Análise | BioMutant


Um dos maiores defeitos da atual geração é a criação de expectativa causada por um marketing deficiente e por vezes enganoso. Diversos jogos da atual geração sofrem de adiamentos, períodos longos sem informação, marketings super expositivos e trailers enganosos. BioMutant é um destes jogos.

Desenvolvido pela sueca Experiment 101 e publicado pela THQ Nordic, BioMutant com um super trailer de CGI espantou e surpreendeu muita gente, ainda mais desenvolvido por ex-desenvolvedores de Just Cause. Logo depois, vídeos de gameplay e promessas de ser um jogo muito livre na questão de gameplay, na criação de personagens e montagem de builds diferentes. Com isso anunciado, o jogo já ganhou a atenção de muita gente, imaginando um jogo AAA.

Um dos sintomas que o desenvolvimento de um jogo começa a se perder é quando depois de um grande anúncio, ele vai fornecendo poucas informações até sumir das notícias e esse foi o caso de BioMutant. Sem uma data de lançamento, o jogo acabou ficando esquecido e do nada foi anunciado que seria lançado em 25 de maio.

Será que o jogo mantém a boa impressão causada no início? Ele consegue entregar o jogo AAA que apareceu no anúncio? Um time de cerca de 20 pessoas é um bom capital humano para entregar um projeto desse? Vamos descobrir.

História

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O enredo principal acontece em um planeta pós-apocalíptico no futuro e gira em torno da Árvore da Vida, a fonte e o coração do planeta que foi atingido por um desastre natural causado por séculos de poluição radioativa provocada por civilizações antigas que hoje está sendo consumida por um óleo venenoso debaixo do solo. A Árvore da Vida contêm cinco raízes que por meio das quais dá vida ao mundo todo. Cada raiz está sendo ameaçada por cinco criaturas, chamadas de Devoradores, que estão as roendo lentamente ameaçando matar a Árvore antes que ela consiga se curar.

Com esse cenário catastrófico, animais foram sofrendo mutações causado por radiações e com isso várias raças foram surgindo, chamadas de Biomutantes. Estas raças viviam juntas sob o comando da mãe do protagonista principal, uma exímia lutadora criadora da arte marcial Wung-Fu (uma espécie de Kung-Fu), mas após a sua morte causada por uma terrível criatura, estas raças se separaram por seis tribos distintas. Estas tribos brigam entre si, três delas desejam restaurar o equilíbrio do mundo salvando a Árvore da Vida e três delas apenas anseiam pela expansão do seu território e do seu poder, e seu objetivo será escolher de qual lado você lutará.

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Com esse início de jogo e dois objetivos distintos, o jogo oferece diversas opções por linhas de diálogo para você escolher qual caminho trilhar. Sendo o Caminho da Luz e o Caminho da Escuridão, o roteiro vai oferecendo algumas escolhas por meio do seu narrador terrível. As criaturas não são dubladas, elas apenas emitem sons de “bichinhos” e o narrador faz uma tradução simultânea, se revelando a pior decisão narrativa na história da atual geração de games. O tom monótono e morto do narrador traduzindo as falas das criaturas vai minando a paciência do jogador, obrigando-o ou a desligar a narração nas opções ou pular as linhas de diálogo. se tornando uma ideia ruim.

Por esse motivo, a campanha, que já não é grande coisa, vai se transformando em algo difícil de suportar e acaba atrapalhando todo o background, já inexistente, de todos os personagens. Por vezes, tentei ter empatia por estes seres estranhos e pelo drama do personagem principal contado por flashback mal dirigidos, mas a cada tentativa de forçar algum sentimento ela se frustrava mais e mais chegando ao ponto de eu só ansiar pelo fim do jogo.

