No Japão, Dragon Quest sempre foi mais que um jogo; ele se tornou um verdadeiro fenômeno cultural, superando até o prestígio de franquias como Final Fantasy. Desde seu lançamento em 1986, o primeiro título rapidamente cativou os jogadores japoneses, estabelecendo-se como um dos pilares essenciais da indústria de jogos no país. Com o objetivo de apresentar essa saga lendária a uma nova geração, a Square Enix anunciou remakes dos dois primeiros jogos da série, que serão relançados juntos em uma data futura ainda a ser definida. Esse projeto faz parte da ambiciosa Erdrick Trilogy, liderada pelo aguardado Dragon Quest III HD-2D Remake, que, embora o terceiro título lançado, é cronologicamente o primeiro na história da trilogia.
Originalmente lançado para Nintendo em 1992, Dragon Quest III conquistou fãs ao longo dos anos, recebendo versões aprimoradas para uma variedade de plataformas, como SNES, Game Boy Color, celulares, Wii, 3DS, e PS4. Essa popularidade consolidou seu status de clássico atemporal, sempre revisitado com pequenas melhorias para atrair novos públicos. Agora, porém, a Square Enix adota uma abordagem inovadora. Sob a liderança do Team Asano, o jogo será recriado com a impressionante técnica HD-2D, uma fusão de pixel art clássico com profundidade tridimensional. Essa nova versão promete uma experiência visual nostálgica e renovada, que chegará ao PS5, transportando os jogadores de volta ao icônico mundo de Dragon Quest em uma forma jamais vista.
Dragon Quest III HD-2D Remake será lançado nos consoles PlayStation 5 e PlayStation 4 em 14 de Novembro de 2024.
História
No vasto mundo de Overworld, o caos se instala após a queda do lendário herói Ortega nas mãos do temível Arquidemônio Baramos. Esse fracasso mergulha a terra em trevas, tornando seus habitantes prisioneiros do domínio sombrio de Baramos. Porém, uma esperança surge quando, ao completar 16 anos, o jovem filho (ou filha) de Ortega decide honrar o legado do pai. Determinado a terminar a jornada interrompida, esse novo herói parte em uma missão para libertar seu lar das garras do arquidemônio.
Nomeado como “herói” pelo rei de Aliahan, o protagonista não está completamente sozinho. Em seus sonhos, uma figura feminina de pura luz surge, falando diretamente à sua alma e oferecendo orientação espiritual e conselhos valiosos. Essa misteriosa aliada guia Erdrick pelos caminhos perigosos que se estendem à sua frente, ajudando-o a enfrentar as ameaças que assolam o mundo. Assim, com coragem e a força de uma linhagem heroica, osso protagonista segue em sua jornada épica, carregando a esperança de restaurar a paz e trazer luz de volta ao povo oprimido.
Campanha
Em Dragon Quest III HD-2D Remake, a narrativa se apoia fortemente na trajetória de Ortega, que assume o papel de motor central da história. Embora a narrativa avance principalmente por meio de flashbacks, Ortega é o fio condutor que inspira a busca do protagonista e os demais eventos do jogo. Nossa aventura envolve outros membros do grupo, mas, lamentavelmente, eles são pouco desenvolvidos em termos de personalidade ou história. Esses personagens atuam como apoios no campo de batalha, limitados a atributos e habilidades que ajudam nas lutas, mas carecem de profundidade narrativa.
A campanha segue uma estrutura clássica e, como no original, o jogador explora cidades, reinos, dungeons e ruínas em busca de pistas sobre o paradeiro do vilão Baramos. Cada local apresenta mini-histórias próprias, que embora independentes da missão principal, mostram os efeitos da opressão de Baramos sobre o mundo. Encontramos, por exemplo, uma cidade onde todos os cidadãos estão sob uma maldição de sono profundo, um rei que foi substituído por um impostor, e uma jovem que tenta escapar de um sacrifício. Esses eventos normalmente culminam nas ações de demônios a serviço de Baramos, destacando o alcance de sua influência.
Nas primeiras horas, o jogador pode se sentir um tanto perdido, pois o objetivo principal da narrativa permanece em segundo plano por um longo tempo, deixando o propósito da missão pouco claro. Porém, a história ganha novo fôlego na segunda metade, quando surgem as esferas coloridas que devem ser encontradas ao redor do mundo. O jogador pode optar por ter esses pontos destacados no mapa ou descobri-los explorando cada área por conta própria. Essa busca cria uma estrutura semilinear, permitindo que o jogador siga caminhos alternativos, embora certos locais exijam itens ou habilidades obtidos em outras partes do mapa.
Na terceira e última etapa, o jogo introduz um novo foco narrativo, expandindo o contexto sobre Ortega e sua influência na jornada. O jogador ainda visita pontos de interesse, mas esses locais agora aprofundam a história do herói e sua luta contra as forças de Baramos.
