Em 2018, a indústria de jogos foi surpreendida pelo estúdio indie neozelandês A44, que lançou seu primeiro projeto, Ashen. Este jogo trouxe uma experiência Soulslike cativante, ambientada em um mundo desolado e minimalista. Apesar de ser uma obra sólida, enfrentou críticas devido a dificuldades frustrantes e problemas de equilíbrio.
Agora, seis anos depois, a A44 volta ao cenário com seu segundo lançamento, Flintlock: The Siege of Dawn. Flintlock mantém vários elementos característicos dos jogos Soulslike, mas seu principal objetivo é ser um RPG de ação muito mais acessível. Embora muitos jogos tenham tentado encontrar esse equilíbrio, poucos conseguiram fazer isso tão bem quanto Flintlock.
História
No mundo fictício de Kian, a trama de Flintlock: The Siege of Dawn segue Nor Vanek, uma sapadora — uma mescla de mecânica e soldado — pertencente à elite do exército da Coalizão. Quando o portão para o submundo da cidade do Amanhecer se torna frágil, diversas criaturas mortas-vivas começam a invadir o mundo humano. As tropas da Coalizão resistem, e após uma década de amarga resistência, decidem por fim à praga zumbi explodindo o portão com toneladas de pólvora negra.
Participamos dessa missão suicida e conseguimos detonar a bomba. No entanto, isso resulta no oposto do que esperávamos: a barreira protetora desmorona, libertando não apenas mortos-vivos, mas também deuses no mundo. Um dos nossos aliados perece, os restantes camaradas se dispersam e Nor cai em um abismo.
Após o desastre, Nor desperta em uma caverna, claramente descontente com os deuses. Felizmente, alguém a salva da morte certa. A criatura semelhante a uma raposa, chamada Enki, aparece e se oferece para ajudar Nor em sua luta contra os deuses.
Campanha
O ponto de partida de Flintlock tem muito a oferecer para uma narrativa envolvente, mas infelizmente, grande parte desse potencial é desperdiçado. Não me entendam mal, o cenário é meticulosamente trabalhado, com trincheiras enlameadas, mosquetes e exercícios militares coexistindo com seres divinos, mágicos e belamente projetados. Apesar de Flintlock não ser uma referência técnica, ele ainda consegue evocar ambientes de design elegante.
Contudo, mesmo um cenário bem implementado não pode salvar uma história se ela for mal contada. Na cena da morte dramaticamente encenada do nosso aliado no prólogo do jogo, apenas encolhemos os ombros. Afinal, nós, como jogadores, conhecemos nosso colega em três frases há apenas cinco minutos. À medida que a história avança, reunimos novamente os camaradas sobreviventes, e o jogo tenta trazer mais profundidade às amizades. No entanto, isso realmente não funciona.
Enquanto Nor e Enki formam um pequeno grupo de aliados para enfrentar seus inimigos divinos, Flintlock conta uma história adequada apoiada por performances mais fortes. No entanto, o desenvolvimento significativo dos personagens poderia ser mais consistente. Embora a evolução da parceria desconfortável de Nor e Enki pareça merecida com algumas revelações decentes, o restante do elenco de apoio não recebe o mesmo cuidado, tornando difícil se importar com eles. O panteão de antagonistas primários parece igualmente desinteressante, pois pouco tempo é gasto estabelecendo suas personalidades ou propósito neste mundo; são apenas sacos de pancadas de aparência legal que ocasionalmente provocam os jogadores.
Como uma nova IP, a narrativa tem muito o que mastigar, com grandes noções de deuses, magia e reinos exteriores. O mundo de Flintlock é interessante, tanto visual quanto conceitualmente. Tirar inspirações claras do período napoleônico e fundi-las com fantasia cria um cenário intrigante, e a tradição por trás do panteão destrutivo tem grande potencial. O design de alguns, se não todos, os personagens é excepcional, parecendo muito conectados ao mesmo mundo. Por mais únicos que pareçam, eu simplesmente não estava investido em sua história. Com exceção de algumas revelações no final do jogo, a narrativa cai por terra, com escrita e performances pouco inspiradas que não conseguem realizar o potencial do cenário.
