A mudança da desenvolvedora da franquia Little Nightmares da Tarsier Studios para a Supermassive Games gerou uma onda de ceticismo entre os fãs. Apesar de a nova responsável ter trabalhado na “Enhanced Edition” do segundo jogo, a tarefa de criar uma sequência original era um desafio completamente diferente. Agora, com o lançamento de Little Nightmares 3, a pergunta que paira no ar é: a Supermassive conseguiu capturar a essência perturbadora da série?
Infelizmente, a resposta é não. O terceiro título não apenas fica aquém de seus antecessores, como também falha em aproveitar o potencial de suas próprias inovações. O jogo tropeça em problemas antigos e subutiliza novos elementos, resultando em uma experiência que, no final, não consegue justificar sua própria existência.
Little Nightmares 3 foi lançado no PlayStation 5 em 09 de Outubro de 2025.
Vídeo de Gameplay do Little Nightmares 3
História e Campanha
Em Little Nightmares 3, acompanhamos a jornada de Low e Alone, duas crianças perdidas no mundo distorcido da Espiral. Sua única esperança de escapar desse reino de horrores reside em espelhos portais, que as transportam entre locais sinistros como um deserto abandonado, uma fábrica de doces distópica e um parque de diversões perverso.
Fiel ao espírito da série, o jogo praticamente não oferece explicações. A narrativa é construída através da ambientação, das interações silenciosas entre os protagonistas e de pistas ambientais que o jogador deve conectar. Grande parte da história depende da interpretação, um convite constante para decifrar o que realmente se passa. Flashbacks ocasionais iluminam fragmentos do passado de Low e Alone, mas as respostas completas permanecem deliberadamente fora de alcance.
Esse véu de mistério é, em grande parte, o que impulsiona a experiência. A necessidade de entender o que está em jogo e o que esses personagens estão fugindo, ou buscando, cria um engajamento profundo. Após aproximadamente quatro horas, a conclusão da campanha principal traz uma revelação de peso, particularmente em relação ao arco de um dos personagens. O jogo aborda, de forma sutil, traumas reais envolvendo crianças, deixando uma marca emocional. Para quem gosta de explorar significados mais profundos, a história tem o poder de tocar o coração, mesmo que várias perguntas permaneçam, provavelmente para serem abordadas em uma expansão futura.
No entanto, a execução desse mundo e de seus perigos deixou a desejar. Ao longo dos quatro capítulos e de minhas 3,5 horas de jogo, a atmosfera e os pesadelos não conseguiram me impressionar. Diferente dos títulos anteriores, nunca me senti na ponta da cadeira.
O capítulo inicial, ambientado em um deserto com ruínas, já estabeleceu um tom inesperado. A aparição de um bebê-boneca gigante foi mais peculiar do que genuinamente assustadora. O segundo capítulo, com seus corredores escuros e vigiados por câmeras, introduziu uma ameaça mais promissora: uma mulher de múltiplos braços que, ao ser perseguida, abandona suas pernas e se arrasta como uma aranha humanoide. A ideia é perturbadora, mas a sequência é curta demais para construir uma tensão significativa.
Little Nightmares sempre foi assustador por mergulhar no inexplicável, confrontando-nos com pesadelos que pareciam vir do subconsciente. Esta sequência, no entanto, parece confiar demais em cenários e perseguições rotineiras para gerar tensão, deixando para trás muito da essência que outrora tornou a série tão singular e memorável.
Gameplay
A jogabilidade de Little Nightmares 3 é intencionalmente simples, baseando-se em quebra-cabeças elementares, furtividade e perseguições lineares. A inovação fica por conta das ferramentas dos protagonistas: Low usa um arco para interagir com alvos distantes, enquanto Alone emprega uma chave inglesa para destruir obstáculos. No entanto, a Supermassive não soube equilibrar essa dinâmica, fazendo de Low o personagem principal na prática e relegando Alone a um papel de suporte, o que é uma falha significativa tanto para o cooperativo quanto para o single player.