No final, o enredo do remake traz algumas melhorias em relação ao original, enriquecendo a atmosfera e o sofrimento do povo sob a ameaça de Baramos e reforçando o arco pessoal de Ortega. Contudo, a narrativa deixa de expandir aspectos sobre Erdrick e seus companheiros, priorizando a exploração do mundo castigado e os desafios enfrentados por Ortega. Em essência, a história se aprofunda mais no impacto do vilão sobre o mundo do que nos próprios heróis.
Gameplay
Dragon Quest III HD-2D Remake é um JRPG clássico de combate por turnos, que, embora receba aprimoramentos visuais e de interface, mantém o espírito original dos jogos antigos da franquia. Com isso, o título pode não agradar a jogadores casuais que buscam algo mais moderno e menos desafiador. A nostalgia para fãs de longa data é um ponto forte, mas a estrutura “raiz” do gameplay traz desafios que podem ser frustrantes para novos jogadores.
No combate, controlamos uma equipe de quatro personagens. É possível configurar as ações de cada um manualmente ou deixar que sejam realizadas automaticamente. Os inimigos aparecem em grupos, o que implica que ataques físicos e magias são direcionados ao grupo, não a um único adversário, tornando o uso de armas e magias de área bastante eficaz. Conforme dissemos na nossa prévia, Explorar as fraquezas elementares e resistências físicas dos inimigos é crucial para progredir com eficiência, tornando cada batalha um exercício estratégico.
Este remake não facilita: os inimigos são poderosos e causam alto dano, enquanto a alta frequência de batalhas aleatórias em dungeons pode ser cansativa, tornando cada jornada um verdadeiro teste de paciência e estratégia. Outro desafio é a escassez de dinheiro que os inimigos deixam após as batalhas, obrigando o jogador a ser cauteloso na hora de comprar itens e equipamentos. O jogo, entretanto, tenta balancear essa dificuldade ao espalhar itens e tesouros pelas cidades e dungeons, incentivando a exploração em potes, barris e baús. Porém, a exploração pode se tornar um esforço cansativo diante da quantidade de batalhas aleatórias, que muitas vezes não justificam a recompensa obtida.
Classes e vocações são uma mecânica interessante no jogo. Enquanto o protagonista não possui uma classe fixa, os outros três membros da equipe têm vocações que determinam suas habilidades, equipamentos e magias. Ao atingir o nível 20, é possível trocar a vocação de um personagem, permitindo que ele mantenha as habilidades adquiridas, mas reiniciando seu nível para 1. Isso incentiva o jogador a experimentar diferentes combinações, tornando a equipe mais versátil.
O jogo também possui uma arena de batalhas onde monstros capturados podem ser usados em combates. Cada rank oferece uma série de batalhas com recompensas valiosas, como itens e equipamentos raros, ajudando a aliviar a questão da falta de recursos para adquirir itens necessários ao longo do jogo.
A exploração do mapa é feita de forma tradicional, com a possibilidade de encontrar itens secretos no solo e descobrir locais escondidos. Há também um barco para acessar áreas inalcançáveis a pé, e Ramia, a lendária fênix, que sobrevoa o mapa e possibilita explorar locais inacessíveis por terra e mar. Após visitar uma nova área, o jogador pode retornar a ela com teletransporte, tornando o uso de transporte marítimo ou aéreo menos frequente com o avanço no jogo.
No entanto, um ponto fraco da exploração é a velocidade de deslocamento, que é lenta, seja a pé, de barco ou com a fênix. Isso expõe o jogador a uma quantidade excessiva de encontros aleatórios, prejudicando a fluidez e a experiência geral da exploração.
Em resumo, Dragon Quest III HD-2D Remake traz a essência dos JRPGs clássicos com um visual moderno, mas sua dificuldade, junto ao sistema de encontros aleatórios e ao gerenciamento de recursos limitados, o tornam um jogo mais atraente para os fãs mais dedicados e menos acessível para novatos no gênero.
Gráficos e Direção de Arte
A direção de arte em Dragon Quest III HD-2D Remake é deslumbrante. Utilizando a técnica HD-2D, desenvolvida pelo talentoso Team Asano, o jogo combina de forma brilhante a pixel art com gráficos 3D, transformando um clássico em uma experiência visual contemporânea e encantadora. A harmonia entre os sprites animados e os fundos tridimensionais que empregam perspectiva e desfoque cria uma experiência imersiva e esteticamente agradável.