Gameplay
A jogabilidade de Flintlock combina plataformas flutuantes com um combate estilo Soulslite. No início, você não tem acesso a habilidades como dash, pulo, aparar, esquivar, ataque corpo a corpo leve e ataque à distância com arma de fogo. Após conhecer Enki, o misterioso espírito parecido com uma raposa, você ganha acesso a um pulo duplo e uma esquiva aérea, que são essenciais para atravessar as diferentes plataformas no mundo superior. No entanto, o pulo e a esquiva podem parecer estranhos devido ao atraso e à flutuação, o que, combinado com imprecisões e bordas mal rotuladas, torna algumas desafios de plataforma inconsistentes. Enki também pode teletransportar você através de pontos de brilho semelhantes a portais, mas todos são bastante lineares, exigindo apenas um simples pressionar de botão.
Embora Flintlock seja descrito como um “Souls-lite” e apresente tropos familiares, como a recuperação de pontos de experiência perdidos (chamados de Reputação) ao morrer, eu não o classificaria como um jogo desafiador. A maioria das ameaças pode ser derrotada com facilidade, e nenhuma das lutas contra chefes exigiu mais do que algumas tentativas; surpreendentemente, o chefe final é o mais fácil de todos.
A mecânica de combate mais interessante é um multiplicador de pontos de experiência (Reputação), que aumenta conforme você executa diferentes ataques e ações. Isso incentiva os jogadores a variar criativamente seus ataques. No entanto, você deve adicionar manualmente esses pontos ao seu pool de XP segurando um botão direcional; se não fizer isso, receber dano zera o contador, o que significa que você pode terminar um encontro completo e ir embora com pouco para mostrar (embora inimigos maiores ainda deixem cair uma quantidade garantida de XP). Gosto de como esse sistema adicionou mais tensão e intencionalidade ao combate.
Você ganha Reputação ao derrotar inimigos, e há um bônus adicional de Reputação por não ser atingido. A mecânica interessante aqui é a escolha entre depositar o valor do bônus imediatamente ou arriscar perder essa porcentagem de bônus se for atingido antes de depositar. No entanto, se você morrer, perde toda a sua Reputação, exatamente como nos jogos Souls, e precisa recuperá-la no local da sua morte.
A progressão em Flintlock é estruturada por meio de uma árvore de habilidades dividida em três categorias: pólvora (dano à distância), magia (dano de Enki) e aço (dano corpo a corpo). O salto duplo e a esquiva aérea mencionados anteriormente são desbloqueados nessa árvore. Além dessas, há outras habilidades interessantes, como carregar um tiro da pistola, aumentar a eficácia das poções de cura ou desviar de projéteis inimigos com um bloqueio bem cronometrado.
Explorar o mundo do jogo é recompensador, pois várias armas e armaduras estão escondidas em baús de tesouro espalhados pelo cenário. Isso incentiva os jogadores a se desviarem do caminho principal para descobrir esses itens valiosos. Felizmente, há muitos pontos de viagem rápida, conhecidos como Lodestones (equivalentes às fogueiras), que facilitam o deslocamento pelo mapa.
Nas fogueiras, você também pode interagir com seus companheiros e amigos, que aparecem nesses pontos. Eles oferecem a possibilidade de atualizar seu equipamento ou participar de jogos de Sebo, proporcionando momentos de interação e melhoria contínua do seu personagem.
Você pode estar se perguntando o que é Sebo. É o único minijogo introduzido em Flintlock e pode ser jogado com uma variedade de personagens ao longo de sua jornada. Sebo é uma versão do tradicional jogo da velha, onde os jogadores precisam formar uma fenda triangular no menor número possível de turnos. Durante o jogo, os jogadores se revezam entre ataque e defesa, com o objetivo de formar o triângulo ou impedir que o oponente complete o seu. Moedas especiais podem ser encontradas pelo mundo e oferecem vantagens nas partidas, como a capacidade de jogar uma moeda em qualquer lugar do tabuleiro.
