Review | Tchia


Criado pela Awaceb, Tchia reflete os anseios dos cofundadores do estúdio que são oriundos de uma pequena ilha do Oceano Pacífico localizada entre a Austrália, Ilhas Fiji e Nova Zelância chamada de Nova Caledônia.

Tratado como um jogo de mundo aberto onde a personagem consegue controlar animais e objetos, o produto nasceu como uma homenagem a civilização desse pequeno local e servindo releituras e marcos e culturas da região.

Anunciado como o primeiro jogo do estúdio independente, Tchia estará disponível no dia 21 de março na PS Plus Extra e Deluxe.

[lwptoc]

História

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Declaradamente inspirado pela região de Nova Caledônia, uma pequena ilha do Pacífico, o mundo do jogo se trata de um local fictício em uma cadeia de ilhas paradisíacas de diferentes tamanhos.

No jogo, somos Tchia, uma menininha que vive em uma pequena ilha isolada junto de seu pai. Os dois dependem de Tre, um senhor que traz mantimentos como comida. Em uma das visitas de Tre, ele foi seguido pelo xamã Pwi Dua em companhia de dois seres sobrenaturais chamados de Maano a bordo de um helicóptero do exército local.

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O pai de Tchia pede para que Tre ajude a esconder sua filha enquanto tenta confrontar o invasor. O invasor consegue capturar o pai. Tchia, na busca de salvar seu pai, sai do seu esconderijo e ativa um poder oculto e consegue controlar o facão de Pwi Dua e machucá-lo. Mas não consegue salvá-lo e cai desacordada no chão.

Tchia acorda na casa flutuante de Tre e imbuída de coragem, ela decide salvar o seu pai e parte para um aventura onde irá descobrir as origens do seu passado e descobre que sua região foi tomada por Meavora, um ser maligno conhecido como “deus das profundezas” que possui poderes parecidos com os dela.

Campanha

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A campanha do jogo possui um formato parecido com jogos de alto orçamento, mas tenta ao seu jeito com claras limitações de orçamento, entregar uma experiência narrativa grande, apesar de vários deslizes. O primeiro, é claro notar que os adultos da narrativa são todos negligentes, onde simplesmente lavam as mãos e deixam uma criança partir sozinha para resgatar o seu pai. O amigo da família, Tre, dá um barco para ela e já vira as costas no início da narrativa. O roteiro nem se esforça em justificar que uma criança tenha que partir sozinha com tantos adultos pela região.

Para seguir no início do enredo, temos que coletar pérolas, souvenires, pedras e argila e oferecer como “presentes” para que adultos consigam dar informações para uma garotinha resgatar o seu pai. Poucos personagens conseguem se destacar na história, um destaque para Meavora, uma garota loira que Tchia conhece em um desses vilarejos e a galinha sem cabeça (sim, isso mesmo).

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O jogo guarda um segredo sobre as origens de Tchia e apesar de pouco surpreendentes, consegue justificar bem os acontecimentos e o mote do roteiro para servir de argumento. O jogo chega até a surpreender pela dureza em que trata certos acontecimentos, com mortes e desmembramentos que contrastam o visual infantil do jogo.

Gameplay

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Como é possível perceber, Tchia é um jogo sandbox de mundo aberto. Como locomoção básica, ela pode correr, deslizar, pular, nadar, submergir, subir em árvores e se balançar e escalar elevações. Acontece que o jogo deixa claro a origem de sua inspiração, adotando mecânicas que deixaram dois jogos da série Zelda, Breath of the Wild e Wind Waker, famosos.

A primeira inspiração vem da mecânica velejar em um extenso mar entre as ilhas e rios do arquipélago usando uma pequena jangada, que pode ser personalizada. A segunda inspiração vem medidor de energia que define o limite para que ações como usar o planador (outra mecânica de Zelda), nadar debaixo da água e subir em paredes íngremes. A terceira e última inspiração é o Ukulele, que faz as vezes de Ocarina.

