Como um fã de jogos de Metroidvania, estou constantemente à procura do próximo grande jogo que me envolva e renove o gênero. Ultros não apenas chamou minha atenção, mas também deixou uma impressão profunda em mim com seu estilo de arte psicodélico.
Desenvolvido pelo estúdio Hadoque e com a visão criativa do artista sueco Niklas “EL Huervo” Åkerblad, o jogo apresenta uma paleta de cores vibrantes onde temas como vida, morte e renovação são explorados de uma maneira filosófica, não só narrativa como parte funcional de gameplay.
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História
Sua nave bateu e você acorda desnorteada em um local com uma fauna e flora psicodélica estranha. Mais tarde, descobrimos que nossa personagem se chama Ouji.
Ao explorar o lugar, encontramos um corpo no chão com uma espada cravada nele. Ao retirar a espada, o espírito do morto se chama Wallet e revela que não estamos em um planeta, e sim em um Sarcófago. O ser espectral nos revela que o local está preso em um loop temporal causado por Ultros, uma perigosa criatura cósmica que está presa graças a sete Xamasals (Xamãs) que selaram os seus poderes.
Para sair dessa ilusão e voltar para casa, teremos que passar por loops temporais em busca de destruir os sete selos criados pelos xamasals e destruir a criatura, mas Qualia, uma escolhida que se auto intitula o “cálice de Beria”, não permitirá que isso aconteça. A nova personagem tem como missão libertar Ultros.
São nesses objetivos antagônicos que vamos sempre voltando para o início, mas percorrendo locais diferentes e nos aproximando do fim dessa prisão incomum.
Campanha
Se desenrolando por meios dos loops temporais, a cada novo selo rompido, nos é revelado um pouco mais de detalhes sobre o local e os seres do Sarcófago, mas a forma que o jogo decide se comunicar pode confundir o jogador e até mesmo deixá-lo perdido.
Abordando temas como saúde mental e valorização ambiental, o jogo não se limita a si e tenta passar mensagens além da proposta da sua narrativa, mas pelo fato de usar termos técnicos e uma linguagem rebuscada e pouco prática, ela cai no erro de afastar o jogador mais casual que não é muito familiar com esse tipo de narrativa.
Outro problema é o fato do jogo explicar pouco sobre os outros personagens que residem no Sarcófago, tornando o contexto em que estão inseridos e a razão de estarem lá pouco fundamentados.
Gameplay
Apesar de ser um metroidvania onde explorar grandes mapas e acessar novas áreas por meio de habilidades é o propósito central, a real natureza de Ultros vai além das mecânicas do gênero e propõe mudanças que conversam muito bem com a proposta do roteiro.
Cada vez que destruímos um selo de xamasal, um loop é acionado e voltamos ao mesmo lugar do início do jogo, sem arma, sem habilidades e sem itens, prontos para encontrar um novo selo e explorar uma nova área.
O Sarcófago é um lugar extremamente rico em fauna e flora, onde elas participam ativamente do núcleo do seu gameplay. Enquanto os inimigos, ao serem derrotados, concedem partes dos seus corpos para serem devorados em busca de cura de saúde ou desbloqueio de novos efeitos e movimentos na árvore de habilidades, as 10 opções de sementes podem ser plantadas em locais específicos que conferem tantos novos atalhos para acessar áreas mais rápido quanto uma fonte inesgotável de frutas consumíveis.
Se perdemos uma boa parte da nossa progressão em cada looping, as sementes que crescem e formam variadas plantas perduram e não são afetadas pelo fenômeno. Assim geramos plantas que criam plataformas de acesso, nos permitem correr pelas paredes, pendurar em espécies de cipós, parar máquinas, destruir engrenagens ou somente nos conceder frutas que curam. Essa mecânica inova no funcionamento habitual do gênero, onde a progressão não só depende de ferramentas e habilidades, mas o entorno serve também a esse propósito, onde o jogador é livre dentro das limitações para alterar a dinâmica do level design.
Nosso personagem também possui mecânicas próprias, sendo a primeira a capacidade de atacar usando as lâminas nos seus braços. Com combos e movimentos de ataques simples, os inimigos não oferecem grandes desafios. Além de serem poucos em quantidade e diversidade, os poucos chefes também não impressionam, ficando claro que o foco da jogabilidade não está tanto nos seus combates e sim na exploração. O jogo até tenta forçar o jogador a experimentar um modelo de combos estilosos onde privilegia o jogador que não repete o mesmo golpe, resultando em partes desmembradas perfeitas que concedem não só melhores fatores de cura, mas também maior efeito de aumento de habilidades.