Embora o Sebo seja uma adição interessante no início do jogo, ele tende a se tornar monótono rapidamente. A única recompensa que você recebe por jogar Sebo são pontos de Reputação, o que pode não ser suficiente para manter o interesse a longo prazo.
Combate
Mais do que apenas um animal emplumado, Enki se revela um aliado indispensável em batalha. Com um simples toque de botão, seus ataques direcionados não só causam dano aos inimigos, mas também preenchem gradualmente um medidor de maldição. Quando esse medidor atinge o máximo, Enki é capaz de atordoar os inimigos, tornando-os vulneráveis a um ataque crítico devastador.
Além disso, Enki possui uma habilidade especial: o ataque final conhecido como Withering. Este ataque não só inflige dano significativo, mas também acumula maldição nos inimigos, amplificando ainda mais o impacto de suas investidas.
A assistência de Enki se torna ainda mais poderosa conforme você desbloqueia suas várias atualizações. Com o tempo, Enki pode restringir e distrair os inimigos, imbuir suas armas corpo a corpo com seu poder arcano e amaldiçoar múltiplos inimigos simultaneamente. Essas habilidades aprimoradas transformam Enki em um suporte valioso e multifacetado, capaz de alterar o rumo das batalhas com sua influência estratégica.
Gráficos
Flintlock não se destaca particularmente em termos de apresentação, com a maioria dos designs gráficos sendo bastante comuns, exceto por alguns designs criativos de criaturas que realmente chamam a atenção. O jogo oferece duas opções gráficas: Modo Desempenho e Modo Qualidade. É recomendável optar pelo Modo Desempenho, pois o Modo Qualidade proporciona um aumento visual insignificante que não compensa a perda de 60 fps oferecida pelo Modo Desempenho.
Embora os tempos de carregamento sejam razoáveis, levando cerca de 6 a 7 segundos para carregar o menu principal, eles não são nada de especial. O jogo mantém uma taxa de quadros geralmente consistente, com pequenas quedas para os 50 fps baixos durante combates mais intensos. No entanto, a qualidade das animações pode ser inconsistente, com algumas se apresentando de forma inacabada, como a câmera de morte em câmera lenta que, em alguns casos, diminui a satisfação dos tiros na cabeça com rifles.
Além disso, o jogo apresenta problemas técnicos, como caixas de acerto que não correspondem exatamente ao que é mostrado visualmente e NPCs presos no terreno. Um exemplo notável é um NPC que ficou andando na grama e parou por uns bons 2 minutos até eu me afastar. As animações de sincronização labial também deixam a desejar e poderiam ser melhoradas para oferecer uma experiência mais polida.
Trilha Sonora e Som
Minha principal crítica ao desempenho técnico de Flintlock é a baixa qualidade e o desequilíbrio do áudio. Especificamente, os diálogos repetitivos e os barulhos de fundo são problemáticos. A música de fundo é frequentemente muito alta, tornando difícil ouvir os efeitos de combate e os diálogos, mesmo quando ajustada nas configurações. Sem as legendas, muitas vezes seria impossível perceber que alguém está falando. Esse desequilíbrio também impacta negativamente os encontros de combate, um aspecto crucial em um jogo de ação pesada. Não conseguir ouvir o ritmo e o fluxo da batalha torna a experiência geral ainda mais frustrante.
Quanto aos visuais do jogo, há um filtro de desfoque peculiar que cobre a apresentação gráfica, deixando tudo um pouco embaçado. Essa escolha estética contribui para uma sensação visual menos nítida, o que também não foi do meu agrado.
Vale a Pena?
Apesar de Flintlock: The Siege of Dawn não ser um jogo ruim, ele acaba desapontando. A falta de pontos marcantes é notável, já qe o título não impressiona em nada e permanece mediano em tudo. O universo e a mitologia criados pela A44 têm um potencial visível, mas a execução falha em destacar sua capacidade. O jogo apresenta uma série de problemas técnicos e falta de polimento que comprometem a experiência, embora não sejam totalmente desastrosos.
