência.
Com uma história que humaniza e trabalha muito nas motivações de todos os personagens, o jogo equilibra humor, drama e cenas memoráveis tornando realidade diversos sonhos dos fãs dos quadrinhos ao trazer momentos marcantes à vida e reproduzindo epicamente um arco emblemático de Peter Parker.
Notas do Jogo
Título: Marvel's Spider-Man 2
Descrição do jogo: Os Spiders Peter Parker e Miles Morales vão testar a força que têm, com e sem a máscara, enquanto lutam para salvar a cidade, um ao outro e as pessoas que amam do monstruoso Venom e de uma perigosa e nova ameaça: os simbiontes. Explore uma Nova York expansiva da Marvel usando um balanço de teia mais ágil e as inéditas Asas de Teia e alterne rapidamente entre o Peter e o Miles para viver diferentes histórias, descobrir novas habilidades épicas e ter acesso a equipamentos avançados. Use as habilidades de simbionte do Peter e os poderes bioelétricos explosivos do Miles nas batalhas contra supervilões inéditos e icônicos da Marvel, incluindo uma versão original de um Venom dominado pelo simbionte, o implacável Kraven The Hunter, o volátil Lizard e muito mais da coletânea de bandidos da Marvel.
Gênero: Ação
Lançamento: 20/10/2023
Produtora: Insomniac Games
Distribuidora: Sony Interactive Entertainment
Nota
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História - 9/10
9/10
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Jogabilidade - 8.5/10
8.5/10
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Gráficos - 8.5/10
8.5/10
-
Trilha Sonora e Som - 10/10
10/10
Veredito
Quando a Insomniac mergulha no cerne do assunto, seja com Peter ou Miles, o resultado é espetacular. Tornar-se um amigo da vizinhança é cativante.
Com sucessos anteriores como Spider-Man: Miles Morales e Ratchet and Clank: Em Uma Outra Dimensão, a Insomniac Games continua impressionando com mais um lançamento de destaque nesta geração. Marvel’s Spider-Man 2 brilha como um dos melhores jogos de super-herói lançados. Sendo uma sequência confiante que aprimora todos os aspectos dos jogos anteriores. Inteligentes adições e refinamentos na travessia e combate fazem deste o melhor jogo do Homem-Aranha da Insomniac até agora.
Apesar de grande e bonito, o mundo aberto de Nova York carece de uma reformulação radical, com missões secundárias mais criativas e menos repetitivas. Outro problema reside nos diversos bugs que acabei testemunhando que atrapalharam a experiência.
Com uma história que humaniza e trabalha muito nas motivações de todos os personagens, o jogo equilibra humor, drama e cenas memoráveis tornando realidade diversos sonhos dos fãs dos quadrinhos ao trazer momentos marcantes à vida e reproduzindo epicamente um arco emblemático de Peter Parker.
Vantagens
- Campanha carrega muitos momentos memoráveis;
- Combate continua rápido, dinâmico e divertido;
- Mecânica de travessia enriquecida com as asas de teia;
- Combates épicos contra chefes;
- Boas texturas de trajes e animações;
- Trilha sonora e dublagem enriquecem momentos narrativos.
Desvantagens
- Missões secundárias continuam repetitivas;
- Inteligência artificial continua ruim em partes furtivas;
- Novas áreas não agregam na jogabilidade;
- Bugs prejudicam a experiência;