Algumas raras sequências de combate, onde é preciso coordenar os ataques dos dois personagens, mostram um vislumbre do potencial do trabalho em equipe. Porém, esses momentos são escassos. Outra decepção é a ausência do cooperativo local, um erro incompreensível para uma franquia que sempre pareceu feita para se jogar a dois no mesmo sofá. O consolo é o sistema de passe de amigo, que permite jogar online com um amigo que não possui o jogo.
Os quebra-cabeças são geralmente esquecíveis, com uma notável exceção: a mecânica de mundo duplo no capítulo final, infelizmente subutilizada. Apesar da jogabilidade básica, o jogo oferece uma experiência relaxante, embora muito mais linear e menos memorável que a de seus predecessores.
O ponto alto incontestável é a atmosfera. A Supermassive cria um mundo de inquietação e pavor através de uma direção de arte impecável, com ambientes que contam histórias sem diálogos. A transição entre locais absurdos, como um covil de uma criatura similar a uma aranha para um parque de diversões sinistro, é feita com maestria, mantendo vivo o espírito da série.
No modo single player, a IA companion é funcional, mas frequentemente falha em momentos cruciais, uma consequência direta de um design focado no cooperativo que prejudica a experiência solo. A presença constante de um parceiro, seja real ou controlado pela IA, reduz sensivelmente a tensão que caracterizava os jogos anteriores.
Vale a Pena?
Com uma atmosfera imersiva que honra a herança da série, Little Nightmares 3 entrega uma experiência visualmente cativante e narrativamente competente. A Supermassive demonstra domínio na construção de mundos, criando cenários que contam histórias de forma sutil e eficaz. No entanto, sob essa superfície polida, o jogo revela uma jogabilidade excessivamente segura e pouco inovadora.
Os elementos de terror, embora atmosféricos, raramente alcançam a intensidade esperada, resultando em uma experiência mais inquietante do que verdadeiramente assustadora. A jogabilidade mantém a fórmula conhecida da série, porém sem evoluí-la significativamente. O tão aguardado modo cooperativo, restrito ao online, acaba se tornando mais um obstáculo do que uma evolução, especialmente para quem joga sozinho, onde a IA companion mostra suas limitações.
Embora seja uma jornada sólida e visualmente deslumbrante, Little Nightmares 3 não consegue reproduzir a magia distintiva de seus predecessores. É uma adição competente à franquia, mas que deixa a sensação de que poderia ter ousado muito mais para criar algo verdadeiramente memorável.
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Notas do Jogo
Título: Little Nightmares 3
Descrição do jogo: Little Nightmares III é um jogo de aventura imersivo que acompanha a jornada de Low e Alone, dois melhores amigos em busca de uma saída de Lugar Nenhum.
Gênero: Ação e Aventura
Lançamento: 09/10/2025
Produtora: Supermassive Games
Distribuidora: Bandai Namco Entertainment
Nota
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História - 7/10
7/10
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Jogabilidade - 7.5/10
7.5/10
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Gráficos - 8/10
8/10
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Trilha Sonora e Som - 7/10
7/10
Veredito
Little Nightmares 3 mantém a atmosfera imersiva e a narrativa ambiental que consagraram a franquia, com visuais impressionantes e cenários cheios de personalidade. No entanto, a jogabilidade segue excessivamente segura e linear, sem evoluir a fórmula original. O modo cooperativo online, embora funcional, não substitui a ausência do cooperativo local e prejudica a experiência solo com uma IA inconsistente. Momentos criativos pontuais não compensam a sensação de desequilíbrio entre os personagens. É uma aventura competente visualmente, mas que peca pela falta de ambição e inovação.
Vantagens
- Atmosfera viva e direção de arte deslumbrante
- Construção de mundo rica que incentiva a exploração
Desvantagens
- Não captura a atmosfera única de Little Nightmares
- Experiência em single-player parece uma reflexão tardia
- Falta de inovação e quebra-cabeças reciclados
- Desequilíbrio de ritmo e jogabilidade frustrante
- Ausência de cooperação local (couch co-op)