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Ao usar o Ukulele, Tchia pode controlar o período do dia, atrair animais, chamar pássaros, invocar seres que parecem totens capazes de lançar bolas de fogo em inimigos, conseguir respirar por mais tempo debaixo da água e outras músicas, usando uma mecânica divertida de acertar notas musicais em sequência. Conseguimos mais músicas ao encontrar pontos de “Equilíbrio de Pedras“, onde Tchia precisa equilibrar pedras para desbloquear mais canções.

Só que entre todas essas mecânicas, a principal do jogo se trata da curiosa “Transferência de Alma“.

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A Transferência de Alma permite que Tchia controle animais e objetos para usar suas habilidades a seu favor, tanto na exploração quanto em batalha. Possuindo a barra de “Medidor de Alma” (que pode ser melhorada ao coletar “Frutas de Alma” coletadas dentro de Templos de Totem) o medidor vai sendo consumido à medida que estamos em posse de um animal ou algum objeto.

Apesar de todos os animais presentes no jogo serem possíveis de controlar, nem todos os objetos do jogo podem ser controlados conforme era esperado. O mero controle de alguns objetos se torna inútil, já que alguns não são úteis em combates e nem substanciais no gameplay.

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Podendo controlar cães ou golfinhos para se locomover mais rápido pelo mapa, incorporar pedras explosivas ou lamparinas para atacar inimigos em bases,  é no controle de aves que a mecânica se mostra muito útil, já que se mover pelas ilhas vai se tornando uma tarefa demorada e pouco divertida, primeiro pela falta de grandes atrativos substanciais como colecionáveis e upgrades, segundo pela lentidão em que Tchia se move.

Voltando ao seus movimentos, Tchia também consegue usar um estilingue, que é apenas útil para acertar pessoas, objetos ou arrancar pencas de banana que são úteis para recuperar o medidor de alma.

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Falando no estilingue, é importante destacar que o jogo não tá nem um pouco preocupado com o desafio e isso acaba refletindo nos combates. Nossa heroína não tem muitos inimigos e eles se resumem a apenas os esquisitos Maanos e uns Totems de Defesa que ficam colocados estrategicamente em bases inimigas e não vão te causar grandes problemas, pelo contrário, é a limitação dos seus sistemas que é o grande desafio de Tchia. Tendo uma limitação clara de opções de combate, para derrotar esses seres que se parecem panos amarrados com máscara, apenas objetos explosivos como galões de gasolina, lamparinas, latas pegando fogo, pedras explosivas e etc são capazes de aniquilá-los. Acontece que o jogador terá que sair percorrendo esses lugares para encontrar esses itens e guardá-los na bolsa, como eles são burros e possuem uma quantidade de movimentos bem limitados, os passos para derrotá-los se tornam uma tarefa entediante na experiência de gameplay.

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Sobre a exploração, conforme falado, fazemos tanto por terra, quanto por mar, apesar do segundo ser mais usado para deslocar pelas ilhas e pouco útil para procurar itens na água. Para fazer as viagens rápidas, o jogo precisa que a gente alcance as docas para liberá-las, acontece que se o jogador estiver no meio do mapa, ele não consegue fazer uma viagem rápida de qualquer lugar, ele precisa estar obrigatoriamente em uma doca para isso, deixando a exploração lenta ainda mais chata.

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Outro problema do jogo é o funcionamento do mapa, que não exibe a sua localização em terra, apenas quando você está a bordo do barco. Apesar de conseguirmos colocar marcações para nos guiarmos pela bússola, não é possível visualizar onde estamos quando abrimos o mapa, deixando o jogador perdido.

O jogo conta com “Pontos de Observação“, que servem para mapear os pontos de interesse no mapa e destacar os locais de colecionáveis e upgrades como caixas de cosméticos, souvernirs, baús com itens de valor, Templos de Totem, locais para comer, frutas de energia e etc.

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Sobre colecionáveis, o jogo possui uma extensa gama de personalizações para Tchia e seu barco, onde podemos adquirir em caixas e báus espalhados pelo mapa e upgrades para a energia e Medidor de Alma. Acontece que para estimular a exploração, dar mais uma camisa ou uma bandeira nova para o barco é muito pouco para justificar que o jogador perda seu tempo na busca, provocando o abandono precoce do jogo após zerá-lo, mesmo com um conteúdo adicional.