O conceito de Flintlock é claramente inspirado pelos jogos Soulslike, mas, apesar das boas intenções, a implementação é desigual. O jogo é frequentemente marcado por uma falta de polimento característica de títulos AA. No entanto, o design artístico e os ambientes visuais oferecem alguns momentos agradáveis, especialmente se você não se deixar levar pelo zoom excessivo.
Em termos de recomendação, Flintlock: The Siege of Dawn pode ser atraente para os fãs do gênero Soulslike, oferecendo uma boa dose de combate e progressão. O sistema de Reputação e o cenário bem desenvolvido são pontos positivos, criando um RPG de ação decente, mas sem brilho. Para os novatos, pode ser uma opção mais acessível, menos intimidadora do que outros jogos Soulslike.
Com uma duração relativamente curta de cerca de 4-5 horas para completar a história principal e mais 6 horas se você se dedicar a missões secundárias, o conteúdo parece insuficiente, especialmente considerando o longo período de desenvolvimento e os adiamentos. Esperava-se mais profundidade e polimento dos criadores de Ashen.
*Jogo analisado no PS5 com cópia digital fornecida pela Kepler Interactive Limited.
Notas do Jogo
Título: Flintlock: The Siege of Dawn
Descrição do jogo: Do desenvolvedor de jogos A44, criador de Ashen, chega um soulslike explosivo, no qual deuses e armas se enfrentam em uma batalha pelo futuro da humanidade. A Porta do Mundo Inferior foi aberta, libertando os Deuses e seus exércitos dos Mortos. As terras de Kian estão em apuros, a Cidade do Amanhecer está à beira da destruição. Chegou a hora do exército da Coalizão revidar. Com o poder da vingança, da pólvora e da magia, embarque em uma jornada épica para derrotar os Deuses, fechar a Porta e salvar o mundo.
Gênero: Ação, Soulslite, RPG e Aventura
Lançamento: 18/07/2024
Produtora:A44 Games
Distribuidora: Kepler Interactive Limited
Nota
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História - 7/10
7/10
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Jogabilidade - 8/10
8/10
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Gráficos - 7.5/10
7.5/10
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Trilha Sonora e Som - 7.5/10
7.5/10
User Review
( votes)Veredito
Apesar de Flintlock: The Siege of Dawn não ser um jogo ruim, ele acaba desapontando. A falta de pontos marcantes é notável, já qe o título não impressiona em nada e permanece mediano em tudo. O universo e a mitologia criados pela A44 têm um potencial visível, mas a execução falha em destacar sua capacidade. O jogo apresenta uma série de problemas técnicos e falta de polimento que comprometem a experiência, embora não sejam totalmente desastrosos.
O conceito de Flintlock é claramente inspirado pelos jogos Soulslike, mas, apesar das boas intenções, a implementação é desigual. O jogo é frequentemente marcado por uma falta de polimento característica de títulos AA. No entanto, o design artístico e os ambientes visuais oferecem alguns momentos agradáveis, especialmente se você não se deixar levar pelo zoom excessivo.
Em termos de recomendação, Flintlock: The Siege of Dawn pode ser atraente para os fãs do gênero Soulslike, oferecendo uma boa dose de combate e progressão. O sistema de Reputação e o cenário bem desenvolvido são pontos positivos, criando um RPG de ação decente, mas sem brilho. Para os novatos, pode ser uma opção mais acessível, menos intimidadora do que outros jogos Soulslike.
Com uma duração relativamente curta de cerca de 4-5 horas para completar a história principal e mais 6 horas se você se dedicar a missões secundárias, o conteúdo parece insuficiente, especialmente considerando o longo período de desenvolvimento e os adiamentos. Esperava-se mais profundidade e polimento dos criadores de Ashen.
Vantagens
- Lore interessante.
- Combate divertido e acessível.
- Sistema de Reputação bem implementado.
- Exploração gratificante e travessia rápida.
- Bom design de personagens.
Desvantagens
- Áudio problemático.
- Desafios de plataforma pouco refinados.
- Gráfico borrado.
- Duração muito curta.
- História e personagens sem graça
- Problemas técnicos de queda de fps.
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