Mas não só de campanha tradicional vive um jogo de RPG, e BioMutant oferece uma boa quantidade de missões secundárias que agregam à narrativa principal e são, de certa forma, divertidas. Algumas se limitam a só completar puzzles temáticos, outras envolvem enfrentar inimigos e conseguir seres luminosos para NPCs e algumas não possuem um objetivo real, apenas se limitando a conquistar equipamentos e peças raras.

Gameplay

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BioMutant é um action RPG de mundo aberto e isso fica claro desde a criação do seu personagem. Você possui algumas raças para escolher, mas sua influência no jogo é somente estética. Logo depois você precisa dividir os pontos de status do seu personagem em vitalidade, força, intelecto, agilidade, carisma e sorte. Depois você precisa escolher uma das classes que são pistoleiro, soldado, psicodoido, sabotador e sentinela que concedem habilidades e vantagens para o personagem.

Feito isso, o jogo te joga pra dentro do mundo aberto, onde você pode atacar com armas brancas de uma ou duas mãos, usar armas de fogo como pistolas, fazer saltos simples e duplos, rolar, realizar ataques especiais, conquistar montarias, usar paragliders, pilotar exoesqueletos, montar em mãos robóticas (sim) e jetskis.

Falando sobre autômatos, seu personagem ganha um autômato, uma espécie de grilo robótico parceiro. Este autômato, além de poder ser customizado (assim como o exoesqueleto e o jetski) pode te ajudar durante o seu gameplay, seja dentro ou fora da batalha. Por meio de pequenas missões que surgem durante a campanha, seu autômato pode te curar, aumentar momentaneamente a sua força, atacar e te fornecer o paraglider, sendo uma bela ferramenta te ajuda durante toda a campanha.

Sistema de Batalha

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A batalha de BioMutant consiste em golpes de armas brancas e armas de fogo onde você possui alguns combos simples, outros com combinações de ataques fortes que se diferenciam pela arma escolhida e que precisam ser adquiridos com pontos especiais. Cada tipo arma possui uma gameplay única, com mvimentos e combos diferentes. Existem algumas habilidades onde consomem a sua barra de Ki (que é a barra de stamina) e que você precisa adquirir por meio da nível da sua Aura (escuridão ou de luz). Tratam-se de ataques especiais como projeteis de veneno, ataques lasers, de gelo ou investidas de fogo.

Com esses elementos de gameplay, o jogo espalha inimigos em locais onde contêm itens, geralmente ficam em grupos portando armas brancas e atiradores e um inimigo grande com grande força física, uma espécie de mini-chefe.

Acontece que as batalhas, por conter muitos inimigos na tela e necessitar de velocidade, carece de otimização. São relativamente divertidas nas primeiras horas, mas aos poucos acabam se tornando repetitivas e monótonas, já que os inimigos possuem quase os mesmos padrões de ataque e uma grande quantidade de defesa e saúde, deixando cada batalha exageradamente demorada. Por conter muitos inimigos na tela, o jogo não é convidativo para quem deseja encará-lo como um Hack’n Slash, investindo em uma batalha de curto alcance com golpes físicos, já que os inimigos possuem muita defesa e pouco sentem os ataques, você acaba sofrendo mais realizando batalhas de curto alcance e acaba se rendendo a investir nas armas de fogo e atacando de longe, assumindo uma postura mais segura e menos trabalhosa. Isso para um jogo que se propõe a ter versatilidade de gameplay é um tiro no pé, já que ele te pune mais em um modelo de jogo do que no outro.

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As únicas batalhas no jogo que fogem do padrão, são as batalhas contra os Devoradores, grandes inimigos com designs pouco criativos, onde você precisa fazer pequenas missões para adquirir montarias ou veículos e batalhar com eles. Nestas lutas, o jogo aplica algumas diferenciadas para valorizar o momento.

Além de todo esse problema, o hitbox dos inimigos é estranho, parecendo descalibrado, deixando uma sensação ruim ao acertar os inimigos e não ver a barra saúde mexendo. Você não tem aquela sensação boa de estar acertado um inimigo que todo jogo de ação faz questão de deixar claro em suas mecânicas, frustrando o jogador que deseja ter uma sensação instantânea.

