A série Dragon Quest sempre foi um fenômeno inigualável no Japão, superando até mesmo o prestígio que Final Fantasy ousou imaginar. Lançado originalmente em 1986, o primeiro título rapidamente conquistou o coração dos jogadores japoneses, consolidando a franquia como um dos maiores pilares da indústria de jogos do país. Agora, buscando apresentar a saga para uma nova geração de fãs, a Square Enix anunciou remakes dos dois primeiros títulos, que serão relançados juntos em uma data futura ainda não definida. A iniciativa será liderada pelo aguardado Dragon Quest III HD-2D Remake, o primeiro projeto desta nova fase.
Dragon Quest III, que debutou em 1992 no Nintendo, recebeu ao longo dos anos versões aprimoradas e adaptações para diversas plataformas, como SNES, Game Boy Color, celulares, Wii, 3DS e PS4. A popularidade do título fez dele um clássico atemporal, sempre retornando com atualizações modestas para conquistar novos públicos. Desta vez, no entanto, a Square Enix optou por uma abordagem ousada: com o time do Team Asano à frente, o jogo será recriado usando a impressionante técnica HD-2D, prometendo uma estética que mistura o pixel art clássico com profundidade tridimensional. Esta nova versão será lançada para PS5, garantindo uma experiência nostálgica, porém renovada.
Com grande entusiasmo, fomos convidados pela Square Enix para testar uma build preview e compartilhar nossas primeiras impressões sobre o que o jogo tem a oferecer. Ao explorar suas mecânicas, jogabilidade e inovações visuais, conseguimos ter uma amostra do que esperar dessa nova releitura. Será que o charme e a magia de Dragon Quest III se mantêm intactos, mesmo com tantas mudanças? Vamos descobrir juntos o que essa aventura em HD-2D nos reserva!
História e Narrativa
A história de Dragon Quest III se desenrola no reino fictício de Aliahan, onde a esperança do povo foi abalada após a derrota do lendário herói Ortega. Ortega partiu em uma missão para derrotar o terrível Arquidemônio Baramos, mas seu fracasso permitiu que o vilão espalhasse o caos pelo mundo. Agora, no seu 16º aniversário, você, como filho do herói caído, decide honrar o legado de seu pai e parte em uma jornada para completar o que ele não pôde. Nomeado pelo rei de Aliahan, você assume a missão de encontrar e derrotar Baramos, restaurando a paz e salvando o mundo.
Durante sua aventura, seu personagem não estará completamente sozinho. Aliados se juntam à sua missão, mas há uma grande limitação: esses companheiros são apenas NPCs sem falas ou personalidade, servindo unicamente como suporte em combate. Isso cria uma atmosfera solitária, tornando a jornada mais introspectiva do que épica, o que pode gerar frustração para jogadores que esperam laços emocionais mais profundos.
Explorar o vasto mundo de Aliahan envolve atravessar diferentes reinos e mergulhar em diversas dungeons, sempre em busca de pistas sobre Baramos. No entanto, as primeiras quatro horas da narrativa revelam-se fragmentadas, com poucos avanços claros sobre o grande vilão. Cada cidade visitada e cada dungeon concluída oferecem micronarrativas isoladas, que não se conectam de forma coesa em um enredo principal envolvente. Essa estrutura remete ao estilo dos JRPGs clássicos, nos quais a ênfase está na exploração e na descoberta gradual.
Essa abordagem nostálgica pode ser vista como uma faca de dois gumes: por um lado, agrada aos fãs que buscam a essência dos jogos de antigamente, mas, por outro, pode decepcionar quem procura uma narrativa mais dinâmica e personagens mais profundos. Embora o remake em HD-2D busque revitalizar a estética e a jogabilidade da obra original, ele mantém intactos vários dos aspectos arcaicos da experiência, com suas vantagens e desvantagens inalteradas.