As cidades são especialmente encantadoras, inspirando-se em arquiteturas do mundo real para construir identidades visuais únicas. A técnica brilha ainda mais graças ao ciclo de tempo, alternando entre dia, tarde e noite, e enriquecendo os cenários com belos efeitos de iluminação. Essas transições adicionam profundidade e tornam o ambiente dinâmico e prazeroso, trazendo uma atmosfera cativante que contribui para uma experiência de jogo vibrante e envolvente.
Trilha Sonora e Som
A trilha sonora, composta pelo lendário Koichi Sugiyama, mantém sua essência aqui, mas agora foi totalmente orquestrada, oferecendo uma das melhores experiências sonoras de jogos deste ano. Cada faixa evoca nostalgia, especialmente para jogadores brasileiros, que reconhecerão as músicas do anime Fly: O Pequeno Guerreiro, exibido no país.
O jogo oferece dublagem em japonês e inglês. Pessoalmente, preferi a versão em inglês, pois, como é característico da série, os diálogos de Dragon Quest são cheios de humor e sotaques que emulam diferentes idiomas e culturas do nosso mundo. Em uma das cidades do jogo, há várias referências ao português brasileiro: os personagens falam com um sotaque brasileiro em inglês, com palavras em português surgindo no meio das falas, além de um “carioquês” tão marcante que é evidente que brasileiros estiveram envolvidos na dublagem desse local.
No entanto, mais uma vez, a Square Enix optou por não trazer o jogo com legendas em português, o que é curioso, considerando a variedade de idiomas disponíveis nas configurações. Essa ausência reforça a sensação de que a desenvolvedora não valoriza ou reconhece devidamente o público brasileiro.
Vale a Pena?
Dragon Quest III HD-2D Remake é uma experiência valiosa, especialmente para os fãs de longa data da franquia e para entusiastas de JRPGs clássicos. No entanto, o jogo pode não agradar a todos os públicos.
A trama permanece fiel ao enredo original, mantendo a essência que consolidou o título como um clássico. Apesar da reimaginação visual em HD-2D, a narrativa não sofreu adaptações que a tornassem mais moderna em termos de estrutura. Esse compromisso com a tradição vai encantar os jogadores nostálgicos, mas pode frustrar quem espera uma narrativa inovadora ou mais densa.
No que diz respeito ao gameplay, o remake mantém muitas características que definiram o título original, mas incorpora algumas melhorias. Entre os aprimoramentos, destacam-se o ajuste de velocidade durante os combates e a calibragem da dificuldade. Entretanto, o jogo poderia ter ido mais longe nessas melhorias de qualidade de vida, especialmente no controle da taxa de encontros aleatórios, que ainda é alta e acaba tornando a experiência repetitiva e cansativa, elevando a dificuldade de forma desnecessária e, por vezes, frustrante.
Em resumo, Dragon Quest III HD-2D Remake é um tributo bem executado a um dos RPGs mais influentes do Japão, indicado para jogadores nostálgicos e fãs do título original. Curiosos e novos jogadores também poderão se interessar, desde que estejam dispostos a aceitar o desafio e as mecânicas clássicas que o jogo oferece.
*Jogo analisado no PS5 com cópia digital fornecida pela Atlus.
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Notas do Jogo
Título: Dragon Quest III HD-2D Remake
Descrição do jogo: DRAGON QUEST III HD-2D Remake é uma incrível releitura da amada obra-prima que narra o início de The Erdrick Trilogy.
Gênero: JRPG e Turnos
Lançamento: 14/11/2024
Produtora: Square Enix
Distribuidora: Square Enix
Nota
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História - 7/10
7/10
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Jogabilidade - 7/10
7/10
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Gráficos - 8.5/10
8.5/10
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Trilha Sonora e Som - 9/10
9/10
Veredito
Dragon Quest III HD-2D Remake é uma experiência valiosa, especialmente para fãs nostálgicos da franquia e entusiastas de JRPGs clássicos, embora possa não agradar a todos. A trama mantém-se fiel ao original, o que encanta quem busca tradição, mas pode decepcionar quem espera uma narrativa mais moderna. O gameplay preserva elementos clássicos com melhorias pontuais, como ajuste de velocidade nos combates e calibração de dificuldade, mas a alta frequência de encontros aleatórios ainda torna a experiência repetitiva e cansativa. Em resumo, é um tributo bem executado para fãs e jogadores dispostos a encarar um RPG tradicional.
Vantagens
- Técnica HD-2D revigora toda a experiência visual do jogo;
- Fãs da série e nostálgicos se sentirão em casa;
- Trilha sonora espetacular orquestrada.
Desvantagens
- Formato de história simples com muitos personagens e vilão apagados;
- Level design das dungeons se resumem a corredores;
- Difícil demais para casuais;
- Alta taxa de encontros aleatórios torna a experiência irritante;
- Desbalanceamento de dinheiro ganho e preços dificulta a compra de itens e equipamentos;
- Sem legendas para pt-br.