Review | Bye Sweet Carole – Conto de Fadas Sombrio para Adultos, mas Jogabilidade Imatura


Bye Sweet Carole
7.88/10

Criado por Chris Darril e desenvolvido pela Little Sewing Machine, Bye Sweet Carole é um jogo que não apenas permite, mas exige paciência e atenção. Ele convida a uma observação calma, guiando o jogador por um ritmo narrativo lento, mas bem elaborado com sensibilidade.

A primeira impressão é a de adentrar um filme de animação do passado. As cores suaves e os desenhos feitos à mão evocam imediatamente os Grandes Clássicos da Disney que marcaram infâncias. No entanto, por trás dessa fachada elegante e quase afetuosa, esconde-se uma narrativa de perda, medo e redenção, contada com uma maturidade que permite à beleza e à melancolia coexistirem na mesma imagem.

Este contraste é a essência do projeto. Chris Darril, o criador da franquia Remothered, embarca aqui em uma missão única: fundir um estilo visual acolhedor com um pano de fundo sombrio. É como colocar uma protagonista de conto de fadas em um cenário digno de Coração das Trevas. A influência de seus trabalhos anteriores é inconfundível no tom soturno e assustador, mesmo que a fórmula seja completamente distinta.

Bye Sweet Carole foi lançado no PlayStation 5 em 09 de Outubro de 2025.

Vídeo de Gameplay do Bye Sweet Carole

História

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No alvorecer do século XX da Inglaterra, dentro das paredes sombrias do Orfanato Bunny Hall, na Inglaterra, a jovem Lana vive obcecada por um único propósito: desvendar o desaparecimento de sua amiga Carole. Sua investigação a leva por um caminho de pistas frágeis, começando por cartas secretas de um garoto que acendem a centelha de uma fuga audaciosa.

Esta jornada, no entanto, rapidamente transcende os limites da realidade. Lana se vê projetada para o reino mágico de Corolla, um lugar onde o fantástico colide violentamente com o cotidiano. É neste universo paralelo que uma ameaça palpável se manifesta: uma infecção de piche que corrói e transforma o mundo em algo sombrio e letal.

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A aventura se desdobra em uma teia de misticismo e metamorfoses. Lana não apenas salta através do tempo, como também experimenta uma transformação física profunda, transformando-se em um coelho. Enquanto foge de monstros indescritíveis, ela encontra aliados improváveis, como o encantador Sr. Baessie. Sua perseguição, porém, é incansavelmente comandada por uma figura aterradora: o Sr. Kyn, um homem de aparência monstruosa e um chapéu cilíndrico que se tornou seu caçador implacável.

Campanha

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A narrativa de Bye Sweet Carole se constrói sobre uma agradável oscilação de ritmo, intercalando momentos de investigação metódica com reviravoltas fantásticas. No centro dessa trama está a jornada de Lana, uma jovem cuja busca por sua amiga Carole desaparecida a leva a dar um salto para o desconhecido. O que começa como uma investigação no sombrio Orfanato Bunny Hall – com a intrigante presença de um garoto suspeito que parece guardar mais de um segredo – transforma-se gradualmente em uma jornada de pesadelo por reinos surreais.

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O enredo se desdobra em camadas, das mais evidentes às profundamente simbólicas. Na superfície, emerge um manifesto explícito da condição feminina na virada do século XX, mostrando ideais retrógrados e a natureza opressiva do papel da mulher naquela sociedade. Esta camada social serve como contraponto inteligente às mensagens dos clássicos animados mais antigos, criando um fundo mais maduro que lembra obras como Anastasia.

Enquanto Lana enfrenta ameaças externas e se transforma em um coelho, o jogo tece com maestria uma história que é crua e pungente, esperançosa e desesperadora ao mesmo tempo. A sensação de buscar reconectar um vínculo abruptamente interrompido dá peso emocional a cada descoberta.

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A fantasia do Reino de Corolla e o toque de terror infantil convivem com essa narrativa de emancipação, criando uma experiência que mantém a leveza necessária sem se desviar para o trivial. Embora existam momentos mais lentos, semelhantes aos encontrados nos clássicos da Disney que inspiram sua estética, essa é uma troca justa pela autenticidade da visão.

Bye Sweet Carole é, em sua essência, uma história poderosa sobre enfrentar o desconhecido por aqueles que amamos, belamente encenada em seu ritmo cuidadosamente dosado e numa cinematografia que homenageia sem copiar, criando algo genuinamente singular.

