Estamos nos aproximando para o final do ano e já podemos notar filmes com temática natalina, comerciais voltados para a data inundarem a mídia. Geralmente o mercado de jogos não abraça tanto esse evento quanto outros mercados, se limitando a lançarem cosméticos e DLCs genéricos apenas para festejar a data. Para fugir do óbvio, desenvolvido pelos brasileiros do Orbit Studio, decidiram lançar um game de Natal, é aí que Ebenezer and the Invisible World surgiu.
Ebenezer and the Invisible World é um jogo metroidvania desenvolvido pela Play on Worlds e publicado pela Orbit Studio. O jogo foi lançado para Nintendo Switch, PlayStation 5, Xbox One, PlayStation 4 e Microsoft Windows em 03 de novembro de 2023.
O jogo é uma adaptação da história clássica de Natal “A Christmas Carol”, de Charles Dickens. No entanto, em Ebenezer and the Invisible World, os jogadores assumem o controle de Ebenezer Scrooge depois dele ser visitado pelos Fantasmas do Natal Passado, Presente e Futuro. Nesta versão da história, Scrooge é um caçador de fantasmas que deve explorar o mundo invisível de Londres para impedir que um novo vilão, Caspar Malthus, destrua a cidade.
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História
Para conseguir entender o personagem principal da trama, é necessário entender sua origem e quando ele foi criado, por isso preciso reservar algum tempo para explicar o que houve na história “A Christmas Carol” (ou “Um Conto de Natal“), uma novela escrita por Charles Dickens em 1843.
Ebenezer Scrooge se trata de um senhor avarento e egoísta que detesta o espírito do Natal e só se preocupa com dinheiro. Sendo um homem de negócios mesquinho que explora seus empregados e se recusa a compartilhar sua riqueza com os menos afortunados.
Na véspera de Natal, Scrooge é visitado por seu falecido sócio, Jacob Marley, que aparece como um fantasma. Marley o adverte de que ele enfrentará um destino sombrio no pós-vida se não mudar sua maneira de viver.
Scrooge recebe a visita dos três espíritos, o Espírito do Natal Passado, o Espírito do Natal Presente e o Espírito do Natal Futuro, onde eles levam Scrooge em uma jornada através de suas memórias, para mostrar as consequências de sua vida miserável no futuro.
Ao ver o que o destino lhe reservava e o sofrimento e tristeza que suas ações causam nos outros, Scrooge reconhece a necessidade de mudar. Despertando na manhã de Natal, Scrooge se enche de bondade e generosidade, decidindo a se redimir. Scrooge se torna um homem generoso e caridoso, compartilhando sua riqueza com os necessitados e reconectando com sua família e amigos.
A narrativa do jogo acontece vários depois do conto e seu arco de redenção, onde Scrooge agora se torna um benfeitor capaz de ver o mundo sobrenatural, se tornando uma ponte entre o mundo dos humanos e dos espíritos. Se desenrolando na véspera de Natal, Ebenezer recebe a vísita de um espírito chamado Eric Fellows. O fantasma conta a história de um amigo chamado Caspus Matlhus, chefe de uma longa linhagem de industriais ricos que nutre um ódio profundo pelos pobres e a classe trabalhadora, que se negou a mudar de comportamento mesmo recebendo a visita dos Três Fantasmas que mudaram a vida de Ebenezer Scrooge. Visualizando o futuro que lhe reservava, Malthus decide usar a sua guarda particular e uma fonte de energia estranha para esmagar os plebeus de uma Londres vitoriana imersa em protestos.
Sabendo disso, Ebenezer parte em busca de uma forma de impedir que Malthus concretize o seu plano enquanto reúne espíritos que ficaram presos no plano terreno por causa de pendências a serem resolvidas.
A campanha do jogo funciona de forma clara, direta e expositiva. Scrooge vai seguindo pelas profundezas de Londres encontrando uma maneira de reunir objetos e memórias que façam Caspus voltar à razão e se livrar da influência mentirosa de uma figura sombria. No caminho, vamos ajudando outros fantasmas e conquistando a confiança deles para conseguir ajuda contra as forças inimigas.
Em uma campanha que pode durar de 10 a 15 horas, a narrativa de Ebenezer and the Invisible World não carrega grandes momentos ou cria algum mistério ou tensão a serem desenvolvidos. Não se importando em explicar o background narrativo em que ele se baseou, o protagonista é pouco trabalhado, prejudicando muito a qualidade narrativa, já que fica difícil uma história ser boa sem grandes personagens. Ela cumpre a função de desenhar o conceito, mas não consegue captar o interesse de quem joga.
Gameplay
É um metroidvania básico, bebendo da fonte mecânicas de outros jogos do gênero como Castlevania e Ori. Na medida que vamos avançando pelo mapa dividido em poucas áreas, vamos encontrando fantasmas na cor azul que precisam de alguma ajuda. Ao ajudá-los ganhamos habilidades de travessia como realizar pulos duplos, passar por portões gradeados, flutuar e ser impulsionado com ganchos espalhados pelo mapa. Os fantasmas na cor vermelha lhe conferem golpes especiais de dano contra inimigos e que consomem a barra de “magia”. Muito úteis em batalha, todos são necessários fazer missões secundárias que se resumem a encontrar itens e entregar para um determinado personagem terreno.
Ebenezer é equipado por diversos itens. As armas espirituais são destinadas para ataque, podendo equipar chicotes, bengalas e mais seis tipos de armas. As heranças são acessórios encontrados no mapa ou comprados que conferem habilidades passivas que melhoram eficiência tanto em combate tirando mais dano, quanto fora, aumentando a chance de dropar itens mais raros. Você também pode equipar três tipos de espíritos adicionais (ataque, defesa e cura) que te acompanham durante a jornada.