Armas, Equipamentos e Crafting

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O jogo faz uso de espadas, katanas, marretas, martelos, espadas de duas mãos, bastões, bumerangues, gancho, serras, porretes e os punhos como armas brancas. As armas de fogo constituem de pistolas, espingardas, rifles e automáticas.

Além disso, como todo jogo de RPG, ele possui uma variedade grande de itens como armas, peças, armaduras, capacetes, calças e vários outros itens.

Com todas essas armas e equipamentos, o jogo conta com o sistema mais divertido do jogo, o craft, ou seja, a criação e aprimoramento de equipamentos por meio de peças encontradas pelo mundo aberto. Com isso, é possível alterar as bases de uma espada (sua lâmina), mudar o cabo de empunhadura, anexar peças a mais nas lâminas. Já no caso das armas de longo alcance, você pode mudar o cano das armas, o tipo de bala, mira, empunhadura e efeitos de status. Os equipamentos como armaduras, ombreiras, capacetes e calças também podem ganhar anexos para melhorar o seu efeito e seu status.

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Além de tudo isso, de alterar e criar armas do zero, o jogo oferece por meio de bancadas flutuantes espalhadas por postos, cidades e lojas pelo mapa, a capacidade de melhorar o status das armas, aumentando seus atributos de defesa e ataque.

Esse é um ponto bem divertido do jogo, já que ele oferece as mais diversas opções de customização de equipamentos, seja adquiridos escondidos em caixas, baús e armários pelo mapa e itens adquiridos por meio de missões secundárias.

Gráficos

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BioMutant foi feito na muito usada Unreal Engine 4, motor onde Kingdom Hearts 3, Final Fantasy VII Remake, Returnal, Outriders, Godfall, The Outer World, Gears 5 e vários outros jogos de referência de direção artística e visual. Dá pra dizer que BioMutant tem gráficos bonitos? Mais ou menos.

O que se vê na sua primeira percepção que o jogo possui gráficos com uma ligeira qualidade técnica e gráfica, mas basta olhar mais atentamente que o jogo carrega algo de errado na sua percepção. É um jogo com péssima direção artística.

Desde o design esquisito dos esquilos/felinos/ratos/qualquer coisa das raças até os inimigos estranhos, parece que o jogo foi sendo projetado sem cuidado estético e desenhado pelos próprios desenvolvedores ao invés de profissionais da área. Passando pelas caras estranhas das criaturas, indo para as texturas borradas e estranhas da pelagem de todos os seres vivos animados no jogo e as movimentações de corpo, o jogo mais uma vez revela sua fraqueza na falta de otimização.

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Até o mundo passa a sensação de algo genérico, onde assets padrões da engine foram usados, já que a equipe artística não teve condição de modelar gramas, árvores, construções, objetos próprios que conversem com uma concepção artística que todo projeto de jogo possui para criar a sua marca. O jogo passa a sensação de estado beta e ainda não maduro suficiente para um lançamento.

Sobre as cenas de história, elas não existem e seguem o modelo de jogos de PS2. Os rostos não possuem animação facial condizente com a atual geração e se sustentam em apresentar movimentos simples e burocráticos, prejudicando o roteiro já frágil e revelando a falta de verba para contratar profissionais dessa área.

Além destes problemas visuais, o jogo apresenta outro problema mais grave, quedas constantes de FPS. Você pode estar correndo pelo mapa, planando, pulando, procurando recursos e lutando com grupos de inimigos, o jogo sempre vai apresentar gargalos e quedas de framerate. Você anda, cai fps, você ataca, cai fps, você gira a câmera, cai fps. É um jogo, mais uma vez, pouco otimizado e que carecia de mais profissionais.