Gráficos

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Por se tratar de um projeto com baixo orçamento, Tchia investe no colorido com uma arte mais cartunesca e infantilizada, mas bonita, com cenas que valorizam o visual dos personagens simples, porém simpáticos.

Por se situar em uma área paradisíaca, os visuais no período ensolarado são lindos, com águas cristalinas e coqueiros e bananeiras verdejantes, praias, mesclando áreas de mangue, florestas tropicais e montanhas íngremes, alguns biomas de Tchia trazem o sentimento imersivo de estarmos visitando uma área e cultura ricas.

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O jogo possui um ciclo com quatro períodos do dia (manhã, meio dia, fim da tarde e noite) podendo chover em qualquer um desses períodos. Para isso, o jogo se esforça na mudança de iluminação de cada tempo, conseguindo passar a sensação real, mas não entregando a mesma qualidade visual que o período do meio dia proporciona. O grande problema desse ciclo de dia e noite reside na velocidade em que isso acontece, onde em um piscar de olhos, estamos da manhã para a noite em menos de 10 minutos, não deixando o jogador aproveitar a experiência de cada período e nos forçando a mudar o tempo inteiro para o dia ensolarado para conseguir enxergar melhor as elevações do mapa.

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Voltando a qualidade gráfica, como pode ver nos trailers, Tchia não possui um grande trabalho em texturas de pedras, chão, folhagens, animais, NPCs e objetos. Sendo quase tudo meio rudimentar com uma qualidade que lembra três gerações de consoles atrás, em diversas partes do jogo existem áreas feias, como nos vilarejos, na cidade, na ilha mais desmatada e nas instalações de fábricas, onde parece que a direção de arte não conseguiu se resolver bem.

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Falando sobre problemas técnicos, não notei quedas de FPS, mas enfrentei diversos bugs que me obrigaram a ter que reiniciar o jogo. De antemão os desenvolvedores informaram que boa parte desses problemas serão corrigidos com um patch de lançamento, mas na minha experiência sofri com a personagem presa em objetos do cenário, objetos de missão como acampamentos que não apareciam, NPCs que entravam dentro de montanhas e uma quantidade considerável de pop ins.

Trilha Sonora e Som

Para retratar e causar imersão dentro do universo, o jogo conta com sons de insetos e animais que se intensificam e diferem nos períodos do dia, causando um efeito até realista e dando vida às ilhas de Tchia, mas o design de som é prejudicado por sons muito abafados e de má qualidade técnica.

Para retratar um pouco mais da cultura de sua inspiração, o jogo conta com dublagem da língua local chamada drehu e francês, mas possui legendas e localização para português do Brasil.

Falando sobre a trilha sonora, certamente o ponto técnico de maior qualidade em Tchia, o jogo conta com composições espetaculares cantadas tanto em francês quanto em drehu por talentos locais, resultando em partes de gameplay onde temos que acertar notas no ritmo em músicas que garantem a inserção à cultura local que usam instrumentos como Ukulele,  folhas secas, Bwajeb e Sonai em trilhas orquestradas.

Vale a Pena?

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Tchia é um jogo independente de um pequeno estúdio e cumpre muito bem o papel de nos apresentar marcos, culturas, músicas, idiomas, folclores e tradições de uma região do mundo real pouco ou nada conhecida mundialmente.

Com uma história curta (cerca de 8 horas de duração) e protocolar, mas agradável, a personagem principal não se destaca tanto quanto se esperava. Seu gameplay possui boas ideias, mas com execuções inacabadas onde a principal mecânica de incorporar em objetos e animais vai perdendo força e propósito à medida que jogamos. Seu combate é prejudicado pela falta de uma variedade maior de inimigos e uma IA inexistente, tornando um jogo com um desafio baixíssimo e entediante na maioria das vezes. Sua exploração pela ilha acaba se arrastando por falta de conteúdo de valor.

Seus visuais paradisíacos guardam momentos bonitos, mas problemas técnicos com bugs e ausência de texturas atrapalham a experiência. O destaque técnico reside nas suas belas composições e canções cantadas que surpreendem.

