Alguns jogos conseguir a capacidade de redefinir o gênero e até mesmo criar o seu próprio. Para os jogos de ação em terceira pessoa, Dark Souls foi um divisor de águas criando o gênero soulslike, enquanto para os jogos de tiro em primeira pessoa, Halo estabeleceu novos padrões. No universo dos Metroidvanias indie, Hollow Knight tornou-se o padrão ouro moderno, influenciando uma geração de desenvolvedores e inspirando lançamentos recentes como Prince of Persia: The Lost Crown. Desde 2010 uma onda constante de excelentes Metroidvanias 2D começou a surgir, com tantos títulos marcantes fica cada vez mais difícil se destacar entre a multidão. Embora Bo: Path of the Teal Lotus possa inicialmente parecer um clone de vários jogos do gênero, essa percepção subestima a originalidade visual e o charme de Bo, que se revela como um título agradável, apesar de não oferecer grande novidades.
História
Baseado na mitologia japonesa, Bō: Path of the Teal Lotus conta a fascinante história de Bō, um jovem yōkai raposa conhecido como tentaihana, ou “flor celestial”, nascido de uma flor de lótus em uma noite de luar. Sua jornada começa na floresta de bambu carmesim, mas logo o leva para a vibrante cidade de Sakura, onde uma misteriosa profecia começa a se desenrolar. O cenário muda drasticamente quando um gashadokuro, um gigantesco esqueleto, surge repentinamente, devastando a terra e sugerindo que o líder de Sakura pode ser mais perigoso do que aparenta. O jogo segue com uma interação memorável com Asahi, um espírito rude e experiente, que fornece a Bō um cajado de combate e um bule de chá para cura, deixando um toque de humor e camaradagem. Assim, Bō se vê em uma missão para ajudar as pessoas, transformando-se de um espírito insignificante em uma lenda em desenvolvimento.
À medida que avança por uma série de ambientes diversos, o papel de Bō no ritual e no mundo em geral começa a se cristalizar. O caminho é repleto de encontros com yokai amigáveis e hostis, que transmitem sabedoria e desafiadores combates, enriquecendo a narrativa. Ao longo da jornada, Bō encontra um elenco variado de personagens inspirados na mitologia japonesa, cada um com suas próprias histórias e problemas para resolver.
Embora a narrativa principal não se destaque imediatamente, ela se revela de forma sutil ao longo do jogo. O foco inicial está nas missões individuais, que envolvem as histórias de personagens afetados pelos acontecimentos atuais, como a busca pelo noivo desaparecido de um casamento kitsune ou a procura por fogo para resgatar um membro de um clã em reconstrução.
O resultado é uma imersão profunda com o elenco de personagens, especialmente no coração de Sakura City. Cada personagem é carismático e cheio de personalidade, trazendo vida ao mundo do jogo. Alguns são mais leves e engraçados, enquanto outros têm histórias mais profundas e momentos impactantes, formando um elenco fantástico e memorável.
Gameplay
Em Bō: Path of the Teal Lotus, o jogador é imerso em um clássico metroidvania onde a progressão é marcada pela descoberta e pela evolução. Bō, o herói da jornada, se transforma através de um brinco mágico que se adapta a diversas funções, revelando sua verdadeira força conforme avança. Este brinco multifacetado se metamorfoseia em um martelo colossal capaz de criar ondas de choque devastadoras que rompem barreiras ou em asas etéreas que permitem ao herói planar graciosamente pelos céus.
A jornada é enriquecida pela vasta gama de itens colecionáveis e bênçãos espalhadas pelo mundo. Entre os tesouros a serem encontrados estão os Darumas, que oferecem um impulso inicial poderoso, e os Omamori, amuletos que conferem buffs passivos e proteções adicionais. Os jogadores também podem coletar materiais de criação e ingredientes, que, quando usados nas lojas, permitem melhorar permanentemente estatísticas como saúde e resistência. Com uma abundância de itens e desafios intrigantes, Bō: Path of the Teal Lotus cativa e incentiva a exploração incessante, transformando cada descoberta em um passo valioso na jornada do herói.
