No mundo do terror interativo, a Supermassive Games se destacou de maneira impressionante, principalmente com seu aclamado título, Until Dawn. Este jogo não apenas definiu um novo padrão, mas também se tornou uma referência para aqueles que buscavam uma experiência cinematográfica em forma de game. Apesar de tentativas anteriores, como o subestimado ObsCure, Until Dawn se tornou o verdadeiro pioneiro, combinando elementos de filmes de terror com uma jogabilidade envolvente e decisões significativas.
Agora, com um filme programado e rumores sobre uma sequência em andamento, o momento parece propício para revisitar esse clássico. Surpreendentemente, a Supermassive não está mais à frente do projeto; a Ballistic Moon é a nova responsável pela reinterpretação, com a colaboração da Sony Interactive Entertainment.
A Supermassive sempre teve uma afinidade especial com o terror, explorando uma variedade de subgêneros e contando histórias que cativam e aterrorizam. Until Dawn, com seu elenco estelar, decisões que moldam a narrativa e uma atmosfera de tensão constante, é considerado seu ponto alto. Com nove anos de evolução na tecnologia, a Ballistic Moon agora se prepara para trazer este clássico à vida novamente, utilizando o Unreal Engine 5 para implementar melhorias que prometem aumentar a imersão.
A grande questão que paira é: esta nova versão conseguirá manter a essência que conquistou tantos fãs ou será apenas um eco do que foi um dia? A expectativa é alta, e os fãs do gênero aguardam ansiosamente para ver como essa renovação se desenrolará.
Until Dawn Remake foi lançado nos consoles PlayStation 5 e PlayStation 4 em 04 de Outubro de 2024.
História
Situado em uma cabana isolada nas montanhas, Until Dawn coloca você na pele de um grupo de amigos que se reencontram um ano após uma tragédia devastadora: a morte das irmãs gêmeas, Beth e Hannah. Josh, o irmão das gêmeas, convida todos para buscar um encerramento emocional em meio à natureza. A premissa pode parecer convencional, mas os desenvolvedores da Supermassive Games conseguem brincar com os clichês do gênero, entregando uma experiência repleta de surpresas e sustos ao longo da aventura.
Em vez de seguir uma única linha de terror, Until Dawn habilmente entrelaça vários elementos para formar uma complexa teia de medo. O jogo combina o pavor psicológico, o terror sobrenatural e o suspense, criando uma atmosfera de tensão constante. Cada decisão que você toma pode mudar o destino dos personagens, aumentando a imprevisibilidade e a emoção. À medida que os segredos do passado vêm à tona e a noite avança, a interação entre os personagens e o ambiente se torna crucial para a sobrevivência, fazendo com que você se questione não apenas sobre o que está acontecendo ao seu redor, mas também sobre as relações que moldam a narrativa.
Essa mescla de gêneros e elementos torna Until Dawn uma experiência única, onde cada escolha pode levar a um destino diferente, mantendo os jogadores em constante estado de apreensão e expectativa.
Campanha
Embora a história do remake de Until Dawn permaneça fiel ao original, o prólogo traz algumas novas adições que buscam aprofundar a tragédia desde o início. Além disso, certas cenas ao longo do jogo foram redesenhadas para conferir uma sensação mais contemporânea. Essa abordagem visa não apenas atualizar a estética, mas também enriquecer a narrativa, envolvendo o jogador desde os primeiros momentos.
O jogo adota um ritmo lento e metódico para desenvolver a trama. À medida que você interage com os personagens por meio de tarefas cotidianas e momentos de convivência, uma sensação de conforto se estabelece. Embora os protagonistas sejam clichês de adolescentes de filmes de terror B, o tempo dedicado ao seu desenvolvimento permite que revelem camadas de suas personalidades, criando um laço emocional com cada um deles. Apesar de algumas características serem irritantes, cada personagem possui qualidades intrigantes, seja por suas histórias de fundo ou pelas dinâmicas com os outros, o que torna cada interação significativa. As escolhas do jogador não apenas influenciam os relacionamentos, mas também moldam seus desfechos, com medidores no menu indicando a afinidade entre os personagens. Essas informações impactam sutilmente as respostas nas conversas, aumentando a noção de que cada decisão pode ter um efeito real na narrativa.
Embora o remake apresente essencialmente a mesma história do jogo de 2015, ele traz ajustes e melhorias. Entre essas mudanças estão um prólogo ligeiramente expandido e um final totalmente novo, que promete grandes implicações para o futuro da franquia.