Tchia é um jogo para experimentá-lo de forma descompromissada, servindo mais como uma carta de amor a uma região pequena, mas grandiosa de cultura e beleza, servindo mais como um jogo para atrair turismo e momentos de relaxamento do que propor algum desafio.

Jogo analisado no PS5 com código gentilmente fornecido pela Awaceb.

Notas do Jogo
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Título: Tchia

Descrição do jogo: Escale, plane, nade e veleje por um vasto e belo arquipélago inspirado na Nova Caledônia neste jogo de aventura baseado na física. Controle Tchia em uma aventura emocionante e conheça um elenco diverso de personagens inspirados na cultura da Nova Caledônia. As cenas totalmente animadas e dubladas em idioma tradicional marcam sua jornada, enquanto uma trilha sonora orquestrada original complementada por sons locais cria um mundo único e imersivo. Durante a jornada, use seu fiel companheiro, um ukelele totalmente interativo, para criar canções sozinha ou com outros personagens. Use-o em momentos importantes durante seções rítmicas ou toque melodias desbloqueáveis em qualquer ponto do mundo para iniciar eventos especiais, como atrair animais ou fazer chover.

Gênero: Aventura

Lançamento: 21/03/2023

Produtora: Awaceb

Distribuidora: Kepler Interactive Limited

COMPRAR

Nota
6.9/10
6.9/10
  • História - 6/10
    6/10
  • Jogabilidade - 6.5/10
    6.5/10
  • Gráficos - 6.5/10
    6.5/10
  • Trilha Sonora e Som - 8.5/10
    8.5/10

Veredito

Tchia é um jogo independente de um pequeno estúdio e cumpre muito bem o papel de nos apresentar marcos, culturas, músicas, idiomas, folclores e tradições de uma região do mundo real pouco ou nada conhecida mundialmente.

Com uma história curta (cerca de 8 horas de duração) e protocolar, mas agradável, a personagem principal não se destaca tanto quanto se esperava. Seu gameplay possui boas ideias, mas com execuções inacabadas onde a principal mecânica de incorporar em objetos e animais vai perdendo força e propósito à medida que jogamos. Seu combate é prejudicado pela falta de uma variedade maior de inimigos e uma IA inexistente, tornando um jogo com um desafio baixíssimo e entediante na maioria das vezes. Sua exploração pela ilha acaba se arrastando por falta de conteúdo de valor.

Seus visuais paradisíacos guardam momentos bonitos, mas problemas técnicos com bugs e ausência de texturas atrapalham a experiência. O destaque técnico reside nas suas belas composições e canções cantadas que surpreendem.

Tchia é um jogo para experimentá-lo de forma descompromissada, servindo mais como uma carta de amor a uma região pequena, mas grandiosa de cultura e beleza, servindo mais como um jogo para atrair turismo e momentos de relaxamento do que propor algum desafio.

Vantagens

  • Imersão cultural rica;
  • Visual cartunesco agradável;
  • Belos visuais paradisíacos;
  • Muitas opções de personalização de personagem e barco;
  • Controlar tempo e invocar animais agregam à experiência;
  • Controles responsivos;
  • Localizado em português do Brasil;
  • Trilha sonora impecável.

Desvantagens

  • Roteiro com inconsistências;
  • Ausência de missões secundárias;
  • Problemas com bugs e falta de texturas;
  • Passagem de tempo rápida demais;
  • Falta de variedade de inimigos e IA ruim prejudica o desafio e combate;
  • Sistema de mapa e viagens rápidas deixam o jogo entediante;
  • Tipos de colecionáveis limitados desencorajam a exploração;
  • Sons abafados no geral.

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San Moreira
San Moreira tem 33 anos e é natural de São Paulo. Eu sou formado em Banco de Dados e Gestão Empresarial. Amante da cultura gamer, sempre apaixonado pelo universo. Atuando como jornalista e Content Manager de games com foco na plataforma PlayStation e Battle Royales como Free Fire. Teve a ideia de criar este site exclusivamente pela vontade informar e ajudar a comunidade gamer.