O mundo de Bō não é apenas inteligentemente projetado, mas também é incrivelmente divertido de explorar. Uma das mecânicas mais notáveis é a habilidade de realizar um pulo extra após atingir um inimigo no ar. Essa mecânica não só facilita a resolução de quebra-cabeças, mas também torna o combate mais dinâmico e envolvente. As batalhas contra chefes ganham uma nova dimensão quando os encontros se tornam verdadeiras lutas aéreas, onde pular freneticamente pelo palco permite desviar de ataques e desferir golpes com precisão.
A sensação de atravessar o mundo de Path of the Teal Lotus é, portanto, uma mistura de desafio e prazer, onde a habilidade de explorar e combater é enriquecida pela engenhosa combinação de habilidades que proporcionam uma experiência de jogo única e empolgante.
Os poderes de Bo são, sem dúvida, o que distingue Bō: Path of the Teal Lotus de outros jogos metroidvania. Embora você comece com um conjunto básico de habilidades, incluindo pular e balançar um cajado de bo, o jogo rapidamente expande seu repertório de movimentos. Cada vez que você acerta um inimigo ou objeto, um pulo extra é concedido, permitindo uma série de acrobacias aéreas emocionantes. Não há nada como a sensação de pular de inimigo em inimigo, atravessando uma tela repleta de perigos, e essa experiência se torna ainda mais rica conforme você desbloqueia novas habilidades.
Além da habilidade inicial de se mover, há uma abundância de habilidades adicionais para desbloquear em Bō: Path of the Teal Lotus. A capacidade de acertar projéteis com o bastão é fundamental para abrir caminhos antes bloqueados, o ground pound quebra pisos frágeis e causa danos significativos aos inimigos, e o air dash eleva suas manobras aéreas a um novo nível de glamour. Como é típico no gênero metroidvania, essas habilidades também são essenciais para acessar power-ups e itens colecionáveis ocultos em áreas previamente exploradas. Isso não só fortalece seu personagem, mas também oferece uma satisfação adicional ao tornar-se mais poderoso e preparado para os desafios futuros.
Movimentar-se em Bō: Path of the Teal Lotus é apenas uma parte da experiência — enfrentar uma variedade de vilões míticos também é crucial em sua jornada. Os ataques principais com o cajado são simples e eficazes contra os inimigos, mas a verdadeira força de Bo vem de seu Daruma. Esses pequenos blobs coloridos são um recurso valioso, cada um possuindo um ataque poderoso que pode ser desencadeado ao custo de um pouco de seu chá.
Independente dos desafios, o jogador se verá na necessidade de se curar e garantir o sucesso. Felizmente, o jogo oferece uma solução prática: o bule de chá mágico. Após reunir cinco gotas de chá no bule, você pode restaurar um ponto de saúde, desde que consiga encontrar um momento seguro para beber. Além disso, cada ataque bem-sucedido contra um inimigo gera uma gota de chá, o que transforma as intensas batalhas contra chefes em verdadeiras provas de resistência e estratégia.
Os Daruma podem lançar uma grande bola de espinhos ou cuspir fogo nos inimigos, proporcionando um grande impulso nas batalhas. A estratégia se torna ainda mais interessante quando você consegue acertar inimigos com o cajado sem tocar o chão. Nesse caso, seu próximo ataque com o Daruma se torna ainda mais devastador, potencializando sua capacidade de enfrentar os desafios que surgem. Assim, a combinação de movimentação fluida e ataques estratégicos cria uma experiência de combate dinâmica e gratificante em Bō: Path of the Teal Lotus.