A jogabilidade de Ebenezer and the Invisible World é sólida. Os controles de salto em plataformas são competentes, dificilmente o jogador se verá irritado com alguma falta de resposta, mas senti falta de uma maior agilidade e dinamismo. Seu maior problema reside nos inimigos, que variam entre a guarda pessoal e fantasmas, são limitados em movesets. Apesar de tirarem uma boa quantidade de dano, possuem janelas de ataque muito fáceis de serem previstas, eliminando qualquer desafio durante a jornada. Os chefes, que são poucos, possuem uma maior quantidade de ataques que escalam na medida que vão se aproximando da derrota, mas também são previsíveis e em uma segunda ou terceira tentativa o jogador já saberá como desviar da maioria dos seus ataques. Isso acaba sendo facilitado caso o jogador tenha uma boa quantidade de itens de cura, eliminando qualquer dificuldade alta que o jogo possa propor.
Sobre a exploração, Ebenezer and the Invisible World também conta com problemas. O primeiro e o que mais me incomodou foi a limitação de pontos com viagens rápidas. Aqui sendo representados como estações de trem fantasma, os pontos são poucos e por muitas vezes nos forçam a ter que deslocar por longas distâncias para chegar ao destino. Outro problema é que existe apenas um ponto de compra de itens, um aumento de saúde e outro aumento de magia, obrigando o jogador a ter que achar um ponto de viagem rápida, para chegar em outro ponto mais próximo desses locais para deslocar até eles, tornando o backtracking um processo chato de ser repetido.
Gráficos e Direção de Arte
O maior ponto de Ebenezer and the Invisible World reside na sua direção de arte. Com bonitas ilustrações de personagens e áreas de mapa bem desenhadas à mão, o jogo consegue entregar a sensação de jogar em uma Londres representada por Dickens. Com diversas referências ao conto, o produto faz questão de mostrar as suas origens. Seu problema começa nas cenas importantes de história desenhadas, possuindo uma qualidade bem abaixo das ilustrações, tanto no traço quanto na animação.
Outros fatores bem graves do jogo são os diversos problemas de polimento, bugs e crashes presentes. Revelando uma quantidade muito grande de problemas por um curto tempo do jogo, testemunhei desde chefes travando, áreas causando fechamento do jogo e crashes aleatórios sem motivo aparente. Fica claro que o game foi lançado sem um maior cuidado na sua otimização, o que derruba muito a experiência.
Trilha Sonora e Som
Não há muito o que se falar da trilha sonora de Ebenezer and the Invisible World. Ambientado em uma época natalina, as faixas seguem essa premissa e conseguem ambientar o jogo, mas elas acabam se tornando repetitivas demais.
Na build enviada antecipadamente para a imprensa, não tinha a opção de legendas e localização em português no Brasil, mas um patch foi lançado com a opção. Notei diversos problemas de tradução com “Offer” sendo traduzido para “Desligado” e palavras com acento ganhando fontes escuras.
Vale a Pena?
Ebenezer and the Invisible World entrega um conceito interessante e uma ideia original criativa. Com uma direção de arte bonita e bem ilustrada, impressionando pelo visual à primeira vista. Seu gameplay funciona de forma satisfatória, apesar de combates contra alguns inimigos acabem se tornando etapas monótonas feitas para te atrasar ao invés de te desafiar e a exploração necessite de mais pontos de viagem rápida. O jogo conta com uma quantidade grande de bugs críticos que geram crashes, revelando ser um jogo muito pouco polido.
Ebenezer and the Invisible World poderia ser um belo jogo natalino original e bem executado, mas seus problemas são tantos que acabará por ser esquecido. Uma pena.
Notas do Jogo
Título: Ebenezer and the Invisible World
Descrição do jogo: Junte-se a Ebenezer Scrooge e uma equipe de aliados espectrais enquanto eles lutam para salvar Londres das garras do rico industrialista, Caspar Malthus, e sua Guarda Privada militante. Com cada Fantasma emprestando suas habilidades únicas, explore os cantos escuros de Londres e descubra a influência sinistra do Espírito Sombrio e um exército de Fantasmas Irrepreensíveis. Você terá coragem para enfrentar Caspar e impedir seus planos malévolos antes que seja tarde demais?
Gênero: Metroidvania
Lançamento: 03/11/2023
Produtora: Orbit Studio, Play on Worlds
Distribuidora: Play On Worlds LLC
Nota
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História - 6/10
6/10
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Jogabilidade - 5/10
5/10
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Gráficos - 7/10
7/10
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Trilha Sonora e Som - 6/10
6/10
Veredito
Ebenezer and the Invisible World entrega um conceito interessante e uma ideia original criativa. Com uma direção de arte bonita e bem ilustrada, impressionando pelo visual à primeira vista. Seu gameplay funciona de forma satisfatória, apesar de combates contra alguns inimigos acabem se tornando etapas monótonas feitas para te atrasar ao invés de te desafiar e a exploração necessite de mais pontos de viagem rápida. O jogo conta com uma quantidade grande de bugs críticos que geram crashes, revelando ser um jogo muito pouco polido.
Ebenezer and the Invisible World poderia ser um belo jogo natalino original e bem executado, mas seus problemas são tantos que acabará por ser esquecido. Uma pena.
Vantagens
- Ambientes detalhados;
- Belas ilustrações desenhadas à mão;
- Uso de habilidades de fantasmas criativo.
Desvantagens
- Muitos bugs;
- Más decisões de game design;
- Crashes constantes;
- Combate repetitivo por causa dos inimigos monótonos;
- Poucas músicas;
- Problemas de tradução nas legendas.