- Relacionado: Como conseguir o melhor final de Until Dawn
No entanto, o ritmo do remake é um dos seus problemas mais significativos. O original foi uma verdadeira aula de construção de tensão, sempre mantendo o jogador na expectativa, com cada escolha parecendo impactante. Em contraste, o remake, embora acrescente novas áreas e conteúdos, acaba se tornando inchado e monótono. Essa adição, embora não excessiva, desacelera o jogo e interrompe o ótimo ritmo do original. O horror que antes prosperava na imprevisibilidade e na tensão agora parece comprometido pelo excesso de preenchimento e mudanças mecânicas que afetam a imersão. O desafio será encontrar o equilíbrio entre as novas ideias e a essência que fez do original uma experiência memorável.
Gameplay
O movimento em Until Dawn, embora não fosse perfeito, desempenhava um papel fundamental na experiência do jogador, principalmente durante as intensas sequências de exploração. Eu diria que, embora tivesse um toque de desajeitamento, era funcional e se encaixava bem na atmosfera do jogo. No entanto, ao se comparar com o remake, a situação muda drasticamente: o movimento parece visivelmente pior. A ausência da função de corrida — uma mecânica que, embora não fosse crítica, permitia que os jogadores se movessem com mais agilidade nas cenas — interrompe ainda mais o fluxo da narrativa. Enquanto o original tinha seus problemas de movimentação, eles não comprometiam a experiência geral como o remake faz.
Além disso, os controles do remake parecem menos responsivos, resultando em uma falta de precisão nos movimentos durante os momentos mais críticos do jogo. Essa perda de controle prejudica, significativamente, a experiência do jogador, especialmente em uma narrativa já tensa.
Outro aspecto notável do Until Dawn original era o sistema de totens, que se destacava como uma das mecânicas mais envolventes. Esses itens colecionáveis, escondidos em todo o jogo, ofereciam vislumbres de eventos futuros, instigando a curiosidade dos jogadores. Essa mecânica adicionava um elemento de mistério e previsão, permitindo que os jogadores unissem as peças da história e tomassem decisões que poderiam alterar o destino dos personagens. Era um sistema recompensador que incentivava a rejogabilidade, pois os jogadores podiam revisitar as visões para explorar diferentes resultados.
No entanto, o remake não consegue reproduzir essa experiência de forma satisfatória. Em vez de permitir que os totens sejam descobertos naturalmente durante a exploração, o jogo força uma pausa para interagir de maneira específica com cada totem, tornando o processo moroso e frustrante. Essa interação mecânica quebra o fluxo do jogo e interrompe seu ritmo dinâmico. No original, encontrar um totem era uma descoberta que enriquecia a narrativa; no remake, a interação se torna tediosa e irritante, desvirtuando a essência da mecânica.
Essa necessidade de interação forçada transforma o sistema de totens em uma distração, ao invés de um elemento gratificante da exploração. Em vez de ser uma parte excitante da aventura, encontrar um totem no remake frequentemente estraga o ritmo, forçando uma pausa abrupta que compromete o envolvimento do jogador.
Gráficos e Direção de Arte
O remake de Until Dawn apresenta como seu verdadeiro ponto de venda a impressionante reformulação gráfica, que transforma um jogo já visualmente impactante em uma obra-prima ainda mais deslumbrante. Embora a versão original ainda se mantenha atraente, aqueles que desejam uma experiência visualmente enriquecida certamente serão convencidos a pagar o preço total pela nova edição. A versão de 2024 do jogo não decepciona, com modelos de personagens e ambientes que estão perfeitamente detalhados. Embora algumas animações possam parecer um pouco tortas, a maioria dos elementos visuais impressiona.
A nova abordagem gráfica traz uma nova vida aos horrores do jogo. Utilizando a poderosa Unreal Engine 5, a desenvolvedora Ballistic Moon implementou iluminação realista que acentua o mistério oculto em cada sombra. Os personagens foram significativamente atualizados, apresentando animações mais naturais, gestos fluidos e expressões faciais autênticas. As feridas, por sua vez, são ainda mais grotescas, intensificando o impacto das mortes brutais que você testemunha nesta jornada aterradora. O conjunto de elementos visuais cria uma experiência cinematográfica, fazendo você se sentir como se estivesse dentro de um filme de terror envolvente.
Graças à Unreal Engine 5, os modelos de personagens e a iluminação atingem um nível extraordinário, mesmo que a captura de movimento original já pareça um pouco datada. A Ballistic Moon também fez mudanças artísticas sutis: o tom azul predominante da versão anterior foi substituído por uma paleta de cores mais natural, e a iluminação nas cenas de abertura foi ajustada para oferecer uma transição mais suave para a escuridão. Comparando com o original, os personagens agora parecem autênticas obras de arte em vez de bonecas de porcelana, especialmente na versão nativa do PS5, que realmente brilha visualmente.
Entretanto, uma das principais alterações, além dos gráficos, é a perspectiva da câmera, que foi aproximada dos personagens. Embora alguns ângulos fixos da versão original ainda estejam presentes, momentos específicos oferecem uma visão sobre o ombro.