Gameplay

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Bye Sweet Carole se estrutura como uma série de salas de escape interconectadas, ambientadas principalmente no Orfanato Bunny Hall, que é explorado através de diferentes realidades – desde o presente sombrio até um mundo de fantasia assustador. A progressão depende de resolver quebra-cabeças que frequentemente envolvem ações em uma sala afetando outra, em um andar distante, ou entre as dimensões real e fantástica.

Mecanicamente, o jogo é uma homenagem coerente aos clássicos de aventura como Clock Tower e Heart of Darkness, com uma exploração que recompensa a paciência e a observação. Os quebra-cabeças, embora raramente complexos, oferecem uma satisfação cerebral, funcionando como um quebra-cabeça agradável onde a curiosidade é constantemente recompensada com pistas intuitivas.

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Um dos elementos mais criativos é a habilidade de Lana de se transformar em um coelho, permitindo acessar áreas restritas e adicionando uma lógica de plataforma à exploração. No entanto, a experiência é prejudicada por uma implementação inconsistente em outras mecânicas.

Os segmentos de furtividade, onde é preciso escapar de criaturas escondendo-se em fendas e prendendo a respiração, sofrem com rotinas imprevisíveis de inimigos e problemas de design. Inimigos frequentemente ficam presos em obstáculos, aparecem magicamente em novos locais ou possuem padrões de movimento tão inflexíveis que tornam a fuga uma tarefa frustrante, especialmente em salas menores com poucas opções de fuga.

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As tentativas de variedade com sequências de “combate” – onde se controla o Sr. Baesie para proteger Lana – são mecânicas mal implementadas e rígidas, sentindo-se como uma tarefa árdua. Da mesma forma, as sequências de plataforma são prejudicadas por uma fisica pesada e controles medíocres, onde ações básicas como subir escadas exigem um timing excessivamente específico e a lentidão do personagem torna a exploração repetitiva cansativa.

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No final, a decisão de mesclar aventura, plataforma, furtividade e ação resulta em uma experiência desigual. Os elementos de ação e furtividade prejudicam os aspectos que realmente funcionam, que são a exploração cerebral e a resolução de quebra-cabeças. Enquanto a narrativa e a atmosfera conseguem envolver, a base técnica falha em sustentar a ambição do projeto de forma satisfatória.

Gráficos e Direção de Arte

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Desde os primeiros momentos, o que verdadeiramente cativa em Bye Sweet Carole é a criação meticulosa de seu mundo. A direção de arte, executada inteiramente desenhada à mão e animada com um gosto refinado, transforma a experiência em um hino à tranquilidade e à exploração contemplativa. A combinação com a trilha sonora convida o jogador a investigar com calma cada cômodo e cada universo oferecido, pelo menos até a repentina ameaça de inimigos fatais interromper a paz. Onde é possível, o departamento artístico demonstra toda a sua inspiração, forjando uma identidade visual única que permeia a trama, as pistas e os mistérios a serem desvendados.

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Sob a liderança de Chris Darril, o estúdio Little Sewing Machine soube se inspirar nas obras-primas da Disney sem cair na imitação. Eles incorporaram um toque de personalidade horrível que confere ao projeto uma pátina familiar, mas decididamente própria. A encenação é elegante, com animações encantadoras e expressões que remetem às primeiras princesas da Disney, criando a moldura perfeita para uma narrativa que equilibra o conto de fadas com nuances perturbadoras.

O jogo ousa se apresentar como um desenho animado glorificado dos anos 1950, e essa é a sua maior conquista. É um deleite visual constante, com um filtro granulado que evoca fitas VHS e uma animação entrecortada de forma intencional. Cada ambiente 2D é repleto de detalhes sutis, criando a ilusão de estar dentro de um clássico de animação em tempo real. Cenas de corte impecáveis ​​permitem que o jogador relaxe e absorva a história como em um filme, após sequências desafiadoras.

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Apesar de ser um projeto independente e, portanto, sujeito a algumas inconsistências visuais, travamentos em locais fierentes e telas de carregamento extras entre os ambientes, o quadro geral é refrescante e envolvente. O trabalho visual é tão extenso e ambicioso que eventuais detalhes técnicos tornam-se secundários perante a carga de nostalgia e a beleza artística. A equipe claramente se esforçou ao máximo para criar uma carta de amor aos filmes que marcaram gerações, e nesse aspecto, o jogo é um sucesso absoluto em sua estética, som e sensação geral, mesmo que a jogabilidade em si possa receber críticas.