Mais tarde, o jogo permite que você mantenha certas habilidades da sua árvore usando itens encontrados no mapa, mas é em um dispositivo misterioso onde concentra as principais habilidades que irão abrir novos caminhos no mapa. A cada vez que vamos matando um xamasal, o dispositivo ligado por um cabo a sua personagem ganha novas funcionalidades. Permitindo realizar pulo duplo, cortar plantas para liberar caminhos, usar eletricidade para voar por um período de tempo ou até mesmo cavar a procura de novas sementes, este dispositivo cumpre um papel importante na tarefa principal, mas ele também some a cada loop.
Na sua exploração, o jogo não te dá dicas óbvias, portanto o jogador poderá ficar perdido pelo mapa em como chegar no próximo alvo. Tudo o que sabemos é que primeiro precisamos recuperar a espada, o dispositivo e escolher em cada um dos locais dos xamasais que aparecem no mapa, mas como chegar lá e qual a ordem correta nunca é óbvio. Apesar disso agradar jogadores que preferem descobrir sozinhos, outros podem cair na monotonia do seu mapa, com poucos desafios e vagando perdidos por áreas quase sempre iguais.
Gráficos, Direção de Arte e Trilha Sonora
O ponto de maior destaque de Ultros é o seu visual. Com uma direção de arte impressionante, o jogo possui cores vibrantes que estão presentes por todas as áreas do Sarcófago. Ecoando uma vibe psicodélica e neon que casa muito bem com a proposta do jogo, Ultros é original na sua proposta gráfica e não tem medo de arriscar ser exagerado. O maior problema dessa proposta é que o jogador se verá por diversas vezes confuso ao distinguir o que é objeto importante do cenário e o que é somente paisagem.
A sua trilha sonora, composta pelo Oscar Ratvader Rydelius, que conta que viajou ao Peru gravar instrumentos indígenas e sons ambientes da floresta amazônica, foi alterada com base nesses sons, criando um ambiente experimental, cercada de suspense sobrenatural.
Vale a Pena?
Ultros possui uma linda identidade visual e conceitos de design marcantes, embora sua jogabilidade e combate não correspondam ao mesmo nível de excelência, com movimentos não tão fluidos e uma falta de desafio. Embora possa se tornar um clássico cult, Ultros provavelmente dividirá opiniões devido à sua narrativa vaga e falta de direção. Apesar disso, se você procura por um jogo Metroidvania com uma estética única, uma duração curta que valoriza que seja jogado com mais calma, Ultros se destaca.
*Jogo analisado no PS5 com cópia digital fornecida pela Hadoque.
Notas do Jogo
Título: Ultros
Descrição do jogo: Você acorda sem saída após aparentemente ter batido sua nave no Sarcófago, um gigante útero cósmico à deriva no espaço, que abriga um ser ancestral e demoníaco chamado ULTROS. Você está no loop eterno de um buraco negro e precisa explorar o Sarcófago para conhecer seus habitantes e descobrir o seu papel... Será que você é o ser terrível que vai destruir esse ciclo ou vai virar uma conexão entre a destruição e o renascimento?
Gênero: Metroidvania
Lançamento: 13/02/2024
Produtora: Hadoque
Distribuidora: Kepler Interactive Limited
Nota
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História - 7/10
7/10
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Jogabilidade - 7.5/10
7.5/10
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Gráficos - 9/10
9/10
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Trilha Sonora e Som - 7.5/10
7.5/10
Veredito
Ultros possui uma linda identidade visual e conceitos de design marcantes, embora sua jogabilidade e combate não correspondam ao mesmo nível de excelência, com movimentos não tão fluidos e uma falta de desafio. Embora possa se tornar um clássico cult, Ultros provavelmente dividirá opiniões devido à sua narrativa vaga e falta de direção. Apesar disso, se você procura por um jogo Metroidvania com uma estética única, uma duração curta que valoriza que seja jogado com mais calma, Ultros se destaca.
Vantagens
- Visualmente incrível;
- Boa trilha sonora;
- Looping temporal mesclado com mecânicas de plantação inovam o gênero;
- Assuntos abordados e lore da campanha criativos.
Desvantagens
- Diálogos rebuscados tornam a narrativa pretensiosa demais e pouco clara;
- Mecânica de combate simples demais e pouco desafiante;
- Problemas de exploração acabam tornando o jogo monótono.