Gameplay
Uma das maiores barreiras para os jogadores ocidentais se aventurarem na série Dragon Quest sempre foi o estilo tradicional de seu gameplay. Embora o Dragon Quest XI tenha introduzido melhorias significativas, é compreensível que um remake, por se tratar de uma produção mais modesta, possa regredir em alguns aspectos. No entanto, Dragon Quest III HD-2D Remake consegue aprimorar sua jogabilidade antiquada, ainda que alguns dos seus problemas históricos permaneçam.
Esse título é um JRPG raiz, com batalhas por turno em que os inimigos são destacados no centro da tela, uma escolha estética que acompanha a franquia desde os primeiros jogos. Embora nunca tenha sido um fã dessa decisão visual, admito que o remake tenta amenizá-la, dando mais ênfase aos personagens da party em certos momentos dos combates, tornando o visual mais dinâmico e envolvente.
A chave para a vitória reside na compreensão das fraquezas e resistências elementais e físicas dos inimigos. O jogador pode formar uma equipe com até quatro personagens, incluindo o protagonista. Os inimigos aparecem organizados em grupos e, ao atacar, cada membro da equipe escolhe automaticamente o inimigo mais fraco do grupo alvo, sem a possibilidade de selecionar alvos individuais. No entanto, existem armas, magias e habilidades de ataque em área, que se mostram essenciais em diversas situações.
Apesar das melhorias, a série nunca foi conhecida por sua acessibilidade, e este remake mantém essa tradição. Mesmo na dificuldade mais baixa, onde o jogador não pode ser derrotado, os inimigos ainda causam dano elevado e possuem uma defesa sólida, exigindo atenção constante. A frustração cresce com o retorno das batalhas aleatórias, que ocorrem com uma frequência exasperante — muitas vezes a cada dez passos durante a exploração de dungeons, prejudicando o ritmo da aventura e irritando o jogador nas primeiras horas de gameplay.
Outro ponto frustrante é a dificuldade de evoluir os personagens secundários da mesma forma que o protagonista. O jogo é notoriamente restritivo em relação ao dinheiro, tornando quase impossível comprar os melhores equipamentos para todos os membros da equipe. Isso afeta negativamente o balanceamento da party, já que o protagonista acaba assumindo o papel de pilar defensivo e ofensivo, enquanto os outros personagens se tornam meras figuras de suporte, nunca alcançando a mesma eficiência.
Há, no entanto, um interessante sistema de recrutamento, que permite trocar os membros do grupo a qualquer momento. Além disso, o remake introduz um novo recurso: voluntários. Estes personagens podem ser inscritos para ajudar em outras campanhas salvas na mesma conta, proporcionando alguma flexibilidade na composição da equipe ao longo do jogo.
Os personagens também possuem vocações (equivalentes a classes ou jobs), que determinam as habilidades, armas e magias que podem utilizar. As vocações são trocáveis a partir do nível 20, embora isso faça o personagem retornar ao nível 1, mantendo algumas vantagens adquiridas. Essa mecânica permite experimentar diferentes combinações de classes, mas o reinício do nível pode ser desanimador para alguns jogadores.
Uma novidade interessante é a captura de monstros, que estão espalhados por cidades, dungeons e outras áreas. Os monstros resgatados podem ser usados nas arenas de combate, onde você participa de torneios para ganhar itens raros e moedas especiais.
A exploração é recompensadora e segue o estilo clássico da série. Há armários para abrir, gavetas para vasculhar, potes para espiar e baús escondidos contendo equipamentos, consumíveis e até sementes que aumentam atributos. Essa mecânica incentiva a curiosidade do jogador, garantindo que cada canto do mapa tenha algo de valor a oferecer.