Vale a Pena?

Review Bye Sweet Carole Vale a Pena Veredito

Bye Sweet Carole é uma obra onde a força reside, antes de tudo, em sua expressão artística. A narrativa, a estética desenhada à mão, a animação e a música convergem em uma experiência visceral e emocional que se mostra cativante tanto na forma quanto no conteúdo. O jogo mira alto, inspirando-se em clássicos como Clock Tower e Heart of Darkness, e sua apresentação no estilo Disney é quase impecável, evocando uma nostalgia poderosa que poucos títulos conseguem reproduzir.

A aventura é envolvente, guiada por uma trilha sonora que conduz o jogador por um conto de fadas sombrio e violento. A exploração de um orfanato dilapidado através de diferentes realidades temporais, em uma busca por um amigo perdido, cria uma base narrativa sólida e comovente. Como um puzzle, o jogo é competente, lembrando a lógica satisfatória dos clássicos da LucasArts, onde a curiosidade e a observação são constantemente recompensadas.

No entanto, a ambição do projeto esbarra em uma realidade técnica irregular. A experiência é prejudicada por mecânicas de furtividade, plataforma e ação insatisfatórias, controles por vezes medíocres e alguns bugs esporádicos. Estes elementos criam uma desconexão frustrante, desfazendo parte do excelente trabalho artístico e resultando em uma experiência que, no final, sente-se única, mas mediana em sua execução global.

Apesar dessas falhas, o núcleo da obra permanece forte. Fica a sensação de que alguns ajustes focados em qualidade de vida – especialmente nos controles e no design de certas sequências – seriam suficientes para transformar este título em algo verdadeiramente excepcional e rejogável. Bye Sweet Carole, em seu estado atual, é um testemunho impressionante de visão e paixão, um jogo que consegue ser inesquecível pelo que evoca, mesmo enquanto luta para entregar tudo que promete.

*Jogo analisado no PS5 com cópia digital fornecida pela Maximum Entertainment.

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Notas do Jogo
Review Bye Sweet Carole Capa Jogo

Título: Bye Sweet Carole

Descrição do jogo: Visite Corolla... Mergulhe num mundo no qual o calor da animação à mão encontra uma rica história recheada de terror. De Chris Darril (série Remothered), Bye Sweet Carole convida você a uma assustadora jornada cheia de segredos.

Gênero: Terror e Aventura

Lançamento: 09/10/2025

Produtora: Little Sewing Machine

Distribuidora: Maximum Entertainment

COMPRAR

Nota
7.9/10
7.9/10
  • História - 8.5/10
    8.5/10
  • Jogabilidade - 6/10
    6/10
  • Gráficos - 9/10
    9/10
  • Trilha Sonora e Som - 8/10
    8/10

Veredito

Bye Sweet Carole se destaca por sua excepcional expressão artística, com visuais desenhados à mão e uma narrativa sombria que evoca nostalgia dos clássicos de animação. A experiência é enriquecida por quebra-cabeças bem elaborados e uma trilha sonora atmosférica. No entanto, o jogo sofre com problemas técnicos significativos, incluindo controles desajeitados e mecânicas de furtividade mal polidas. Essas falhas de execução contrastam com sua ambição artística, resultando numa experiência única porém irregular. Apesar disso, seu núcleo criativo mantém-se cativante o suficiente para deixar a impressão de um projeto com potencial excepcional.

Vantagens

  • Direção de arte desenhada à mão.
  • Narrativa madura e sombria.
  • Trilha sonora e atmosfera.
  • Quebra-cabeças bem elaborados.
  • Ritmo acelerado nos capítulos.

Desvantagens

  • Controles e movimentação desajeitados.
  • Mecânicas de furtividade e plataforma mal implementadas.
  • Bugs e problemas técnicos.
  • Segmentos de ação e combate insatisfatórios.
  • Falta de ajustes de qualidade de vida.

San Moreira
Sanzio Moreira tem 34 anos e é Jornalista, Fundador e Editor-Chefe do PS Verso. Amante da cultura gamer e sempre apaixonado pelo universo. Atuo como jornalista e Content Manager do mercado de games por 6 anos. Tive a ideia de criar este site exclusivamente pela vontade informar e ajudar a comunidade gamer brasileira.