Trilha Sonora e Som

Não tem muito o que falar, as músicas são poucas, as que existem possuem um estilo mais oriental, mas não agregam em muita coisa no jogo. Possui uma direção musical bem ruim, não irritando, mas também não ajudando em nenhum momento contendo faixas esquecíveis.

 

Sobre a dublagem, o jogo não conta com uma dublagem em português do Brasil (acho até melhor que não tenha mesmo), e é dublado por um narrador com sono e querendo ir embora, contendo zero entusiasmo nas diversas linhas de texto presentes na narrativa. Seria melhor para a paciência do pobre jogador que ficasse apenas com os grunhidos que os NPCs emitem durante o jogo.

Vale a Pena?

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BioMutant é vítima de um teaser trailer errado e pouco claro sobre os limites orçamentários e técnicos do projeto. O jogo desenvolvido pela Experiment 101 continha apenas 20 profissionais, sendo um jogo com baixa quantidade de capital humano para fazer um jogo desse porte, não tinha como dar certo.

Com uma história rasa, tomadas de decisões na forma narrativa equivocadas, uma direção artística inexistente e uma otimização ruim em todos os aspectos técnicos, é um jogo que conta com diversas boas intenções. BioMutant possui uma boa ideia de sistema de combate, exploração e crafting, pena ser atrapalhado por todo o resto.

A equipe, cobrando cerca de R$ 300, quis aproveitar o hype criado por trailers enganosos sobre o estado do jogo, já que em vídeos ele aparentava ser muito melhor do que é. É um bom jogo indie, mas um péssimo jogo AAA. Ele não merece ter sua grana investida agora e no máximo valer a metade do valor cobrado no seu lançamento.

Notas do Jogo
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Título: BioMutant

Descrição do jogo: BIOMUTANT® é um RPG de kung-fu pós-apocalíptico em mundo aberto com um sistema de combate único que mistura artes marciais, tiroteios e habilidades mutantes. O mundo foi assolado por uma praga e as raízes da Árvore da Vida estão moribundas. As tribos estão divididas. Explora um mundo em convulsão e decide o seu destino: serás o seu salvador ou irás conduzi-lo até um destino ainda mais sombrio?

Gênero: Ação, RPG

Lançamento: 25 de Maio de 2021

Produtora: Experiment 101

Distribuidora: THQ Nordic

COMPRAR

Nota
6/10
6/10
  • História - 5/10
    5/10
  • Jogabilidade - 7.5/10
    7.5/10
  • Gráficos - 6.5/10
    6.5/10
  • Trilha Sonora e Som - 5/10
    5/10

Veredito

BioMutant é vítima de um teaser trailer errado e pouco claro sobre os limites orçamentários e técnicos do projeto. O jogo desenvolvido pela Experiment 101 continha apenas 20 profissionais, um jogo com baixa quantidade de capital humano para fazer um jogo desse porte, não tinha como sair bom.

Com uma história rasa, tomadas de decisões na forma narrativa equivocadas, uma direção artística inexistente e uma otimização ruim em todos os aspectos técnicos, é um jogo que conta com diversas boas intenções. BioMutant possui uma boa ideia de sistema de combate, exploração e crafting, pena ser atrapalhado por todo o resto.

Vantagens

  • Sistema de Escolhas
  • Versatilidade de gameplay
  • Crafting de armas

Desvantagens

  • História rasa
  • Personagens pouco cativantes
  • Direção de arte inexistente
  • Missões repetitivas
  • Combate repetitivo
  • Trilha sonora mal aproveitada
  • Quedas constantes de FPS
  • Com um narrador desses, não precisa de vilão

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San Moreira
San Moreira tem 33 anos e é natural de São Paulo. Eu sou formado em Banco de Dados e Gestão Empresarial. Amante da cultura gamer, sempre apaixonado pelo universo. Atuando como jornalista e Content Manager de games com foco na plataforma PlayStation e Battle Royales como Free Fire. Teve a ideia de criar este site exclusivamente pela vontade informar e ajudar a comunidade gamer.

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