Embora todas as lutas contra chefes em Bō: Path of the Teal Lotus sejam desafiadoras, a mecânica de movimento aprimora a experiência de combate de maneiras interessantes. Ricochetear na cabeça gigante de um chefe, por exemplo, é frequentemente mais fácil do que tentar acertar uma pequena lanterna, já que a hitbox maior reduz a chance de erros arbitrários. Um exemplo claro é a luta contra um besouro sumô. Embora seja possível derrotá-lo desviando e se movimentando no chão, partes da batalha o fazem voar no ar. Um uso eficaz da mecânica de movimento permite que você o acompanhe no ar, causando mais dano, o que é uma recompensa por entender a mecânica de uma forma que não é tão evidente nas plataformas. Isso destaca como o combate em Bō: Path of the Teal Lotus se beneficia de um foco na mecânica de movimento.
No entanto, quando uma luta de chefe depende fortemente da mecânica de movimento, em vez de usá-la como um elemento opcional e recompensador, o resultado pode ser frustrante. Um exemplo disso é uma luta onde o chefe voa até o topo do mapa em sua fase final, exigindo o uso de uma sequência de ganchos através de um campo minado de tiros teleguiados para chegar perto dele. Muitas vezes, eu brigava para conseguir acertar o gancho certo, justamente pela dificuldade de mirar neles para agarrar, o que resultava em desvios imprecisos ou colisões com projéteis indesejadas. Esse contraste mostra que, embora a mecânica de movimento seja uma característica forte, seu uso central no combate revela fraquezas quando por não ser tão bem implementado.
O design de Bō: Path of the Teal Lotus tem suas falhas, particularmente em alguns aspectos frustrantes que são comuns em jogos Metroidvania. O uso de arenas de combate que consistem exclusivamente em hordas de inimigos pode se tornar irritante, especialmente quando essas áreas não oferecem variação suficiente para manter o interesse do jogador. Além disso, o mapa do jogo não registra os pontos de interesse, o que pode ser particularmente frustrante quando você precisa encontrar itens colecionáveis espalhados pelo mundo, mas não possui a ferramenta necessária para interagir com eles até mais tarde.
Outro ponto de frustração são os poucos pontos de viagem rápida. Há muito poucos desses pontos e eles estão espalhados a grandes distâncias, o que pode tornar a navegação de volta para áreas anteriores uma tarefa cansativa, especialmente quando se busca segredos adicionais.
Gráficos
O mundo de Bō: Path of the Teal Lotus é verdadeiramente vivificado por seus gráficos incrivelmente belos. Os personagens e designs dos inimigos são dignos de destaque, cada um modelado a partir de uma vasta gama de yōkai conhecidos e animados com fluidez excepcional. O estilo desenhado à mão mistura de maneira encantadora toques de ukiyo-e com uma sensação de desenho animado, criando um visual que é ao mesmo tempo artístico e cativante.
As paisagens deslumbrantes e cenários variados são uma festa para os olhos, com detalhes minuciosos como pétalas de lótus que aparecem conforme Bō avança, adicionando um toque especial ao ambiente. Até mesmo as cavernas e regiões montanhosas têm uma aparência vibrante e colorida, o que enriquece ainda mais a experiência visual. A integração de estátuas e santuários no ambiente do jogo oferece uma variedade visual que faz com que cada área tenha sua própria identidade única.
Trilha Sonora e Som
A trilha sonora de Bō: Path of the Teal Lotus é uma verdadeira obra-prima, inspirada pela rica tradição musical japonesa. Com a inclusão de instrumentos tradicionais como shakuhachi, shamisen e hyoshigi, a música eleva a experiência do jogo, especialmente durante as batalhas intensas, crescendo em um crescente emocional que intensifica a ação. A trilha sonora também faz um excelente trabalho em distinguir os oito biomas, cada um com sua própria atmosfera musical única.
Vale a Pena?
Bō: Path of the Teal Lotus é uma conquista notável no gênero Metroidvania. Este jogo se destaca por sua apresentação deslumbrante, que combina um design autêntico em aquarela com uma rica representação do folclore japonês.