Em resumo, Dragon Quest III HD-2D Remake preserva a essência dos JRPGs tradicionais, com suas qualidades e limitações intactas. Embora a nostalgia e a estética em HD-2D atraiam fãs antigos, o jogo pode não agradar a todos devido a certas mecânicas ultrapassadas e a uma curva de dificuldade rígida. Ainda assim, para aqueles dispostos a abraçar o desafio e reviver uma aventura clássica, ele promete uma experiência envolvente e cheia de momentos memoráveis.
Gráficos e Direção de Arte
Acredito que, juntamente com a excelente trilha sonora, a direção de arte do remake é um dos maiores trunfos do jogo. Seguindo a proposta do seu subtítulo, o título adota o estilo visual desenvolvido pela Team Asano, conhecido como HD-2D. Essa técnica combina o charme da pixel art com gráficos em 3D, criando uma harmonia perfeita entre os sprites dos personagens e inimigos e os fundos tridimensionais dos cenários. Essa fusão proporciona uma vida vibrante e perspectivas únicas que tornam cada área do jogo visualmente impressionante.
Um detalhe que chamou minha atenção é que cada cidade do mundo de Aliahan parece ser inspirada em um país real, evocando elementos de lugares como Egito, Japão, França, entre outros. Essa diversidade cultural enriquece a experiência, tornando o mundo mais imersivo e cheio de nuances. Além disso, o uso de mudanças de tempo — com transições entre dia, tarde e noite — torna os cenários ainda mais belos e dinâmicos, oferecendo uma atmosfera que se transforma conforme o jogador explora, proporcionando momentos visuais que são verdadeiros festins para os olhos.
Esses elementos não apenas embelezam a apresentação do jogo, mas também contribuem para a imersão na narrativa, fazendo com que os jogadores se sintam parte de um mundo vibrante e em constante evolução. A direção de arte realmente eleva a experiência, tornando cada aventura em Dragon Quest III HD-2D Remake uma jornada memorável e esteticamente cativante.
Primeiras Impressões
Após quatro horas de gameplay em Dragon Quest III HD-2D Remake, fica claro que a experiência se alinha com o que se espera de uma releitura conservadora e de baixo orçamento do clássico. A narrativa não busca inovações contemporâneas; ao contrário, preserva a simplicidade da versão original, incorporando apenas melhorias sutis que conferem um pouco mais de contexto à história.
O sistema de gameplay mantém a mesma premissa, oferecendo melhorias na interface do usuário, mas ainda se revela desafiador para aqueles que buscam uma experiência mais tranquila. O jogo frequentemente exige atenção constante, com batalhas surgindo uma após a outra, muitas vezes sem consideração pela quantidade de MP ou itens do jogador.
O grande destaque do remake reside, sem dúvida, em sua direção artística. A trilha sonora orquestrada é de excelente qualidade, complementando os gráficos revitalizados que exploram ao máximo a técnica desenvolvida pela Team Asano. Esses elementos visuais e sonoros realmente trazem uma nova vida ao mundo do jogo, capturando a essência do original enquanto oferecem um visual moderno.
Em resumo, Dragon Quest III HD-2D Remake é altamente recomendado para jogadores nostálgicos que desejam reviver as emoções dos clássicos JRPGs, agora com uma nova roupagem gráfica. No entanto, pode frustrar jogadores mais casuais que desejam uma experiência mais acessível e que desejam explorar a série sem a pressão de um desafio constante. A proposta é clara: para aqueles que abraçam a nostalgia, a recompensa é significativa, mas para os que buscam inovação e facilidade, o jogo pode não atender às expectativas.
Dragon Quest III HD-2D Remake chegará aos consoles PlayStation 5 e PlayStation 4 em 14 de novembro de 2024.
Informações do Jogo
Título: Dragon Quest III HD-2D Remake
Descrição do jogo: DRAGON QUEST III HD-2D Remake é uma incrível releitura da amada obra-prima que narra o início de The Erdrick Trilogy.
Gênero: JRPG e Turnos
Lançamento: 14/11/2024
Produtora: Square Enix
Distribuidora: Square Enix