No entanto, essa melhoria estética vem com um custo. Enquanto a versão original, embora inconsistente no hardware do PS4, rodava a 60 fps de maneira suave através da compatibilidade retroativa com o PS5, o remake luta para manter 30 fps estáveis. Embora não seja um título que dependa de uma taxa de quadros alta — sendo de natureza cinematográfica, afinal — essa redução de desempenho é um retrocesso, cortando efetivamente a taxa de quadros pela metade. O problema é exacerbado pelas frequentes quedas de quadros, resultando em momentos em que a taxa de quadros fica abaixo de 30 fps na maioria do tempo. Este é um jogo que parece necessitar de um PS5 Pro, o que não será bem recebido por muitos.
Trilha Sonora e Som
Infelizmente, a trilha sonora de Until Dawn no remake é um passo atrás em comparação com a versão de 2015. Uma das mudanças mais decepcionantes é a ausência da icônica “O Death” na introdução, uma escolha que deixa um vazio na experiência sonora do jogo. Embora eu não saiba se questões de licenciamento tenham impedido o uso dessa faixa no remake, é triste ver uma música tão impactante ser retirada.
A nova composição, “Out of the Shadows”, é, sem dúvida, uma música adequada e se encaixa bem no contexto do jogo. No entanto, é difícil não sentir a falta de “O Death”, cuja atmosfera sombria e envolvente realmente estabelecia o tom perfeito para a narrativa. A nova faixa, embora competente, não consegue replicar a mesma profundidade emocional e a sensação de angústia que a canção original proporcionava. A transição entre as trilhas sonoras é um lembrete do que poderia ter sido, fazendo com que muitos fãs lamentem a ausência de uma das melhores escolhas musicais da versão anterior.
Vale a Pena?
O Until Dawn definidamente vale a pena, mas o original, não o remake desnecessário. O remake ainda é um jogo de qualidade. Visualmente, ele é deslumbrante, e a história de Until Dawn continua a ser boa, embora piorada por causa de adições de conteúdo novo que estragam o seu ritmo. No entanto, o preço de R$ 259,90 é elevado para o que está sendo oferecido. Jogadores que jogam apenas no PC podem considerar arriscar, mas os que jogam no PlayStation podem se beneficiar mais ao ficarem com o original e buscarem o novo final.
O remake de Until Dawn parece uma oportunidade perdida — um título que adiciona elementos desnecessários e remove recursos que poderiam ter aprimorado a experiência geral, especialmente em termos de replay. Embora não seja um jogo ruim, está longe de ser a obra-prima que o original ainda representa.
*Jogo analisado no PS5 com cópia digital fornecida pela PlayStation Brasil.
Confira a Política de Reviews do PS Verso
Notas do Jogo
Título: Until Dawn Remake
Descrição do jogo: Reconstruído do zero para o console PS5 e para PC, Until Dawn convida você a mergulhar neste terror sanguinolento em que cada decisão pode fazer a diferença entre a vida e a morte. Quando oito amigos voltam ao chalé isolado onde dois membros do grupo desapareceram um ano antes, as coisas logo tomam um rumo sinistro. Quando o medo crava suas garras geladas no grupo, o refúgio distante se transforma em um pesadelo sem saída. Suas ações e escolhas determinam quem sobrevive em Until Dawn nesta versão definitiva do prestigioso clássico do terror.
Gênero: Narrativa e Terror
Lançamento: 04/10/2024
Produtora: Supermassive Games
Distribuidora: Sony Interactive Entertainment Europe
Nota
-
História - 7/10
7/10
-
Jogabilidade - 7/10
7/10
-
Gráficos - 8.5/10
8.5/10
-
Trilha Sonora e Som - 7/10
7/10
Veredito
Until Dawn definitivamente vale a pena, mas o original é superior ao remake, que se mostra desnecessário. Embora o remake seja visualmente deslumbrante e mantenha uma boa história, ele peca por adicionar conteúdo que estraga o ritmo do jogo. O preço de R$ 259,90 é alto para o que é oferecido, tornando o original uma opção melhor, especialmente para jogadores de PlayStation que podem buscar o novo final.
O remake parece uma oportunidade perdida, pois adiciona elementos desnecessários e remove recursos que poderiam melhorar a experiência, especialmente em termos de rejogabilidade. Embora não seja um jogo ruim, está longe de alcançar a obra-prima que o original ainda representa.
Vantagens
- Melhorias gráficas notáveis.
- Novo final revelador.
- Câmera em terceira pessoa aumenta o envolvimento.
Desvantagens
- Algumas novidades quebram o ritmo de tensão do original, estragando a história.
- Captura de movimento desatualizada.
- Taxa de quadros inconsistente.
- Preço alto em relação ao que oferece.
- Mudanças ruins na trilha sonora.
0 Comentários