Embora a apresentação e o combate sejam divertidos, o jogo enfrenta alguns desafios com sua plataforma, que pode ser inconsistente, afetando a experiência geral. Apesar disso, o jogo proporciona uma exploração prazerosa e desafiadora, com chefes difíceis.
A campanha principal pode ser completada em cerca de dez horas, e a busca por itens colecionáveis e conteúdo secundário adiciona algumas horas extras ao jogo. Essa abordagem enxuta evita o “preenchimento” e mantém uma cadência constante, oferecendo novas mecânicas e ambientes regularmente. No entanto, a falta de replay e desafios adicionais pode deixar alguns jogadores com a sensação de que o jogo não oferece um valor substancial a longo prazo. Para aqueles que buscam uma experiência mais compacta, Bō pode ser uma boa chance de passar o tempo.
Se você é fã de Metroidvania ou simplesmente tem um interesse passageiro no gênero, Bō: Path of the Teal Lotus não é uma experiência inovadora, mas que não deve ser perdida.
*Jogo analisado no PS5 com cópia digital fornecida pela Humble Games.
Notas do Jogo
Título: Bō: Path of the Teal Lotus
Descrição do jogo: Flua com graça acrobática e agilidade por um mundo misterioso de mitos e lendas em Bō: Path of the Teal Lotus, uma aventura colorida desenhada à mão inspirada no folclore japonês. Empreenda uma jornada mística como Bō, uma flor celestial (raposa tentaihana) que desceu dos céus para desempenhar um papel fundamental em um ritual antigo e misterioso. Use seu lendário cajado bō para saltar e deslizar fluidamente por um reino sobrenatural de paisagens oníricas desenhadas à mão, yokai estranhos e adoráveis e monstros enormes invocados de lendas antigas do Japão.
Gênero: Metroidvania, Ação e Aventura
Lançamento: 17/07/2024
Produtora: Squid Shock Studios, Christopher Stair, Trevor Youngquist
Distribuidora: Humble Games
Nota
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História - 7/10
7/10
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Jogabilidade - 8/10
8/10
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Gráficos - 8/10
8/10
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Trilha Sonora e Som - 8/10
8/10
User Review
( vote)Veredito
Bō: Path of the Teal Lotus é uma conquista notável no gênero Metroidvania. Este jogo se destaca por sua apresentação deslumbrante, que combina um design autêntico em aquarela com uma rica representação do folclore japonês.
Embora a apresentação e o combate sejam divertidos, o jogo enfrenta alguns desafios com sua plataforma, que pode ser inconsistente, afetando a experiência geral. Apesar disso, o jogo proporciona uma exploração prazerosa e desafiadora, com chefes difíceis.
A campanha principal pode ser completada em cerca de dez horas, e a busca por itens colecionáveis e conteúdo secundário adiciona algumas horas extras ao jogo. Essa abordagem enxuta evita o “preenchimento” e mantém uma cadência constante, oferecendo novas mecânicas e ambientes regularmente. No entanto, a falta de replay e desafios adicionais pode deixar alguns jogadores com a sensação de que o jogo não oferece um valor substancial a longo prazo. Para aqueles que buscam uma experiência mais compacta, Bō pode ser uma boa chance de passar o tempo.
Se você é fã de Metroidvania ou simplesmente tem um interesse passageiro no gênero, Bō: Path of the Teal Lotus não é uma experiência inovadora, mas que não deve ser perdida.
Vantagens
- Ótimo uso do folclore japonês.
- Arte visual marcante e impressionante.
- Divertido e envolvente, especialmente em batalhas contra chefes.
- Colecionáveis valiosos.
Desvantagens
- Picos de dificuldade inconstantes.
- Narrativa apenas mediana.
- Sem localização para o PT-BR.
- Algumas inconsistências nos desafios de plataforma.
- Não oferece sistema inovador para o gênero.
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